O insulto

O insulto

Em uma animada conversa sobre cinema, com amigos, em São Paulo, buscando um exemplo prático sobre o que falávamos, citava um determinado filme, como por exemplo Assim estava escritoO Mahabarata ou A festa de Babete, e observei que muitos dos presentes, todos envolvidos com audiovisual, não os tinham visto.

Os mais sábios, dizem que para que alguém escreva, e escreva bem, é preciso que leia e aprenda com isso. É assim em tudo na vida. No cinema não é diferente!

Como um camarada pode ser roteirista e nunca ter visto filmes que trazem em si roteiros extraordinários como O sol é para todosA felicidade não se compra ou Relíquia macabra? (Cabe aqui fazer um calombo para dizer que o editor do filme, aquele que monta as sequências das cenas que compõem a história contada, é uma espécie bem peculiar de roteirista, ou pós roteirista, aquele que não escreveu a história, mas é responsável pela forma de apresentá-la ao público).

Imagine alguém que quer ser diretor de cinema e nunca tenha visto os filmes de Frank CapraDavid Lean ou Sidney Lumet!

Um ator que não assistiu as performances de Charles Laughton, em A vida privada de Henrique VIIIO Corcunda de Notredame e Testemunha de Acusação; de Betty Davis, em Jezebel, A Malvada, e O que terá acontecido com Baby Jane? Ou ainda atuações magistrais de coadjuvantes como Walter Brennan, Shelley Winters e John Gielgud, estará definitivamente prejudicado, ficando por conta unicamente de sua genialidade, coisa que a cada dia tem sido mais difícil de se encontrar.

Em menores proporções, devido a natureza quase independente de suas atividades, que são na verdade agregadas à indústria do audiovisual, o mesmo ocorre com produtores, diretores de fotografia, músicos, diretores de arte, cenógrafos, figurinistas, maquiadores, que se propõem a realizar um filme, e não assistiram a obras fundamentais como O nascimento de uma nação, Lawrence da Arábia, e A excêntrica família de Antônia.

Mas preciso confessar a você que me lê agora o verdadeiro motivo daquela conversa. É que eu comentei com aqueles amigos que uma determinada pessoa, chateada comigo, escreveu um texto onde tenta me insultar me chamando de cinéfilo, acusando-me de não ser um cineasta.

A comparação que fiz, pra tentar explicar como aquela pessoa que tentava me insultar estava errada, foi com jogadores famosos de futebol. Mostrei-lhes que os melhores jogadores, os maiores craques dos gramados, são aqueles que jogam com amor, com alegria, como se estivessem em um campinho de pelada, desses de várzea. Verdadeiros boleiros!

Lembrem aí: Garrincha jogava com uma ginga e uma alegria que maravilhava a todos; Podemos dizer o mesmo de Didi, Puskás, Di Stefano e até de Pelé. É fácil dizermos isso de Neymar, Messi, dos Ronaldinhos, Gaúcho e Nazário, de Maradona, Zico, Romário e até de Zidane e Cristiano Ronaldo. Isso não é menos verdade quando pensamos nos elegantes jogadores nórdicos, de sangue frio, como Cruijff e Beckenbauer.

Em todos eles há um certo ingrediente de peladeiro. Nuns mais que em outros, o que seria o similar a se dizer de alguém que trabalhando com cinema, seja antes de qualquer coisa um apaixonado por ele. Isso de modo algum é um insulto, e aquele sujeito que tentou me alvejar, na verdade conseguiu me fazer o maior dos elogios, pois alguém que realiza o seu trabalho, aquilo que se propõe, com paixão, amor, devoção, como um peladeiro, o faz da melhor maneira possível, com as asas da alma abertas para voar.

PS 1: Escrevi este texto e o publico agora, na ocasião da realização do maior evento do cinema mundial, o Oscar, para homenagear o audiovisual brasileiro que teima em continuar existindo como pode, e a todos que realizam trabalhos nesse importante setor.

PS 2: O insulto é o título de um maravilhoso filme libanês que precisa ser visto por todos. Ele fala de uma epidemia que precisa ser aniquilada: A intolerância.

2 comentários em “O insulto”

  1. Engraçado você dizer isso depois de elogiar uma porta cinematográfica chamada Erlanes Duarte. Assisti uma mesa com ele e esse rapaz não tem referências, nunca assistiu um filme maranhense e passou vergonha com um discurso vazio de guerrilha. Faça-me o favor! Nem cineasta e muito menos gênio.

    1. O amigo conhece um ditado que diz que opinião é como a parte final do intestino grosso!?… Cada um tem um! Até você!…
      Quanto ao Erlanes, ele é responsável por suas atitudes e palavras, mas realizou três filmes de grande sucesso de público! Então, mate os espectadores maranhenses e use como arma para isso a inveja que você parece ter dele!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Perfil

“Poeta, contista e cronista, que, quando sobra tempo, também é deputado”. Era essa a maneira como Joaquim Elias Nagib Pinto Haickel aparecia no expediente da revista cultural Guarnicê, da qual foi o principal artífice. Mais de três décadas depois disso, o não mais, porem eterno parlamentar, ainda sem as sobras do tempo, permanece cronista, contista e poeta, além de cineasta.

Advogado, Joaquim Haickel foi eleito para o parlamento estadual pela primeira vez de 1982, quando foi o mais jovem parlamentar do Brasil. Em seguida, foi eleito deputado federal constituinte e depois voltou a ser deputado estadual até 2011. Entre 2011 e 2014 exerceu o cargo de secretario de esportes do Estado do Maranhão.

Cinema, esportes, culinária, literatura e artes de um modo geral estão entre as predileções de Joaquim Haickel, quando não está na arena política, de onde não se afasta, mesmo que tenha optado por não mais disputar mandato eletivo.

Cinéfilo inveterado, é autor do filme “Pelo Ouvido”, grande sucesso de 2008. Sua paixão pelo cinema fez com desenvolvesse juntamente com um grupo de colaboradores um projeto que visa resgatar e preservar a memória maranhense através do audiovisual.

Enquanto produz e dirigi filmes, Joaquim continua a escrever um livro sobre cinema e psicanálise, que, segundo ele, “se conseguir concluí-lo”, será sua obra definitiva.

Busca

E-mail

No Twitter

Posts recentes

Comentários

Arquivos

Arquivos

Categorias

Mais Blogs

Rolar para cima