Arlete Nogueira da Cruz Machado

Eu ainda era criança quando pela primeira vez ouvi alguém falar este nome. A pessoa que falava sobre ela, dizia que também era escritora, e das boas, a esposa do poeta Nauro Machado.

Anos mais tarde, jovem e inquieto escritor, fiz um poema usando os títulos dos poemas de Nauro. Durante aquela pesquisa, me vi intrigado ao constatar o fato de que todos os nomes daquela mulher, de quem ouvira falar quando criança, e a quem eu havia conhecido mais proximamente, pessoa tão aparentemente frágil, mas verdadeiramente muito tenaz, terem, mais ou menos, estreita relação com árvores.

Vejam só:

Arlete diz respeito a indivíduo proveniente de “floresta de amieiros”, nome vulgar de alnus glutinosa, árvore de médio porte, muito comum em Portugal.

Nogueira é outra árvore, esta bem mais conhecida, inclusive por suas propriedades medicinais, além de produzir um fruto conhecido como noz inglesa ou noz persa.

Da Cruz, faz uma poderosa ligação causal com o mundo vegetal, uma vez que a mais importante das cruzes, a de Cristo, era obviamente feita de madeira.

Machado, é um instrumento mundialmente usado para derrubar árvores.

Mas aquela análise sobre a poeta e seus nomes fortes ficou pra trás. Eu não tinha nem petulância nem intimidade suficientes para escrever sobre isso naquele tempo.

Dali por diante, passei a ser mais próximo de Nauro, Arlete e Frederico. Depois que meu pai morreu, todas as vezes em que me encontrava com Nauro, ele fazia questão de me dizer, um tanto sem jeito: “Seu pai era meu amigo, e mesmo não tendo sido um homem de letras, tinha grande sensibilidade!”

Em 2009 aconteceu um fato que marcou a minha vida. Eu fui eleito para a Academia Maranhense de Letras. Ocorre que naquela ocasião haviam duas vagas abertas na AML e os candidatos a elas eram eu e meu amigo Ney Bello Filho. Conversei com Ney e decidimos que o nosso ingresso na Academia poderia ser em outra oportunidade, então resolvemos ir até a casa de Nauro e Arlete para dizer a eles que nós estávamos abrindo mão de nossas candidaturas em nome deles, pois sabíamos que um dizia que só entraria para a Academia se o outro também entrasse, e aquela era uma oportunidade perfeita para isso.

Eu e Ney fomos muito bem recebidos pelo casal e por seu filho, tomamos um delicioso cafezinho com bolachinhas da Padaria Chaves e manteiga real, mas Nauro e Arlete não aceitaram ser candidatos. Os motivos exatos até hoje eu não sei ao certo.

O tempo se passou e tempos depois, Nauro veio a falecer e eu já acadêmico, voltei à casa de Arlete, desta vez com outra comitiva, mas para fazer-lhe o mesmo convite, e a resposta dela foi uma das maiores declarações de respeito e amor que que já ouvi em minha vida: “Não tem sentido nenhum eu entrar para a Academia. Nauro era quem deveria ter estado lá!”

Em seu filme “Litania da Velha”, Fred Machado dá som e imagem à maravilhosa poesia de Arlete. Este filme é uma bela homenagem do filho para a mãe e desta, para nossa mãe-cidade.

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Perfil

“Poeta, contista e cronista, que, quando sobra tempo, também é deputado”. Era essa a maneira como Joaquim Elias Nagib Pinto Haickel aparecia no expediente da revista cultural Guarnicê, da qual foi o principal artífice. Mais de três décadas depois disso, o não mais, porem eterno parlamentar, ainda sem as sobras do tempo, permanece cronista, contista e poeta, além de cineasta.

Advogado, Joaquim Haickel foi eleito para o parlamento estadual pela primeira vez de 1982, quando foi o mais jovem parlamentar do Brasil. Em seguida, foi eleito deputado federal constituinte e depois voltou a ser deputado estadual até 2011. Entre 2011 e 2014 exerceu o cargo de secretario de esportes do Estado do Maranhão.

Cinema, esportes, culinária, literatura e artes de um modo geral estão entre as predileções de Joaquim Haickel, quando não está na arena política, de onde não se afasta, mesmo que tenha optado por não mais disputar mandato eletivo.

Cinéfilo inveterado, é autor do filme “Pelo Ouvido”, grande sucesso de 2008. Sua paixão pelo cinema fez com desenvolvesse juntamente com um grupo de colaboradores um projeto que visa resgatar e preservar a memória maranhense através do audiovisual.

Enquanto produz e dirigi filmes, Joaquim continua a escrever um livro sobre cinema e psicanálise, que, segundo ele, “se conseguir concluí-lo”, será sua obra definitiva.

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