Glória

Acabei de assistir a excelente série “Glória”, primeira produção portuguesa da NETFLIX.

A série conta a história da RARET, emissora de rádio implantada pelos americanos (CIA) na região do Ribatejo, para transmitir conteúdos anticomunistas para os países do leste europeu (Cortina de Ferro), durante a guerra fria.

A produção é de ótima qualidade, tanto do ponto de vista da forma quanto do conteúdo, e nos apresenta um Portugal que pouco conhecemos, de uma forma completamente inusitada.

Recheada de referências culturais, com citações poéticas, filosóficas e histórias, “Glória” me fez, clara e nitidamente, sentir aumentar meu amor por Portugal e por sua gente, que nós brasileiros normalmente achamos complicada de entender por serem pessoas metódicas e cartesianas, não só nas forma de se expressar como também de agir, como é o caso daquilo quem para nós é seu obtuso senso de humor.

Algumas vezes as construções frasais dos diálogos são tão maravilhosas e poéticas, que me peguei em várias ocasiões voltando as cenas para ouvi-las mais vezes, para sentir melhor o que diziam os personagens, de forma tão incomum para meus ouvidos, mas de maneira incrivelmente melodiosa e poética.

A construção do roteiro é primorosa, tanto na arquitetura dos personagens, mesmo os mais convencionais e previsíveis, como a agente da CIA, fria e calculista, mas que tenta ser generosa e ajudar as pessoas comuns, como a dos agentes de segurança, de um lado ou dos outros, responsáveis pelas cenas de maior violência, obstinados no cumprimento de seus deveres, como o drama de uma jovem noiva ou de uma mulher atormentada pelo marido que encarna o que há de pior em um homem, até os dramas de consciência de um jovem dividido entre a conveniência de sua família e aquilo que ele imagina ser o mais justo do ponto de vista social e o mais aceitável do ponto de vista ético.

“Glória” é mais que uma série que retrata uma época importante de nossa história, ou uma radiografia de um Portugal que desconhecíamos. “Glória” é um poema cinematográfico.

Essa série é tão boa que eu gostaria, de alguma forma e em alguma circunstância, ter participado de sua realização.

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Perfil

“Poeta, contista e cronista, que, quando sobra tempo, também é deputado”. Era essa a maneira como Joaquim Elias Nagib Pinto Haickel aparecia no expediente da revista cultural Guarnicê, da qual foi o principal artífice. Mais de três décadas depois disso, o não mais, porem eterno parlamentar, ainda sem as sobras do tempo, permanece cronista, contista e poeta, além de cineasta.

Advogado, Joaquim Haickel foi eleito para o parlamento estadual pela primeira vez de 1982, quando foi o mais jovem parlamentar do Brasil. Em seguida, foi eleito deputado federal constituinte e depois voltou a ser deputado estadual até 2011. Entre 2011 e 2014 exerceu o cargo de secretario de esportes do Estado do Maranhão.

Cinema, esportes, culinária, literatura e artes de um modo geral estão entre as predileções de Joaquim Haickel, quando não está na arena política, de onde não se afasta, mesmo que tenha optado por não mais disputar mandato eletivo.

Cinéfilo inveterado, é autor do filme “Pelo Ouvido”, grande sucesso de 2008. Sua paixão pelo cinema fez com desenvolvesse juntamente com um grupo de colaboradores um projeto que visa resgatar e preservar a memória maranhense através do audiovisual.

Enquanto produz e dirigi filmes, Joaquim continua a escrever um livro sobre cinema e psicanálise, que, segundo ele, “se conseguir concluí-lo”, será sua obra definitiva.

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