Receita para viver bem

Numa dessas noites, em uma reunião de amigos, estávamos conversando sobre as mudanças que nossas vidas tiveram nos últimos 25 anos e esse assunto acabou a nos levar a questionar sobre o que realmente é viver bem.

A princípio essa questão parece ser fácil de ser esclarecida, mas não é assim tão fácil, ela contém ingredientes que tem que ser observados e absorvidos claramente em nosso consciente, pois normalmente em nosso inconsciente já temos arraigada essa sensação, que nem sempre é verdadeira.

Aquela noite foi muito esclarecedora para nós, pois pudemos ouvir a opinião de todos e chegamos à conclusão de que mesmo tendo trajetórias de vida diferentes, nosso grupo de amigos é bem homogêneo no que diz respeito ao que queremos e buscamos para nossas vidas.

Mas cá para nós, o que é realmente viver bem?

Alguém poderia dizer que viver bem é quando o sujeito tem dinheiro, quando é capaz de proporcionar a ele e à sua família os confortos e as comodidades da vida moderna. Não está errado quem pensa assim, mas em minha opinião está incompleto esse raciocínio, falta algo essencial.

Não acredito que viver bem se resume só a ter dinheiro, não é tão simples assim. Viver bem é algo mais profundo que apenas ter o dinheiro para viver. Conheço muita gente muito mais rica do que eu que não vive tão bem. Da mesma forma como conheço muita gente bem menos rica do que eu que vive muito melhor.

A tranqüilidade, o equilíbrio econômico e financeiro são indispensáveis sim, mas é apenas um item do viver bem. Prova disso é um amigo meu que quando não tinha uma condição econômica melhor, era pobre mesmo, só comia margarina. Hoje, como empresário bem sucedido, continua comendo margarina. Não que não possa comprar as mais caras manteigas francesas, holandesas ou alemãs, mas porque ele gosta é de margarina, é isso que lhe dá prazer. Viver bem é isso, fazer o que nos dá prazer.

Naquela conversa sobre viver bem, um amigo, o mais preocupado de todos, disse que assim que teve condição, mudou de plano de saúde, já pensando nos anos que virão. Essa é uma boa providência para garantir o viver bem.

Quase sempre a primeira coisa que se faz quando se adquire um melhor padrão financeiro, é mudar de casa, sair do bairro onde nascemos e irmos morar em lugares mais valorizados. Isso é muito natural, é até uma questão antropológica, acontece assim desde o tempo das cavernas, não dá para lutar contra isso. Mas o que ocorre muitas das vezes é que, ao mudarem de casa as pessoas não levam consigo aquele viver bem que tinham em seu conjunto habitacional, em sua rua, em seu bairro, porque esse viver bem está mais ligado ao espírito, à memória, à história, aos amigos, que simplesmente a uma casa nova em um bairro chique.

A casa da pessoa é o seu castelo. Nele, você é o rei, sua mulher é a rainha e seus filhos são príncipes. Mas existem muitas famílias reais que não conseguem “viver bem”, não se entendem, não têm harmonia, não são felizes.

Recentemente conclui a construção de minha primeira e espero que última casa. Deveria ser a casa de um eremita, um solteirão convicto, um homem que queria viver sozinho o resto da vida, só escrevendo, em meio aos objetos que colecionou no decorrer da vida. Cercado por seus livros, seus filmes, seus troféus, seus quadros, suas bengalas, suas espadas, pelos objetos trazidos de suas viagens. De companhia, só um caseiro, uma papagaia, uma tartaruga, um curió, um pintagol e seu fiel cão… Acontece que quando não mais esperava encontrei aquilo pelo qual passei os últimos seis anos procurando e que pensei que jamais encontraria. Foi quando vi que aquela casa que parecia perfeita, e era até então, carecia desse algo maior, indispensável para o meu viver bem: a mulher amada, que também me ama.

Só depois disso passei a viver realmente bem.

Viver bem é ser feliz, e para isso não tem receita.

PS: Meu amigo Ademir Santos havia me sugerido que aproveitasse que esse texto seria publicado hoje dia 26 de dezembro de 2010, e escrevesse algo relacionado com as festividades de fim de ano. Algo sobre o espírito natalino e as expectativas para um novo ano, ocorre que a minha forma, o meu método de criação não é o que se pode chamar de profissional, meus métodos, porque são vários, são sempre amadores, amantes, passionais. Posso até escrever um texto por encomenda, mas ele brota dotado da mesma independência, com a mesma liberdade que caracteriza meu espírito.

O mais próximo que eu consegui chegar do espírito dessas festas, foi falar do que em minha opinião é o objetivo de todos nós: a felicidade. Por isso é que desejo a todos, neste Natal e no ano novo que se aproxima, muita saúde, muita paz e que todos nós possamos “viver bem”… Receita para isso…!? Eu não tenho…! Mas se quiserem uma receita de risoto de shitake fresco…

Perfil

“Poeta, contista e cronista, que, quando sobra tempo, também é deputado”. Era essa a maneira como Joaquim Elias Nagib Pinto Haickel aparecia no expediente da revista cultural Guarnicê, da qual foi o principal artífice. Mais de três décadas depois disso, o não mais, porem eterno parlamentar, ainda sem as sobras do tempo, permanece cronista, contista e poeta, além de cineasta.

Advogado, Joaquim Haickel foi eleito para o parlamento estadual pela primeira vez de 1982, quando foi o mais jovem parlamentar do Brasil. Em seguida, foi eleito deputado federal constituinte e depois voltou a ser deputado estadual até 2011. Entre 2011 e 2014 exerceu o cargo de secretario de esportes do Estado do Maranhão.

Cinema, esportes, culinária, literatura e artes de um modo geral estão entre as predileções de Joaquim Haickel, quando não está na arena política, de onde não se afasta, mesmo que tenha optado por não mais disputar mandato eletivo.

Cinéfilo inveterado, é autor do filme “Pelo Ouvido”, grande sucesso de 2008. Sua paixão pelo cinema fez com desenvolvesse juntamente com um grupo de colaboradores um projeto que visa resgatar e preservar a memória maranhense através do audiovisual.

Enquanto produz e dirigi filmes, Joaquim continua a escrever um livro sobre cinema e psicanálise, que, segundo ele, “se conseguir concluí-lo”, será sua obra definitiva.

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