Achak, Aren e Anajé

O ex-presidente americano Theodore Roosevelt era reconhecidamente um grande aventureiro. Coronel da cavalaria, lutou na guerra hispano-americana, tendo combatido em Cuba e nas Filipinas.

Foi um controverso protetor da flora e da fauna, pois criou muitos parques de conservação ambiental, animal e vegetal, mas era um entusiasta e praticante da caça esportiva. Foi um político brigão e polêmico, mas ganhou o Prêmio Nobel da Paz em 1906, por ter mediado o acordo de paz depois da guerra entre Rússia a Japão.

Seu temperamento forte, suas posturas políticas radicais e controversas, além de suas famosas expedições exploratórias me fizeram seu admirador, tanto que havia escrito este texto há algum tempo, e resolvi publicá-lo hoje, pois acabei de assistir a uma série sobre ele e o homem que eu acredito ser o maior de todos os brasileiros, o Marechal Candido Mariano da Silva Rondon.

Em suas viagens, Roosevelt sempre costumava se fazer acompanhar por um grupo seleto de amigos e por exímios especialistas e guias, conhecedores da região para onde fosse.

Em meados de 1900, logo depois de deixar de ser governador de Nova York, e antes de ser eleito vice-presidente dos Estados Unidos, ele e um grupo de amigos, foram fazer uma expedição pela Sierra Blanca, ponto mais elevado das Montanhas Sacramento, no Novo México, e para isso foram contratados os melhores guias navajos da região.

Durante os preparativos para a aventura, Roosevelt chamou Achak, o chefe dos guias navajos, cujo nome significava “espírito de pássaro”, e lhe perguntou qual seria a melhor trilha, uma que lhes proporcionasse aventuras e contato com a natureza e a vida selvagem, ao que o velho índio lhe respondeu: “A melhor trilha é sempre a mais bem planejada e segura, mas dependerá sempre das escolhas que se fizer durante a caminhada”.

Quase uma década depois, em 1909, logo após deixar a presidência, Roosevelt foi se aventurar num safari na África.

Com o propósito de escrever um livro sobre essa aventura, e financiado pelo magnata do aço, Andrew Carnegie, o grupo de Roosevelt desembarcou no Quénia.

Durante aquela expedição seriam abatidos mais de 11.000 animais, de várias espécies, muitos dos quais foram mandados para o Smithsonian Institute e para o Museu Americano de História Natural de Nova York.

O safari era liderado pelo legendário caçador R.J. Cunninghame, e contava, de vez em quando, com a participação do famoso explorador Frederick Selous.

Como sempre fazia, Roosevelt se cercava dos nativos para saber histórias dos lugares por onde passava e chamou Cunninghame para que ele indicasse, dentre os nativos de sua comitiva, qual era o homem mais sábio e qual o melhor guia. O velho caçador disse-lhe que coincidentemente o mais sábio de seus homens era também o melhor guia, além de ser o guerreiro maasai mais valente de todos que já conhecera, um matador de leões. Seu nome era Aren, que significa águia na língua nativa.

Intrigado, Roosevelt perguntou a Aren, qual seria o melhor caminho para aquela jornada. O homem que era muito alto, agachou-se, pegou uns gravetos no chão, quebrou-os, fez uns riscos na terra e disse calmamente, em seu inglês rudimentar: “O melhor caminho, bwana!… É aquele que nos leva em segurança ao nosso destino… Mas isso depende do que se fizer até chegar onde desejamos”.

Em 1914 Roosevelt esteve no Brasil, para fazer uma expedição pela Amazônia e para isso contou com o apoio do grupo liderado pelo então coronel Cândido Mariano Rondon.

Roosevelt quis saber sobre a viagem, conhecer as histórias da região que visitaria, e perguntou a Rondon, qual seria a rota mais aprazível, mais cheia de aventura, uma que proporcionasse conhecer de perto nossa flora, nossa fauna e os nativos brasileiros.

Rondon que tinha apenas noções básicas da língua inglesa, sempre que precisava usava como intérprete, o filho do ex-presidente americano, Kermit Roosevelt, que trabalhava no Brasil, em uma empresa americana encarregada da construção de diversas ferrovias.

O militar brasileiro era calmo e jeitoso. Pragmático e positivista, não gostava muito da ideia de servir de guia turístico para o ex-presidente americano, mesmo assim o acompanhou em sua expedição, contou para Roosevelt o que ocorreu em sua primeira viagem.

Utilizando o tradutor, Rondon disse que sua mãe descendia de índios Bororo e que quando começou a viajar pelos sertões buscou dentre estes os melhores guias, e havia um em especial, Anajé, cujo nome significa gavião, a quem Rondon sempre tinha por perto.

Contou que certa vez, fazendo os preparativos para uma viagem, ele chamou Anajé e perguntou-lhe qual seria a melhor rota a seguir, por onde deveriam ir, ao que o velho guia respondeu: “A melhor viagem é a que respeita a trilha escolhida e as regras da mata, mas ela dependerá sempre das escolhas que se tenha que fazer no meio do caminho”.

PS1: Roosevelt deveria ter narrado essas três histórias em sua autobiografia. Ele não as contou porque essas histórias jamais aconteceram. Elas são apenas e tão somente parte do exercício literário que eu venho fazendo já faz algum tempo, na tentativa de aprimoramento de uma construção narrativa ficcional, baseada e fundamentada em fatos reais, para utilização em roteiros cinematográficos que possam ser totalmente verossímeis.

Em todo esse texto, apenas Achak, Aren e Anajé jamais existiram, em que pese eles serem nomes genuinamente Navajo, Bororo e Maasai. Pensando bem, eles poderiam ter existido, pois sua existência não comprometeria em nada os fatos ocorridos, além do que, todo o resto aqui relatado é fato histórico verdadeiro, como provam as fotografias dos eventos citados.

PS2: Você pode acessar o link abaixo e assistir a uma matéria sobre a série, produzida pela HBO e dirigida pelo brasileiro Bruno Barreto, sobre a expedição de Teddy Roosevelt no Brasil, cujo título é “O hóspede americano”. https://www.youtube.com/watch?v=k83e6RHsIrI

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Perfil

“Poeta, contista e cronista, que, quando sobra tempo, também é deputado”. Era essa a maneira como Joaquim Elias Nagib Pinto Haickel aparecia no expediente da revista cultural Guarnicê, da qual foi o principal artífice. Mais de três décadas depois disso, o não mais, porem eterno parlamentar, ainda sem as sobras do tempo, permanece cronista, contista e poeta, além de cineasta.

Advogado, Joaquim Haickel foi eleito para o parlamento estadual pela primeira vez de 1982, quando foi o mais jovem parlamentar do Brasil. Em seguida, foi eleito deputado federal constituinte e depois voltou a ser deputado estadual até 2011. Entre 2011 e 2014 exerceu o cargo de secretario de esportes do Estado do Maranhão.

Cinema, esportes, culinária, literatura e artes de um modo geral estão entre as predileções de Joaquim Haickel, quando não está na arena política, de onde não se afasta, mesmo que tenha optado por não mais disputar mandato eletivo.

Cinéfilo inveterado, é autor do filme “Pelo Ouvido”, grande sucesso de 2008. Sua paixão pelo cinema fez com desenvolvesse juntamente com um grupo de colaboradores um projeto que visa resgatar e preservar a memória maranhense através do audiovisual.

Enquanto produz e dirigi filmes, Joaquim continua a escrever um livro sobre cinema e psicanálise, que, segundo ele, “se conseguir concluí-lo”, será sua obra definitiva.

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