Joaquim Haickel
11 de abril de 2020
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Não vejo a hora de tudo isso
acabar, para que eu possa voltar à minha rotina de afazeres e trabalhos
diários, pois preciso dar continuidade às séries que estou produzindo e
dirigindo: “Manufatura Fashion”, “Raja na Rota das Emoções”, “A Pedra e a
Palavra”, “JS – 90”, “As Mina Pira”, em que pese continuar trabalhando
nelas in home office!
Preciso também voltar logo a me
dedicar às pesquisas e à produção dos projetos que alguns de meus parceiros,
como Beto Matuck e Fernando Baima, irão dirigir como são os casos dos
longas-metragens sobre a vida e a obra de Bandeira Tribuzi e sobre a Revista
Guarnicê, os quais eles trabalham de suas casas.
E ainda tem um leitor e
comentarista, dos blogs de meus bons amigos Jorge Aragão e Zeca Soares, um FDP
sem caráter, que insiste em perguntar, como se soubesse a resposta, o que é que
eu faço na vida. A vontade que dá é de mandá-lo perguntar à mãe dele, se eu
faço bem direitinho!…
Outra coisa que preciso fazer
com urgência é parar com essa abominável prática do desenfreado exercício
alimentar compulsivo, que além de ter se abatido sobre a minha corpulenta
figura, tem afligido a muita gente também nesses tempos de clausura.
Nestes dias de isolamento
social, tenho dedicado uma parcela bastante grande de meu tempo para assistir a
filmes e séries em todas as plataformas disponíveis. Sugiro que não percam “A
Promessa”, “O Poço”, “Os Últimos Czars”, “A Ascensão do Império Otomano” e
“Madame C.J. Walker”, entre tantos à nossa disposição.
Um amigo mandou-me uma mensagem
de WhatsApp dizendo que como há 20 anos eu havia sugerido em um discurso que
fiz, como deputado estadual, na Assembleia Legislativa do Maranhão, finalmente,
estão utilizando os espaços que ficam abaixo das arquibancadas do Castelão.
Durante este tempo de reclusão,
estamos, eu e meus confrades Sebastião Moreira Duarte e Manuel Aureliano Neto,
fazendo a reforma do Estatuto e do Regimento da Academia Maranhense de Letras,
tudo isso sendo feito cada um de sua casa, em nossos computadores, e através de
contatos telefônicos.
Em casa, com pouco o que fazer,
exercito minha memória e relembro passagens interessantes de minha vida, como
aquela vez em que numa feira em São Paulo, consultei um oráculo, jogadora de
tarô e de runas, que me disse que eu gostava tanto de ouvir e de contar
histórias que iria chegar um tempo em que eu as escreveria até mesmo em meu
próprio corpo, como faziam os antigos druídas celtas. Hoje olho para meus
braços e vejo que acabei por realizar a previsão dela. Tenho marcadas em mim,
tatuagens que registram algumas ideias importantes: Inteligência e Sabedoria,
na parte interna do antebraço esquerdo; Honra e Nobreza, na parte interna do
antebraço direito.
Mais tarde faria mais três
tatuagens: um poema no pulso esquerdo, a pomba da paz na costa da mão direita e
o símbolo do infinito no pulso direito, essa última fiz pra registrar o meu
infinito amor por Jacira.
Dizem que nessa quarentena, os
relacionamentos serão testados. Os meus relacionamentos, os internos, de casa,
vão muito bem, obrigado! Tenho tido certa dificuldade é no Twitter, onde alguns
amigos meus insistem em não aceitar minhas posições, sempre claras, diretas e
quase sempre elegantes!… Um desses amigos, até me respondeu citando Sartre:
“Nosso inferno são os outros.”
Resovi trazer para cá uma discussão
que acredito ser oportuna: A reforma eleitoral.
Em primeiro lugar, transcrevo o texto
de meu amigo Flávio Braga (Unificação das eleições: proposta elitista e
excludente) e sem seguida o meu, sobre o assunto abordado por ele (Falácia
eleitoral).
Espero que apreciem!…
Unificação das eleições: proposta elitista e excludente
Em tempos de pandemia de Covid-19,
mais uma vez a proposta de unificação das eleições em todos os níveis da
Federação está na agenda nacional. As principais vantagens alegadas pelos seus
defensores são o barateamento das campanhas eleitorais, racionalização do
processo eleitoral com economia de recursos públicos, maior eficiência da
gestão pública, ininterrupção do funcionamento das casas legislativas e cansaço
do eleitorado.
Sustentam que, com a realização de
eleições simultâneas para todos os cargos eletivos, haverá uma única campanha
eleitoral a cada quatro ou cinco anos. Nos anos não-eleitorais, os Poderes
Executivo e Legislativo poderiam realizar seus trabalhos sem a necessidade de
envolvimento com a mobilização eleitoral de candidatos e partidos. Trata-se de
argumentos falaciosos, sofismáticos.
Como veterano militante da seara
eleitoral, sou radicalmente contra essa proposição legislativa, por entender
que a tarefa de construção e amadurecimento de um país democrático deve ser uma
prática quotidiana, imbricada num processo de melhoria contínua.
A realização de eleições a cada dois
anos traz uma contribuição magistral para a politização das pessoas,
tonificando e robustecendo o exercício da cidadania. Inequivocamente, o
alargamento desse interregno produziria resultados mais negativos do que
positivos. E o mais grave: como consequência direta e imediata, provocaria o
recrudescimento da alienação e do analfabetismo políticos.
Quando a população é estimulada a
exercitar a soberania popular e vivenciar o debate político, a tendência é
aumentar a sua conscientização e a higidez do Estado Democrático de Direito. É
uma forma clássica de agregar valor ao sistema político. Portanto, quanto mais
eleição melhor. Quanto mais participação político-popular melhor. Faz parte da
essência do termo “democracia”.
A cada pleito a República amadurece
um pouco mais, o processo eleitoral se aprimora e as instituições democráticas
se fortalecem. Possibilita-se, assim, uma interação maior do eleitorado com os
atores políticos e o sistema representativo, aprofundando a discussão crítica
em torno da busca de soluções para os tormentosos problemas sociais, políticos
e econômicos.
Em verdade, trata-se de uma proposta
elitista, excludente e aristocrática, na medida em que carrega o escopo
subjacente de excluir a participação do eleitorado do cenário político,
resguardando o monopólio do seu protagonismo apenas para políticos profissionais
e tecnocratas.
Por fim, cabe frisar que a quantia
que a Justiça Eleitoral despende em cada eleição para manter viva a chama da
democracia é irrisória em face do montante estratosférico das dotações que
compõem o Orçamento Geral da União.
Falácia eleitoral
Acompanho sempre que posso o que
escreve o meu amigo e professor Flávio Braga a respeito de direito eleitoral.
Às vezes concordo com ele, mas especificamente, no que diz respeito a sua
opinião, expressada no seu texto “Unificação das Eleições: Proposta Elitista e
Excludente”, devo discordar por ele se basear em teses aparentemente corretas
que estão eivadas de erros de interpretação da realidade, e até de desvirtuação
dela.
Diz o professor, “… vantagens
alegadas pelos seus defensores são o barateamento das campanhas eleitorais,
racionalização do processo eleitoral com economia de recursos públicos, maior
eficiência da gestão pública, ininterrupção do funcionamento das casas
legislativas e cansaço do eleitorado”.
O Professor atua como um reducionista
que se apega a detalhes literários de uma construção frasal para tentar
diminuir a ideia contida nela, por falta do devido aprofundamento.
E ele continua, “Sustentam que, com a
realização de eleições simultâneas para todos os cargos eletivos, haverá uma
única campanha eleitoral a cada quatro ou cinco anos. Nos anos não-eleitorais,
os Poderes Executivo e Legislativo poderiam realizar seus trabalhos sem a
necessidade de envolvimento com a mobilização eleitoral de candidatos e partidos.
Trata-se de argumentos falaciosos, sofismáticos”.
O que o professor diz ser falácia e
sofisma é a mais pura verdade e a mais palpável realidade, e provo isso usando
lógica, bom senso e conhecimento do sistema eleitoral.
Peguemos o exemplo de um político que
concorra a mandato eletivo para o executivo. Ele precisa antes de mais nada se
eleger, vencer a eleição para a qual se candidatar. Isso demanda tempo,
dedicação e principalmente recursos financeiros, sem contar com uma série de
negociações e “conchavos” políticos, partidários e eleitorais.
Ao se eleger, o candidato assumirá o
cargo de prefeito, por exemplo, e durante o primeiro ano do mandato, e muitas
vezes até mesmo durante o segundo, ainda sofrerá as influências da eleição.
Influências ligadas à dívidas políticas, compromissos eleitorais, pendências
financeiras… Isso leva tempo para ser sanado e regularizado! É assim que
acontece na vida real, não no imaginário idealístico das pessoas.
No segundo ano de seu mandato aquele
prefeito irá comandar em seu município uma nova eleição onde fará de tudo para
eleger deputados, senadores, governador e presidente, ligados a si, que lhe
apoiem e respaldem. Será mais uma batalha, envolvendo compromissos políticos,
eleitorais e financeiros, o que faz que de dois em dois anos o sistema
eleitoral destrua o sistema administrativo e crie um círculo vicioso
insuperável, pois dele resultará ou não a sobrevivência política e pessoal dos
envolvidos neste intrincado jogo, que sempre escolherão a sobrevivência em detrimento
de ações corretas em benefício da sociedade!
Esse é um dos motivos mais decisivos
para unificarmos as eleições e aumentarmos os mandatos para cinco ou seis anos
sem direito a reeleição para cargos executivos.
Mas o professor Flávio Braga continua
seu texto e comete mais adiante o mais grave dos erros em meu ponto de vista. O
de querer usar eleições como remédio para sanar a incapacidade da família, do
Estado e da sociedade de modo geral, de fazer com que as pessoas através do
ensino e da educação, possam se tornar CIDADÃOS, na verdadeira concepção da
palavra.
Usar-se eleição para ensinar o povo a
votar, a escolher seus representantes, é a suprema barbaridade, uma vez que
sabemos que o voto é, em primeiro lugar, uma atitude emocional, sujeita a manipulações
das mais diversas, ao alcance de publicitários e marqueteiros. Depois o voto
depende da relação do candidato com o eleitor, que muitas vezes criam entre si
um ambiente construído por identidades religiosas, raciais, culturais e
clientelísticas, ligadas a própria sobrevivência, de um e de outro.
Nem vou continuar a analisar o texto
do Professor Flávio Braga, pois acredito que tenha conseguido explicar de forma
satisfatória onde está e em que consiste o seu erro quanto a esse assunto.
A solução tem que ser mecânica.
Depois que o sistema funcionar satisfatoriamente, veremos maneiras de
aprimorá-lo.
Joaquim Haickel
4 de abril de 2020
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Política
é um jogo bem parecido com o xadrez! É preciso que se pense com cautela e
argúcia nas consequências dos movimentos que fazemos. Movimentarmos peões,
cavalos, bispos e torres sem o devido conhecimento das consequências dessas
ações, acarreta situações que em alguns casos serão decisivas, positiva ou
negativamente, no sucesso do jogo.
Os
jogadores mais gabaritados do xadrez político, adversários do presidente Jair
Bolsonaro, devem saber que tirar o capitão da presidência da República irá
causar um efeito diverso daquele que eles pretendem, pois seu substituto,
general Hamilton Mourão é muito mais bem preparado e não fará as bobagens que
seu comandante em chefe comete tão corriqueiramente!
Imagino
que o que na verdade os adversários de Bolsonaro querem, não é simplesmente
tirá-lo do poder, mas, tal qual o Adélio Bispo, esfaqueá-lo, repetidamente,
para fazê-lo sangrar, enfraquecendo-o, para ganhar dele a eleição em 2022 e
assim voltarem ao poder. Pelo andar da carruagem, tudo indica que irão
conseguir seu intento!
As
diversas burrices que comete o presidente Bolsonaro formam um conjunto de
coisas absurdas, dignas representantes daquilo que o genial Sergio Porto, o
Stanislaw Ponte Preta, nomeou como Febeapá, Festival de Besteiras que Assola o
País. E não adianta os adoradores do Mito virem dizer que ele não é burro, que
não é ignorante, mal educado, que ele faz tudo como deve ser feito, tanto que
por isso se elegeu presidente da República. O fato é que ele não se elegeu
presidente, ele foi usado como uma conveniente pá de lixo, que por acaso
agradava, naquele momento aos eleitores!
Da
mesma forma como acontece com as pás de lixo, depois de algum tempo, depois de
terem cumprido o seu papel, elas são descartadas e jogadas fora, junto com o
mesmo lixo que elas ajudaram a eliminar.
Com
um verdadeiro líder acontece diferente, ele pode até ser descartado
eleitoralmente, como aconteceu com Churchill, que depois de liderar o Reino
Unido e o mundo contra Hitler e os nazistas, perdeu a eleição. Mas, ocorre que
ele será sempre lembrado como um líder, alguém que como Moisés liderou seu povo
em momentos decisivos de sua história, mesmo que como punição, Deus o tenha
proibido de entrar na terra prometida. Alguém que como Martin Luther King lutou
por uma correta e justa ideia e até morreu por ela, sem vê-la realizada.
Já
está passando da hora de Jair Bolsonaro resolver se vai entrar para a história
do Brasil como apenas uma pá de lixo, fato que para ele, em sua forma desfocada
e obtusa de ver as coisas, parece ser o suficiente.
Para
nós, que esperamos muito mais daqueles que devem liderar nosso país, nossa
nação e nosso povo, na conquista de tempos e condições melhores, uma pá de lixo
não é a solução, pois o lixo sempre vai se acumular.
Precisamos
de um líder que estabeleça as condições necessárias para que tenhamos tudo que
se precisa para viver de forma minimamente digna e aceitável, onde inclusive se
tenha garantias de um serviço de limpeza, não apenas sanitária, mas também
política, que impeça o lixo humano de se apropriar do poder, dos corações e das
mentes de nosso povo.
Não
sei se ainda há tempo para Bolsonaro deixar de ser apenas uma pá de lixo, mas o
povo brasileiro ficaria muito feliz se pelo menos ele realmente tentasse.
Joaquim Haickel
28 de março de 2020
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É indecente e
criminosa a politização que está ocorrendo em torno da pandemia de coronavírus.
É asquerosa a atitude de pessoas que aproveitam ocasiões de tamanha dificuldade
para dar vazão a essa que é uma das mais torpes facetas da condição humana: a
perfídia.
Utilizarem-se deste
momento, em que enfrentamos essa avassaladora calamidade, onde todos estamos
sujeitos a adoecer e alguns até a morrer, para tirarem vantagem política ou
denegrir adversários, é algo ultrajante e inaceitável.
Os canalhas que
fazem esse tipo de coisa estão sendo observados, e mesmo aquelas pessoas de
pouca percepção, são capazes de reconhecer quem joga com suas vidas.
É igualmente
inadmissível gestores públicos idiotas não serem capazes de se comportar com a
devida e necessária civilidade, urbanidade e decoro, ainda mais em um momento
como esse. Muito grave também é o que acontece com a imprensa, onde jornalistas
tomam posições ideológicas e partidárias, colocando em segundo plano o bem
comum.
Exigir-se
inteligência emocional de quem não a possui talvez seja demais, mas ter-se a
inteligência comum, aquela que nos faz entender como funciona uma operação
simples de adição ou subtração, isso é indispensável. Sem essa inteligência
mínima, somos completamente descartáveis, principalmente neste momento de
crise.
O que se espera é
que todos deem vazão à honra e à nobreza que deve habitar em algum canto
obscuro, até mesmo da criatura humana mais desnaturada que vaga sobre esta
condoída terra.
Estou enojado com o
que tenho visto e posso garantir que o que vi até aqui me faz crer que ninguém
está inocente das acusações.
A responsabilidade
de um governante numa hora dessas ultrapassa o limite da mera
representatividade eleitoral e política. Ela passa a extrapolar os limites da
obrigação legal e a se estabelecer como questão de posicionamento social e
humano.
A macroeconomia,
lato sensu, e individualmente os sistemas econômicos mais simples, que vão das
empresas de maior porte até as empresas individuais, atingindo o cidadão comum
na ponta mais distante desta cadeia, não pode ser de forma alguma esquecida,
mas também não pode ser o item mais importante neste momento.
Quando eu era
detentor de cargo público, como deputado ou secretário de estado, sempre chamei
a atenção dos meus colegas e colaboradores para um dilema que bem representa a
vida e a ação dos políticos de todas as esferas. O dilema da vaca e do
carrapato.
Nele, algumas
pessoas advogam que por existirem carrapatos, melhor seria não se ter vacas,
enquanto alguns mais radicais defendem que se mate as vacas para acabar com a
praga dos carrapatos.
Desculpem o exagero
deste exemplo, mas ele se deve ao fato absurdo de existir pessoas incapazes de
ver que cada caso possui no mínimo dois lados. Muitos casos possuem três,
quatro, cinco… Uma infinidade de facetas que devem ser levadas todas em
consideração. Imaginem no caso de uma situação como esta que estamos
enfrentando agora!?…
Da mesma forma que
o desastre que essa pandemia vai causar em nossas vidas a curto prazo, de forma
pontual e particular, ela causará um incalculável e descomunal desastre
econômico, que acarretará problemas gravíssimos de todas as ordens, em todas as
esferas, de todos os setores da sociedade.
Mas uma coisa é
certa! Os que não morrerem vítimas desta doença, sofrerão as graves
consequências dela, e precisam estar preparados para isso. Sobreviver é
possível, vejam o que aconteceu depois da peste negra, o que aconteceu durante
e depois das grandes guerras, e em consequência das grandes quebradeiras e
recessões pelas quais o mundo passou! Sobrevivemos!…
O que não é
admissível é que os canalhas de um lado e jumentos de outro, tentem tirar
proveito dessa calamidade para ganhar alguma coisa com isso, seja econômica ou
politicamente. Isso é inaceitável!
Joaquim Haickel
21 de março de 2020
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Essa
pandemia causada pelo novo coronavírus fez com que eu fosse ler um pouco a esse
respeito, e em meio a minhas leituras deparei-me com matérias correlatas que me
remeteram a outro assunto: o fim dos tempos, o que me levou ao Evangelho de
João, o Livro das Revelações, mais conhecido como Apocalipse.
Escrito
como se fosse uma poesia, meio que psicodélica, pois em algumas passagens o
escritor está tão doidão, parece até ter usado algum tipo de alucinógeno, pois
nos induz a acreditar que está tendo visões bem características deste tipo de
atitude. É aí que aparecem os Quatro Cavaleiros do Apocalipse: a fome, a
guerra, a peste e a morte.
Aquela
leitura me fez ver que em pleno século XXI, tempos de imensa evolução
tecnológica, a humanidade ainda é atingida de forma avassaladora por surtos,
epidemias e pandemias, nos remetendo a um texto religioso de dois mil anos.
Segundo
as estatísticas da Organização Mundial da Saúde, morrem no mundo, vítimas
apenas dos mais diversos tipos de gripe, duas pessoas por minuto, 120 por hora,
mais de 2.800 por dia, acima de 86.000 por mês, o que totaliza mais de 1 milhão
e 50 mil pessoas, anualmente.
Porém,
há um fato muito mais alarmante do que essa peste que se abate sobre a
humanidade e que nos passa despercebido, mesmo sendo muito mais cruel e
permanente que a falta de saneamento e as doenças que ela acarreta. Falo da
fome, outro dos quatro Cavaleiros do Apocalipse, que segundo João de Patmos se
espalharão pela terra e a devastarão, quando estiver próximo o fim do mundo.
Segundo
estatísticas da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura, a
fome mata pelo mundo, 10 pessoas por minuto, 600 por hora, mais de 14.000 por
dia, algo em torno de 430.000 por mês, totalizando mais de 5 milhões 180 mil
pessoas por ano. O equivalente a quase cinco vezes a população da cidade de São
Luís! São números inacreditáveis!
Em
outra esfera, e por mais incrível que possa parecer, a guerra, outro cavaleiro
do dos tempos, mata muito menos pessoas. Estimativas indicam que
aproximadamente 360 mil pessoas morreram em 2019 nas guerras convencionais, em
curso no mundo. Número bem inferior à quantidade de outras mortes, causadas
pelos outros agentes citados anteriormente.
O
número de vítimas da guerra ganha imensas proporções quando se soma todas as
mortes de todos os conflitos bélicos da história, mas cumulativamente os três
fatores são catastróficos.
O
quarto flagelo é a própria morte, e nesta última leitura que fiz, por um
instante, fiquei achando que havia um erro naquele elenco, afinal de contas os
três outros cavaleiros sintetizam o quarto. Todos levam à morte! Mas logo
entendi que aquela morte citada por João em seu caótico poema profético, tem
uma outra conotação, uma outra dimensão, ela diz respeito a um outro tipo de
vilão que ataca a humanidade também há milênios. O controle torpe e corrupto
dos homens e das sociedades por religiosos e políticos infames e mentirosos.
Essa morte representa isso, a falência das lideranças da humanidade, na
religião e na política.
A
alegoria usada para caracterizar os quatro mensageiros do fim dos tempos é auto
explicativa: montado em um cavalo branco acinzentado, aparece uma figura de
porte majestoso, usando uma coroa, um arco e uma máscara, que representa a
mentira e a infâmia praticadas pelos poderosos da falsa igreja e os mandatários
da terra; um potro avermelhado, cor do sangue que jorra nas guerras, traz uma
figura com características de guerreiro que empunha uma espada com a qual
matará seus inimigos; um equino negro, cor que sugere as trevas e a ganância,
traz montado em si uma figura famélica, carregando uma balança destinada a
fraudar a pesagem e a distribuição dos frutos que por sorte brotem da terra; e,
por fim, um corcel amarelo esverdeado, cuja cor sugere a decomposição dos
corpos, traz montado em si uma figura com característica cadavérica, empunhando
uma jarra contendo doenças e uma espécie de gadanho, que usará para revirar os
restos de suas vítimas.
No
momento atual é este último cavaleiro, o da peste, que nos visita. Ele está
sendo combatido e certamente será derrotado em mais essa batalha. Mas uma
pergunta se impõe: até quando ficaremos reféns destes flagelos? Quando iremos
nos livrar deles definitivamente?
A
minha opinião é que estes quatro tem um que os lidera, e que deve ser eliminado
para que os demais deixem automaticamente de existir.
Ninguém pode
sustentar com capacidade de impor como verdade, a narrativa de que uma pessoa
age discriminando as mulheres, lato sensu, se ficar comprovado que tal pessoa
se refere a um indivíduo em particular, que por acaso é uma mulher, não pelo
fato de ser mulher, mas por sua posição política e ideológica. O mesmo ocorre
em muitos outros casos, como narrativas sobre racismo, homofobia, fascismo,
corrupção, desonestidade…
Dois casos
desse tipo tomaram conta do nosso dia a dia nos últimos anos. No primeiro, a
esquerda, insiste em dizer que criaram uma narrativa caluniosa, injuriosa e
difamatória contra o ex-presidente Lula, imputando a ele ações criminosas,
corruptas e desonestas que envolvem bilhões em desvio do erário público
brasileiro.
Acusações
foram feitas, processos foram instaurados, julgamentos aconteceram, sentenças
foram proferidas, penas foram cumpridas e ainda assim a banda à esquerda do
espectro ideológico de nosso país, de modo geral, defende a inocência do
apenado, declarando isso tudo ser uma grande trama, um grande golpe contra a
liberdade e o estado democrático de direito.
Por outro
lado, a direita defende incondicionalmente o presidente Jair Bolsonaro, acusado
de racismo, homofobia, misoginia, fascismo, apologia ao desrespeito à liberdade,
à violência e à ditadura.
O fato é que
em 2018, depois de desmontado, o esquema de poder do Partido dos Trabalhadores,
que comandou nosso país, por 14 anos, apoiado numa esquerda que minou,
aparelhou e fragilizou nossa sociedade nas últimas seis décadas, ruiu.
Isso
aconteceu por um motivo elementar, comum às estruturas políticas baseadas em
ideologias autoritárias, concentradoras de poder, mesmo aquelas que
APARENTEMENTE não o são, como no caso da que se implantou no Brasil, desde a
ascensão da esquerda ao poder em 1995 com Fernando Henrique Cardoso.
Essas
estruturas não sobrevivem ao tempo, pois as pessoas e as gerações mudam. Elas
não se perpetuam, ainda mais em uma sociedade como a de hoje, onde a informação
se dissemina por si só, não dependendo mais dos grandes detentores e
manipuladores do poder jornalístico, que teve seu apogeu nos anos quentes da
Guerra Fria, nas décadas de 60 e 70, e seu declínio a partir de 1989, com a
queda do Muro de Berlim, símbolo do controle ideológico e político de metade do
mundo pelo comunismo.
Acusar
Bolsonaro de tudo que acusam é muito fácil e acho até que ele ajuda bastante
seus acusadores, pois é um camarada verborrágico, irascível, descontrolado, que
reage primeiro e pensa depois!… Quando pensa!…
Mas acusar
quase 60 milhões de brasileiros que disseram um retumbante NÃO a tudo que o PT
e os esquerdistas fizeram com nosso país, isso é inadmissível! Um absurdo sem
precedentes na história contemporânea, essa mesma história que é movimentada e
sustentada pelas redes sociais!…
A tentativa
de criar uma narrativa falsa sobre o fato de nossa democracia está sendo
enfraquecida pelo presidente, que ele defende o uso da violência, o desrespeito
à liberdade, à depredação do meio ambiente, que ataca índios, homossexuais,
mulheres, negros… Isso é apenas o reducionismo da questão política
estabelecida pela esquerda em busca de recuperar o espaço que perdeu.
Bolsonaro é
acusado de misoginia, mas ele tem parte das mulheres ao seu lado. Ele não ataca
as mulheres, ataca as pessoas deste gênero que se opõem a ele e ao seu projeto
político, que foi chancelado por seus eleitores! O mesmo ocorre com os negros,
os homossexuais, os indígenas… O problema deste senhor é que além de não
saber se comunicar, não demonstra nenhum interesse em aprender, o que dificulta
muito o trabalho de pessoas que como eu, acredita saber o que realmente está
acontecendo em nosso país.
Em minha
modesta opinião o que está acontecendo no Brasil é um distúrbio, quase como uma
singularidade gravitacional, causada pelo desmonte das estruturas sociais,
perpetrado pelas ideologias de esquerda, na intenção de controlar totalmente a
sociedade. Ninguém está preparado para absorver e solucionar a imensa
fragilidade estrutural causada pelo vazio, pelo buraco negro (se é que posso
chamá-lo assim sem ser considerado racista), que dá origem a este distúrbio, a
esta singularidade.
PS: Atenção
patrulhadores, de esquerda e de direita: corram para o Google!…
Joaquim Haickel
7 de março de 2020
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Fiquei imaginando qual é a nota que se poderia dar, de zero a
dez, para filmes baseados em fatos reais, no que diz respeito ao
conhecimento, aprendizado que eles possam nos oferecer
ao assisti-los. Imaginei isso no tocante às portas e janelas que eles
possam abrir para nós, mesmo que algumas vezes até conhecemos o
enunciado do assunto, mas quase sempre desconhecemos os detalhes sobre eles.
Cheguei à conclusão que muitas respostas podem ser
dadas a essa pergunta, mas posso garantir
que nenhuma será igual a zero. Não existe nenhum filme, por pior
que seja, por mais mal feito que possa ser, que não agregue conhecimentos e
aprendizados para quem o assistir.
Observei que muito poucas deverão ser as notas iguais a
1, 2 e 3, e essas não estarão relacionadas a
filmes ruins, mas àqueles que se apropriam de
um determinado fato real para desenvolver em torno dele uma
forte carga dramática. Essas podem até parecer notas baixas para filmes
tão importantes, mas não são. “Tróia”, “Barrabás”, “Quo Vadis”, “Coração
Valente”, “…E o Vento Levou”, “Sem Lei, Sem Alma”, “O
Encouraçado Potemkin”, “Doutor Jivago”, “O Discurso do
Rei” e “Cidadão Kane”, são perfeitos representantes deste tipo e
desta categoria de filme.
Estabeleci que notas 4, 5 e 6 deveriam ser as pontuações de filmes
que usam em seus enredos apenas algumas dramatizações e licenças poéticas,
como é o caso de “Ben-Hur”, “Spartacus”, “El
Cid”, “1492, a Conquista do Paraíso”, “A Rainha Margot”, “Titanic”, “Carruagens
de Fogo”, “Reds”, “O Vento será tua Herança”, e “O Império do Sol”. Todos,
filmes baseados em fatos reais, que se apoderam das narrativas literárias e
cinematográficas para mais e melhor envolver o público, dando asas à
dramatização, mas mantendo-se bem fiéis ao fato histórico enfocado.
Vi que poderia dar notas 7, 8 e 9, para filmes que estão em
patamares quase totalmente ancorados em fatos reais, mas com uma
pegada mais próxima da documentação histórica, não do documentário, e
sim com menos preocupação com os artifícios literários do roteiro ou com
os recursos próprios da cinematografia, como, “A Missão”, “Amistad”, “Tora, Tora, Tora”, “O mais
Longo dos Dias”, “A Queda – as últimas horas de Hitler”, “O
Julgamento de Nuremberg”, “Malcolm X”, “JFK – A Pergunta Que Não Quer Calar”,
“Os Gritos do Silêncio” e Attica.
As notas 10, em minha opinião, devem ser atribuídas a filmes que
agradam quase a unanimidade das pessoas graças a sua abordagem bem ajustada,
limpa, sem ruídos, irretocável, como é o caso de “A Guerra do Fogo”,
“Agonia e Êxtase”, “O Homem que não Vendeu sua
Alma”, “Amadeus”, “Os Eleitos”, “O Último
Imperador”, “Lawrence da Arábia”, “Gandhi”, “Patton” e “A Lista
de Schindler”.
É importante que se ressalte que quem tiver o privilégio de
assistir a esses 40 filmes, pode se considerar não só um
felizardo, mas ficar certo de ter tido acesso a algumas das páginas
mais importantes da história da humanidade.
Preciso dizer também, sendo um pouco gabola, que assisti a todos
estes filmes e a mais algumas centenas deste mesmo tipo, que é o meu favorito.
Os vejo sempre com o espírito crítico bem aguçado, procurando analisar neles, o
que é verdade e o que é obra literária e cinematográfica. Sugiro que se
pesquise a respeito dos fatos envolvendo os filmes baseados em eventos reais ou
históricos, faço isso frequentemente e essa é uma outra grande satisfação que
tenho com o cinema: a pesquisa histórica.
Abordei esse assunto hoje porque durante a semana que passou,
assisti a dois filmes baseados em fatos reais, os quais eu, que sou
tido por algumas pessoas como um sujeito culto, bem informado, além de cinéfilo
de grande monta, nem imaginava que existissem. Os filmes e muito menos os fatos
que os motivaram.
Não vou fazer spoilers! Só vou dizer que os filmes,
“Jodotville” e “O Banqueiro da Resistência”, são imperdíveis, menos pela arte
cinematográfica que expressam, e muito mais pelas extraordinárias e
surpreendentes histórias que contam.
Esses dois filmes estão disponíveis na Netflix. Não deixe de
assisti-los, e descubra o quão pouco nós conhecemos a história de nosso mundo e
comprovem a crueza de nossa condição humana.
PS: Depois que acabei de escrever esse texto, quando fui lê-lo
novamente para revisá-lo, constatei que a maioria dos 42 filmes que usei
nele, como exemplos, têm de alguma forma envolvimento com conflitos bélicos.
Parece que essa infelizmente é uma marcante e triste condição
humana.
Joaquim Haickel
29 de fevereiro de 2020
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Durante o
carnaval, minha esposa, Jacira, leu para mim, uma postagem em uma rede social
que relacionava uma série de expressões como formas sutis, subjetivas e
indiretas de preconceito.
Muitas eu
conhecia e não as ligava a preconceito, como denegrir. Para mim denegrir era
apenas um verbo que significava macular, difamar, falar mal de alguém. Algumas
eu conhecia e até ligava a preconceito, mas num sentido meramente simbólico e
até de certa forma positivo, como judiar, expressão que significa maltratar,
mas pensava que essa expressão fosse usada no sentido de nos fazer lembrar como
foram perseguidos os judeus, não para induzir a crueldade para com eles.
Até o dia
que minha mulher leu para mim a tal postagem, acreditava que uso da palavra
negra associada as palavras magia, lista, mercado e coisa, eram meras
associações deste substantivo ou adjetivo feminino como sinônimo de oculta,
perigosa, ilegal e difícil! Em minha cabeça essas expressões jamais foram uma
tentativa de marginalizar uma raça, diferentemente de coisa de preto, mulata,
ou cabelo de nego, essas sim, claramente eivadas de preconceito.
Mas entre
todas aquelas expressões, uma me deixou perplexo pelo fato de não conhecer o
motivo histórico de tal termo ser usado, ou seja por total falta de
conhecimento, de cultura mesmo, de minha parte, como acredito que ocorra neste
caso específico com a maioria das pessoas. Soube naquela ocasião que o nome
criado-mudo, atribuído ao móvel que colocamos ao lado das camas, é proveniente
de um hábito escravocrata, de quando os “senhores” colocavam seus escravos
postados, durante toda a noite, ao lado de suas camas segurando uma bilha com
água e um copo. Eu jamais poderia imaginar que alguém pudesse ter uma ideia tão
absurda e estapafúrdia como essa. Muito mais prático seria colocar-se um
banquinho para esse fim!
Pois bem!
Ao saber que o outro nome dado à mesinha de cabeceira fazia referência a uma
atitude repugnante do tempo da escravidão, fiquei chateado comigo mesmo, por
desconhecer tal fato. Além disso fiquei indignado por ser considerado
preconceituoso por usar essa expressão, pois, uma vez que não sabia que ela
tinha essa conotação, não poderia ser acusado por tal atitude, mas de qualquer
modo, daquele dia em diante, só me referirei ao móvel colocado ao lado das
camas como mesinha de cabeceira, a magia é oculta, a lista é perigosa, o
mercado é ilegal e a coisa tá difícil!
Outro
assunto foi tema de nossas conversas durante o carnaval. A existência de um tal
do Lugar de Fala, que em minha modesta opinião é uma invenção que
tenta limitar a liberdade de expressão de uns em relação a pretensos direitos
de outros. É como se algumas pessoas, resolvessem que há uma hierarquia entre
alguns direitos fundamentais do cidadão, estabelecidos no artigo quinto da
Constituição brasileira, que trata de nossos direitos e garantias individuais e
fundamentais. Falo desse assunto usando o mesmo argumento das pessoas que
inventaram e defendem esse tal Lugar de Fala, pois fui membro da
comissão de parlamentares que durante dois anos trabalhou na confecção desta
quadra de nossa Constituição.
Algumas
pessoas estabeleceram que alguns direitos, de certos cidadãos, são mais
importantes que outros direitos de outros cidadãos, o que é um contrassenso,
além de tornar o exercício desses tais direitos subordinados ao uso social
deles, transformando-os em poderosos instrumentos de poder de uns cidadãos
iguais, contra outros que deveriam também ser igualmente cidadãos.
A tese
do Lugar de Fala estabelece que só pode falar ou se manifestar
sobre um determinado assunto quem o tenha vivenciado. Nenhum homem pode falar
sobre assuntos de mulheres, como por exemplo, menstruação, gravidez, cabelos no
sovaco… Nenhum homem pode se dizer feminista! Um teólogo protestante, não
pode comentar sobre uma religião de matriz africana… Um filósofo, sociólogo,
antropólogo ou psicólogo heterossexual não pode tecer comentário, nem aqueles
que sejam aceitos ou favoráveis, sobres assuntos homossexuais, por não ter
legitimidade.
Estou vendo
a hora alguns tentarem impedir que um cidadão reclame da forma como outros
desestabilizaram, corromperam e destruíram a sociedade, que pertence igualmente
a todos. Imagine se tentarem impedir que o torcedor de determinado time reclame
da chatice de outro, ou um pai de bem educar um filho.
Acredito
que eu tenha Lugar de Fala, enquanto pessoa, cidadão cumpridor de
minhas obrigações e respeitador das leis, ao dizer que este mundo em que
vivemos está muito chato, que tenho saudade do tempo em que lutávamos pela
liberdade que não tínhamos, e hoje que a temos, a limitamos de tal forma que
acabamos por perdê-la para nós mesmos, o que é um grande absurdo, uma imensa
tragédia.
Joaquim Haickel
22 de fevereiro de 2020
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Escrevo este texto na madrugada da terça-feira anterior ao sábado, de
carnaval, dia em que ele não só estará publicado na página de opinião do Jornal
O Estado do Maranhão, mas também estará postado em minhas janelas nas redes
sociais.
Ressalto o sábado de carnaval, pois este texto não trata das folias de Momo.
Eu o escrevo exatamente para aqueles que não se interessam muito por elas e preferem
dois dedos de uma prosa leve sobre a nossa vidinha, sem confetes nem
serpentinas.
Faz tempo que gostaria de falar sobre este assunto, e logo quando
resolvo fazê-lo, descubro que meu amigo, confrade e professor de direito penal,
José Carlos Sousa Silva, já o fez antes de mim. Posso não tratar de assunto
inédito, mas o abordarei do meu jeito. O assunto é o BBB!…
Calma!… Não se trata do reality show da Rede Globo. O BBB de quem falo
é o Benedito Bogéa Buzar, um dos amigos que herdei no vasto inventário de meu
pai, que, diga-se de passagem, se nos deixou alguns bens materiais, nos fez
ricos de preciosas amizades.
De ascendência libanesa como eu, Buzar nasceu na cidade de Itapecuru
Mirim. Eleito deputado quando para isso não se precisava mais que uns mil
amigos, e tendo na juventude ideias libertárias, foi acusado de comunista e
cassado, junto com outros tão comunistas quanto ele: Sálvio Dino e Ricardo
Bogéa.
Tive o prazer, enquanto deputado, de receber simbolicamente de volta na
ALM, Buzar, Sálvio e Ricardo, recolocando a história nos trilhos de onde jamais
deveria ter sido tirada.
No último dia 17 de fevereiro, Buzar completou 82 anos, muitos dos quais
dedicados ao jornalismo, à política, ao registro histórico de personagens e
acontecimentos marcantes de nossa terra. Nisso fazemos parelha. Ele é
colaborador preferencial do Museu da Memória Audiovisual do Maranhão. É sempre
a primeira pessoa a quem recorremos para tirar alguma dúvida sobre este ou
aquele fato, ou para descobrir quem está em um filme ou em uma foto antiga.
Fico triste e preocupado por saber que um dia, que espero ainda demore bastante
a chegar, não teremos mais quem nos diga que naquele filme de Lindberg, ou que
naquela fotografia de Azoubel ou Valdo Melo, quem aparece é Carlos Vasconcelos
ou Matos Carvalho.
Nos últimos anos tenho convivido bastante com Buzar. Fazemos parte do
Senadinho da Fribal, que se reúne aos domingos na Ponta D´Areia, comandados por
Aparício Bandeira; do grupo de ex-deputados do MDB, dirigido por Remi Ribeiro e
secretariado pelo mesmo Aparício, que se reúne uma vez por mês em lautos
almoços; temos a honra de fazer parte de um grupo extremamente restrito de amigos,
que sempre que pode se reune com o presidente Sarney; e principalmente, ele,
Buzar, tem sido nos últimos anos, presidente da Academia Maranhense de Letras, onde
realizou um maravilhoso trabalho, não apenas administrativo, mas principalmente
diplomático, pois apascentar o ego e o temperamento de outras 39 criaturas,
todas com muita cultura, informação, e das mais diversas formações e
conformações, não é tarefa muito fácil!…
Nosso convívio na AML, graças ao seu jeito contemporizador, tem sido de
grande valia para mim, pois tenho podido ajudar da maneira que mais gosto:
descompromissado, sem cargo ou patente, sem responsabilidade e por isso mesmo
com compromisso comigo mesmo, com uma patente de amor e devoção dada por mim, e
com a responsabilidade que eu me exijo. O jeito simples de Buzar me propicia
isso!
Ele tem para comigo muita consideração e sempre me dá relíquias
históricas, como os documentos e fotos do Senador Clodomir Milet, grande amigo
dele e de meu pai. Livros sobre cinema e política, assuntos pelos quais muito
me interesso.
Estava pensando em escrever essas mal traçadas linhas já faz algum tempo
e aproveitei exatamente essa oportunidade, quando Buzar deixará de ser presidente
da AML, para fazê-lo.
Obrigado Buzar!
PS: Vou cometer aqui uma inconfidência. Há uma coisa que os amigos mais
íntimos de Buzar reclamam muito dele e que poucos que me leem agora vão entender:
Buzar não é bom de reza! Definitivamente ele não rezou direito!…
Joaquim Haickel
8 de fevereiro de 2020
2 Comentários
O insulto
Em uma animada conversa sobre cinema, com amigos, em São Paulo,
buscando um exemplo prático sobre o que falávamos, citava um determinado filme,
como por exemplo Assim estava escrito, O Mahabarata ou
A festa de Babete, e observei que muitos dos presentes, todos
envolvidos com audiovisual, não os tinham visto.
Os mais sábios, dizem que para que alguém escreva, e escreva bem,
é preciso que leia e aprenda com isso. É assim em tudo na vida. No cinema não é
diferente!
Como um camarada pode ser roteirista e nunca ter visto filmes que
trazem em si roteiros extraordinários como O sol é para todos, A
felicidade não se compra ou Relíquia macabra? (Cabe
aqui fazer um calombo para dizer que o editor do filme, aquele
que monta as sequências das cenas que compõem a história contada, é uma espécie
bem peculiar de roteirista, ou pós roteirista, aquele que não escreveu a
história, mas é responsável pela forma de apresentá-la ao público).
Imagine alguém que quer ser diretor de cinema e nunca tenha visto
os filmes de Frank Capra, David Lean ou Sidney
Lumet!
Um ator que não assistiu as performances de Charles
Laughton, em A vida privada de Henrique VIII, O
Corcunda de Notredame e Testemunha de Acusação; de Betty
Davis, em Jezebel, A Malvada, e O que terá acontecido com Baby Jane? Ou
ainda atuações magistrais de coadjuvantes como Walter Brennan, Shelley Winters
e John Gielgud, estará definitivamente prejudicado, ficando por conta
unicamente de sua genialidade, coisa que a cada dia tem sido mais difícil de se
encontrar.
Em menores proporções, devido a natureza quase independente de
suas atividades, que são na verdade agregadas à indústria do audiovisual, o
mesmo ocorre com produtores, diretores de fotografia, músicos, diretores de
arte, cenógrafos, figurinistas, maquiadores, que se propõem a realizar um
filme, e não assistiram a obras fundamentais como O nascimento de uma
nação, Lawrence da Arábia, e A excêntrica família de Antônia.
Mas preciso confessar a você que me lê agora o verdadeiro motivo
daquela conversa. É que eu comentei com aqueles amigos que uma determinada
pessoa, chateada comigo, escreveu um texto onde tenta me insultar me chamando
de cinéfilo, acusando-me de não ser um cineasta.
A comparação que fiz, pra tentar explicar como aquela pessoa que
tentava me insultar estava errada, foi com jogadores famosos de futebol.
Mostrei-lhes que os melhores jogadores, os maiores craques dos gramados, são
aqueles que jogam com amor, com alegria, como se estivessem em um campinho de
pelada, desses de várzea. Verdadeiros boleiros!
Lembrem aí: Garrincha jogava com uma ginga e uma alegria que
maravilhava a todos; Podemos dizer o mesmo de Didi, Puskás, Di Stefano e até de
Pelé. É fácil dizermos isso de Neymar, Messi, dos Ronaldinhos, Gaúcho e
Nazário, de Maradona, Zico, Romário e até de Zidane e Cristiano Ronaldo. Isso
não é menos verdade quando pensamos nos elegantes jogadores nórdicos, de sangue
frio, como Cruijff e Beckenbauer.
Em todos eles há um certo ingrediente de peladeiro. Nuns mais que
em outros, o que seria o similar a se dizer de alguém que trabalhando com
cinema, seja antes de qualquer coisa um apaixonado por ele. Isso de modo algum
é um insulto, e aquele sujeito que tentou me alvejar, na verdade conseguiu me
fazer o maior dos elogios, pois alguém que realiza o seu trabalho, aquilo que
se propõe, com paixão, amor, devoção, como um peladeiro, o faz da melhor
maneira possível, com as asas da alma abertas para voar.
PS 1: Escrevi este texto e o publico agora, na ocasião da
realização do maior evento do cinema mundial, o Oscar, para homenagear o
audiovisual brasileiro que teima em continuar existindo como pode, e a todos
que realizam trabalhos nesse importante setor.
PS 2: O insulto é o título de um maravilhoso
filme libanês que precisa ser visto por todos. Ele fala de uma epidemia que
precisa ser aniquilada: A intolerância.
Perfil
“Poeta, contista e cronista, que, quando sobra tempo, também é deputado”. Era essa a maneira como Joaquim Elias Nagib Pinto Haickel aparecia no expediente da revista cultural Guarnicê, da qual foi o principal artífice. Mais de três décadas depois disso, o não mais, porem eterno parlamentar, ainda sem as sobras do tempo, permanece cronista, contista e poeta, além de cineasta.
Advogado, Joaquim Haickel foi eleito para o parlamento estadual pela primeira vez de 1982, quando foi o mais jovem parlamentar do Brasil. Em seguida, foi eleito deputado federal constituinte e depois voltou a ser deputado estadual até 2011. Entre 2011 e 2014 exerceu o cargo de secretario de esportes do Estado do Maranhão.
Cinema, esportes, culinária, literatura e artes de um modo geral estão entre as predileções de Joaquim Haickel, quando não está na arena política, de onde não se afasta, mesmo que tenha optado por não mais disputar mandato eletivo.
Cinéfilo inveterado, é autor do filme “Pelo Ouvido”, grande sucesso de 2008. Sua paixão pelo cinema fez com desenvolvesse juntamente com um grupo de colaboradores um projeto que visa resgatar e preservar a memória maranhense através do audiovisual.
Enquanto produz e dirigi filmes, Joaquim continua a escrever um livro sobre cinema e psicanálise, que, segundo ele, “se conseguir concluí-lo”, será sua obra definitiva.
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