Debate sobre unificação dos pleitos eleitorais

Resovi trazer para cá uma discussão que acredito ser oportuna: A reforma eleitoral.

Em primeiro lugar, transcrevo o texto de meu amigo Flávio Braga (Unificação das eleições: proposta elitista e excludente) e sem seguida o meu, sobre o assunto abordado por ele (Falácia eleitoral).

Espero que apreciem!…

Unificação das eleições: proposta elitista e excludente

Em tempos de pandemia de Covid-19, mais uma vez a proposta de unificação das eleições em todos os níveis da Federação está na agenda nacional. As principais vantagens alegadas pelos seus defensores são o barateamento das campanhas eleitorais, racionalização do processo eleitoral com economia de recursos públicos, maior eficiência da gestão pública, ininterrupção do funcionamento das casas legislativas e cansaço do eleitorado.

Sustentam que, com a realização de eleições simultâneas para todos os cargos eletivos, haverá uma única campanha eleitoral a cada quatro ou cinco anos. Nos anos não-eleitorais, os Poderes Executivo e Legislativo poderiam realizar seus trabalhos sem a necessidade de envolvimento com a mobilização eleitoral de candidatos e partidos. Trata-se de argumentos falaciosos, sofismáticos.

Como veterano militante da seara eleitoral, sou radicalmente contra essa proposição legislativa, por entender que a tarefa de construção e amadurecimento de um país democrático deve ser uma prática quotidiana, imbricada num processo de melhoria contínua.

A realização de eleições a cada dois anos traz uma contribuição magistral para a politização das pessoas, tonificando e robustecendo o exercício da cidadania. Inequivocamente, o alargamento desse interregno produziria resultados mais negativos do que positivos. E o mais grave: como consequência direta e imediata, provocaria o recrudescimento da alienação e do analfabetismo políticos.

Quando a população é estimulada a exercitar a soberania popular e vivenciar o debate político, a tendência é aumentar a sua conscientização e a higidez do Estado Democrático de Direito. É uma forma clássica de agregar valor ao sistema político. Portanto, quanto mais eleição melhor. Quanto mais participação político-popular melhor. Faz parte da essência do termo “democracia”.

A cada pleito a República amadurece um pouco mais, o processo eleitoral se aprimora e as instituições democráticas se fortalecem. Possibilita-se, assim, uma interação maior do eleitorado com os atores políticos e o sistema representativo, aprofundando a discussão crítica em torno da busca de soluções para os tormentosos problemas sociais, políticos e econômicos.

Em verdade, trata-se de uma proposta elitista, excludente e aristocrática, na medida em que carrega o escopo subjacente de excluir a participação do eleitorado do cenário político, resguardando o monopólio do seu protagonismo apenas para políticos profissionais e tecnocratas.

Por fim, cabe frisar que a quantia que a Justiça Eleitoral despende em cada eleição para manter viva a chama da democracia é irrisória em face do montante estratosférico das dotações que compõem o Orçamento Geral da União.

Falácia eleitoral

Acompanho sempre que posso o que escreve o meu amigo e professor Flávio Braga a respeito de direito eleitoral. Às vezes concordo com ele, mas especificamente, no que diz respeito a sua opinião, expressada no seu texto “Unificação das Eleições: Proposta Elitista e Excludente”, devo discordar por ele se basear em teses aparentemente corretas que estão eivadas de erros de interpretação da realidade, e até de desvirtuação dela.

Diz o professor, “… vantagens alegadas pelos seus defensores são o barateamento das campanhas eleitorais, racionalização do processo eleitoral com economia de recursos públicos, maior eficiência da gestão pública, ininterrupção do funcionamento das casas legislativas e cansaço do eleitorado”.

O Professor atua como um reducionista que se apega a detalhes literários de uma construção frasal para tentar diminuir a ideia contida nela, por falta do devido aprofundamento.

E ele continua, “Sustentam que, com a realização de eleições simultâneas para todos os cargos eletivos, haverá uma única campanha eleitoral a cada quatro ou cinco anos. Nos anos não-eleitorais, os Poderes Executivo e Legislativo poderiam realizar seus trabalhos sem a necessidade de envolvimento com a mobilização eleitoral de candidatos e partidos. Trata-se de argumentos falaciosos, sofismáticos”.

O que o professor diz ser falácia e sofisma é a mais pura verdade e a mais palpável realidade, e provo isso usando lógica, bom senso e conhecimento do sistema eleitoral.

Peguemos o exemplo de um político que concorra a mandato eletivo para o executivo. Ele precisa antes de mais nada se eleger, vencer a eleição para a qual se candidatar. Isso demanda tempo, dedicação e principalmente recursos financeiros, sem contar com uma série de negociações e “conchavos” políticos, partidários e eleitorais.

Ao se eleger, o candidato assumirá o cargo de prefeito, por exemplo, e durante o primeiro ano do mandato, e muitas vezes até mesmo durante o segundo, ainda sofrerá as influências da eleição. Influências ligadas à dívidas políticas, compromissos eleitorais, pendências financeiras… Isso leva tempo para ser sanado e regularizado! É assim que acontece na vida real, não no imaginário idealístico das pessoas.

No segundo ano de seu mandato aquele prefeito irá comandar em seu município uma nova eleição onde fará de tudo para eleger deputados, senadores, governador e presidente, ligados a si, que lhe apoiem e respaldem. Será mais uma batalha, envolvendo compromissos políticos, eleitorais e financeiros, o que faz que de dois em dois anos o sistema eleitoral destrua o sistema administrativo e crie um círculo vicioso insuperável, pois dele resultará ou não a sobrevivência política e pessoal dos envolvidos neste intrincado jogo, que sempre escolherão a sobrevivência em detrimento de ações corretas em benefício da sociedade!

Esse é um dos motivos mais decisivos para unificarmos as eleições e aumentarmos os mandatos para cinco ou seis anos sem direito a reeleição para cargos executivos.

Mas o professor Flávio Braga continua seu texto e comete mais adiante o mais grave dos erros em meu ponto de vista. O de querer usar eleições como remédio para sanar a incapacidade da família, do Estado e da sociedade de modo geral, de fazer com que as pessoas através do ensino e da educação, possam se tornar CIDADÃOS, na verdadeira concepção da palavra.

Usar-se eleição para ensinar o povo a votar, a escolher seus representantes, é a suprema barbaridade, uma vez que sabemos que o voto é, em primeiro lugar, uma atitude emocional, sujeita a manipulações das mais diversas, ao alcance de publicitários e marqueteiros. Depois o voto depende da relação do candidato com o eleitor, que muitas vezes criam entre si um ambiente construído por identidades religiosas, raciais, culturais e clientelísticas, ligadas a própria sobrevivência, de um e de outro.

Nem vou continuar a analisar o texto do Professor Flávio Braga, pois acredito que tenha conseguido explicar de forma satisfatória onde está e em que consiste o seu erro quanto a esse assunto.

A solução tem que ser mecânica. Depois que o sistema funcionar satisfatoriamente, veremos maneiras de aprimorá-lo.

A pá de lixo

Política é um jogo bem parecido com o xadrez! É preciso que se pense com cautela e argúcia nas consequências dos movimentos que fazemos. Movimentarmos peões, cavalos, bispos e torres sem o devido conhecimento das consequências dessas ações, acarreta situações que em alguns casos serão decisivas, positiva ou negativamente, no sucesso do jogo.

Os jogadores mais gabaritados do xadrez político, adversários do presidente Jair Bolsonaro, devem saber que tirar o capitão da presidência da República irá causar um efeito diverso daquele que eles pretendem, pois seu substituto, general Hamilton Mourão é muito mais bem preparado e não fará as bobagens que seu comandante em chefe comete tão corriqueiramente!

Imagino que o que na verdade os adversários de Bolsonaro querem, não é simplesmente tirá-lo do poder, mas, tal qual o Adélio Bispo, esfaqueá-lo, repetidamente, para fazê-lo sangrar, enfraquecendo-o, para ganhar dele a eleição em 2022 e assim voltarem ao poder. Pelo andar da carruagem, tudo indica que irão conseguir seu intento!

As diversas burrices que comete o presidente Bolsonaro formam um conjunto de coisas absurdas, dignas representantes daquilo que o genial Sergio Porto, o Stanislaw Ponte Preta, nomeou como Febeapá, Festival de Besteiras que Assola o País. E não adianta os adoradores do Mito virem dizer que ele não é burro, que não é ignorante, mal educado, que ele faz tudo como deve ser feito, tanto que por isso se elegeu presidente da República. O fato é que ele não se elegeu presidente, ele foi usado como uma conveniente pá de lixo, que por acaso agradava, naquele momento aos eleitores!

Da mesma forma como acontece com as pás de lixo, depois de algum tempo, depois de terem cumprido o seu papel, elas são descartadas e jogadas fora, junto com o mesmo lixo que elas ajudaram a eliminar.

Com um verdadeiro líder acontece diferente, ele pode até ser descartado eleitoralmente, como aconteceu com Churchill, que depois de liderar o Reino Unido e o mundo contra Hitler e os nazistas, perdeu a eleição. Mas, ocorre que ele será sempre lembrado como um líder, alguém que como Moisés liderou seu povo em momentos decisivos de sua história, mesmo que como punição, Deus o tenha proibido de entrar na terra prometida. Alguém que como Martin Luther King lutou por uma correta e justa ideia e até morreu por ela, sem vê-la realizada.

Já está passando da hora de Jair Bolsonaro resolver se vai entrar para a história do Brasil como apenas uma pá de lixo, fato que para ele, em sua forma desfocada e obtusa de ver as coisas, parece ser o suficiente.

Para nós, que esperamos muito mais daqueles que devem liderar nosso país, nossa nação e nosso povo, na conquista de tempos e condições melhores, uma pá de lixo não é a solução, pois o lixo sempre vai se acumular.

Precisamos de um líder que estabeleça as condições necessárias para que tenhamos tudo que se precisa para viver de forma minimamente digna e aceitável, onde inclusive se tenha garantias de um serviço de limpeza, não apenas sanitária, mas também política, que impeça o lixo humano de se apropriar do poder, dos corações e das mentes de nosso povo.

Não sei se ainda há tempo para Bolsonaro deixar de ser apenas uma pá de lixo, mas o povo brasileiro ficaria muito feliz se pelo menos ele realmente tentasse.

Indignado pela indignidade

É indecente e criminosa a politização que está ocorrendo em torno da pandemia de coronavírus. É asquerosa a atitude de pessoas que aproveitam ocasiões de tamanha dificuldade para dar vazão a essa que é uma das mais torpes facetas da condição humana: a perfídia.

Utilizarem-se deste momento, em que enfrentamos essa avassaladora calamidade, onde todos estamos sujeitos a adoecer e alguns até a morrer, para tirarem vantagem política ou denegrir adversários, é algo ultrajante e inaceitável.

Os canalhas que fazem esse tipo de coisa estão sendo observados, e mesmo aquelas pessoas de pouca percepção, são capazes de reconhecer quem joga com suas vidas.

É igualmente inadmissível gestores públicos idiotas não serem capazes de se comportar com a devida e necessária civilidade, urbanidade e decoro, ainda mais em um momento como esse. Muito grave também é o que acontece com a imprensa, onde jornalistas tomam posições ideológicas e partidárias, colocando em segundo plano o bem comum.

Exigir-se inteligência emocional de quem não a possui talvez seja demais, mas ter-se a inteligência comum, aquela que nos faz entender como funciona uma operação simples de adição ou subtração, isso é indispensável. Sem essa inteligência mínima, somos completamente descartáveis, principalmente neste momento de crise.

O que se espera é que todos deem vazão à honra e à nobreza que deve habitar em algum canto obscuro, até mesmo da criatura humana mais desnaturada que vaga sobre esta condoída terra.

Estou enojado com o que tenho visto e posso garantir que o que vi até aqui me faz crer que ninguém está inocente das acusações.

A responsabilidade de um governante numa hora dessas ultrapassa o limite da mera representatividade eleitoral e política. Ela passa a extrapolar os limites da obrigação legal e a se estabelecer como questão de posicionamento social e humano.

A macroeconomia, lato sensu, e individualmente os sistemas econômicos mais simples, que vão das empresas de maior porte até as empresas individuais, atingindo o cidadão comum na ponta mais distante desta cadeia, não pode ser de forma alguma esquecida, mas também não pode ser o item mais importante neste momento.

Quando eu era detentor de cargo público, como deputado ou secretário de estado, sempre chamei a atenção dos meus colegas e colaboradores para um dilema que bem representa a vida e a ação dos políticos de todas as esferas. O dilema da vaca e do carrapato.

Nele, algumas pessoas advogam que por existirem carrapatos, melhor seria não se ter vacas, enquanto alguns mais radicais defendem que se mate as vacas para acabar com a praga dos carrapatos.

Desculpem o exagero deste exemplo, mas ele se deve ao fato absurdo de existir pessoas incapazes de ver que cada caso possui no mínimo dois lados. Muitos casos possuem três, quatro, cinco… Uma infinidade de facetas que devem ser levadas todas em consideração. Imaginem no caso de uma situação como esta que estamos enfrentando agora!?…

Da mesma forma que o desastre que essa pandemia vai causar em nossas vidas a curto prazo, de forma pontual e particular, ela causará um incalculável e descomunal desastre econômico, que acarretará problemas gravíssimos de todas as ordens, em todas as esferas, de todos os setores da sociedade.

Mas uma coisa é certa! Os que não morrerem vítimas desta doença, sofrerão as graves consequências dela, e precisam estar preparados para isso. Sobreviver é possível, vejam o que aconteceu depois da peste negra, o que aconteceu durante e depois das grandes guerras, e em consequência das grandes quebradeiras e recessões pelas quais o mundo passou! Sobrevivemos!…

O que não é admissível é que os canalhas de um lado e jumentos de outro, tentem tirar proveito dessa calamidade para ganhar alguma coisa com isso, seja econômica ou politicamente. Isso é inaceitável!

A hora é de total desarmamento dos espíritos.

Os Cavaleiros do Apocalipse

Essa pandemia causada pelo novo coronavírus fez com que eu fosse ler um pouco a esse respeito, e em meio a minhas leituras deparei-me com matérias correlatas que me remeteram a outro assunto: o fim dos tempos, o que me levou ao Evangelho de João, o Livro das Revelações, mais conhecido como Apocalipse.

Escrito como se fosse uma poesia, meio que psicodélica, pois em algumas passagens o escritor está tão doidão, parece até ter usado algum tipo de alucinógeno, pois nos induz a acreditar que está tendo visões bem características deste tipo de atitude. É aí que aparecem os Quatro Cavaleiros do Apocalipse: a fome, a guerra, a peste e a morte.

Aquela leitura me fez ver que em pleno século XXI, tempos de imensa evolução tecnológica, a humanidade ainda é atingida de forma avassaladora por surtos, epidemias e pandemias, nos remetendo a um texto religioso de dois mil anos.

Segundo as estatísticas da Organização Mundial da Saúde, morrem no mundo, vítimas apenas dos mais diversos tipos de gripe, duas pessoas por minuto, 120 por hora, mais de 2.800 por dia, acima de 86.000 por mês, o que totaliza mais de 1 milhão e 50 mil pessoas, anualmente.

Porém, há um fato muito mais alarmante do que essa peste que se abate sobre a humanidade e que nos passa despercebido, mesmo sendo muito mais cruel e permanente que a falta de saneamento e as doenças que ela acarreta. Falo da fome, outro dos quatro Cavaleiros do Apocalipse, que segundo João de Patmos se espalharão pela terra e a devastarão, quando estiver próximo o fim do mundo.

Segundo estatísticas da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura, a fome mata pelo mundo, 10 pessoas por minuto, 600 por hora, mais de 14.000 por dia, algo em torno de 430.000 por mês, totalizando mais de 5 milhões 180 mil pessoas por ano. O equivalente a quase cinco vezes a população da cidade de São Luís! São números inacreditáveis!

Em outra esfera, e por mais incrível que possa parecer, a guerra, outro cavaleiro do dos tempos, mata muito menos pessoas. Estimativas indicam que aproximadamente 360 mil pessoas morreram em 2019 nas guerras convencionais, em curso no mundo. Número bem inferior à quantidade de outras mortes, causadas pelos outros agentes citados anteriormente.

O número de vítimas da guerra ganha imensas proporções quando se soma todas as mortes de todos os conflitos bélicos da história, mas cumulativamente os três fatores são catastróficos.

O quarto flagelo é a própria morte, e nesta última leitura que fiz, por um instante, fiquei achando que havia um erro naquele elenco, afinal de contas os três outros cavaleiros sintetizam o quarto. Todos levam à morte! Mas logo entendi que aquela morte citada por João em seu caótico poema profético, tem uma outra conotação, uma outra dimensão, ela diz respeito a um outro tipo de vilão que ataca a humanidade também há milênios. O controle torpe e corrupto dos homens e das sociedades por religiosos e políticos infames e mentirosos. Essa morte representa isso, a falência das lideranças da humanidade, na religião e na política.

A alegoria usada para caracterizar os quatro mensageiros do fim dos tempos é auto explicativa: montado em um cavalo branco acinzentado, aparece uma figura de porte majestoso, usando uma coroa, um arco e uma máscara, que representa a mentira e a infâmia praticadas pelos poderosos da falsa igreja e os mandatários da terra; um potro avermelhado, cor do sangue que jorra nas guerras, traz uma figura com características de guerreiro que empunha uma espada com a qual matará seus inimigos; um equino negro, cor que sugere as trevas e a ganância, traz montado em si uma figura famélica, carregando uma balança destinada a fraudar a pesagem e a distribuição dos frutos que por sorte brotem da terra; e, por fim, um corcel amarelo esverdeado, cuja cor sugere a decomposição dos corpos, traz montado em si uma figura com característica cadavérica, empunhando uma jarra contendo doenças e uma espécie de gadanho, que usará para revirar os restos de suas vítimas.

No momento atual é este último cavaleiro, o da peste, que nos visita. Ele está sendo combatido e certamente será derrotado em mais essa batalha. Mas uma pergunta se impõe: até quando ficaremos reféns destes flagelos? Quando iremos nos livrar deles definitivamente?

A minha opinião é que estes quatro tem um que os lidera, e que deve ser eliminado para que os demais deixem automaticamente de existir.

Pense nisso!…      

Singularidade

Ninguém pode sustentar com capacidade de impor como verdade, a narrativa de que uma pessoa age discriminando as mulheres, lato sensu, se ficar comprovado que tal pessoa se refere a um indivíduo em particular, que por acaso é uma mulher, não pelo fato de ser mulher, mas por sua posição política e ideológica. O mesmo ocorre em muitos outros casos, como narrativas sobre racismo, homofobia, fascismo, corrupção, desonestidade…

Dois casos desse tipo tomaram conta do nosso dia a dia nos últimos anos. No primeiro, a esquerda, insiste em dizer que criaram uma narrativa caluniosa, injuriosa e difamatória contra o ex-presidente Lula, imputando a ele ações criminosas, corruptas e desonestas que envolvem bilhões em desvio do erário público brasileiro.

Acusações foram feitas, processos foram instaurados, julgamentos aconteceram, sentenças foram proferidas, penas foram cumpridas e ainda assim a banda à esquerda do espectro ideológico de nosso país, de modo geral, defende a inocência do apenado, declarando isso tudo ser uma grande trama, um grande golpe contra a liberdade e o estado democrático de direito.

Por outro lado, a direita defende incondicionalmente o presidente Jair Bolsonaro, acusado de racismo, homofobia, misoginia, fascismo, apologia ao desrespeito à liberdade, à violência e à ditadura.

O fato é que em 2018, depois de desmontado, o esquema de poder do Partido dos Trabalhadores, que comandou nosso país, por 14 anos, apoiado numa esquerda que minou, aparelhou e fragilizou nossa sociedade nas últimas seis décadas, ruiu.

Isso aconteceu por um motivo elementar, comum às estruturas políticas baseadas em ideologias autoritárias, concentradoras de poder, mesmo aquelas que APARENTEMENTE não o são, como no caso da que se implantou no Brasil, desde a ascensão da esquerda ao poder em 1995 com Fernando Henrique Cardoso.

Essas estruturas não sobrevivem ao tempo, pois as pessoas e as gerações mudam. Elas não se perpetuam, ainda mais em uma sociedade como a de hoje, onde a informação se dissemina por si só, não dependendo mais dos grandes detentores e manipuladores do poder jornalístico, que teve seu apogeu nos anos quentes da Guerra Fria, nas décadas de 60 e 70, e seu declínio a partir de 1989, com a queda do Muro de Berlim, símbolo do controle ideológico e político de metade do mundo pelo comunismo.

Acusar Bolsonaro de tudo que acusam é muito fácil e acho até que ele ajuda bastante seus acusadores, pois é um camarada verborrágico, irascível, descontrolado, que reage primeiro e pensa depois!… Quando pensa!…

Mas acusar quase 60 milhões de brasileiros que disseram um retumbante NÃO a tudo que o PT e os esquerdistas fizeram com nosso país, isso é inadmissível! Um absurdo sem precedentes na história contemporânea, essa mesma história que é movimentada e sustentada pelas redes sociais!…

A tentativa de criar uma narrativa falsa sobre o fato de nossa democracia está sendo enfraquecida pelo presidente, que ele defende o uso da violência, o desrespeito à liberdade, à depredação do meio ambiente, que ataca índios, homossexuais, mulheres, negros… Isso é apenas o reducionismo da questão política estabelecida pela esquerda em busca de recuperar o espaço que perdeu.

Bolsonaro é acusado de misoginia, mas ele tem parte das mulheres ao seu lado. Ele não ataca as mulheres, ataca as pessoas deste gênero que se opõem a ele e ao seu projeto político, que foi chancelado por seus eleitores! O mesmo ocorre com os negros, os homossexuais, os indígenas… O problema deste senhor é que além de não saber se comunicar, não demonstra nenhum interesse em aprender, o que dificulta muito o trabalho de pessoas que como eu, acredita saber o que realmente está acontecendo em nosso país.

Em minha modesta opinião o que está acontecendo no Brasil é um distúrbio, quase como uma singularidade gravitacional, causada pelo desmonte das estruturas sociais, perpetrado pelas ideologias de esquerda, na intenção de controlar totalmente a sociedade. Ninguém está preparado para absorver e solucionar a imensa fragilidade estrutural causada pelo vazio, pelo buraco negro (se é que posso chamá-lo assim sem ser considerado racista), que dá origem a este distúrbio, a esta singularidade.

PS: Atenção patrulhadores, de esquerda e de direita: corram para o Google!…

A importância da História

Fiquei imaginando qual é a nota que se poderia dar, de zero a dez, para filmes baseados em fatos reais, no que diz respeito ao conhecimento, aprendizado que eles possam nos oferecer ao assisti-los. Imaginei isso no tocante às portas e janelas que eles possam abrir para nós, mesmo que algumas vezes até conhecemos o enunciado do assunto, mas quase sempre desconhecemos os detalhes sobre eles.

Cheguei à conclusão que muitas respostas podem ser dadas a essa pergunta, mas posso garantir que nenhuma será igual a zero. Não existe nenhum filme, por pior que seja, por mais mal feito que possa ser, que não agregue conhecimentos e aprendizados para quem o assistir. 

Observei que muito poucas deverão ser as notas iguais a 1, 2 e 3, e essas não estarão relacionadas a filmes ruins, mas àqueles que se apropriam de um determinado fato real para desenvolver em torno dele uma forte carga dramática. Essas podem até parecer notas baixas para filmes tão importantes, mas não são. “Tróia”, “Barrabás”, “Quo Vadis”, “Coração Valente”, “…E o Vento Levou”, “Sem Lei, Sem Alma”, “O Encouraçado Potemkin”, “Doutor Jivago”, “O Discurso do Rei” e “Cidadão Kane”, são perfeitos representantes deste tipo e desta categoria de filme. 

Estabeleci que notas 4, 5 e 6 deveriam ser as pontuações de filmes que usam em seus enredos apenas algumas dramatizações e licenças poéticas, como é o caso de “Ben-Hur”, “Spartacus”, “El Cid”, “1492, a Conquista do Paraíso”, “A Rainha Margot”, “Titanic”, “Carruagens de Fogo”, “Reds”, “O Vento será tua Herança”, e “O Império do Sol”. Todos, filmes baseados em fatos reais, que se apoderam das narrativas literárias e cinematográficas para mais e melhor envolver o público, dando asas à dramatização, mas mantendo-se bem fiéis ao fato histórico enfocado. 

Vi que poderia dar notas 7, 8 e 9, para filmes que estão em patamares quase totalmente ancorados em fatos reais, mas com uma pegada mais próxima da documentação histórica, não do documentário, e sim com menos preocupação com os artifícios literários do roteiro ou com os recursos próprios da cinematografia, como, “A Missão”, “Amistad”, “Tora, Tora, Tora”, “O mais Longo dos Dias”, “A Queda – as últimas horas de Hitler”, “O Julgamento de Nuremberg”, “Malcolm X”, “JFK – A Pergunta Que Não Quer Calar”, “Os Gritos do Silêncio” e Attica.

As notas 10, em minha opinião, devem ser atribuídas a filmes que agradam quase a unanimidade das pessoas graças a sua abordagem bem ajustada, limpa, sem ruídos, irretocável, como é o caso de “A Guerra do Fogo”, “Agonia e Êxtase”, “O Homem que não Vendeu sua Alma”, “Amadeus”, “Os Eleitos”, “O Último Imperador”, “Lawrence da Arábia”, “Gandhi”, “Patton” e “A Lista de Schindler”. 

É importante que se ressalte que quem tiver o privilégio de assistir a esses 40 filmes, pode se considerar não só um felizardo, mas ficar certo de ter tido acesso a algumas das páginas mais importantes da história da humanidade. 

Preciso dizer também, sendo um pouco gabola, que assisti a todos estes filmes e a mais algumas centenas deste mesmo tipo, que é o meu favorito. Os vejo sempre com o espírito crítico bem aguçado, procurando analisar neles, o que é verdade e o que é obra literária e cinematográfica. Sugiro que se pesquise a respeito dos fatos envolvendo os filmes baseados em eventos reais ou históricos, faço isso frequentemente e essa é uma outra grande satisfação que tenho com o cinema: a pesquisa histórica.

Abordei esse assunto hoje porque durante a semana que passou, assisti a dois filmes baseados em fatos reais, os quais eu, que sou tido por algumas pessoas como um sujeito culto, bem informado, além de cinéfilo de grande monta, nem imaginava que existissem. Os filmes e muito menos os fatos que os motivaram.

Não vou fazer spoilers! Só vou dizer que os filmes, “Jodotville” e “O Banqueiro da Resistência”, são imperdíveis, menos pela arte cinematográfica que expressam, e muito mais pelas extraordinárias e surpreendentes histórias que contam. 

Esses dois filmes estão disponíveis na Netflix. Não deixe de assisti-los, e descubra o quão pouco nós conhecemos a história de nosso mundo e comprovem a crueza de nossa condição humana. 

PS: Depois que acabei de escrever esse texto, quando fui lê-lo novamente para revisá-lo, constatei que a maioria dos 42 filmes que usei nele, como exemplos, têm de alguma forma envolvimento com conflitos bélicos. Parece que essa infelizmente é uma marcante e triste condição humana. 

Conversas de Carnaval

Durante o carnaval, minha esposa, Jacira, leu para mim, uma postagem em uma rede social que relacionava uma série de expressões como formas sutis, subjetivas e indiretas de preconceito.

Muitas eu conhecia e não as ligava a preconceito, como denegrir. Para mim denegrir era apenas um verbo que significava macular, difamar, falar mal de alguém. Algumas eu conhecia e até ligava a preconceito, mas num sentido meramente simbólico e até de certa forma positivo, como judiar, expressão que significa maltratar, mas pensava que essa expressão fosse usada no sentido de nos fazer lembrar como foram perseguidos os judeus, não para induzir a crueldade para com eles.

Até o dia que minha mulher leu para mim a tal postagem, acreditava que uso da palavra negra associada as palavras magia, lista, mercado e coisa, eram meras associações deste substantivo ou adjetivo feminino como sinônimo de oculta, perigosa, ilegal e difícil! Em minha cabeça essas expressões jamais foram uma tentativa de marginalizar uma raça, diferentemente de coisa de preto, mulata, ou cabelo de nego, essas sim, claramente eivadas de preconceito.

Mas entre todas aquelas expressões, uma me deixou perplexo pelo fato de não conhecer o motivo histórico de tal termo ser usado, ou seja por total falta de conhecimento, de cultura mesmo, de minha parte, como acredito que ocorra neste caso específico com a maioria das pessoas. Soube naquela ocasião que o nome criado-mudo, atribuído ao móvel que colocamos ao lado das camas, é proveniente de um hábito escravocrata, de quando os “senhores” colocavam seus escravos postados, durante toda a noite, ao lado de suas camas segurando uma bilha com água e um copo. Eu jamais poderia imaginar que alguém pudesse ter uma ideia tão absurda e estapafúrdia como essa. Muito mais prático seria colocar-se um banquinho para esse fim!

Pois bem! Ao saber que o outro nome dado à mesinha de cabeceira fazia referência a uma atitude repugnante do tempo da escravidão, fiquei chateado comigo mesmo, por desconhecer tal fato. Além disso fiquei indignado por ser considerado preconceituoso por usar essa expressão, pois, uma vez que não sabia que ela tinha essa conotação, não poderia ser acusado por tal atitude, mas de qualquer modo, daquele dia em diante, só me referirei ao móvel colocado ao lado das camas como mesinha de cabeceira, a magia é oculta, a lista é perigosa, o mercado é ilegal e a coisa tá difícil!

Outro assunto foi tema de nossas conversas durante o carnaval. A existência de um tal do Lugar de Fala, que em minha modesta opinião é uma invenção que tenta limitar a liberdade de expressão de uns em relação a pretensos direitos de outros. É como se algumas pessoas, resolvessem que há uma hierarquia entre alguns direitos fundamentais do cidadão, estabelecidos no artigo quinto da Constituição brasileira, que trata de nossos direitos e garantias individuais e fundamentais. Falo desse assunto usando o mesmo argumento das pessoas que inventaram e defendem esse tal Lugar de Fala, pois fui membro da comissão de parlamentares que durante dois anos trabalhou na confecção desta quadra de nossa Constituição.

Algumas pessoas estabeleceram que alguns direitos, de certos cidadãos, são mais importantes que outros direitos de outros cidadãos, o que é um contrassenso, além de tornar o exercício desses tais direitos subordinados ao uso social deles, transformando-os em poderosos instrumentos de poder de uns cidadãos iguais, contra outros que deveriam também ser igualmente cidadãos.

A tese do Lugar de Fala estabelece que só pode falar ou se manifestar sobre um determinado assunto quem o tenha vivenciado. Nenhum homem pode falar sobre assuntos de mulheres, como por exemplo, menstruação, gravidez, cabelos no sovaco… Nenhum homem pode se dizer feminista! Um teólogo protestante, não pode comentar sobre uma religião de matriz africana… Um filósofo, sociólogo, antropólogo ou psicólogo heterossexual não pode tecer comentário, nem aqueles que sejam aceitos ou favoráveis, sobres assuntos homossexuais, por não ter legitimidade.

Estou vendo a hora alguns tentarem impedir que um cidadão reclame da forma como outros desestabilizaram, corromperam e destruíram a sociedade, que pertence igualmente a todos. Imagine se tentarem impedir que o torcedor de determinado time reclame da chatice de outro, ou um pai de bem educar um filho.

Acredito que eu tenha Lugar de Fala, enquanto pessoa, cidadão cumpridor de minhas obrigações e respeitador das leis, ao dizer que este mundo em que vivemos está muito chato, que tenho saudade do tempo em que lutávamos pela liberdade que não tínhamos, e hoje que a temos, a limitamos de tal forma que acabamos por perdê-la para nós mesmos, o que é um grande absurdo, uma imensa tragédia.

BBB

Escrevo este texto na madrugada da terça-feira anterior ao sábado, de carnaval, dia em que ele não só estará publicado na página de opinião do Jornal O Estado do Maranhão, mas também estará postado em minhas janelas nas redes sociais.

Ressalto o sábado de carnaval, pois este texto não trata das folias de Momo. Eu o escrevo exatamente para aqueles que não se interessam muito por elas e preferem dois dedos de uma prosa leve sobre a nossa vidinha, sem confetes nem serpentinas.

Faz tempo que gostaria de falar sobre este assunto, e logo quando resolvo fazê-lo, descubro que meu amigo, confrade e professor de direito penal, José Carlos Sousa Silva, já o fez antes de mim. Posso não tratar de assunto inédito, mas o abordarei do meu jeito. O assunto é o BBB!…

Calma!… Não se trata do reality show da Rede Globo. O BBB de quem falo é o Benedito Bogéa Buzar, um dos amigos que herdei no vasto inventário de meu pai, que, diga-se de passagem, se nos deixou alguns bens materiais, nos fez ricos de preciosas amizades.

De ascendência libanesa como eu, Buzar nasceu na cidade de Itapecuru Mirim. Eleito deputado quando para isso não se precisava mais que uns mil amigos, e tendo na juventude ideias libertárias, foi acusado de comunista e cassado, junto com outros tão comunistas quanto ele: Sálvio Dino e Ricardo Bogéa.

Tive o prazer, enquanto deputado, de receber simbolicamente de volta na ALM, Buzar, Sálvio e Ricardo, recolocando a história nos trilhos de onde jamais deveria ter sido tirada.

No último dia 17 de fevereiro, Buzar completou 82 anos, muitos dos quais dedicados ao jornalismo, à política, ao registro histórico de personagens e acontecimentos marcantes de nossa terra. Nisso fazemos parelha. Ele é colaborador preferencial do Museu da Memória Audiovisual do Maranhão. É sempre a primeira pessoa a quem recorremos para tirar alguma dúvida sobre este ou aquele fato, ou para descobrir quem está em um filme ou em uma foto antiga. Fico triste e preocupado por saber que um dia, que espero ainda demore bastante a chegar, não teremos mais quem nos diga que naquele filme de Lindberg, ou que naquela fotografia de Azoubel ou Valdo Melo, quem aparece é Carlos Vasconcelos ou Matos Carvalho.

Nos últimos anos tenho convivido bastante com Buzar. Fazemos parte do Senadinho da Fribal, que se reúne aos domingos na Ponta D´Areia, comandados por Aparício Bandeira; do grupo de ex-deputados do MDB, dirigido por Remi Ribeiro e secretariado pelo mesmo Aparício, que se reúne uma vez por mês em lautos almoços; temos a honra de fazer parte de um grupo extremamente restrito de amigos, que sempre que pode se reune com o presidente Sarney; e principalmente, ele, Buzar, tem sido nos últimos anos, presidente da Academia Maranhense de Letras, onde realizou um maravilhoso trabalho, não apenas administrativo, mas principalmente diplomático, pois apascentar o ego e o temperamento de outras 39 criaturas, todas com muita cultura, informação, e das mais diversas formações e conformações, não é tarefa muito fácil!…

Nosso convívio na AML, graças ao seu jeito contemporizador, tem sido de grande valia para mim, pois tenho podido ajudar da maneira que mais gosto: descompromissado, sem cargo ou patente, sem responsabilidade e por isso mesmo com compromisso comigo mesmo, com uma patente de amor e devoção dada por mim, e com a responsabilidade que eu me exijo. O jeito simples de Buzar me propicia isso!

Ele tem para comigo muita consideração e sempre me dá relíquias históricas, como os documentos e fotos do Senador Clodomir Milet, grande amigo dele e de meu pai. Livros sobre cinema e política, assuntos pelos quais muito me interesso.

Estava pensando em escrever essas mal traçadas linhas já faz algum tempo e aproveitei exatamente essa oportunidade, quando Buzar deixará de ser presidente da AML, para fazê-lo.

Obrigado Buzar!

PS: Vou cometer aqui uma inconfidência. Há uma coisa que os amigos mais íntimos de Buzar reclamam muito dele e que poucos que me leem agora vão entender: Buzar não é bom de reza! Definitivamente ele não rezou direito!…

O insulto

O insulto

Em uma animada conversa sobre cinema, com amigos, em São Paulo, buscando um exemplo prático sobre o que falávamos, citava um determinado filme, como por exemplo Assim estava escritoO Mahabarata ou A festa de Babete, e observei que muitos dos presentes, todos envolvidos com audiovisual, não os tinham visto.

Os mais sábios, dizem que para que alguém escreva, e escreva bem, é preciso que leia e aprenda com isso. É assim em tudo na vida. No cinema não é diferente!

Como um camarada pode ser roteirista e nunca ter visto filmes que trazem em si roteiros extraordinários como O sol é para todosA felicidade não se compra ou Relíquia macabra? (Cabe aqui fazer um calombo para dizer que o editor do filme, aquele que monta as sequências das cenas que compõem a história contada, é uma espécie bem peculiar de roteirista, ou pós roteirista, aquele que não escreveu a história, mas é responsável pela forma de apresentá-la ao público).

Imagine alguém que quer ser diretor de cinema e nunca tenha visto os filmes de Frank CapraDavid Lean ou Sidney Lumet!

Um ator que não assistiu as performances de Charles Laughton, em A vida privada de Henrique VIIIO Corcunda de Notredame e Testemunha de Acusação; de Betty Davis, em Jezebel, A Malvada, e O que terá acontecido com Baby Jane? Ou ainda atuações magistrais de coadjuvantes como Walter Brennan, Shelley Winters e John Gielgud, estará definitivamente prejudicado, ficando por conta unicamente de sua genialidade, coisa que a cada dia tem sido mais difícil de se encontrar.

Em menores proporções, devido a natureza quase independente de suas atividades, que são na verdade agregadas à indústria do audiovisual, o mesmo ocorre com produtores, diretores de fotografia, músicos, diretores de arte, cenógrafos, figurinistas, maquiadores, que se propõem a realizar um filme, e não assistiram a obras fundamentais como O nascimento de uma nação, Lawrence da Arábia, e A excêntrica família de Antônia.

Mas preciso confessar a você que me lê agora o verdadeiro motivo daquela conversa. É que eu comentei com aqueles amigos que uma determinada pessoa, chateada comigo, escreveu um texto onde tenta me insultar me chamando de cinéfilo, acusando-me de não ser um cineasta.

A comparação que fiz, pra tentar explicar como aquela pessoa que tentava me insultar estava errada, foi com jogadores famosos de futebol. Mostrei-lhes que os melhores jogadores, os maiores craques dos gramados, são aqueles que jogam com amor, com alegria, como se estivessem em um campinho de pelada, desses de várzea. Verdadeiros boleiros!

Lembrem aí: Garrincha jogava com uma ginga e uma alegria que maravilhava a todos; Podemos dizer o mesmo de Didi, Puskás, Di Stefano e até de Pelé. É fácil dizermos isso de Neymar, Messi, dos Ronaldinhos, Gaúcho e Nazário, de Maradona, Zico, Romário e até de Zidane e Cristiano Ronaldo. Isso não é menos verdade quando pensamos nos elegantes jogadores nórdicos, de sangue frio, como Cruijff e Beckenbauer.

Em todos eles há um certo ingrediente de peladeiro. Nuns mais que em outros, o que seria o similar a se dizer de alguém que trabalhando com cinema, seja antes de qualquer coisa um apaixonado por ele. Isso de modo algum é um insulto, e aquele sujeito que tentou me alvejar, na verdade conseguiu me fazer o maior dos elogios, pois alguém que realiza o seu trabalho, aquilo que se propõe, com paixão, amor, devoção, como um peladeiro, o faz da melhor maneira possível, com as asas da alma abertas para voar.

PS 1: Escrevi este texto e o publico agora, na ocasião da realização do maior evento do cinema mundial, o Oscar, para homenagear o audiovisual brasileiro que teima em continuar existindo como pode, e a todos que realizam trabalhos nesse importante setor.

PS 2: O insulto é o título de um maravilhoso filme libanês que precisa ser visto por todos. Ele fala de uma epidemia que precisa ser aniquilada: A intolerância.

Carta para mim mesmo

Uma das coisas que mais me preocupa é a velhice, não a velhice útil como a da minha mãe ou a de Zé Sarney, que aos 90 anos estão operantes e são capazes de levar suas vidas com a indispensável dignidade.

O que me preocupa é a senilidade, é a incapacidade de lembrarmos das coisas e de fazer outras. Ninguém merece isso.

Uma criança é criança porque ainda não sabe, porque ainda não aprendeu, e isso é até bonito! Tanto que a grande quantidade de porquês que elas atiram em nós, podem até nos incomodar, mas não nos preocupa, pois sabemos que mais adiante elas estarão aptas a saber todas as respostas, e lembrarem-se delas por muito tempo.

As dores nas costas, nas pernas e em outras partes mais sensíveis, que normalmente afligem aqueles que conseguiram o maravilhoso feito de viver tempo suficiente para senti-las, também se constituem em um problema, só que este é mais fácil de se entender e até de se aceitar. É algo mecânico, algo que de uma forma ou de outra, em algum momento iria acontecer.

Adoro analogias e a que faço quanto a isso é fundamentada em uma das paixões que desenvolvemos graças à grande revolução industrial e social ocorrida no finalzinho do século XIX, início do século XX. A paixão pelos carros.

Gosto de pensar que nossos corpos são como carros. Cada um de nós é um carro diferente, mesmo que existam muitos modelos iguais, dos mais diversos anos e estados de conservação.

Um velho Ford Modelo T de 1920, mesmo com 100 anos pode estar bem conservado, mas o esperado é que seus amortecedores estejam desgastados, que seu motor esteja enfraquecido, que seus bancos ranjam… Um Jaguar, 1970, na flor de seus 50 anos, que pertenceu a uma rapaziada da pesada, numa Londres psicodélica, que tenha sido esmerilado sem dó nem piedade, mesmo tendo desfrutado dos maiores prazeres de seu tempo, terá os problemas decorrentes de seu uso. Assim acontece conosco.

Problemas mecânicos e estéticos irão acontecer, tanto nos carros como nas pessoas, mas há uma espécie de problema que existe com as pessoas que não encontram paralelo nos carros. Carros não ficam tristes, solitários, depressivos, eles podem até sofrer de uma espécie de Parkinson, e tremerem, mas peças novas e um bom mecânico dão um jeito nisso. Carros não ficam senis, nem sofrem algo parecido com Alzheimer.

Tenho pensado muito nisso ultimamente. Olho para minha mãe, com 90 anos e vejo que muito dificilmente vou chegar a esse patamar, ainda mais em tão bom estado. Olho para mãe Teté, minha mãe de criação, cinco anos mais nova que minha mãe, e constato como ela se encontra em condição bem menos favorável.

Para todo lado que me viro vejo pessoas idosas e outras que estão caminhando pra essa condição a passos largos, umas melhores, outras nem tanto e outras ainda lutando bravamente contra o quase inexorável: A velhice.

Por isso resolvi que deveria escrever uma carta para mim mesmo, uma espécie de diário, contendo as coisas que eu precisarei saber no futuro, sobre tudo o que vivi, para ter consciência do meu passado e certeza do presente que terei no futuro.

Parece algo bom a fazer… Mas na verdade o que eu gostaria mesmo era de ter uma vida boa, como a que tive até hoje. Ela não precisa ser muito mais longa. Sempre valorizei mais a qualidade que a quantidade.

Nunca achei que os romances fossem melhores que os contos simplesmente por eles serem maiores. Pelo contrário, sempre preferi os contos, por terem um arco narrativo menor e isso me dar mais tempo para que eu mesmo imaginasse as causas e os desdobramentos de seu enredo.

Como na literatura e no cinema, não me interessa apenas ser o redator, o escritor da obra, me interessa principalmente ser o criador da ideia, e que, ao compartilhá-la com outras pessoas, possa transformar a elas e a mim mesmo em co-escritores, coprodutores e codiretores dela.

Minha ideia é viver bem, o melhor possível, enquanto puder me lembrar das coisas boas, e até das não tão boas que vivi e que vivemos, e quem sabe poder proporcionar essa extraordinária aventura para algumas pessoas também.

Perfil

“Poeta, contista e cronista, que, quando sobra tempo, também é deputado”. Era essa a maneira como Joaquim Elias Nagib Pinto Haickel aparecia no expediente da revista cultural Guarnicê, da qual foi o principal artífice. Mais de três décadas depois disso, o não mais, porem eterno parlamentar, ainda sem as sobras do tempo, permanece cronista, contista e poeta, além de cineasta.

Advogado, Joaquim Haickel foi eleito para o parlamento estadual pela primeira vez de 1982, quando foi o mais jovem parlamentar do Brasil. Em seguida, foi eleito deputado federal constituinte e depois voltou a ser deputado estadual até 2011. Entre 2011 e 2014 exerceu o cargo de secretario de esportes do Estado do Maranhão.

Cinema, esportes, culinária, literatura e artes de um modo geral estão entre as predileções de Joaquim Haickel, quando não está na arena política, de onde não se afasta, mesmo que tenha optado por não mais disputar mandato eletivo.

Cinéfilo inveterado, é autor do filme “Pelo Ouvido”, grande sucesso de 2008. Sua paixão pelo cinema fez com desenvolvesse juntamente com um grupo de colaboradores um projeto que visa resgatar e preservar a memória maranhense através do audiovisual.

Enquanto produz e dirigi filmes, Joaquim continua a escrever um livro sobre cinema e psicanálise, que, segundo ele, “se conseguir concluí-lo”, será sua obra definitiva.

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