Uma tentativa inútil

O revisionismo histórico é uma das ações equivocadas mais comuns e graves que podem existir nos dias de hoje, em que pese ela sempre ter sido tentada.

Com frequência essa tentativa, feita por pessoas quase sempre esclarecidas, é amplamente defendida por pessoas não tão esclarecidas, sendo que todas elas parecem ser incapazes de entender os mecanismos, não apenas da história, mas principalmente da física elementar.

Os revisionistas não conseguem entender que um fato histórico não pode ser mudado!

Mas antes de qualquer coisa precisamos concordar com o que seja um fato histórico. Sou daqueles que acredita que ele é simplesmente um acontecimento que tendo efetivamente ocorrido, gera consequências, estabelece mudanças e fixa parâmetros.

Para ser fato histórico um acontecimento não precisa ser um daqueles fatos marcantes que estudamos na escola. Fato histórico pode ser algo simples como o casamento de pessoas comuns como o pedreiro João e a garçonete Maria ou algo de relevância como o casamento de Nicolau e Alexandra, czar e czarina da Rússia.

Fatos históricos, relevantes ou não, são imutáveis. O casamento de João e Maria pode ser anulado, mas ele sempre terá acontecido, uma vez que ele ocorreu em um tempo e em um espaço específico, e gerou consequências. Com o casamento de Nicolau e Alexandra aconteceu o mesmo, tanto que ele virá a ser um dos fatos geradores da revolução russa e por isso não pode ser revisionado. Esses dois fatos, esses dois casamentos, não podem simplesmente ser eliminados do contexto da história em que eles estão encrustados.

Fato histórico pode também ser aleatório, acidental ou natural. Um esbarrão aleatório, no meio da rua fez com que João e Maria se conhecessem e acabassem por se casar. Anos mais tarde, João caiu acidentalmente de um andaime e morreu. Maria criou sozinha seu filho. Num dia chuvoso, Maria foi atingida por evento natural, um raio, e morreu. Tudo isso aconteceu e como consequência, seu filho órfão de pai e mãe passou a ser criado pelo tio, ex-jogador de futebol que incentivou o sobrinho a ser jogador. O garoto tornou-se um craque e chegou à seleção.

Por outro lado, Nicolau que amava enormemente sua esposa Alexandra, e realizava todos os seus desejos, aceitou que ela trouxesse o monge Rasputin para tratar de seu filho doente, fato aparentemente sem importância, mas que acabou por gerar consequências que mudaram a história mundial.

Uma das mais antigas e sólidas instituições do mundo, a igreja católica, tem feito diversos reconhecimentos dos erros que cometeu em seus dois mil anos de história, como por exemplo no caso das Cruzadas, da Inquisição e mais recentemente no caso dos escândalos de pedofilia de muitos de seus padres.

Essa é uma das poucas coisas eficientes que podem ser feitas, mesmo que sem muita eficácia ou eficiência, quanto às consequências dos acontecimentos já ocorridos. Neste caso, a tríade da correção fica sem uma de suas pernas, a efetividade, que cede lugar ao bom senso, com o paliativo do sincero pedido de desculpas que deve ser sempre feito.

Seria maravilhoso que fosse possível corrigir erros históricos, como a escravização dos negros africanos, fato que gerou tantas e tão graves consequências, mas infelizmente isso não é possível. Os pedidos de desculpa o são. Além disso, a luta contra o preconceito racial deve ser parte desse resgate.

Mais importante que o revisionismo histórico é o entendimento histórico, a tentativa de entendermos os acontecimentos que o geraram e suas consequências, além de amplo esclarecimento, acessível a todas as pessoas.

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Perfil

“Poeta, contista e cronista, que, quando sobra tempo, também é deputado”. Era essa a maneira como Joaquim Elias Nagib Pinto Haickel aparecia no expediente da revista cultural Guarnicê, da qual foi o principal artífice. Mais de três décadas depois disso, o não mais, porem eterno parlamentar, ainda sem as sobras do tempo, permanece cronista, contista e poeta, além de cineasta.

Advogado, Joaquim Haickel foi eleito para o parlamento estadual pela primeira vez de 1982, quando foi o mais jovem parlamentar do Brasil. Em seguida, foi eleito deputado federal constituinte e depois voltou a ser deputado estadual até 2011. Entre 2011 e 2014 exerceu o cargo de secretario de esportes do Estado do Maranhão.

Cinema, esportes, culinária, literatura e artes de um modo geral estão entre as predileções de Joaquim Haickel, quando não está na arena política, de onde não se afasta, mesmo que tenha optado por não mais disputar mandato eletivo.

Cinéfilo inveterado, é autor do filme “Pelo Ouvido”, grande sucesso de 2008. Sua paixão pelo cinema fez com desenvolvesse juntamente com um grupo de colaboradores um projeto que visa resgatar e preservar a memória maranhense através do audiovisual.

Enquanto produz e dirigi filmes, Joaquim continua a escrever um livro sobre cinema e psicanálise, que, segundo ele, “se conseguir concluí-lo”, será sua obra definitiva.

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