Imagem: nenhuma palavra, mil sentimentos.

Sempre que passo na Beira-Mar, logo após aquela curva da Pedra da Memória, sinto a impressão de que falta algo naquele cenário. Logo me vem a lembrança da antiga Maria Celeste, que naufragou após um incêndio e cujos destroços fizeram parte, durante anos a fio, daquela parte da fisionomia da nossa São Luís. Muitas lembranças nos ocorrem ora por fatos que vamos puxando da memória ora por imagens marcantes que resistem à passagem do tempo.
Aliás, a partir do momento em que o homem descobriu que as imagens podem ser capturadas e guardadas, até os dias de hoje, o progresso foi notável com tecnologias avançadas – como a Internet -, através da qual é possível ter rápido acesso a bancos de imagens. É possível vasculhar arquivos de fotos que falam por si mesmas. Melhor do que as palavras, fotos que são capazes de traduzir a emoção, a alegria, à tristeza, à beleza, à simplicidade e até mesmo a complexidade de um fato.
Pela Internet, acessando bancos de imagens, pode-se ter um reencontro com fotos históricas, como a do estudante chinês na frente do tanque de guerra; imagens de momentos trágicos, como o da explosão do dirigível Hindemburg, em maio de 1937; ou de momentos alegres, como o da vitória do Brasil sobre a Suécia, na final da Copa do Mundo de 1958, e que dispensam maiores explicações.
Para quem gosta de apreciar estas imagens, o passado e o presente se cruzam, na tela do computador. Lá se pode encontrar aquela foto chocante que registra um dos mais bárbaros momentos da história: o então chefe da polícia sul-vietnamita mata com um tiro na cabeça, em local público e à luz do dia, um guerrilheiro vietcong capturado. Lá se encontram também flagrantes mais recentes, imagens que marcaram o ano passado, como aquela de João Gilberto mostrando a língua para a platéia durante a inauguração do Credicard Hall ou então uma outra imagem, não tão recente, de alguém mostrando a língua, só que para a eternidade e para o mundo, Einstein. São cartazes de filmes, pôsteres de artistas, cartões de natal inesquecíveis, rótulos de produtos e sua evolução.
Pois bem, já que se falou sobre a importância destas imagens, quero voltar a tocar num assunto correlato: o antigo projeto de criação do Museu da Imagem e do Som do Maranhão. Faz exatamente um ano que escrevi um artigo, publicado no “Alternativo” deste jornal, intitulado “Primeira semente do MIS”. Naquela ocasião, lembrei que este projeto, apresentado no ano de 1981 pelo então deputado estadual Marco Antônio Vieira da Silva precisava sair do papel. Desde então abracei a idéia desse projeto e passei a sonhar com este museu, que deverá ter um espaço físico que abranja estúdio para imagens, estúdio para som, um pequeno anfiteatro, um pequeno salão para exposições e bons arquivos para fotos e fitas, além de pessoal competente para a tarefa.
Agora, já avanço nesta idéia achando que este projeto pode ajudar a resgatar a nossa história, também gravando em áudio e vídeo depoimentos de personalidades que participaram – ou participam – da vida política, empresarial e cultural de nosso Estado.
O acervo, com certeza, poderá ser um dos mais ricos. Lá se poderá encontrar as fotos antigas da Avenida Pedro II, da Praça do Panteon, dos bondes, da Rua do Egito, da Praça João Lisboa, da igreja que havia onde hoje existe o Edifício Caiçara. Pode ser um espaço para guardar as fotos do Seu Azoubel e até mesmo servir para que, um dia, por lá eu encontre uma foto da velha Maria Celeste, que podia ser vista de frente para o mar, logo a partir de uma daquelas meias-laranjas do Cais da Sagração.

3 comentários em “Imagem: nenhuma palavra, mil sentimentos.”

  1. Meu caro deputado Joaquim Haickel, e olha que o senhor é um dos poucos que eu respeito naquela casa… vamos e venhamos, há muitas coisa mais importantes pra se fazer no Maranhão que esse museu da imagem e do som. O povo ta passando fome deputado…

  2. Joaquim Nagib Haickel

    Caro amigo sem nome e sem e-mail,
    Em primeiro lugar quero lhe dizer que existem alguns deputados muito respeitáveis e competentes em nosso legislativo. Em segundo lugar quero concordar com você quando diz que tem muitas coisas que precisam ser feitas em nossa terra para melhorar a vida do cidadão. Concordo que há muitos de nossos irmãos maranhenses passando por serias dificuldades, mas quero lhe lembrar de um trecho de uma musica do Arnaldo Antunes dos Titãs que diz assim: ”Você tem fome de que? A gente não quer só comida,
    A gente quer comida, diversão e arte”. Isso deve responder a você que a minha preocupação é com o todo da pessoa, do cidadão, não só com a fome de comida, mas com a fome de oportunidade, de justiça, de arte e de memória.
    Grande abraço e participe sempre.

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Perfil

“Poeta, contista e cronista, que, quando sobra tempo, também é deputado”. Era essa a maneira como Joaquim Elias Nagib Pinto Haickel aparecia no expediente da revista cultural Guarnicê, da qual foi o principal artífice. Mais de três décadas depois disso, o não mais, porem eterno parlamentar, ainda sem as sobras do tempo, permanece cronista, contista e poeta, além de cineasta.

Advogado, Joaquim Haickel foi eleito para o parlamento estadual pela primeira vez de 1982, quando foi o mais jovem parlamentar do Brasil. Em seguida, foi eleito deputado federal constituinte e depois voltou a ser deputado estadual até 2011. Entre 2011 e 2014 exerceu o cargo de secretario de esportes do Estado do Maranhão.

Cinema, esportes, culinária, literatura e artes de um modo geral estão entre as predileções de Joaquim Haickel, quando não está na arena política, de onde não se afasta, mesmo que tenha optado por não mais disputar mandato eletivo.

Cinéfilo inveterado, é autor do filme “Pelo Ouvido”, grande sucesso de 2008. Sua paixão pelo cinema fez com desenvolvesse juntamente com um grupo de colaboradores um projeto que visa resgatar e preservar a memória maranhense através do audiovisual.

Enquanto produz e dirigi filmes, Joaquim continua a escrever um livro sobre cinema e psicanálise, que, segundo ele, “se conseguir concluí-lo”, será sua obra definitiva.

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