Um triste balanço geral

Tentei me imaginar como um auditor externo, descompromissado com qualquer dos lados em questão, que não sofresse nenhuma influência das consequentes circunstâncias dos fatos, atos e acontecimentos, para ver onde chegava na análise de tudo isso que estamos vivendo.

Nosso país passou por um período conturbado, onde diversos escândalos de corrupção eclodiram e foram expostos esquemas bilionários de roubo. Processos foram instaurados, julgamentos foram feitos, sentenças foram prolatadas e penas foram cumpridas.

A população revoltada, elegeu alguém de tendência política oposta a quem já estava no poder há muito, e foi responsável pelos tais casos de corrupção. A escolha, como ocorre em qualquer eleição, foi mais emocional que racional, o que sempre acarreta diversos problemas.

O eleito não é alguém com características de estadista. Seu estilo populista e atabalhoado, resvala constantemente no desrespeito às normas do bom e sadio convívio social, o que desagrada a alguns, mas não desagrada boa parte do povo, que se identifica com o jeito rude de ser e de agir do presidente.

Essa falta de aptidão do chefe do executivo no trato cordial para com as pessoas, a sua incapacidade de se comunicar de forma satisfatória e aceitável, complicam ainda mais sua situação, fato que é facilmente entendido como estilo intolerante e autoritário, o que é verdade, e que revela, segundo alguns, sua vontade latente de estabelecer uma ditadura, o que não há comprovação, a não ser nas narrativas de seus opositores, por motivos óbvios.

O presidente tem um estilo irresponsável, pois não mede as consequências das coisas que diz e faz, muitas vezes tendo que retroceder ao ser confrontado com a inexequibilidade de suas ações impensadas e não planejadas minuciosa e detalhadamente como deveria fazer.

Motivados e respaldados pelos flagrantes erros cometidos pelo presidente, quanto ao conteúdo, porém muito mais pela forma deles, os poderes legislativo e judiciário, ambos em defesa da ordem constitucional, mas embalados por motivações políticas, tomam atitudes contra as ações do presidente da república.

As atitudes do legislativo e do judiciário, mesmo não estando em desacordo com o regramento jurídico, possuem um ingrediente político grande e grave, o que transforma o caso em disputa meramente ideológica e partidária, coisa inadmissível entre os poderes da república.

A constituição brasileira estabelece que os poderes da república devem agir com independência, cada um cumprindo suas funções, mas em harmonia, para que não se estabeleça o caos, como este pelo qual estamos passando.

Junte a isso a inescrupulosa e insidiosa ação de parte da imprensa, que há muito tempo esqueceu a sua missão e resolveu se tornar um quarto poder, paralelo e às vezes sobreposto aos constitucionais, e criar heróis como fez com Collor e Lula, ou destruí-los como fez com os mesmos.

Para agravar ainda mais essa situação, a modernidade e o avanço tecnológico permitem que qualquer pessoa, mesmo sem ter a qualificação necessária para fazê-lo com responsabilidade, possa participar do debate diário, através das redes sociais e da internet, o que só complica ainda mais o panorama.

Chego a triste conclusão que a única vítima em toda essa tragédia é o povo brasileiro.

O que temos é o caos e há três maneiras possíveis de se sair dele: Voltamos no tempo e não cometemos os erros que o originou, o que é impossível; Explodimos tudo, o que é inadmissível; ou, paramos, desarmamos nossos espíritos e começamos novamente, de um ponto aceitável por todos, o que é muito difícil, mas a única coisa razoável que nos resta a fazer.

1 comentário em “Um triste balanço geral”

  1. Ailton Tonni Castro

    Meu caro articulista, mais uma vez venho a este espaço para dizer o que, na minha modesta opinião qualquer pessoa de bom senso, independente de partidarismo ou ideologia, diria ao lê-lo. “Perfeito”. Isso mesmo, texto curto, enxuto, mas perfeito em seu teor, infelizmente, nós o povo brasileiro, estamos pagando caro por tanta leviandade, má fé, ignorância e falta de espírito público de boa parte dos integrantes dos três poderes que constituem a república, em todos os níveis do Estado brasileiro.

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Perfil

“Poeta, contista e cronista, que, quando sobra tempo, também é deputado”. Era essa a maneira como Joaquim Elias Nagib Pinto Haickel aparecia no expediente da revista cultural Guarnicê, da qual foi o principal artífice. Mais de três décadas depois disso, o não mais, porem eterno parlamentar, ainda sem as sobras do tempo, permanece cronista, contista e poeta, além de cineasta.

Advogado, Joaquim Haickel foi eleito para o parlamento estadual pela primeira vez de 1982, quando foi o mais jovem parlamentar do Brasil. Em seguida, foi eleito deputado federal constituinte e depois voltou a ser deputado estadual até 2011. Entre 2011 e 2014 exerceu o cargo de secretario de esportes do Estado do Maranhão.

Cinema, esportes, culinária, literatura e artes de um modo geral estão entre as predileções de Joaquim Haickel, quando não está na arena política, de onde não se afasta, mesmo que tenha optado por não mais disputar mandato eletivo.

Cinéfilo inveterado, é autor do filme “Pelo Ouvido”, grande sucesso de 2008. Sua paixão pelo cinema fez com desenvolvesse juntamente com um grupo de colaboradores um projeto que visa resgatar e preservar a memória maranhense através do audiovisual.

Enquanto produz e dirigi filmes, Joaquim continua a escrever um livro sobre cinema e psicanálise, que, segundo ele, “se conseguir concluí-lo”, será sua obra definitiva.

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