Reconheço-me preconceituoso!

Durante um daqueles movimentados almoços de domingo, quando nossa família se reúne na casa de minha mãe, surgiu o assunto que acabou por resultar no texto de hoje.

Depois daquele dia reconheci perante todos que eu sou preconceituoso. Não que eu exerça qualquer tipo dos preconceitos usualmente existentes no dia a dia.

Reconheci praticar preconceito religioso. Não que eu abomine esta ou aquela pessoa por sua crença. Respeito igualmente católicos, evangélicos, judeus, muçulmanos, budistas, hinduístas e os adeptos de qualquer religião, em que pese, mesmo eu crendo em uma força superior, eu não professar nenhuma religião especificamente.

O preconceito que eu tenho em relação à religião é no que diz respeito àqueles que as usam para manipular as pessoas. Além disso, sinto pena dos que se deixam manipular.

Reconheci que tenho preconceito de gênero. Não que eu valorize mais os homens que as mulheres. Descobri que na verdade eu tenho preconceito em relação a como as pessoas desses gêneros se colocam em relação a si mesmas e à sociedade em que vivem.

Homens que precisem reafirmar a sua condição masculina ou a sua macheza são tão dignos de restrição quanto mulheres que precisem sensibilizar as pessoas por sua condição feminina e “frágil”. Homens e mulheres devem ser simplesmente pessoas!

Bem junto ao preconceito de gênero aparece o preconceito de sexo. Não tenho nenhuma restrição a pessoas que escolham se realizar sexualmente como bem entendam. Nada tenho contra quem deseje ser bissexual, gay, lésbica, travesti, transexual, transgênero ou qualquer outra forma de manifestação da escolha sexual do indivíduo.

Sobre isso, devo dizer que tenho amigos e parentes gays e lésbicas e que os amo e respeito muito! Eles são pessoas inteligentes, competentes, produtivas e responsáveis. Cidadãos na melhor concepção da palavra. O que eu acho errado é quem usa a sua condição sexual apenas para agredir a família e a sociedade, que de forma igualmente constitucional, não os compreendam ou aceitam. Abomino também quem usa sua condição sexual para tirar proveito dos desavisados.

Não fui criado em um ambiente racial segregador, logo convivo com brancos, pretos, amarelos e vermelhos da mesma maneira.

Mas pra não ser hipócrita, certa vez fiz um teste comigo mesmo. Coloquei-me a imaginar minha filha casando com um afrodescendente! Fiquei incomodado com o que pensei, até que um dia ela me apareceu namorando um japonês! Convivendo com o rapaz, sublimei o fato de que meus netos pudessem vir a ter os olhos apertadinhos e serem mais baixos que os jogadores de basquete eu gostaria que fossem. O rapaz era tão gente boa que o fato de sua raça pouco importava.

Quanto ao preconceito em relação à classe social, sempre convivi com pessoas menos abastadas que eu. Não sei se ao dizer “graças a Deus” vou parecer arrogante, não é essa minha intenção, mas dizendo isso reafirmo o que todos já sabem: “Não ter”, é muito difícil. “Ter” é imprescindível. Todos deveriam possuir pelo menos iguais condições de lutar pela possibilidade de “ter”. Há, no entanto, um verbo, palavra que indica a ação do sujeito, capaz de fazer com que pessoas que não “têm” se igualem e até superem aquelas que apenas “têm”. Trata-se do verbo “ser”. De que adianta “ter”, sem “ser”!? Mais vale “ser”, sem “ter”. Quem “é” pode chegar a “ter”, mas quem apenas “tem” sem “ser”, jamais “terá” nada, pois nada “será”.

Naquele almoço comprovei o que eu já imaginava! Eu não tenho nenhum desses preconceitos que existem por aí. O meu preconceito é muito mais elementar, bem mais primordial que os que comumente enfrentamos. Meu preconceito é quanto ao tipo do caráter, da personalidade, da forma com que o indivíduo encara e exerce a vida.

 

PS: Há um outro preconceito do qual não consegui me desvencilhar. É em relação aos hipócritas, sectários e maniqueístas.

 

 

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Perfil

“Poeta, contista e cronista, que, quando sobra tempo, também é deputado”. Era essa a maneira como Joaquim Elias Nagib Pinto Haickel aparecia no expediente da revista cultural Guarnicê, da qual foi o principal artífice. Mais de três décadas depois disso, o não mais, porem eterno parlamentar, ainda sem as sobras do tempo, permanece cronista, contista e poeta, além de cineasta.

Advogado, Joaquim Haickel foi eleito para o parlamento estadual pela primeira vez de 1982, quando foi o mais jovem parlamentar do Brasil. Em seguida, foi eleito deputado federal constituinte e depois voltou a ser deputado estadual até 2011. Entre 2011 e 2014 exerceu o cargo de secretario de esportes do Estado do Maranhão.

Cinema, esportes, culinária, literatura e artes de um modo geral estão entre as predileções de Joaquim Haickel, quando não está na arena política, de onde não se afasta, mesmo que tenha optado por não mais disputar mandato eletivo.

Cinéfilo inveterado, é autor do filme “Pelo Ouvido”, grande sucesso de 2008. Sua paixão pelo cinema fez com desenvolvesse juntamente com um grupo de colaboradores um projeto que visa resgatar e preservar a memória maranhense através do audiovisual.

Enquanto produz e dirigi filmes, Joaquim continua a escrever um livro sobre cinema e psicanálise, que, segundo ele, “se conseguir concluí-lo”, será sua obra definitiva.

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