Um Pedaço de Ponte – Parte XI

Pelo ouvido
 
Cego era Churck.  Cego e surdo.
Em verdade Churck era cego, surdo e mudo.
Kate não era sadia.  Talvez não muito sã, mas sadía.
*
Casaram-se em Richmond e foram morar em Washington, num bairro atingo – Georgetown.
Kate trabalhava numa fábrica de sutiãs – telefonista.
 
Churck recebia pensão do exército.  Na Coréia, uma granada estourou-lhe os tímpanos, arrancou-lhe as cordas vocais e vazou-lhe os olhos.  Mas foi só.
*
Voltou pra casa e casou com a namorada da infância Katarrine Hampumt.
Kate o amava muito. “Kate o ama muito”-comentava-se.
 
*
 
Voltar pra casa, encontrar Churck e amar era o que passava pela cabeça dela desde a saída.
Chegava, preparava banho pra dois.  Espuma e amor na banheira.
Churck adorava.  Kate nem tanto.  Preferia na cama.
 
*
 
Depois do chá com torradas, Kate lia – Dashiell Hammett – em voz alta.
Churck nada ouvia.  Pintava: mulheres – azuis, verdes, lilases, sempre mulheres nuas – nada via.
 
*
 
Onze horas, a de deitar.  Kate sorria – hora de sentir prazer. Primeiro adaptava o Headfone com a qual trabalhava a seu aparelho, discava: Chevy Chase, 3951.
 
*
Alô!”‘ – Kate.
Estava ansioso…”‘ – voz masculina do outro lado da linha.
 
*
Kate e Churck amavam, Churck nada falava.
Kate ouvia.

Perfil

“Poeta, contista e cronista, que, quando sobra tempo, também é deputado”. Era essa a maneira como Joaquim Elias Nagib Pinto Haickel aparecia no expediente da revista cultural Guarnicê, da qual foi o principal artífice. Mais de três décadas depois disso, o não mais, porem eterno parlamentar, ainda sem as sobras do tempo, permanece cronista, contista e poeta, além de cineasta.

Advogado, Joaquim Haickel foi eleito para o parlamento estadual pela primeira vez de 1982, quando foi o mais jovem parlamentar do Brasil. Em seguida, foi eleito deputado federal constituinte e depois voltou a ser deputado estadual até 2011. Entre 2011 e 2014 exerceu o cargo de secretario de esportes do Estado do Maranhão.

Cinema, esportes, culinária, literatura e artes de um modo geral estão entre as predileções de Joaquim Haickel, quando não está na arena política, de onde não se afasta, mesmo que tenha optado por não mais disputar mandato eletivo.

Cinéfilo inveterado, é autor do filme “Pelo Ouvido”, grande sucesso de 2008. Sua paixão pelo cinema fez com desenvolvesse juntamente com um grupo de colaboradores um projeto que visa resgatar e preservar a memória maranhense através do audiovisual.

Enquanto produz e dirigi filmes, Joaquim continua a escrever um livro sobre cinema e psicanálise, que, segundo ele, “se conseguir concluí-lo”, será sua obra definitiva.

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