Se eu fosse você, a vida real

Como não acredito que alguém vá me perguntar alguma coisa, vou logo dizendo o que penso, pois não quero perder a oportunidade de dizê-lo antes que apareçam as vestais e os sátrapas de plantão, querendo obrar ordens, tentando impor alguma moralidade, nem sempre legítima. Pelo menos isso, moral e legitimidade, eu tenho.

Não era um dos que mais acreditava no processo de cassação do governador Jackson Lago. Sempre soube que o ex-governador Zé Reinaldo havia cometido, nas eleições de 2006, uma centena de irregularidades, todas elas no afã de derrotar o homem que o colocou em todos os cargos que ele exerceu em sua vida pública. Uma historia digna de Shakespeare e Freud. Eu duvidava era de como o tal processo seria tocado, como ele andaria, duvidava que ele tivesse conseqüências. Estava enganado.

O tempo se passava e a dúvida, sempre minha maior inimiga, ia dando lugar à tênue esperança de que retornássemos ao controle político e administrativo de nosso estado. Queria isso para que pudéssemos ao mesmo tempo reparar alguns erros cometidos, erros esses muito mais políticos do que administrativos, e demonstrássemos que com o tempo, o aprendizado e o amadurecimento havíamos nos tornado mais sábios e mais tolerantes.

Acredito ser necessário que se diga que, ninguém deve pensar que esses 20 meses de governo serão fáceis. Ninguém tem o direito de se enganar ou de tentar enganar outras pessoas, fazendo com que acreditem que em um passe de mágica iremos consertar o desmantelo de um governo que desde o primeiro dia, muito mais que administrar o estado, procurava simplesmente sobreviver ao fato de ter nascido de um pecado ao mesmo tempo original e capital.

Foi nessa incerteza que o governador Jackson Lago montou uma administração anêmica e frágil. Muitas vezes teve que ceder a pressões que nenhum governante deveria nem poderia ser exposto. Foi chantageado, extorquido, enganado. Entre seus assessores, poucos escapam da acusação de traição, pois mais que assessorar ao governo e ao governador, assessoravam a si mesmos e aos seus interesses mais imediatos.

Dito isso, é bom que se deixe bem claro que o próximo governo será um governo de reconstrução, de estabilização, de restabelecimento da ordem na administração dos negócios de estado e do estado.

Por saber como é difícil essa situação, aconselharia aos puxa-sacos de plantão que não queiram incentivar manifestações públicas de apoio, tais como carreatas ou coisa que o valha. Que aquele pessoal que adora uma caixinha de maldade, que anda com saquinhos de pó de mico, que se notabilizou por colocar laxantes nas bebidas dos outros nas festas em que entrava de penetra, que estes sejam impedidos de operar. Não é hora para isso. Existem coisas muito mais importantes a serem feitas.

Nosso grupo político tem que dar o exemplo e não se deixar levar pela vaidade nem pelo orgulho, muito menos pelo rancor ou pelo sentimento de revanche. O Maranhão não vai agüentar isso e nosso povo não merece. Devemos assumir o governo de forma protocolar e administrá-lo de forma efetiva, eficiente e eficaz. Que fique claro que não há nem nunca houve, nem nunca haverá em nosso grupo um correspondente aos “Novos Balaios”.

Nós, políticos, principalmente os com mandato eletivo, temos que participar efetivamente da construção desse novo cenário, mas devemos ter consciência do que deve ser feito e de como deve sê-lo.

Que ninguém se jogue numa busca frenética pela indicação de cargos no governo, pois para cada cargo há um perfil correspondente e ele deverá ser minimamente respeitado. Não vivemos mais o tempo do jabuti trepado. Não há mais espaço para desculpa de enchente ou mão de gente.

Devemos ter consciência de que uma coisa é fazer a política e coisa bem distinta é fazer a administração. Quem por acaso for fazer parte da administração do estado tem que ter consciência de que só lhe é possível estar ali e fazer isso porque há uma estrutura política que o sustenta e o mantém. Por sua vez, os políticos, de todos os tamanhos e em todos os níveis, têm que ter consciência de seu valor dentro dessa estrutura, mas têm que saber que esse valor não pode colocar em jogo a governabilidade e a estabilidade do governo.

Como deputado gostaria de ver vários de meus colegas, tanto os detentores de mandato estadual e federal, quanto aqueles que não estejam exercendo nenhum cargo eletivo, participando da próxima administração, mas que venha deles mesmos e que eles recebam recomendação expressa da governadora Roseana Sarney, que o cargo que por ventura venham a ocupar, não lhes pertence, mas sim ao povo do Maranhão, do qual nós seremos temporariamente os procuradores. Que tenham consciência de que devem tratar os assuntos administrativos de maneira clara e reta e que os assuntos políticos sejam prioridade, que tenham preferência desde que não conflitem com os administrativos, que estejam de acordo com a legalidade, com a justiça, com a coerência, com o bom senso e principalmente com o interesse público.

A montagem da base de apoio do próximo governo será uma obra delicada, que demandará muita atenção, dedicação e cuidado, pois existem áreas de conflitos tanto dentro de nosso próprio grupo, quanto em relação aos apoios que com toda certeza virão através de adesões. Aqueles que sempre foram conosco têm que ser tratados com toda deferência e consideração. Quem quiser vir apoiar que venha, mas que fique claro que a contrapartida desse apoio jamais acontecerá à custa do sacrifício de quem sempre foi leal e companheiro.

https://www.blogsoestado.com/joaquimhaickel/

www.peloouvido.com

Perfil

“Poeta, contista e cronista, que, quando sobra tempo, também é deputado”. Era essa a maneira como Joaquim Elias Nagib Pinto Haickel aparecia no expediente da revista cultural Guarnicê, da qual foi o principal artífice. Mais de três décadas depois disso, o não mais, porem eterno parlamentar, ainda sem as sobras do tempo, permanece cronista, contista e poeta, além de cineasta.

Advogado, Joaquim Haickel foi eleito para o parlamento estadual pela primeira vez de 1982, quando foi o mais jovem parlamentar do Brasil. Em seguida, foi eleito deputado federal constituinte e depois voltou a ser deputado estadual até 2011. Entre 2011 e 2014 exerceu o cargo de secretario de esportes do Estado do Maranhão.

Cinema, esportes, culinária, literatura e artes de um modo geral estão entre as predileções de Joaquim Haickel, quando não está na arena política, de onde não se afasta, mesmo que tenha optado por não mais disputar mandato eletivo.

Cinéfilo inveterado, é autor do filme “Pelo Ouvido”, grande sucesso de 2008. Sua paixão pelo cinema fez com desenvolvesse juntamente com um grupo de colaboradores um projeto que visa resgatar e preservar a memória maranhense através do audiovisual.

Enquanto produz e dirigi filmes, Joaquim continua a escrever um livro sobre cinema e psicanálise, que, segundo ele, “se conseguir concluí-lo”, será sua obra definitiva.

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