Dia dos Pais

Por ser Dia dos Pais, resolvi sair das temáticas que mais têm pautado os meus textos nos últimos tempos, cinema e política, para falar um pouco sobre o meu pai, sobre a referência que eu tive e tenho de pai.

Imagino que meus leitores saibam que meu pai foi o empresário e político Nagib Haickel, um sujeito que teve a sorte de casar-se com uma mulher maravilhosa, Clarice Aragão Pinto, que geraram eu e meu irmão Nagib.

Meu pai ficou conhecido por ser um camarada espirituoso, brincalhão, barulhento, direto, autêntico, destemido, de uma inteligência aguçada para números e negócios, mas de pouca paciência para lidar com burocracia, pessoas pouco ativas e pouco operantes. De pavio curto, ia de zero a cem em cinco segundos, mas voltava a zero no mesmo tempo.

Nunca foi um sujeito de mutas posses, mas nunca foi mal de vida. Trabalhador incansável, dizia que trabalhava para ter dinheiro suficiente para não ter que depender de ninguém.

Era conhecido por sua imensa generosidade e pela grande quantidade de amigos que amealhou em sua curta vida. Morreu três meses antes de completar 60 anos, mas morreu como queria. No ponto mais alto que havia chegado. Era presidente da Assembleia Legislativa do Maranhão.

Não teve muito estudo formal. Dizia que havia se formado em quatro faculdades. A primeira era a faculdade da família, amava seus pais, irmãos, esposa, filhos, parentes de um modo geral e aderentes de forma incondicional, tendo sido sempre foi arrimo de sua família.

A segunda faculdade que ele dizia ter se formado, era a da empresa onde começou a trabalhar aos 13 anos, a Chames Aboud e Cia. Dizia que tivera como professores Eduardo, Alexandre, Cesar e Alberto Aboub e como colega, William Nagem, entre outros.

A terceira faculdade, segundo ele, teria sido a Assembleia Legislativa, onde pode aprender com gênios e foi colega de mestres.

A quarta faculdade que ele teria se formado, segundo dizia em seus discursos, era a faculdade da vida e dizendo isso ele se aproximava de forma íntima e carinhosa das pessoas comuns, que naqueles tempos também só tinham a oportunidade de se formarem nessa faculdade. A da vida.

Quando resolvi escrever sobre o Dia dos Pais, fiquei imaginando como fazer isso de forma diferente, então fui procurar em meus álbuns de fotografias, quatro delas que pudessem expressar os estados de espírito mais comuns em meu pai. Fotos de situações nas quais eu o via com frequência.

Na primeira foto, o Nagib enérgico, fosse na vida empresarial ou política. A forma dele agir espantava quem não o conhecia, mas aos seus conhecidos ela era normal e previsível.

Muita gente tinha uma primeira impressão muito ruim dele, mas em quase todas as vezes essa impressão se transformava em muito boa. E não sou eu, seu filho quem diz isso, mas Benedito Buzar, jornalista, historiador e biógrafo de muitos políticos maranhenses.

Na segunda foto, o Nagib orientador, de poucas palavras, mas de muitos exemplos práticos. Por ter pouca paciência, ele queria que as pessoas vissem como agir seguindo seus exemplos.

Na terceira foto, o Nagib esperto, que dava um boi para não entrar em uma briga e uma boiada para não sair dela, que dizia que o difícil se faz logo, e que para se fazer o impossível, era só uma questão de tempo.

Na quarta foto, o Nagib espirituoso e brincalhão, capaz de inventar conversas com Tapiacas e Mandubés na beira do Rio Pindaré, de distribuir toneladas de bombons para a criançada por onde passasse, de pular e dançar em cima dos taipás dos caminhões que fazia de palanque.

Esse era o meu pai. O pai que tive por apenas 34 anos, tempo suficiente para ter me ensinado muitas das coisas que aprendi na vida.

Tenho certeza de que quase a totalidade de vocês que me leem, têm ou tiveram pais como o meu, e que os honram sendo aquilo que meu pai dizia que um homem tinha obrigação de ser: Filho respeitador, irmão companheiro, marido amoroso, pai carinhoso e amigo leal.

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Perfil

“Poeta, contista e cronista, que, quando sobra tempo, também é deputado”. Era essa a maneira como Joaquim Elias Nagib Pinto Haickel aparecia no expediente da revista cultural Guarnicê, da qual foi o principal artífice. Mais de três décadas depois disso, o não mais, porem eterno parlamentar, ainda sem as sobras do tempo, permanece cronista, contista e poeta, além de cineasta.

Advogado, Joaquim Haickel foi eleito para o parlamento estadual pela primeira vez de 1982, quando foi o mais jovem parlamentar do Brasil. Em seguida, foi eleito deputado federal constituinte e depois voltou a ser deputado estadual até 2011. Entre 2011 e 2014 exerceu o cargo de secretario de esportes do Estado do Maranhão.

Cinema, esportes, culinária, literatura e artes de um modo geral estão entre as predileções de Joaquim Haickel, quando não está na arena política, de onde não se afasta, mesmo que tenha optado por não mais disputar mandato eletivo.

Cinéfilo inveterado, é autor do filme “Pelo Ouvido”, grande sucesso de 2008. Sua paixão pelo cinema fez com desenvolvesse juntamente com um grupo de colaboradores um projeto que visa resgatar e preservar a memória maranhense através do audiovisual.

Enquanto produz e dirigi filmes, Joaquim continua a escrever um livro sobre cinema e psicanálise, que, segundo ele, “se conseguir concluí-lo”, será sua obra definitiva.

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