Garrone e Eu

Minha amizade com o jornalista Raimundo Garrone vem desde o início dos anos 80. Eu editava a Revista Guarnicê e ele ainda cursava jornalismo e fazia parte de um grupo de jovens poetas que se autodenominavam Os Párias, que constantemente publicavam seus poemas em nossa revista.

Politicamente eu e Garrone sempre estivemos em campos opostos, mas mantivemos uma boa relação, baseada em respeito e consideração.

Lembro de fatos interessantes na minha história com Garrone. Certa vez, o meu hoje confrade na Academia Maranhense de Letras, Felix Alberto Lima, juntamente com outras pessoas, promoveu uma oficina de contos e trouxe para ministrá-la o grande poeta Caio Fernando Abreu.

Fizeram aquele curso a fina flor da jovem intelectualidade ludovicense, na qual Garrone e eu, estávamos inseridos. No terceiro dia do curso, Caio pediu que cada um de nós levasse um conto de um grande escritor para lermos, analisarmos e trabalharmos nele, recriando a atmosfera literária do autor.

Levaram textos de Edgar Alan Poe, Machado de Assis, Dalton Trevisan, Lígia Fagundes Teles… Já eu, como sempre sofri o preconceito por ser um escritor burguês, um herdeiro, alguém cujo talento literário sempre era colocado em dúvida por eu ser político – naquela época já era deputado – resolvi pregar-lhes uma peça e apresentei como sendo do famoso cineasta, David Lynch, o conto Pelo Ouvido, que era na verdade de minha autoria. O certo é que ao ser lido, o conto foi aclamado por todos, elogiado como sendo uma obra genial, tendo a marca clara do estilo de seu autor. Serviu de exemplo de como se deve estruturar uma ideia de forma simples, colocando nela todos os ingredientes necessários para realizar uma obra icônica.

A complicação foi na hora de revelar que o conto não era de David Lynch, mas sim meu. Muita gente ficou indignada. O Caio não entendeu até que eu explicasse o bulling que eu sofria. Garrone foi um dos mais indignados, tendo escrito uma matéria de meia página no jornal O imparcial, sobre o ocorrido.

Lembro que só de “sacanagem” escrevi na semana seguinte, um artigo no jornal O Estado do Maranhão, contando a minha versão dos fatos, e pedi permissão para meu amigo José Louzeiro para publicar com o nome dele, apenas para demonstrar como o preconceito ideológico era uma coisa grave e deveria ser abominado e combatido.

Anos mais tarde, eu ainda deputado, criei as leis de incentivo ao esporte e à cultura, e Garrone era proponente de um projeto no dispositivo de fomento cultural.

Mesmo tendo o certificado que lhe permitia buscar o patrocínio para seu projeto, Garrone não conseguia. Falei com um grande amigo meu, alguém a quem Garrone não poupava críticas duras e ácidas, em muitos aspectos injustas, movido unicamente pelo posicionamento político-partidário. Pedi àquele amigo que arrumasse patrocínio para a Bandida, banda de carnaval que Garrone fazia para agitar as festividades momescas de nossa cidade.

Fiz com que aquele meu amigo visse que patrocinar uma atividade como a Bandida, de alguém que o atacava, só iria comprovar que a lei de incentivo viera para democratizar o espaço cultural, sem a utilização de viés político, que todos teriam acesso àquele dispositivo e que os melhores e mais capacitados iriam ser automaticamente diferenciados e preferidos pelos patrocinadores, como era o caso da Bandida. E assim foi feito. A Bandida foi patrocinada por esse meu amigo durante muitos carnavais.

Hoje, secretário de Comunicação do município, destinei mídia para publicação de banner de propaganda da Prefeitura de São Luís em alguns blogs e tenho sofrido críticas por parte de alguns jornalistas, pelo fato de eu ter autorizado a contratação do Blog do Garrone, jornalista que sempre se posicionou contra o prefeito Braide, a quem critica por motivos meramente político-partidários, sem jamais reconhecer as coisas boas que a sua gestão tem feito em benefício da cidade e de seu povo.

A minha resposta a quem critica o que fiz é simples e clara: Eu não pago por posicionamento editorial, nem de jornalista, nem de veículo, pago por mídia! Os leitores e a população sabem medir as ações das pessoas, tanto que elegeram Braide para ser seu prefeito. As minhas ações são medidas, primeiramente, por mim e estão sujeitas ao julgamento de todos, a única coisa que eu exijo é que este julgamento seja justo.

1 comentário em “Garrone e Eu”

  1. Humberto Barcelos

    A beleza das “brigas” entre literatos é que elas são de um equilíbrio impressionante. E só quem ganha são os leitores. Muito bom.

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Perfil

“Poeta, contista e cronista, que, quando sobra tempo, também é deputado”. Era essa a maneira como Joaquim Elias Nagib Pinto Haickel aparecia no expediente da revista cultural Guarnicê, da qual foi o principal artífice. Mais de três décadas depois disso, o não mais, porem eterno parlamentar, ainda sem as sobras do tempo, permanece cronista, contista e poeta, além de cineasta.

Advogado, Joaquim Haickel foi eleito para o parlamento estadual pela primeira vez de 1982, quando foi o mais jovem parlamentar do Brasil. Em seguida, foi eleito deputado federal constituinte e depois voltou a ser deputado estadual até 2011. Entre 2011 e 2014 exerceu o cargo de secretario de esportes do Estado do Maranhão.

Cinema, esportes, culinária, literatura e artes de um modo geral estão entre as predileções de Joaquim Haickel, quando não está na arena política, de onde não se afasta, mesmo que tenha optado por não mais disputar mandato eletivo.

Cinéfilo inveterado, é autor do filme “Pelo Ouvido”, grande sucesso de 2008. Sua paixão pelo cinema fez com desenvolvesse juntamente com um grupo de colaboradores um projeto que visa resgatar e preservar a memória maranhense através do audiovisual.

Enquanto produz e dirigi filmes, Joaquim continua a escrever um livro sobre cinema e psicanálise, que, segundo ele, “se conseguir concluí-lo”, será sua obra definitiva.

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