Ética argumentativa ou barbárie

Partido do pressuposto que um argumento pode ser verdadeiro, indeterminado ou falso, se você afirmar qualquer coisa a respeito dele, mesmo que seja pra dizer que ele é falso, você o reconhecerá como verdadeiro, pelo fato de estar usando um outro argumento, mesmo que seja no sentido de contestar a outra afirmação argumentativa.

Parece complicado, não!?… Nem tanto! Veja!…

Não há como considerar inexistente uma coisa da qual você discorda, pois se você discorda dela, é porque ela existe. É impossível discordar de alguma coisa que não exista!

Mas vamos por partes. Vejamos o que é ética!  Ética é o conjunto de regras perenes, no tempo e no espaço, necessárias para a convivência pacífica entre as pessoas.

Sendo perenes, ou seja, constantes, estáveis, que não mudam em relação ao tempo e ao espaço, mesmo que não saibamos quais sejam estas tais regras, fica claro que elas só poderiam surgir provenientes de argumentações. Qualquer outra forma de tentarmos chegar a esse conjunto de regras, será através de métodos contraditórios, que é o mesmo que não perenes, o que acarretaria que não seria ético.

Todos os argumentos que não forem éticos não são perenes no tempo ou no espaço, como por exemplo o uso discricionário da violência ou da opressão, ou do preconceito, ou do cerceamento da liberdade ou da negação de direitos fundamentais, seja no Brasil de hoje ou de ontem, seja na África do Sul ou na Arábia Saudita ou na Venezuela, ou nos Estados Unidos.

Por outro lado, argumentação é o processo no qual duas ou mais pessoas tentam provar ou refutar determinadas afirmações. Neste caso é necessária a existência de pelo menos duas pessoas com posições divergentes, pois quando há concordância, não há contra-argumento, e sem ele não há debate, o que é fundamental para um ambiente ético.

Não há nenhuma possibilidade de haver argumentação ética ou ética argumentativa se não existir liberdade que lhe permita ser o proprietário de sua ideia e a posse de sua opinião, capazes de fazer você propagar e defender seu pensamento e o argumento que o define e sustente, como também da mesma forma, isso lhe obriga a reconhecer e respeitar o pensamento e o argumento daqueles que possuem posições contrárias à sua. Isso é a base fundamental da civilidade e do avanço civilizatório.

No momento que você assume a defesa de um argumento seu, perene no tempo e no espaço, você se obriga a respeitar e reconhecer como verdadeiro o argumento de outrem, da mesma forma perene e antagônico ao seu, mesmo que isso não lhe obrigue a aceitá-lo ou a defendê-lo

Essa interação entre argumento e contra-argumento em um ambiente ético e perene, cria a ética argumentativa que por sua vez estabelece um sistema de convivência harmônico, ou pelo menos é assim que deveria acontecer.

O que vemos, principalmente nos últimos tempos, de forma praticamente epidêmica, é que os argumentos não seguem uma linha de coerência. Eles mudam ao bel prazer do argumentador, que não usa critérios perenes, que não se mantêm constantes no tempo e no espaço, e mudam de caso a caso, de lugar a lugar, de pessoa a pessoa, segundo a conveniência de quem o propaga.

Assim fica impossível que se mantenha uma discussão saudável, que possa criar o ambiente indispensável para a evolução das pessoas e das sociedades, o que nos leva a conclusão de que sem ética argumentativa, não há humanidade e sem ela, só nos resta a barbárie.

PS: Escrevi este texto por dois motivos. Para que eu não me esqueça que um dia já desejei ser um grande e respeitado filósofo, e como forma de insultar os idiotas, que não tendo capacidade de entender nada do que foi dito antes, estão destruindo o mundo, politizando tudo, colocando cor ideológica e aromas partidários em tudo, fazendo com que não haja nada perene ou ético, o que desqualifica suas argumentações, acaba com o debate e coloca em risco a civilização.

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Perfil

“Poeta, contista e cronista, que, quando sobra tempo, também é deputado”. Era essa a maneira como Joaquim Elias Nagib Pinto Haickel aparecia no expediente da revista cultural Guarnicê, da qual foi o principal artífice. Mais de três décadas depois disso, o não mais, porem eterno parlamentar, ainda sem as sobras do tempo, permanece cronista, contista e poeta, além de cineasta.

Advogado, Joaquim Haickel foi eleito para o parlamento estadual pela primeira vez de 1982, quando foi o mais jovem parlamentar do Brasil. Em seguida, foi eleito deputado federal constituinte e depois voltou a ser deputado estadual até 2011. Entre 2011 e 2014 exerceu o cargo de secretario de esportes do Estado do Maranhão.

Cinema, esportes, culinária, literatura e artes de um modo geral estão entre as predileções de Joaquim Haickel, quando não está na arena política, de onde não se afasta, mesmo que tenha optado por não mais disputar mandato eletivo.

Cinéfilo inveterado, é autor do filme “Pelo Ouvido”, grande sucesso de 2008. Sua paixão pelo cinema fez com desenvolvesse juntamente com um grupo de colaboradores um projeto que visa resgatar e preservar a memória maranhense através do audiovisual.

Enquanto produz e dirigi filmes, Joaquim continua a escrever um livro sobre cinema e psicanálise, que, segundo ele, “se conseguir concluí-lo”, será sua obra definitiva.

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