Oscar 2013

A Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood anunciará hoje, 24 de janeiro de 2013, os melhores do cinema no ano de 2012.

É bom ressaltar que essa escolha, como muitas outras, é feita através de eleição, com campanhas publicitárias e artifícios midiáticos para conquistar os votos dos eleitores que, neste caso, são os associados da Academia.

Como faço sempre que posso, analisarei as indicações, comentarei sobre os possíveis ganhadores e direi quem são os meus preferidos em cada categoria.

Para melhor filme temos este ano nove indicados. Cinco deles, em minha modesta opinião tem pouca chance de ganhar o tão cobiçado prêmio. Terão que se conformar em ostentar em seus cartazes e em suas chamadas, apenas a distinção de “Indicados ao Oscar de melhor filme”.

São eles: Amor, já premiado em vários festivais, é um belo e tocante filme, mas não tem força para enfrentar seus concorrentes ao Oscar; Indomável Sonhadora que mostra um lado pouco divulgado da América e como tal deve permanecer; O Lado Bom da Vida, um bom filme, mas só está na lista pelo bom desempenho de seu elenco; As Aventuras de Pi, um magnífico filme, uma belíssima fábula moderna, mas os membros da Academia não terão com ele lá muito boa vontade; e Django Livre, um genuíno Tarantino. Esta frase equivale ao mesmo que dizer que um quadro é um genuíno Picasso ou um genuíno Monet. Um ótimo entretenimento.

Por fim os quatro concorrentes que realmente estão disputando o Oscar de melhor filme do ano: A Hora mais Escura, filme já bastante premiado que conta de forma contundente a caçada e a eliminação de Osama Bin Laden; Argo, conta uma história real e surpreendente, já ganhou vários prêmios, é bem cotado, mas em minha opinião não merece ganhar; Lincoln que é tão bom que nos deixa sem saber se é cinema ou se entramos em uma máquina do tempo. Faz com que percamos a sensação de tempo e espaço e nos transporta para 1865 logo que entramos na sala escura. Show de roteiro, direção e interpretação; e Os Miseráveis, uma obra fantástica. Um musical que agrada até mesmo quem não gosta do gênero. Em minha opinião este filme é mais cinema que seu concorrente direto. Nele se vê mais a estrutura cinematográfica, as linguagens estabelecidas há muito tempo como sendo as sólidas bases da sétima e mais completa das artes. Se eu votasse, meu voto seria para ele, mesmo reconhecendo a qualidade e o poder de seus concorrentes.  

Depois do melhor filme todos querem saber qual será o melhor diretor. Aqui há três grandes ausências. Não indicaram os diretores de Os Miseráveis, Tom Hooper, de A Hora mais Escura, Kathryn Bigelow e de Argo, Ben Affleck, responsáveis diretos pelo sucesso de seus filmes. Coisas da poderosa indústria do Cinema.

Dos cinco concorrentes, todos merecedores, se sobressaem Ang Lee, Michael Haneke e Steven Spielberg, que deve levar mais uma estatueta.

O prêmio de melhor ator, que todos comentam será de Daniel Day-Lewis, certamente em grande performance, em minha opinião deveria ir para o Wolverine, Hugh Jackman, que dá um surpreendente show de atuação, mostrando um talento até então escondido por detrás de seus trabalhos braçais. Há ainda a possibilidade de os membros da Academia premiar o desempenho de Joaquin Phoenix por seu ótimo trabalho no difícil e controverso O Mestre.

No quesito atrizes, acho que as indicadas deste ano estão longe de ombrear-se com os atores, exceção feita a Emmanuelle Riva em Amor e Jennifer Lawrence em O Lado Bom da Vida, que disputarão o prêmio.

Qualquer um dos atores coadjuvantes que levarem para casa a estatueta, terá se feito justiça. São todos soberbos. Aqui há, no entanto, uma ausência, a de Samuel L. Jackson, impecável na pele de um negro racista em Django. Mesmo assim acredito que os favoritos sejam Cristoph Waltz e Tommy Lee Jones, sendo que o segundo leva vantagem sobre o primeiro. Ainda há o sempre ótimo Philip Seymour Hoffman, em O Mestre.

Entre as atrizes de suporte o mesmo equilíbrio se verifica, sendo que aqui a disputa será entre três grandes atrizes, Sally Field, Amy Adams e Anne Hathaway. Meu voto é para esta última que esta simplesmente perfeita como Fantine.

O equilíbrio continua entre os concorrentes à melhor roteiro original. Acredito que o vencedor será Tarantino.

Já para melhor roteiro adaptado não há nenhum equilíbrio. Não poderá haver nenhum outro vencedor que não seja Tony Kushner, por Lincoln.

No que diz respeito à melhor canção, duas se sobressaem sobre as outras: Skyfall, de 007 ou Suddenly, de Os Miseráveis. Qualquer uma que levar o prêmio estará de bom tamanho, mas eu votaria na primeira.

Melhor filme estrangeiro: há aqui uma imensa injustiça. A ausência daquele que foi em minha opinião o melhor filme não americano do ano: Intocáveis. Já que ele não está na lista, o vencedor certamente será Amor que também concorre como melhor filme.

Se uma palavra pudesse ser usada para resumir a escolha dos concorrentes e dos premiados deste ano, ela seria certamente equilíbrio.

Por falta de espaço, não falarei sobre os concorrentes aos prêmios técnicos, também muito equilibrados. Quanto às animações, os documentários e os curtas, não as comentarei, pois não vi todos os concorrentes.

Espero que com esse texto eu tenha conseguido motivá-lo a ir ao cinema, a comentar sobre essa incrível arte de criar vida e a assistir a solenidade de premiação do Oscar 2013.

Lincoln, o filme

Vou comentar hoje sobre dois dos assuntos de que mais gosto e que acredito sejam aqueles que mais domino. O bom neste caso é que falarei dos dois de forma conjunta e simultânea. Trata-se de política e cinema e vou fazer isso levado pelas mãos do grande cineasta Steven Spielberg, mestre em abordar temas políticos de maneira magistral.

Adentro ao cenário que mostra o que aconteceu entre o final de 1864 e o começo de 1865, durante a guerra civil americana. O diretor, como sempre faz, conta sua história com riqueza de detalhes e de um ponto de observação jamais usado antes.

Spielberg, sem que a grande maioria do público perceba, aborda em suas obras, temas eminentemente políticos. Ele sempre os apresenta com grande carga emocional e sutil senso de humor, às vezes encobrindo do público médio a visão do ponto que deseja realmente atingir.

Nem sempre seus temas são políticos, como nos casos de Tubarão, Indiana Jones e Jurassic Park. Já nos casos de A lista de Schindler, Amistad, O resgate do soldado Ryan, O Terminal e Munique, apenas para citar alguns, nestes, é exatamente de política que ele trata.

Com os primeiros ele ganha o dinheiro necessário para que possa ficar tranquilo e realizar os segundos, sem medo de que estes não façam o sucesso comercial esperado, coisa que jamais aconteceu.

Dito isso sobre SS pretendo não mais falar diretamente dele hoje, mas falarei o tempo todo a respeito dele, comentando sobre essa sua última criação.

No início do filme se vê fotografias históricas e legendas que nos dão a dimensão do fato, do tempo e do espaço. Fatos e fotos que são necessários para nos posicionarmos sobre os acontecimentos e para que os autores, diretor e roteirista, comecem a nos contar a sua visão da história.

É importante que seja dito que todo este filme é inteiramente construído sobre o sólido roteiro de Tony Kushner, que, por sua vez, se baseia no livro de Doris Kearns Goodwin. A maior qualidade do diretor neste caso é não desfigurar a história, maravilhosamente bem contada.

Este não é simplesmente um filme histórico ou sobre a história, antes de tudo é uma autópsia dos fatos que são mostrados de maneira tão surpreendente que até se perde a dimensão cinematográfica da obra. Em muitos momentos não parece que estamos assistindo a um filme. Fica a nítida impressão que estamos presenciando os fatos como eles aconteceram, que estamos dentro da história, participando dela como espectadores privilegiados.

A escolha do elenco é responsável por boa parte do sucesso da encenação. Não que sejam apenas bons atores. Não! Isso seria dizer pouco. Daniel Day-Lewis, Sally Field, Tommy Lee Jones, David Stratairn e James Spader, apenas para falar dos mais importantes atores em cena, são verdadeiramente aquelas figuras históricas, entram na pele de seus personagens que a partir de agora ficarão marcados em nossa memória para sempre, graças à magia do cinema.

Durante mais de duas horas e meia, tempo de duração da película, fiquei me perguntando qual seria realmente o assunto central daquela obra, sobre o que Spielberg estava falando primordialmente. Saí da sala de exibição ainda me perguntando e volta e meia, ainda agora mesmo, volto a me questionar sobre isso.

São muitas as linhas de análise e de consequente entendimento que se pode auferir, mas em minha opinião a mais forte de todas é a que nos fala da dimensão humana dos heróis e da nossa miserável condição de seres humanos. É bem verdade que alguns de nós somos mais humanos que outros. Uns são mais humanos pelo lado positivo de ser, outros pelo que há de podre em nosso gênero.

No filme vemos aquele que provavelmente é o maior símbolo de correção e retidão de caráter para o povo que compõe a maior nação da terra, em sua ordinária condição humana. É bem verdade que o vemos sofrer e se dilacerar. Deve ter sido assim mesmo que aconteceu, pois este quase santo homem, em nome de um bem maior e mais permanente para seu povo, seu país e para a humanidade, prorroga por alguns meses uma das mais cruéis e sanguinárias guerras que a humanidade já perpetrou, deixando com isso que morressem milhares de soldados de ambos os lados do conflito.

Tudo que aquela figura gigantesca em estatura física e moral fez e levou outros a fazer na intenção de aprovar a Décima Terceira Emenda à Constituição americana, instrumento que acabava com a escravidão, mesmo algumas dessas coisas sendo atos de infame corrupção, tudo aquilo, foi muito bem feito e necessário para que ele atingisse seu objetivo, que era nobre e justo.

No meio da sessão percebi, sentado em um canto escuro de minha mente, assistindo junto comigo ao filme de Spielberg, o grande Nicolau Maquiavel que sorria discretamente, maravilhado com o que era capaz o homem de fazer quando tem um bom motivo para fazê-lo.

Para encerrar a nossa sessão de hoje, fica aqui uma constatação cínica, a de que o que falta para alguns políticos que fazem coisas das quais se envergonham é o bom motivo que teve Abraham Lincoln para cometer as irregularidades que teve que cometer para libertar os escravos em seu país.

Se você ainda não assistiu a esse filme, aproveite que hoje é domingo de carnaval e vá assisti-lo, quem sabe nós nos encontramos por lá, pois preciso vê-lo novamente, talvez descubra algum detalhe que possa ter me escapado.

Os pais são bons mestres.

Quem me conhece sabe que eu sou um sujeito muito organizado. Faço agenda e a programo de acordo com o trajeto que tenho que realizar. Quando vou viajar arrumo a mala com dias de antecedência, não sem antes listar os itens que deverei levar e os locais aonde irei.

Não chego a ser um daqueles chatos metódicos quanto a isso, e de vez em quando quebro minhas próprias regras e resolvo sair “sem lenço e sem documento, nada no bolso ou nas mãos”, para ver o que o dia me reserva.

Quase sempre é um desastre. Esqueço os compromissos, perco ou troco os horários e acabo voltando ao método tradicional: planejar e listar tudo que tenho a fazer. Imaginar cada detalhe do que precisa ser feito, quando, onde, com quem, e principalmente os porquês.

Quero deixar claro que algumas pessoas podem pensar que alguém como eu, que se acha organizado, não o é. Ocorre que organização é uma coisa muito pessoal. Às vezes um quarto, um escritório ou uma mesa de trabalho que parece uma zorra para um é uma perfeição para outro.

Algumas vezes não me contenho em apenas planejar. Chego a ensaiar o que preciso fazer, o que pode ser dito e o que não deve ser comentado. Preparo inclusive argumentos e contra-argumentos. Ainda assim algumas vezes as coisas acabam acontecendo de forma bem diferente da desejada.

Tem sido assim desde que me entendo por gente.

Muito do que sei aprendi com meu pai, que entre as diversas coisas fantásticas que realizou na vida, uma, foi ter sido o precursor do Excel, programa de planilhas, baseado em linhas e colunas, desenvolvido, patenteado e comercializado com imenso sucesso pela Microsoft.

Meu pai fazia seu Excel à mão, sem computador. Acredito que ele tenha feito isso pela primeira vez antes que eu e o próprio Bill Gates tivéssemos nascido. Quem o conheceu pode confirmar. Não é invenção minha.

Pode alguém pensar que como filho devotado a memória do pai eu quisesse dar-lhe o crédito por essa façanha, mas não é esse o caso.

Ele andava para cima e para baixo com sua planilha no bolso. Onde quer que chegasse, tendo um telefone ao seu alcance, ligava para seu armazém e falava com uma de suas secretárias, fosse ela Elizabeth, Augusta ou Sebastiana. Atualizava sua planilha, orientava compras e vendas, controlava saldos e estoque e geria os destinos de seus negócios, baseado exclusivamente no seu conhecimento do mercado, nos dados que possuía e na confiança que depositava em seus colaboradores e parceiros.

Aprendi a fazer essas planilhas com meu pai, com quem aprendi muitas outras coisas. Poucas no que diz respeito diretamente às minhas atividades artísticas e culturais, mas indiretamente o que aprendi com ele se tornou indispensável para bem desenvolvê-las.

Por exemplo, aprendi muito a respeito de gente. Sobre o ser humano, suas características, suas necessidades, seus anseios e as formas e artifícios que eles usam para alcançá-los. Meu pai era formado em antropologia e em sociologia sem jamais ter cursado uma universidade. Ele dizia brincando ser formado pela universidade da vida.

Com meu pai aprendi também como falar em público. Ele ensaiava os discursos que faria na Assembleia Legislativa dentro do carro, enquanto levava a mim e a meu irmão para o colégio. Imaginava até os apartes que seus colegas poderiam fazer. Os mais chegados, que compartilhavam com ele as mesmas posições e opiniões se portariam de modo favorável, já os que se opunham às suas ideias e colocações iriam admoestá-lo e ele deveria estar preparado para a réplica e às vezes para a tréplica.

Passei anos vendo isso e o aprendizado foi automático. Agreguei a esse ensinamento apenas um pouco de cultura e alguma erudição. Acredito que este é o mesmo tipo de aprendizado que ocorre com o filho do açougueiro, com o filho do mecânico ou com o filho do padre… Ops!!! Padre não tem filho…

Pois bem, ao chegar a este ponto de nossa conversa, fico sem saber como os filhos de hoje em dia fazem para aprender algo diretamente com seus pais, já que a convivência entre eles está cada vez mais escassa, pois as crianças de hoje em dia passam a maior parte do tempo com seus joguinhos eletrônicos e com os itudos da vida.

Olho pra trás e tenho certeza de que, tudo que fiz quando criança serviu extraordinariamente na edificação da pessoa que sou. Essa é uma verdade humana, geral e eterna.

Quanto ao saldo, me parece positivo, mas vejo que de meu mesmo só há essa vontade avassaladora de aprender.

O que constato é que tenho um jeito próprio de usar a gustação, o olfato, o tato e principalmente a visão e a audição como instrumentos de descoberta e captura do mundo, lançando mão da indispensável memória, muitas vezes involuntariamente seletiva, que privilegia as boas coisas em detrimento das más.

PS: Muitos amigos têm reclamado de minha ausência desta página. Fico lisonjeado, mas devo esclarecer que a grande quantidade de afazeres com os quais me comprometi me deixa com pouco tempo para me dedicar à crônica, que por mais que pareça uma tarefa fácil, toma-me bastante tempo. De qualquer modo estarei por aqui uma ou duas vezes por mês para conversar com você o botarmos os assuntos em dia.

Ah, sim! Ia me esquecendo! Que o enunciado deste texto sirva de alerta para todos nós.

Uns poucos planos para 2013

Esse texto não terá prólogo. Ou melhor, seu prólogo será pequenino. Não darei muitas voltas, como sempre faço, antes de chegar ao assunto que quero. É que o assunto de hoje é bem simples. Todo ano, nessa ocasião, tomamos decisões, fazemos planos para colocarmos em prática no ano que se inicia. O texto de hoje é única e tão somente a respeito de uma agenda, uma lista, uma planilha de coisas que preciso fazer a partir de depois de amanhã, quando já será 2013.

Não farei uma lista em ordem cronológica ou de prioridades. Relacionarei os afazeres que preciso realizar de forma a agrupá-los por gênero das atividades as quais me dedico.

Dois de meus grandes amigos, o saudoso Artur da Távola e meu eterno professor, Sebastião Moreira Duarte, em prefácios que fizeram em dois de meus livros acusam-me de ser facundo e múltiplo. Abstraindo qualquer caráter qualitativamente positivo que possa haver nesses adjetivos a mim direcionados, confesso que realmente são muitas as facetas de minha existência. Tantas que às vezes penso que
não darei conta de conviver com todas.

Enquanto pessoa, ser humano, homem, espero poder em 2013 desfrutar mais da companhia das pessoas que amo e que a mim dedicam esse sentimento, sem o qual nada eu seria.

Como indivíduo, espero arrumar tempo para voltar a praticar tênis e basquete, no intuito de perder pelo menos parte dos quilos que ganhei mais recentemente e deles não consigo me livrar. Comer menos? Nem pensar!

No que diz respeito à minha função de secretário estadual de esporte, espero que o ano de 2013 seja administrativamente mais parecido com 2011 que com 2012.

Nesse setor, temos que dar ainda mais atenção aos JEM’s e à nossa participação nos JEB’s; devemos finalmente concluir a reconstrução do Costa Rodrigues; dedicarmo-nos mais ao futebol, pois esse será um ano muito profícuo; precisamos fazer o Viva Nota sair do papel e equilibrar a gestão do Castelão; devemos divulgar e difundir a Lei de Incentivo ao Esporte, que já é um grande sucesso.

Na política, minha determinação permanece a mesma. Amá-la incondicionalmente, mas com o mesmo distanciamento que deve ter um alcoólatra da primeira dose. Eu não seria completamente feliz sem a política, mas não pretendo participar de disputas eleitorais.

Quanto ao setor empresarial, não permitirei que nenhum negócio, por mais lucrativo que possa ser, venha a abalar alguma amizade, por menor que ela fosse, pois para mim a verdadeira fortuna de um homem, seu maior tesouro, não são joias, dinheiro, imóveis, mas sim as amizades que ele possui e sabe preservar.

Aprendi com meu pai, que era reconhecido por todos como um homem extremamente generoso, que nos negócios, assim como na política e na vida, é sempre melhor um mau acordo que uma boa briga.

No setor das artes: para 2013, no que se refere à literatura, não pretendo lançar nenhum livro e devo diminuir minha participação aqui nesse espaço, de quatro para duas vezes por mês.

Na Academia Maranhense de Letras, pretendemos implantar com ajuda da iniciativa privada e uma forcinha do secretário de indústria e comércio, Mauricio Macedo e da superintendente do IPHAN, Kátia Bogéa, uma nova biblioteca que deverá abrigar acervos doados por alguns de nossos mais importantes membros.

No cinema alguns projetos estarão sendo concluídos ainda no primeiro trimestre, como é o caso da série para televisão feita para a AML sobre seus fundadores e alguns outros imortais. Há também o longa-metragem sobre a vida e a obra do padre Antonio Vieira cujo titulo é “A Pedra e a Palavra”.

São muitos os projetos nessa área. Um filme sobre o compositor e cantor, mestre Antonio Vieira; outro baseado no livro de Eliezer Moreira, sobre o desconhecido, mas mesmo assim importante escultor maranhense, Celso Antonio; três desenhos animados: um em conjunto com Lenita Estrela de Sá, sobre futebol e outros dois históricos, um sobre Ana Jansen e outro sobre a Balaiada. Todos três em
parceria com a Dupla Criação.

Se conseguir um tempinho, pretendo iniciar uma série de documentários sobre alguns dos mais importantes personagens de nossa história, começando por dois ex-prefeitos, Sousândrade e Haroldo Tavares. Há também planos de realizarmos uma outra série sobre nossos artistas plásticos, isso sem interrompermos nosso trabalho no Museu da Memória Audiovisual, que tenta digitalizar os acervos que nos chegam às mãos.

Vamos também buscar apoio na lei de incentivo à cultura que em muito boa hora foi regulamentada pela secretária Olga Simão.

Em 2013 a Fundação Nagib Haickel implantará um canal de Televisão Educativa, a TV Guarnicê, Canal 15, que deverá contar com a parceria das Secretarias de Educação, Cultura, Ciência e Tecnologia do Estado, bem como com a participação de algumas universidades estatais e particulares, além de entidades como ICE, FIEMA, ACM, FAMEM, no sentido de oferecer ao Maranhão e ao Brasil uma escola 24 horas por dia, em sua grade de programação.

Parece muito para se realizar em apenas 365 dias, e o é, mas para realizar tudo isso conto com a colaboração de pessoas maravilhosas por onde quer que eu vá.

É especialmente para essa gente, que trabalha direta ou indiretamente comigo em todos esses projetos, que dirijo minhas últimas palavras de 2012… Muito Obrigado!… E as primeiras de 2013… Vamos fazer muito mais e melhor…

Feliz Ano Novo para todos!

Os maias não estavam errados

Se você estiver lendo esta crônica na edição do domingo, dia 23 de dezembro de 2012, do Jornal O Estado do Maranhão, é porque os aloprados, aqueles que inventaram que os maias previram o fim do mundo para o último dia 21, estes sim estavam errados.

Os maias jamais previram o fim do mundo. Loucos foram os que acreditaram nessa mirabolante invenção.

Ufa! Pelo menos por enquanto escapamos de um fim trágico. Mas é bom sabermos que é bem plausível que uma catástrofe de proporções gigantescas aconteça um dia. Temos provas científicas de que fatos como esse já aconteceu anteriormente. Nosso planeta já sofreu transformações radicais em seu clima e em sua geologia que causaram a extinção de parte da vida como ela se apresentava.

Coitados dos maias! Eles nem imaginariam que passados vários séculos do apogeu de sua civilização, alguns pseudo-cientistas fossem apropriar-se de seu calendário para difundir essa ideia de fim do mundo.

São bastante conhecidas as crenças segundo as quais eventos cataclísmicos ou transformadores acontecerão em 21 de dezembro de 2012. Esta data é considerada como o último dia de um ciclo 5.125 anos do calendário maia. Diversos alinhamentos astronômicos e fórmulas matemáticas têm sido colocadas como coincidentes a essa data, apesar de nenhuma delas ter sido aceita por estudiosos importantes.

Na interpretação de alguns essa data marcaria o início da uma nova era, em que a Terra e seus habitantes sofreriam transformações físicas e espirituais. Outros sugerem que em dezembro de 2012 acontecerá uma catástrofe de proporções cósmicas que culminará com a destruição da terra.

Profissionais especializados na cultura maia dizem que essas previsões não são encontradas em nenhum dos clássicos dessa civilização e a ideia de que o calendário de contagem longa “termina” em 2012 deturpa a cultura e história maia.

Astrônomos e outros cientistas rejeitaram essas teorias como sendo pseudociência, afirmando que elas são conflitantes com simples observações astronômicas, e que existem preocupações mais importantes para a ciência, tais como o aquecimento global e a perda de diversidade biológica.

A NASA tem comparado os medos em relação ao ano de 2012 com o fenômeno “Bug do milênio” no final da década de 1990, sugerindo que uma adequada análise dos fatos pode impedir temores de um desastre.

Enquanto o mundo não acaba, é bom que tratemos de tentar arrumá-lo um pouquinho. Seria bom que direcionassemos nossas energias no sentido de melhorar a vida na terra, antes que ela realmente acabe.

Digo isso não apenas pelo fato de estarmos em época de festas natalinas, onde todos os corações repentinamente parecem amolecer e nos tornamos mais gentis, generosos e tolerantes. Falo isso porque acredito que o mundo poderia realmente acabar a qualquer momento e ainda teriamos muita coisa por fazer.

Pode parecer piegas e o é. Confesso que não há nada melhor que parecer ridiculo por se dizer algo como por exemplo “eu te amo”. Não há nada melhor que ser olhado com ressalvas por protestarmos contra a destruição da natureza. Não há nada mais arriscado que querermos nos alistar como voluntários socorristas em um terremoto do outro lado do mundo.

Nunca é tarde para começarmos a tomar certas posições que jamais haviamos pensado em tomar antes, por simples comodismo, para que não se precisasse sair de nossa zona de conforto.

Nesse natal gostaria de escrever uma carta para Papai Noel pedindo-lhe que me fizesse não perder a esperança, paraque eu não deixe de acreditar que é possivel melhorar, que é possivel se avançar nas conquistas no campo da solidariedade universal.

Olho em volta e vejo que por mais que tentemos fazer coisas que precisam ser feitas para melhorar a nossa vida e a vida das pessoas, ainda assim fica faltando muito a ser feito.

O simples fato de se ler um jornal ou uma revista, de se assistir a um telejornal, nos coloca dentro dos maiores problemas da humanidade: fome, doenças, guerras, catástrofes naturais… Precisamos fazer alguma coisa, mesmo que seja uma pequenina ação, para tentar minorar toda essa situação.

O que vou dizer agora pode parecer clichê, e o é, mas é um clichê necessário e eficiente: Se cada um de nós fizer uma pequenina ação no sentido de melhorar a vida nesse nosso maravilhoso planeta, seja em que setor for, tenho certeza que conseguiremos não apenas melhorar as nossas vidas e a de outras pessoas, mas também adiaremos um pouco mais o fim do nosso mundo.

  Feliz Natal a todos!

 

Salaam!

A recente crise entre Israel e a Palestina não é o motivo que me fez inicialmente escrever este texto. Ele já estava esboçado há algum tempo, mas confesso que o adaptei especialmente para esse momento em que o estado de guerra entre esses dois povos se acirra e demonstra para aqueles que não estão diretamente envolvidos o quão grave é aquela situação e o quanto para nós, é distante aquela realidade.

Gostaria de saber muito mais do que o pouco que sei sobre a religião muçulmana e sobre a história do Islã. Em que pese eu ler tudo o que posso sobre esse assunto, ver todos os filmes referentes ao povo árabe e aos não árabes que defendem a fé de Maomé, mesmo assim as informações que tenho são poucas para fazer um melhor juízo sobre essa religião e as pessoas que a professam. Se isso acontece comigo, alguém que se interessa, que quer saber sobre esse assunto, imagine o que ocorre com as pessoas que não se interessam e engolem sem contestação tudo o que ouvem ou lêem sobre isto!? Pior ainda, os que nem ouvem nem lêem nada e ficam apenas nas manchetes ou chamadas dos jornais!?

A mais jovem das três grandes religiões ocidentais, sendo a primeira o Judaísmo e a segunda o Cristianismo, o Islamismo ao mesmo tempo em que me fascina e me deixa curioso, me amedronta, pois é mais fácil não gostar-se daquilo que não se conhece, ou daquilo que se conhece de forma errada, desfocada, distorcida, preconceituosa.

Eu não quero ter medo do Islamismo, da mesma maneira que não tenho medo do Judaísmo. Eu quero conhecê-lo melhor, analisá-lo com a menor incidência possível de distorções antropológicas, sociológicas, culturais ou morais. Eu quero compreender seus ensinamentos e quero poder tirar minhas conclusões sem que eu seja contaminado pelos humores provenientes da ignorância e do medo.

Antes de falar do Islã, gostaria de lembrar que todos nós conhecemos o Judaísmo mesmo sem estudá-lo, pois a religião cristã, predominante em nosso país e nas Américas, saiu de dentro dele. Lembremo-nos que o Cristo Jesus era judeu. Penso inclusive que ele nunca pensou em deixar de sê-lo, que ele queria continuar judeu. Acredito que, mesmo não parecendo, Jesus defendia a fé de seus ancestrais. Ele só queria ter o direito de interpretá-la a sua maneira, queria renová-la, e foi o que fez.

Na verdade ele não renovou o judaísmo, nem mesmo foi ele que criou o cristianismo. Quem fez isso, foram seus seguidores. Eles romperam o vínculo com o Judaísmo criando uma outra religião, baseada integralmente na religião de Moisés. Os cristãos herdaram dos judeus até a lenda do messias, a mesma que quem se dispuser a procurar vai encontrar também no Islamismo.

A criação do Cristianismo como religião deve-se principalmente a três homens bem diferentes: Pedro, um pescador da Galileia, Saulo de Tarso, uma espécie de policial, que viria adotar o nome de Paulo e Constantino, imperador de Roma.

A criação do Islamismo deve-se exclusivamente a Maomé.

O Judaísmo tem menos, mas o Cristianismo, como sabemos, tem muitas subdivisões, muitas igrejas, muitas denominações. Mesmo que discordantes na forma, sobre alguns dogmas, quanto aos métodos e as práticas, de um modo geral os cristãos são ligadas às mesmas tradições.

Vejamos o caso do Reino Unido onde católicos e protestantes anglicanos têm se matado durante séculos. Em Israel, de forma muito menos violenta judeus moderados e ortodoxos se opõem fortemente quanto à forma de gerirem seu país.

Os muçulmanos não divergem dos demais quanto a isso. A cisão entre eles acontece logo depois da morte do profeta, conseqüência direta das disputas em torno de sua sucessão.

Eles se matam há mais de 1.300 anos. Tanto sunitas quanto xiitas, onde e quando podem, se opõem das mais variadas formas. Manifestam seu desacordo recorrendo a ações que vão da simples e salutar oposição pacífica até ao abominável genocídio.

Esqueçamos um pouco as comparações, esqueçamos os judeus e os cristãos e nos fixemos nos muçulmanos.

Você já parou para ver como o povo que professa essa fé é igual aos outros. Como eles sofrem das mesmas dores, como eles têm as mesmas necessidades, sendo que na maioria das vezes eles estão em situação muito pior que os cristãos e principalmente que os judeus!?

Pare e pense apenas nisso. Tente se colocar no lugar deles. Veja as coisas como eles vêem, sinta as angústias e os anseios como eles sentem.

Esse é apenas o primeiro degrau desse aprendizado que procurarei construir com você, sempre que puder, de agora em diante.

Nas quatro mil palavras que o editor desta página me franquia a cada domingo, é impossível resumir esse assunto, por isso sempre que puder vou voltar a ele no intuito de lembrar que os muçulmanos são iguais a nós, só falam outras línguas, moram em outros lugares, se vestem de formas diferentes da nossa, mas amam o mesmo Deus de nossas mães, só que de forma diferente, com tradições diferentes usando dogmas diferentes, coisas que não os fazem melhor ou pior do que nós.

Na verdade gostaria que todos pudessem saber mais sobre esse assunto. Que todos tivessem conhecimento, sem nenhum tipo de proselitismo, contrário ou favorável. Assim, quem sabe, o mundo pudesse ser um pouco melhor.

A guerra incessante que hora se intensifica, há muito tempo não é mais meramente religiosa. Os imbecis que a fazem escondem-se debaixo dos quipás dos rabinos judeus e por trás das Jalabas dos xeiques muçulmanos para pegarem em armas e matarem crianças inocentes. As crianças que conseguirem escapar, serão criadas num ambiente de intenso ódio, e por isso apenas com ódio, infelizmente, saberão retribuir.

Com quantos Joaquins se faz uma história?

Com a aproximação de meu aniversário no próximo dia 13, e com uma quantidade elevada de desmotivação para textos polêmicos, para fazer este, resolvi simplesmente relacionar alguns de meus homônimos, que sustentam a tradição do nome que carrego já faz cinquenta e três anos.

Todos eles são Joaquins importantes em algum aspecto, compõem a estirpe daqueles que assinam o mesmo nome do pai de Maria, mãe de Jesus.

Então vejamos:

Joaquim José da Silva Xavier (1746-1792) o Tiradentes, soldado e arrancador de dentes mineiro. Foi o único integrante da Inconfidência Mineira, importante movimento pela independência do Brasil, a ser enforcado no Rio de Janeiro em 21 de abril de 1792.

Joaquim Silvério dos Reis (1756-1819) foi o delator dos inconfidentes mineiros. Coronel, contratador de entradas, fazendeiro e proprietário de minas.

Joaquim do Amor Divino Rabelo e Caneca (1779-1825) o Frei Caneca, religioso e político pernambucano, que ficou célebre na História do Brasil por ter sido um dos líderes da Confederação do Equador.

Joaquim Gonçalves Ledo (1781-1847), jornalista e político fluminense. Foi um dos vanguardistas no processo de independência do Brasil.

Joaquim Manuel de Macedo (1820-1882), romancista, poeta e dramaturgo fluminense. Autor de uma vasta obra, que é uma crônica fiel da pequena burguesia brasileira na segunda metade do século XIX.

Joaquim Maria Machado de Assis (1839-1908), escritor fluminense, considerado o maior nome da literatura brasileira, não só do século XIX, mas de todos os tempos.

Joaquim Aurélio Barreto Nabuco de Araújo (1849-1910), político e escritor pernambucano, um dos principais líderes abolicionistas e um dos criadores da moderna prosa brasileira.

Agora me dedicarei a relacionar alguns Joaquins mais próximos, como por exemplo, os patronos e fundadores de cadeiras em nossa Academia Maranhense de Letras:

Joaquim Gomes de Souza (1829-1864), o Sousinha. Foi político e matemático. Um dos pioneiros no estudo da matemática no Brasil. Nas palavras do professor J. Leite Lopes, trata-se do nosso primeiro vulto matemático, e talvez o maior deles até hoje.

Joaquim de Sousa Andrade (1832-1902), mais conhecido por Sousândrade, foi escritor e poeta.

Formou-se em Letras pela Sorbonne, em Paris, onde fez também o curso de Engenharia de Minas.

Viajou por vários países até fixar-se nos Estados Unidos em 1871, onde publicou a obra poética “O Guesa”, em que utiliza recursos expressivos, como a criação de neologismos e de metáforas vertiginosas, textos que só foram valorizados muito depois de sua morte.

No período de 1871 a 1879 foi secretário e colaborador do periódico “O Novo Mundo”, dirigido por José Carlos Rodrigues, em Nova York.

De volta ao Brasil foi presidente da Intendência Municipal de São Luís do Maranhão. Realizou a reforma do ensino, fundou escolas mistas. Morreu em São Luís, abandonado, na miséria e considerado louco. Sua obra ficou esquecida durante décadas.

Joaquim Serra (1838-1888), jornalista, professor, político e teatrólogo.

Em 1867 fundou o Semanário Maranhense e no ano seguinte mudou-se para a Corte, onde prosseguiu em suas atividades jornalísticas, enviando colaborações aos periódicos ali existentes. Chegou a dirigir o Diário Oficial e foi deputado pela Província do Maranhão.

Abolicionista, é tido por Joaquim Nabuco como o criador da moderna imprensa política brasileira.

É o patrono da cadeira 21 da Academia Brasileira de Letras.

Joaquim Vespasiano Ramos (1884-1916) nasceu de uma família humilde em Caxias, no Maranhão. Desde cedo começou a trabalhar no comércio local e buscando sempre o saber, tornou-se um viajante compulsivo, fato que o levaria a quase toda a região norte do Brasil.

Publicou sua obra poética em diversos jornais e revistas e é considerado o precusor da literatura em Rondônia.

É o patrono da cadeira n° 32 da Academia Maranhese e da cadeira n°40 da Academia Paraense de Letras.

Joaquim Vieira da Luz (1893-1985), escritor maranhense, fundador da Cadeira nº 40 da AML, é o biógrafo de Fran Pacheco e Dunshee de Abranches.

Joaquim Campêlo Marques (1931), importante jornalista, filólogo e editor maranhense.

Ocupa a cadeira de n° 24 na Academia Maranhense de Letras.

Joaquim Salles de Oliveira Itapary Filho (1936), escritor e político maranhense, ex-secretário de Cultura do Maranhão que entre 1985 a 1989 exerceu as funções de secretário-geral do Ministério da Cultura.

Ocupa a cadeira de n° 4 na Academia Maranhense de Letras.

Temos ainda outros Joaquins importantes:

Joaquim Pedro de Andrade (1932-1988), cineasta fluminense; um dos principais representantes do cinema novo, autor dos filmes mais populares desse movimento.

Joaquim Cruz, (1963), campeão e recordista olímpico nos 800 metros. Foi o primeiro brasileiro a ganhar medalha de ouro em prova de pista em Olimpíadas.

Por último, o Joaquim do momento:

Joaquim Benedito Barbosa Gomes (1954), advogado, professor, jurista e magistrado brasileiro.

É o atual presidente do Supremo Tribunal Federal.

Viciado

Às vezes me dou “A Missão” de tentar diminuir um pouco o “Ritmo Louco” de minha vida para analisar o que acontece comigo. Escarafuncho sentimentos quase “Intocáveis” que me ligam às pessoas e vou buscar “Em algum Lugar do Passado” as causas e “As Palavras” que deram origem ao fato de estar onde estou.

“Depois de Horas”, já tendo feito o levantamento de quase tudo, tanto para comigo quanto para com “Os Outros”, vejo que não preciso mais me vestir de “Gladiador” nem me sentir numa arena. Na verdade, já me acostumei a ter que andar sempre sobre “O Fio da Navalha”.

Que os dois parágrafos de introdução acima, sirvam para demonstrar a você que me lê agora, que um dos meus maiores vícios, talvez o maior de todos, é o cinema.

É bom que eu diga que também sou viciado em literatura. Menos pelo ato de ler, devido à dificuldade da dislexia. Sou viciado em escrever, ato que me apraz sobremaneira.

Também sou viciado em comida.

Esse vício quase sempre vem acompanhado de uma compulsão muitas vezes incontrolável. Em mim esse vício se consubstancia com pequenas guloseimas como os quibes e esfirras de mamãe, os cartuchos e rosinhas de Dolores, os beijinhos de coco e docinhos de banana de Carmita. Passa pelos cardápios das tradicionais bases de São Luis, como Edilson, Diquinha, Rabelo e Lenoca.

Meu vício é sempre convidado para as casas dos grandes anfitriões de nossa cidade e viaja para desfrutar dos melhores restaurantes do Brasil e do mundo.

Primeiro os salgados: Pão com manteiga, foie gras, cuxá, mandubé, escargot, funghi, cachorro-quente do boliviano (em frente ao Palácio), cozidão maranhense, feijoada, cassoulet, salada de camarão seco…

Depois vêm os doces: goiabada com queijo do reino, sorvetes de bacuri e cajá, tarte tatin do Chez Romy, merengue com morango, pudim de leite do Cabana…

De beber, gosto mesmo é de refrigerante. Entre eles o preferido é a nossa Cola Guaraná Jesus.

Sou também viciado em informação. Em conhecimento. Em História. Não sei como nomear esse vício, mas ele é marcante em minha vida.

Sou um curioso contumaz e tenho muitas vezes que me controlar para não perguntar sobre algum assunto, pois desejo saber tudo, talvez porque saiba que quem possui informação e conhecimento detém poder e uma melhor capacidade de solucionar as questões que se apresentem.

Devo dizer que sou também viciado em memória. Em lembrar. Acredito que essa capacidade defina bem o momento em que se une ou quem sabe se separa o humano, o intelectual, do animal, do meramente instintivo.

Não sou viciado em tabaco ou em álcool e nunca sequer experimentei cocaína, heroína, LSD, haxixe, êxtase ou crack. Prefiro controlar rigidamente minhas necessidades de alucinações. Para isso uso o cinema, a literatura, a comida, o conhecimento, a história… A política…

Política! Sou viciado em política. Não estou falando de eleição. Isso eu abomino. Refiro-me à política filosófica, a parte diplomática dela, aquela que requer conhecimento, civilidade, urbanidade, sagacidade, sabedoria, cultura. A parte que exige dos contendores tenacidade e tolerância.

Sou viciado nisso.

Gosto de conhecer, de discutir propostas, de chegar a um denominador comum. Tal qual um agricultor, gosto de ver o plantado, no âmbito das ideias, florescer e dar frutos.

Enquanto relia esse texto, pela quadragésima segunda vez, característica básica do meu modo de realização criativa, descobri que na verdade sou viciado é em emoção. Sendo que a forma mais fácil, eficiente e prazerosa de chegar a ela, é através dessas coisas citadas acima.

Emociono-me ao assistir filmes e em realizá-los. Emociono-me em escrever. Emociono-me quando como e bebo, quando aprendo ou descubro algo novo e quando relembro de algo importante. Emociono-me ao ver a correta política ser bem executada.

Emociono-me ao sentir que o amor que sinto por minha mulher é grande e igualmente correspondido.

Em verdade vos digo, sou viciado é na emoção que as coisas que eu amo me oferecem.

 

PS: Hoje estou especialmente emocionado, pois é o dia do aniversário de Laila, o melhor pedaço de minha alma.

 

Deus e o Real

No último domingo recebi vários telefonemas e e-mails sobre o texto que publiquei naquele dia falando sobre a intenção de um procurador do Ministério Público Federal em tirar a expressão “Deus seja louvado” das notas de real, na presunção de garantir a liberdade religiosa.

Entre os telefonemas estava o de meu amigo, jornalista Raimundo Garrone, que me sugeriu que lesse em seu blog o que disse a esse respeito o também jornalista Luís Antonio Giron.

Assim que pude acessei o blog de Garra e li o que escreveu o editor da seção Mente Aberta da revista Época, que escreve sobre os principais fatos do universo da literatura, do cinema e da TV.

Giron tem uma posição um tanto diferente. Ele defende que a expressão não deva figurar no nosso dinheiro por uma questão de elegância, por não se dever misturar dinheiro e Deus, no que eu até poderia concordar, se o caso fosse para se escolher colocar ou não, mas o caso não é esse. O caso é na verdade tirar-se ou não a citada frase das notas de real.

A expressão já está lá. Devemos tirá-la ou devemos deixá-la permanecer.

Em minha modesta opinião, ela não está fazendo nenhum mal onde se encontra, então qual o problema em lá ficar?

O grande problema nisso tudo é que até pessoas como Giron se equivocam com o tema. Quando diz: “Os fundamentalistas cristãos andam protestando em todo o país, exigindo que Deus continue representado nas cédulas. Os politeístas, ateus e crentes em outras seitas, além dos juristas e partidários da mentalidade politicamente correta, querem a extinção imediata e sumária da frase, em nome da garantia da liberdade religiosa em Estado laico.” Ele e outros se esquecem de que o citado Deus não é apenas o Deus dos cristãos e que o estado não deixa de ser laico por citar o Deus comum a todos, inclusive aos ateus, objeto de sua fé e de sua descrença.

Giron diz que, “Misturar Deus e dinheiro é uma barbaridade. Não importa o seu vínculo político, religioso e ideológico: Deus, caso você creia nele, não precisa ser evocado por intermédio da manifestação mais concreta do materialismo, uma cédula monetária. Além de a expressão representar uma intromissão religiosa no âmbito do Estado, ela é uma espécie de marca de atraso e de péssimo gosto.” O que transforma a discussão em um debate estético. Sempre há os que gostam e os que não gostam de alguma coisa, e isso vai acontecer sempre. É da natureza humana.

Se no começo achei até pertinente as colocações de Giron, enquanto eu avançava e depois, cada vez que as relia, mais elas me pareciam uma mera contestação sem maior sustância, sem substância, com menos embasamento que as desastradas argumentações do Ministério Público Federal.

Já disse antes e repito agora, não sou religioso, essa questão não é e não pode ser analisada meramente como uma questão religiosa, pois o Deus é comum a todas as religiões e até mesmo aos que nele não acreditam.

Querer-se tirar a referida expressão das notas da nossa moeda por motivos estéticos ou por motivos moralistas é pior que se querer tirar tal frase por pretender-se defender a isonomia religiosa, que de forma alguma está sendo ferida.

No caso do motivo estético, como já disse, é uma questão de simples opinião. No caso do motivo moralista, achar que Deus e dinheiro não se misturam ou não devem se misturar… Isso seria desconhecer a realidade da vida. O dinheiro faz parte de tudo que existe!

A única coisa que os seguidores de Deus, de todas as raças e religiões podem e devem fazer, é agir em relação ao dinheiro como o seu Deus preconiza, que normalmente é usando-o com parcimônia, sabedoria e generosidade.

 

 

Sobre Boçalidade Intelectual

Na última terça-feira, 13 de novembro deste ano em que segundo os Maias o mundo vai acabar, li uma notícia que dava conta de que um certo procurador do Ministério Público Federal entrou com uma ação civil pública na tentativa de retirar das notas de nossa moeda, o real, a expressão “Deus seja louvado”.

Juro que tentei ficar distanciado dessa polêmica, mas não consegui. Primeiramente me limitei a postar um comentário no blog do amigo Gilberto Leda, apenas para concordar com o texto do jornalista Reinaldo Azevedo, que foi perfeito em suas colocações. Com o passar do tempo, lendo todos os comentários e ouvindo tantos outros, sobre este mesmo assunto, fui ficando cada vez mais propenso a dar a minha opinião.

Azevedo disse que o procurador é um homem destemido, que ele não tem receio de demonstrar sua ignorância, profunda e brutal. Depois de acusar o procurador de gastar o dinheiro dos contribuintes com questões tolas e de chamá-lo de intelectual boçal, Reinaldo cita um trecho da peça de autoria do procurador, aonde com facilidade se chega à mesma conclusão do jornalista: “A manutenção da expressão ‘Deus seja louvado’ […] configura uma predileção pelas religiões adoradoras de Deus como divindade suprema, fato que, sem dúvida, impede a coexistência em condições igualitárias de todas as religiões cultuadas em solo brasileiro (…). Imaginemos a cédula de real com as seguintes expressões: ‘Alá seja louvado’, ‘Buda seja louvado’, ‘Salve Oxóssi’, ‘Salve Lord Ganesha’, ‘Deus não existe’. Com certeza haveria agitação na sociedade brasileira em razão do constrangimento sofrido pelos cidadãos crentes em Deus”.

Se eu realmente quisesse esculhambar (o corretor do Word me sugere usar a palavra ridicularizar, mas acho pouco) com o tal procurador, não conseguiria chegar nem aos pés de Reinaldo Azevedo, que desmonta o coitado. Transforma-o em nada, coisa que já me parece ser muito. Menos que Azevedo, mas também muito bem, comentaram outras personalidades importantes sobre o tal procurador. Chamaram-no de desocupado, doido, imbecil, e por ai vai. Não concordo com todos os adjetivos que usaram para qualificar o afoito. Porem sabedor de que estamos em um estado democrático de direito, aonde o fato de termos uma opinião responsável deve ser respeitado por todos, não posso deixar de dar a minha. O referido cidadão é mesmo um desocupado, sem contar que é burro, confunde alhos com bugalhos. Xiii!

Não posso chamá-lo de burro. Vão dizer que é bulling! Para com o quadrúpede!

Vamos tentar jogar algumas interrogações no ventilador, lenha na fogueira:

Primeiramente… O que é um Estado Laico? É aquele Estado que não tem uma religião oficial e que trata a todas de forma igualitária, sem privilegiar ou discriminar nenhuma.

Em segundo lugar, vejamos… O que é Deus?

O Dicionário Aurélio diz que Deus é o princípio supremo que as religiões consideram superior à natureza; ser infinito, perfeito; criador do universo.

Quem é Ala?

É Deus na religião muçulmana.

Quem é Yaveh?

É Deus na religião judaica.

Quem é Oxossi?

É o Orixá da caça e da fartura. Analogamente ao catolicismo seria uma espécie de santo, padroeiro da caça e da fartura, da mesma maneira que São Cristovão é o padroeiro dos motoristas. Definitivamente nem Oxossi nem São Cristovão estão no mesmo patamar do Deus supremo.

O Deus, único e misericordioso, pertence a uma religião específica?

É claro que Deus não é propriedade de uma religião específica. Todas as religiões querem ser ou fazer a ligação entre o homem e o criador.

Não sendo Deus vinculado a nenhuma religião exclusivamente, podemos dizer que a expressão “Deus seja Louvado” ou qualquer outra alusão a este substantivo concreto pode ser considerado privilégio de uma determinada religião?

Claro que não. Pensar isso seria um despautério.

Um grande filósofo popular dizia que não veio ao mundo para explicar nada, mas sim para confundir. Pois então vamos confundir um pouquinho, bagunçar o raciocínio. Fazendo assim, quem sabe, se pense um pouco e se descubra alguma razão de ser em toda essa comédia bufa.

Somente uma religião que professe a crença de que Deus não existe, poderia alegar a quebra do princípio da igualdade religiosa e do Estado Laico, porem não há religião que acredite na não existência de Deus. Os ateus são também agnósticos, não têm religião, exatamente porque não crêem que Deus exista.

Uma vez presenciei um bate-boca entre um religioso esperto e um ateu intelectual. O primeiro sacou do coldre um sofisma calibre 45 e mandou bala contra o segundo: “Você mesmo se encarrega de provar que Deus existe quando insiste em tentar negar sua existência.” Pode até não ser correta essa afirmação, mas nos faz pensar. Quem acha que uma coisa não existe não precisa contestá-la, pois se o fizer vai está afirmando a possibilidade de sua existência com essa contestação. Confuso, mas plausível.

Gostaria de dizer que não sou religioso, mas também não chego a ser ateu. Seria uma tolice sê-lo. Sou agnóstico. Não vejo necessidade de nos filiarmos a uma religião específica. Creio que haja uma força superior, algo que não posso explicar de forma clara ou matemática, algo que nada tem de místico ou divino no sentido comum.

Por tudo isso, não vejo nenhum problema se fazer imprimir na nossa moeda o nome de Deus, que representa culturalmente coisas boas como paz, amor, compreensão, fraternidade, honestidade, trabalho, honra, tolerância, ingredientes presentes não só em Deus, mas em todas as religiões, coisas que creio, são almejadas até pelos ateus.

Perfil

“Poeta, contista e cronista, que, quando sobra tempo, também é deputado”. Era essa a maneira como Joaquim Elias Nagib Pinto Haickel aparecia no expediente da revista cultural Guarnicê, da qual foi o principal artífice. Mais de três décadas depois disso, o não mais, porem eterno parlamentar, ainda sem as sobras do tempo, permanece cronista, contista e poeta, além de cineasta.

Advogado, Joaquim Haickel foi eleito para o parlamento estadual pela primeira vez de 1982, quando foi o mais jovem parlamentar do Brasil. Em seguida, foi eleito deputado federal constituinte e depois voltou a ser deputado estadual até 2011. Entre 2011 e 2014 exerceu o cargo de secretario de esportes do Estado do Maranhão.

Cinema, esportes, culinária, literatura e artes de um modo geral estão entre as predileções de Joaquim Haickel, quando não está na arena política, de onde não se afasta, mesmo que tenha optado por não mais disputar mandato eletivo.

Cinéfilo inveterado, é autor do filme “Pelo Ouvido”, grande sucesso de 2008. Sua paixão pelo cinema fez com desenvolvesse juntamente com um grupo de colaboradores um projeto que visa resgatar e preservar a memória maranhense através do audiovisual.

Enquanto produz e dirigi filmes, Joaquim continua a escrever um livro sobre cinema e psicanálise, que, segundo ele, “se conseguir concluí-lo”, será sua obra definitiva.

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