Neném Prancha me persegue!


Todo santo dia Jair Bolsonaro demonstra cada vez mais ser um péssimo roteirista ao tentar escrever o complicado e triste roteiro de seu futuro.

Se o roteiro de seu passado foi escrito, em parte, por ele — no que diz respeito à sua forma completamente destrambelhada de se comunicar, por não saber se comportar devidamente, por não ser bem preparado para o convívio social, por ter entendimento limitado sobre relações humanas e políticas, por ser rude e ignorante — e, em parte, pelo povo brasileiro, especificamente o eleitor, que, em resposta aos 16 anos de destruição do país perpetrada pelos governos Lula e Dilma, resolveu eleger um deputado que só não era totalmente obscuro pelas barbaridades que dizia e defendia na Câmara Federal…

Se o roteiro da vida de Lula — aquele que ele encomendou aos melhores roteiristas do Brasil, com o suporte dos mais bem remunerados meios de comunicação e seus jornalistas — não fosse bom, ele teria sido esquecido depois dos seus 508 dias de prisão. Neste ponto, alguém pode argumentar que os verdadeiros roteiristas dessa parte da vida de Lula foram os ministros do STF, que abriram caminho para sua “descondenação”. OK! Mas seria difícil fazerem o que fizeram se o personagem não ajudasse. Roteiristas, assim como ministros do STF, podem subverter o tempo ou até mesmo a Constituição… mas milagres eles não são capazes de fazer.

O fato é que as recentes medidas tomadas pelo nosso “Torquemada de plantão”, ministro Alexandre de Moraes, podem, para aqueles apaixonados por Bolsonaro, parecer arbitrárias ou no mínimo excessivas. Mas, mesmo que o sejam, foi ele, Bolsonaro, quem deu motivos para que fossem tomadas.

Quando alguém que está sendo processado por crimes graves como aqueles que ele é acusado, afirma, em entrevista coletiva, que, se lhe devolverem o passaporte, ele irá até Washington falar com Trump para pedir a retirada das tarifas impostas aos produtos brasileiros, está dizendo claramente que pretende sair do país — o que lhe está terminantemente proibido. Só alguém sem o mínimo senso de realidade faria algo assim!

A fala idiota de Bolsonaro foi a desculpa perfeita que seus opositores queriam para justificar uma medida como essa. Ele provocou tudo isso.

Um momento! Será que estou subestimando esse gênio? Será que ele deseja, de fato, se tornar uma vítima — ou até um mártir — para uma parcela considerável da população brasileira que parece disposta a se deixar influenciar por suas loucuras? Se for isso, parece que vai ganhar o Oscar de melhor roteiro de um filme que jamais será feito.

É completamente impossível para mim defender o que Bolsonaro pensa ou faz. Para mim, ele é um camarada boçal que, apesar disso, conquistou uma popularidade fenomenal entre o povo brasileiro, independentemente de classe social, faixa etária, gênero ou renda — por dizer e defender ideias em que muitos acreditam, mesmo que não concordem com sua forma de falar e até agir.

Para mim, na verdade ele é o maior responsável por trazer de volta ao poder o que há de pior na política brasileira: a mentira, a hipocrisia, a guerra entre classes e grupos, a desagregação gramscista. A eleição de 2018 consolidou um padrão já existente, mas não dominante: o de escolher o menos ruim para evitar o pior.

Na eleição de 2022, o padrão se repetiu, com um agravante: foi necessário resgatar alguém já descartado da vida pública por crimes contra a nação, para fazer frente a uma “besta-fera” incapaz até de ser mentirosa e hipócrita de forma convincente e aceitável.

A tornozeleira eletrônica e as restrições impostas a Bolsonaro por Moraes foram, na prática, provocadas por ele mesmo. Resta saber se isso foi calculado — uma estratégia para se vitimizar — ou se ele é, de fato, aquilo que penso: um imbecil.

Lembrei de Neném Prancha: “Quem pede, recebe. Quem se desloca, tem preferência.” Pediu! Se deslocou! Tá aí!…

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Perfil

“Poeta, contista e cronista, que, quando sobra tempo, também é deputado”. Era essa a maneira como Joaquim Elias Nagib Pinto Haickel aparecia no expediente da revista cultural Guarnicê, da qual foi o principal artífice. Mais de três décadas depois disso, o não mais, porem eterno parlamentar, ainda sem as sobras do tempo, permanece cronista, contista e poeta, além de cineasta.

Advogado, Joaquim Haickel foi eleito para o parlamento estadual pela primeira vez de 1982, quando foi o mais jovem parlamentar do Brasil. Em seguida, foi eleito deputado federal constituinte e depois voltou a ser deputado estadual até 2011. Entre 2011 e 2014 exerceu o cargo de secretario de esportes do Estado do Maranhão.

Cinema, esportes, culinária, literatura e artes de um modo geral estão entre as predileções de Joaquim Haickel, quando não está na arena política, de onde não se afasta, mesmo que tenha optado por não mais disputar mandato eletivo.

Cinéfilo inveterado, é autor do filme “Pelo Ouvido”, grande sucesso de 2008. Sua paixão pelo cinema fez com desenvolvesse juntamente com um grupo de colaboradores um projeto que visa resgatar e preservar a memória maranhense através do audiovisual.

Enquanto produz e dirigi filmes, Joaquim continua a escrever um livro sobre cinema e psicanálise, que, segundo ele, “se conseguir concluí-lo”, será sua obra definitiva.

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