A nobre arte e a arte nobre

Sempre que leio, ouço ou vejo pessoas se insultando em embates que envolvam posições partidárias, políticas, ideológicas ou mesmo filosóficas, lembro-me das violentas lutas de boxe onde homens brutos se esmurram durante horas e ao final delas, se abraçam e confraternizam, pois sabem que o que fazem naquele ringue não deve ultrapassar o limite das cordas, tanto que o boxe é conhecido como “A Nobre Arte”, título que ficaria muito melhor se fosse usado para designar a atividade política.

Ocorre que a disputa pelo poder é, desde sempre, muito mais suja que a disputa pela vitória em uma luta, mesmo que ela envolva um cinturão de campeão mundial dos pesos pesados ou a disputa de um campeonato mundial de qualquer modalidade esportiva.

Quanto menor a circunscrição da disputa política, mais acirrada ela é. Existem casos, e não são poucos, em que as disputas regridem tanto no espaço que acabam acontecendo no seio de uma mesma família, chegando ao cúmulo de ocorrer entre irmãos de sangue, filhos dos mesmos pais.

Não é que eu não goste de uma pendenga política, de um debate acalorado, ou até mesmo de um bate-boca, correndo o risco de, vez por outra, o nível baixar mais que o aceitável. Confesso que até gosto, mas acho inadmissível, que depois que o debate ou o embate político acabe, as pessoas não confraternizem e ao invés disso, passem a se odiar, apenas por não pensarem da mesma forma. A não aceitação do outro é o cúmulo da ignorância, o ponto máximo da involução do ser humano, é o que abre espaço para o outro também não admitir a existência do antagonista!

Sou daqueles que acredita que o embate político deveria ser como uma luta de boxe. No ringue entrariam para se engalfinhar as ideias de cada contendor e ali elas se esmurrariam até uma vencer a outra, por nocaute ou pontos, e depois da luta, tanto as teses que se enfrentaram, quantos os teóricos que as defenderam, se confraternizariam e combinariam uma revanche, para verem se confirmar-se-ia o resultado.

Eu nasci no meio da política, vendo meu pai, meu tio e seus amigos nessa lide, procurei aprender e tirei minhas conclusões de como melhor agir neste contexto. Pratiquei essa “arte” por quase 40 anos, penso que saiba um pouco sobre ela, e é por isso que eu digo e repito, não há nada melhor que agirmos de maneira sempre aberta, clara e franca na política, pois assim fica mais fácil distinguirmos as melhores e mais produtivas ações.

Nem sempre as coisas acontecem como se imagina ou deseja, mas é preciso estarmos preparados para todos os acontecimentos que possam resultar de nossas ações e até mesmo das ações dos demais participantes deste vasto jogo de tabuleiro que é a política.

Vejam só o exemplo de nosso estado. Grosso modo, nas décadas de 30, 40 e 50 do século passado a hegemonia política pertencia ao grupo liderado pelo senador Victorino Freire. Da metade da década de 60 do século XX até a metade da segunda década do século XXI, a hegemonia esteve nas mãos do grupo liderado pelo ex-presidente José Sarney. De lá pra cá o comando da política maranhense está nas mãos do governador Flávio Dino, que pretende permanecer nesta posição por muito tempo. Ele precisa, neste momento crucial de sua sucessão ao cargo de governador, jogar como um grande mestre internacional de xadrez, prevendo todos os movimentos de todas as peças, em todos os tabuleiros onde ele abriu jogo, com todos os oponentes, que em quase sua totalidade não são seus adversários, mas correligionários postulantes a lugares destacados no jogo maior da política estadual.

Um fator importante para que se tenha sucesso no boxe, na política ou em qualquer modalidade de disputa, é conhecermos bem as regras. Além das regras formais desses “jogos”, existem regras de comportamento e conduta que são tão ou mais importantes que as formais. A observância destas regras de comportamento é um dos requisitos básicos para transformar um esporte ou uma atividade qualquer em uma arte.

É importante não esquecer que arte é a habilidade ou a disposição dirigida para a execução de uma finalidade prática ou teórica, realizada de forma consciente, controlada e racional, logo, a mágoa, o rancor e o ódio não podem estar presentes nestas práticas.

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Perfil

“Poeta, contista e cronista, que, quando sobra tempo, também é deputado”. Era essa a maneira como Joaquim Elias Nagib Pinto Haickel aparecia no expediente da revista cultural Guarnicê, da qual foi o principal artífice. Mais de três décadas depois disso, o não mais, porem eterno parlamentar, ainda sem as sobras do tempo, permanece cronista, contista e poeta, além de cineasta.

Advogado, Joaquim Haickel foi eleito para o parlamento estadual pela primeira vez de 1982, quando foi o mais jovem parlamentar do Brasil. Em seguida, foi eleito deputado federal constituinte e depois voltou a ser deputado estadual até 2011. Entre 2011 e 2014 exerceu o cargo de secretario de esportes do Estado do Maranhão.

Cinema, esportes, culinária, literatura e artes de um modo geral estão entre as predileções de Joaquim Haickel, quando não está na arena política, de onde não se afasta, mesmo que tenha optado por não mais disputar mandato eletivo.

Cinéfilo inveterado, é autor do filme “Pelo Ouvido”, grande sucesso de 2008. Sua paixão pelo cinema fez com desenvolvesse juntamente com um grupo de colaboradores um projeto que visa resgatar e preservar a memória maranhense através do audiovisual.

Enquanto produz e dirigi filmes, Joaquim continua a escrever um livro sobre cinema e psicanálise, que, segundo ele, “se conseguir concluí-lo”, será sua obra definitiva.

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