Tolos, cafonas e bregas

Fui instado a me posicionar sobre a polêmica do momento em nossa cidade. A implantação de uma réplica da estátua da Liberdade que a empresa Havan pretende erguer na área de estacionamento de sua loja, na avenida Daniel de La Touche, no bairro do Cohaserma.

A princípio, não tive certeza qual seria a palavra, se cafona ou brega, eu deveria usar para expressar o que pensava, do ponto de vista estético, da escolha da Estátua da Liberdade como ícone de uma loja. Na dúvida, usei as duas. É cafona e é brega.

Mas, cafona e brega parecem ser características assumidas descaradamente pela loja e por seu proprietário, fato que se não agrada a pessoas de gosto refinado como eu, certamente deve agradar os milhares de clientes que lotam suas lojas em outros lugares do país, fazendo com que ela seja uma empresa de sucesso econômico e financeiro. Mas, não deixa de ser cafona e brega.

Do ponto de vista midiático, o uso de um ícone, ampla e mundialmente conhecido como a Estátua da Liberdade, por si só, não garantiria nenhuma alavancagem ao negócio. Já a marola criada pelos incautos patrulhadores do alheio, aqui de nossa província, essa sim, irá alavancar um tsunami de visibilidade àquele empreendimento, que em seu pátio terá uma estátua gigantesca, cafona e brega.

Querer impedir que alguém faça alguma coisa que não tenha restrição legal para sua realização, sob qualquer pretexto ou desculpa, é uma forma absurda e inaceitável de violência contra o estado democrático de direito. Esse fato não é nem cafona nem brega, é criminoso, atentatório aos direitos comuns a todas as pessoas, físicas e jurídicas de nosso país.

Querer impor o nosso conceito estético, cultural, político, filosófico, social, intelectual, qualquer que seja ele, a outras pessoas, é uma violência comparável àquelas mais absurdas e inaceitáveis, com as quais temos convivido bastante recentemente, como a não aceitação e a violência contra outras raças, outros gêneros e outras religiões.

Como gato escaldado tem medo de água fria, e sentindo um certo aroma politiquesco no ar, procurei formular minha opinião sobre esse fato, de forma muito clara e direta, não me deixando contaminar por nenhum PRÉ CONCEITO.

Veja, esteticamente aquele bigodinho usado por Hitler era ridículo, cafona e brega, mas o bigodinho até poderia ser aceito. O que não poderia e não pode ser aceito de forma alguma, são as atrocidades cometidas pelo Cabo de Munique!

Fiz perguntas básicas sobre o caso, como por exemplo: A empresa tem direito de construir uma cópia da Estátua da Liberdade? A legislação municipal permite que tal construção, com as especificidades estabelecidas, seja realizada naquele local? Há algum impedimento referente a dispositivos legais, municipais, estaduais ou federais, que possam impedir tal construção? O interessado tem a posse do imóvel onde tal obra pretende ser realizada? As taxas e impostos referentes ao imóvel e a obra estão pagas?

Todas as respostas às minhas indagações foram no sentido de que não há nenhum impedimento legal, não há nenhuma ilegalidade na realização da referida obra.

Os únicos motivos que sobraram para alavancar a tentativa de impedir a tal estátua de ser erguida, eram mais ralos e fracos que refresco de lima.

1) Uma descarada xenofobia, com relevo em pelo menos dois de seus aspectos, o identitário e o cultural. Quem deseja que a estátua não seja erguida, diz que “esse sujeito vem de fora pra dizer o que fazer em nossa terra” e que “se fosse a estátua de um ícone nosso, de nossa cultura, algo como um Cazumbá, ou quem sabe uma estátua em homenagem a Maria Firmina dos Reis, ainda ia!…” 2) Uma inconfessável ojeriza ao proprietário da empresa, Luciano Hang, mais conhecido como o “Véio da Havan”, uma figura realmente esquisita, um direitista empedernido, um militante bolsonarista, um chato mesmo. Cafona e brega.

Ocorre que nenhuma dessas alegações é motivo bastante e suficiente para que se impeça alguém de construir em uma área sob seu controle, uma estátua.

Com tanta coisa importante pra esse pessoal se preocupar, vai se preocupar com uma bobagem dessas!… Tolos…

1 comentário em “Tolos, cafonas e bregas”

  1. Ailton Tonni Castro

    Assino em baixo do seu texto meu caro Joaquim. Como você disse no encerramento, “tanta coisa séria pra gente se preocupar”. Verdade. Na minha opinião o que vale é que o cara está trazendo uma loja pra São Luis, que imagino, irá gerar no mínimo uma centena de empregos, está legalmente se estabelecendo por aqui, é uma alternativa de compras pra quem quiser e se ele tem como marca registrada do seu empreendimento, uma estatua, não interessa se é uma réplica da Venus de Milo, do Davi de Michelangelo ou da estátua da Liberdade, afinal ridícula, brega ou cafona, usando suas palavras, ele pode usar o que ele quiser. O resto é bobagem e falta de querer fazer coisas sérias.
    Grande Abraço

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Perfil

“Poeta, contista e cronista, que, quando sobra tempo, também é deputado”. Era essa a maneira como Joaquim Elias Nagib Pinto Haickel aparecia no expediente da revista cultural Guarnicê, da qual foi o principal artífice. Mais de três décadas depois disso, o não mais, porem eterno parlamentar, ainda sem as sobras do tempo, permanece cronista, contista e poeta, além de cineasta.

Advogado, Joaquim Haickel foi eleito para o parlamento estadual pela primeira vez de 1982, quando foi o mais jovem parlamentar do Brasil. Em seguida, foi eleito deputado federal constituinte e depois voltou a ser deputado estadual até 2011. Entre 2011 e 2014 exerceu o cargo de secretario de esportes do Estado do Maranhão.

Cinema, esportes, culinária, literatura e artes de um modo geral estão entre as predileções de Joaquim Haickel, quando não está na arena política, de onde não se afasta, mesmo que tenha optado por não mais disputar mandato eletivo.

Cinéfilo inveterado, é autor do filme “Pelo Ouvido”, grande sucesso de 2008. Sua paixão pelo cinema fez com desenvolvesse juntamente com um grupo de colaboradores um projeto que visa resgatar e preservar a memória maranhense através do audiovisual.

Enquanto produz e dirigi filmes, Joaquim continua a escrever um livro sobre cinema e psicanálise, que, segundo ele, “se conseguir concluí-lo”, será sua obra definitiva.

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