Um Pedaço de Ponte – Parte XI
Pelo ouvido
Cego era Churck. Cego e surdo.
Em verdade Churck era cego, surdo e mudo.
Kate não era sadia. Talvez não muito sã, mas sadía.
*
Casaram-se em Richmond e foram morar em Washington, num bairro atingo – Georgetown.
Kate trabalhava numa fábrica de sutiãs – telefonista.
Churck recebia pensão do exército. Na Coréia, uma granada estourou-lhe os tímpanos, arrancou-lhe as cordas vocais e vazou-lhe os olhos. Mas foi só.
*
Voltou pra casa e casou com a namorada da infância Katarrine Hampumt.
Kate o amava muito. “Kate o ama muito”-comentava-se.
*
Voltar pra casa, encontrar Churck e amar era o que passava pela cabeça dela desde a saída.
Chegava, preparava banho pra dois. Espuma e amor na banheira.
Churck adorava. Kate nem tanto. Preferia na cama.
*
Depois do chá com torradas, Kate lia – Dashiell Hammett – em voz alta.
Churck nada ouvia. Pintava: mulheres – azuis, verdes, lilases, sempre mulheres nuas – nada via.
*
Onze horas, a de deitar. Kate sorria – hora de sentir prazer. Primeiro adaptava o Headfone com a qual trabalhava a seu aparelho, discava: Chevy Chase, 3951.
*
Alô!”‘ – Kate.
Estava ansioso…”‘ – voz masculina do outro lado da linha.
*
Kate e Churck amavam, Churck nada falava.
Kate ouvia.
Comentários