A aventura de ir ao cinema.

No final de 1999, escrevi um artigo em que tratava do saudável programa familiar que deveria ser ir ao cinema, e que deveria passar a se constituir em um habito prazeroso e em um costume regular. Três anos depois, a situação que enfoquei mudou pouco, tenho até a impressão de que piorou em alguns aspectos.
Continuo um grande amante da sétima arte, um cinéfilo incurável, um grande apreciador de estórias, de seus contadores, de seus personagens, dos desempenhos dos atores, enfim, de tudo que esteja de alguma forma relacionada com o cinema.
A chegada a nossa cidade, da tecnologia de retransmissão de canais de tv digital via satélite e de uma empresa local de televisão a cabo, possibilitando que possamos, sem sairmos da segurança e do conforto de nosso lar, ter acesso a mais de 100 canais de programação de televisão, que cobrem quase todo o espectro do interesse humano, fez com que alguns mais apressados, imaginassem que o cinema, como local de entretenimento, estava com seus dias contados.
Mesmo com todo esse avanço, mesmo com toda essa tecnologia que esta a nossa disposição, não há nada como ir ao cinema, comprar pipoca, doces e assistir um bom filme, numa sala que tenha pelo menos um bom som, uma boa acústica. Mas já me dava por muito satisfeito se conseguisse assistir a um desses filmes de aventura, bastante popular em todas as faixas etárias, ao lado de uma platéia um pouco mais, digamos, civilizada, já que não podemos exigir muito mais que isso, de um certo grupo de jovens e adolescentes.
Recentemente, fomos eu, minha mulher e minha filha caçula assistir “ O senhor dos anéis – as duas torres” num cinema local. Era um lançamento nacional – nesse ponto as coisas melhoraram bastante – e a fila para compra de ingressos estava dando voltas desde duas horas antes do inicio da sessão e o clima era de descontração e de uma certa apreensão.
Comprei os ingresso bem sedo e cheguei quarenta e cinco minutos antes da hora marcada e ainda assim quando entramos na sala não havia quase lugares para sentarmos juntos. Tudo bem! Procuramos então por lugares separados e descobrimos que quase todos estavam reservados. Uma pratica muito nossa, onde se procura beneficiar os retardatários em prejuízo dos pontuais. Uma coisa muito desagradável.
Fico imaginando se eu fosse um daqueles sujeitos invocados e prontos a defender com unhas e dentes até os mais insignificantes de seus direitos, se resolvesse me sentar num daqueles lugares reservados e arrumasse a maior cascaria…no entanto resolvi o problema de uma forma bem nossa também: arrumei uma cadeira na sala do dono do cinema e sentei-me no corredor.

Se o caso dos lugares reservados não bastasse, com toda certeza bastaria o que estava para acontecer: o delírio flamenguista da platéia cada vez que aparecia uma sena, assim, um tanto mais intima: um beijo, um abraço, até mesmo uma troca de olhares mais romântica. Não digo nem o infortúnio de um dos personagens, que era realmente engraçado, mas os atos de bravura de um outro era recebido com gritinhos e exaltação completamente desnecessários, mas tudo bem! O ruim mesmo foi quando um dos personagens declara seu afeto e sua amizade a um outro… Foi triste e ridícula a demonstração de falta, não de maturidade, mas de compreensão do que realmente é a amizade. Esses sentimentos entre pessoas do mesmo sexo parecem estar expurgados do rol de sentimentos dessa tribo, daquelas tribos. Fiquei triste e furioso.
Apesar de não ter sido uma boa sessão de cinema, o filme não foi decepcionante, e eu e minha família fizemos o que muito nos apraz quando saímos de um programa assim, seja cinema, teatro ou espetáculo de qualquer natureza: vamos para algum lugar comer alguma coisa e trocar as nossas impressões, conversar, aprofundar os nossos conhecimentos, sobre nós e sobre o mundo. Esse é um dos melhores motivos pelo qual devermos cultivar o habito de levar nossa família ao cinema.

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Perfil

“Poeta, contista e cronista, que, quando sobra tempo, também é deputado”. Era essa a maneira como Joaquim Elias Nagib Pinto Haickel aparecia no expediente da revista cultural Guarnicê, da qual foi o principal artífice. Mais de três décadas depois disso, o não mais, porem eterno parlamentar, ainda sem as sobras do tempo, permanece cronista, contista e poeta, além de cineasta.

Advogado, Joaquim Haickel foi eleito para o parlamento estadual pela primeira vez de 1982, quando foi o mais jovem parlamentar do Brasil. Em seguida, foi eleito deputado federal constituinte e depois voltou a ser deputado estadual até 2011. Entre 2011 e 2014 exerceu o cargo de secretario de esportes do Estado do Maranhão.

Cinema, esportes, culinária, literatura e artes de um modo geral estão entre as predileções de Joaquim Haickel, quando não está na arena política, de onde não se afasta, mesmo que tenha optado por não mais disputar mandato eletivo.

Cinéfilo inveterado, é autor do filme “Pelo Ouvido”, grande sucesso de 2008. Sua paixão pelo cinema fez com desenvolvesse juntamente com um grupo de colaboradores um projeto que visa resgatar e preservar a memória maranhense através do audiovisual.

Enquanto produz e dirigi filmes, Joaquim continua a escrever um livro sobre cinema e psicanálise, que, segundo ele, “se conseguir concluí-lo”, será sua obra definitiva.

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