Carta para mim mesmo *

Meu caro Joaquim,

Escrevo-te essas mal traçadas linhas… Penso que seria assim que eu começaria uma carta se vivêssemos no final do século XIX e o mestre Machado tivesse acabado de publicar o seu maravilhoso Memórias póstumas de Brás Cubas, um de nossos livros favoritos, o qual lemos quando tínhamos 14 anos, o que nos fez querer ser escritor…

– Foco seu Jota!…

Sabes, se tivesse que escrever-te essa “missiva”, à mão, com uma caneta-tinteiro e em papel de carta, daqueles bem fininhos… Disléxico, gastaria uma enormidade de papel, pois os erros seriam muitos…

Ainda bem que estamos na segunda década do século XXI, e cato milho nas teclas sofridas desse computador que apanha surras de meus dedos pesados! Ah! Se o Borba tivesse um desses!…

– Calma Quincas! Não se perca no caminho!…

O fato meu caro, é que já faz muito tempo que nós não mais nos encontramos. Lembro de nossos encontros matinais, no banheiro, quando íamos escovar os dentes!… Nós nos encarávamos no espelho e falávamos como Robert De Niro fez com o seu alter ego em Taxi Drive. Lembra!?…

Pois é! Alguém pode pensar que você é esquizofrênico, falando consigo mesmo no espelho do banheiro, escrevendo carta para si mesmo e ainda publicando no jornal de maior circulação do estado!… Se bem que, quem é esquizofrênico não admite isso, nem para o espelho nem para os leitores!…

– Caramba, Joca! Será que dá para ir direto ao assunto!?

Oquei! (escrito desta maneira mesmo, Ademir, só para sacanear com os caras do Twitter!)

O caso é o seguinte! Eu estou cansado de ter que ficar esperando que alguma coisa aconteça e toda essa situação em que o país se encontra, se resolva.

Em meio a essa zorra toda, tu já nos afastastes de alguns amigos de quem gostamos, apenas e tão somente por pensar diferente deles! O pior é que dois deles, os quais mais sentimos falta, pensam de forma diametralmente opostas.

Veja a que nível chegou esse problema de querer ser coerente demais, analisar as coisas de um ponto central, usando pesos e contrapesos, ponderando cada ação e movimento. Agindo assim tu consegues brigar com todo mundo! Com quem se posiciona à tua esquerda, mesmo que ele nada tenha de esquerdista, e com quem se posiciona à tua direita, mesmo que este seja até extremamente espiritualizado!

O fato é o seguinte, mermão! Não tá dando mais para convivermos dentro das mesmas calças. Esse negócio de quarentena tá me deixando pirado! Não consigo mais conviver contigo, trancado em casa, acordando muito cedo, se enfiando em um computador, escrevendo umas dez histórias ao mesmo tempo, falando enlouquecidamente ao telefone, brigando com Nagib (com muito motivo e com pouco motivo), arrumando confusão no Twitter, ficando sem comer por umas 18 horas, preparando um jantarzinho frugal, quase sempre salada grega, ou cachorro quente de carne moída, ou uma massinha com molho de cogumelo ou ainda uma sopinha vinda da casa da mamãezinha e depois, se enfiar na rede para assistir filmes a noite toda… Ainda bem que isso tudo, ao lado deste monumento de mulher que tu arrebatou!…

Mas como disse amigo querido, eu estou cansado… Vamos flexibilizar um pouco… Viajar… Precisamos ir a São Paulo! Tem duas séries para finalizar, são quase oito horas de filme!… Temos que ir a Porto Alegre, falar com o pessoal dos canais Box… No Rio, ver o Theo!…

Vamos lá! Dá uma folguinha!…

 PS 1: Resposta para mim mesmo:

Sossega leão!…

 PS 2: Fiz esse texto para provar para mim mesmo que não escrevo só sobre coisas “chatas”!…

*(outra)

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Perfil

“Poeta, contista e cronista, que, quando sobra tempo, também é deputado”. Era essa a maneira como Joaquim Elias Nagib Pinto Haickel aparecia no expediente da revista cultural Guarnicê, da qual foi o principal artífice. Mais de três décadas depois disso, o não mais, porem eterno parlamentar, ainda sem as sobras do tempo, permanece cronista, contista e poeta, além de cineasta.

Advogado, Joaquim Haickel foi eleito para o parlamento estadual pela primeira vez de 1982, quando foi o mais jovem parlamentar do Brasil. Em seguida, foi eleito deputado federal constituinte e depois voltou a ser deputado estadual até 2011. Entre 2011 e 2014 exerceu o cargo de secretario de esportes do Estado do Maranhão.

Cinema, esportes, culinária, literatura e artes de um modo geral estão entre as predileções de Joaquim Haickel, quando não está na arena política, de onde não se afasta, mesmo que tenha optado por não mais disputar mandato eletivo.

Cinéfilo inveterado, é autor do filme “Pelo Ouvido”, grande sucesso de 2008. Sua paixão pelo cinema fez com desenvolvesse juntamente com um grupo de colaboradores um projeto que visa resgatar e preservar a memória maranhense através do audiovisual.

Enquanto produz e dirigi filmes, Joaquim continua a escrever um livro sobre cinema e psicanálise, que, segundo ele, “se conseguir concluí-lo”, será sua obra definitiva.

Busca

E-mail

No Twitter

Posts recentes

Comentários

Arquivos

Arquivos

Categorias

Mais Blogs

Rolar para cima