
Sempre acreditei que existem diferentes maneiras de enxergar um mesmo fato. Essa percepção foi essencial para que eu aprendesse a aceitar as outras pessoas e suas ideias, mesmo quando diferentes das minhas. Desenvolver essa compreensão me deu condições de cultivar respeito e tolerância.
Nos últimos dias, tenho refletido sobre um ponto crucial: durante quarenta anos, ideólogos de esquerda demonizaram o ensino sistemático de noções de cidadania, presente em disciplinas como Organização Social e Política do Brasil (OSPB), Educação Moral e Cívica (EMC) e Estudos de Problemas Brasileiros (EPB). Ao eliminarem esses conteúdos, privaram gerações de nossos jovens dos conhecimentos fundamentais para cultivarem a valorização do que é correto, respeito às instituições, amor à pátria e senso de verdadeiro nacionalismo.
Sempre me pareceu claro que esse desmantelo não foi casual, mas parte da estratégia de abrir caminho para a implantação gradual da chamada hegemonia cultural criada por António Gramsci, que busca enfraquecer laços sociais tradicionais, como família, religião, escola, patrimônio e pátria, substituindo-os por valores ideológicos a serviço de um projeto de poder.
O resultado, porém, foi paradoxal. Hoje, os mesmos grupos que desmontaram o ensino da cidadania tentam lançar campanhas travestidas de um falso nacionalismo, mas que não encontram grande e real ressonância junto à população. A ausência de formação cívica transformou essas campanhas em peças frágeis, oportunistas e de fácil desmonte.
No entanto, o estrago se manifesta também de uma outra forma: sem noções sólidas de cidadania, falta ao povo senso crítico até mesmo para identificar essas falsidades. Assim, muitos acabam engolindo narrativas propagandeadas como defesa da soberania nacional, quando não passam de campanhas publicitárias e slogans midiáticos.
Mas quem possui verdadeira formação cívica sabe que defender a soberania nacional é lutar contra ilegalidades, contra a corrupção, contra o autoritarismo, o abusos de poder, a censura, as violações dos direitos individuais e as narrativas mentirosas. É também proteger o país contra ameaças externas reais, não contra fantasmas inventados para justificar erros de governantes oportunistas e incompetentes.
O que nos falta não é propaganda, mas cidadania. Sem a verdadeira noção de cidadania, a bandeira de um país se torna um mero objeto cenográfico, usado para realçar o cenário de uma passeata vazia.