Pode até ser pecado…

Eu sei, já faz algum tempo, que dois dos pecados tidos como capitais estão presentes no meu perfil, porém só muito recentemente constatei que sou acometido por um outro desses tais pecados, um que jamais pensei que eu fosse portador, por ele, nem de longe, condizer com a ideia que sempre fiz de mim mesmo. Trata-se da soberba, que alguns chamam de orgulho e que eu prefiro chamar de vaidade.

Como disse, eu sempre soube que sou acometido por dois dos pecados capitais, só que em menor grau e intensidade, proporções que não configuram perigo nem para mim nem para outras pessoas. Eu penso que a gula e a luxúria, desde que sejam facilmente controladas, não chegam nem a ser pecados.

Sou declaradamente um apreciador dos prazeres da mesa e da cama, mas de forma comedida, racional e consciente, não permitindo que essas coisas jamais se transformem em compulsão. Prefiro encarar esses comportamentos controversos como dois Mastins, amansados e domesticados, que foram resgatados do meu Hades e transformados em dois Goldens Retrievers, que passaram a ser companheiros alegres e fiéis de minha feliz existência.

Quanto à avareza, a inveja, a ira e a preguiça, essas são coisas que passam muito longe de mim e de minha personalidade, não afetando de forma alguma o meu caráter e o meu comportamento.

Antes nunca havia pensado em mim como alguém que pudesse ser vaidoso. Ser portador do orgulho nocivo ou da soberba repugnante, são coisas que para mim são completamente inadmissíveis. Antes eu não admitia ter nem mesmo a mais tênue das vaidades, até porque eu sempre tive consciência de não ser o mais belo, nem o mais inteligente, muito menos o mais endinheirado, e imaginava que assim sendo jamais poderia me envaidecer com nada, até que descobri que a vaidade nos ataca das maneiras mais inusitadas.

Ela se manifesta pelo simples fato de se ficar feliz por ter feito alguma coisa boa, por ter agido com honra e nobreza, e mais ainda, por sentir imensa satisfação pelo fato de outras pessoas observarem os acontecimentos e os valorizarem tanto ou até mais que nós mesmos.

Outra forma de vaidade é você se orgulhar das pessoas que você ama e que te amam, como seus pais, seus irmãos, seus filhos, suas esposas ou esposos, seus amigos. Se isso for pecado eu quero ser o maior de todos os pecadores.

Essa é uma sensação maravilhosa que enebria tanto quanto a sensação que se tem ao desfrutar dos prazeres proporcionados pelos alimentos e pelo sexo.

Outro dia, em um evento social, conversando com dois amigos, um deles, com o qual tenho menos contato e ligação me fez um elogio que muito me envaideceu. Ele disse que em sua opinião eu era uma das pessoas mais coerentes que ele conhecia e arrematou dizendo que essa era uma qualidade difícil de ser alcançada. Imediatamente me senti um pecador, por me envaidecer com aquilo.

Essa semana foi minha mulher, Jacira, que me conhece melhor que qualquer pessoa, quem ligou o botão de minha vaidade ao dizer que estava muito orgulhosa de mim, por eu ter mandado uma mensagem de congratulações para Flávio Dino, pessoa de quem discordo ideologicamente, por sua indicação para ministro do STF. Segundo Jacira, seu orgulho se deve ao fato dela ter sentido naquela mensagem sinais claros de minha sinceridade, pelo fato de eu ter dito aquilo em que realmente acreditava, com temperança, sem ser nem bajulador nem indelicado, dizendo o que eu desejava dizer, com nobreza e honradez. Minha vaidade, neste caso, reside em dois pontos, naquilo que fiz e no fato de Jacira me conhecer tão bem, pois ela sabe que se não fosse para eu me sentir bem, eu jamais tomaria aquela atitude.

Mas de tudo o que mais me envaideceu até hoje foi o fato de que em um desses domingos, numa das praias de nossa cidade, um rapaz que estava acompanhado de seu pai, se aproximou de mim e me perguntou se poderia apertar a minha mão e me dar um abraço. Achei estranho, mas disse que sim. Foi aí que ele disse que ele só havia conseguido alcançar seu objetivo esportivo, graças ao benefício que foi proporcionado a ele pela Lei de Incentivo ao Esporte. Fiquei emocionado com aquela atitude, e o pai dele me disse que as pessoas beneficiadas pelas leis de incentivo ao esporte e a cultura, não sabem quem foi que teve a ideia de fazer aquelas leis, mas que se soubessem, todos fariam o mesmo que o filho dele estava ali fazendo.

Esses podem até ser pecados, mas as sensações que eles nos dão, são muito boas, viu!…

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Perfil

“Poeta, contista e cronista, que, quando sobra tempo, também é deputado”. Era essa a maneira como Joaquim Elias Nagib Pinto Haickel aparecia no expediente da revista cultural Guarnicê, da qual foi o principal artífice. Mais de três décadas depois disso, o não mais, porem eterno parlamentar, ainda sem as sobras do tempo, permanece cronista, contista e poeta, além de cineasta.

Advogado, Joaquim Haickel foi eleito para o parlamento estadual pela primeira vez de 1982, quando foi o mais jovem parlamentar do Brasil. Em seguida, foi eleito deputado federal constituinte e depois voltou a ser deputado estadual até 2011. Entre 2011 e 2014 exerceu o cargo de secretario de esportes do Estado do Maranhão.

Cinema, esportes, culinária, literatura e artes de um modo geral estão entre as predileções de Joaquim Haickel, quando não está na arena política, de onde não se afasta, mesmo que tenha optado por não mais disputar mandato eletivo.

Cinéfilo inveterado, é autor do filme “Pelo Ouvido”, grande sucesso de 2008. Sua paixão pelo cinema fez com desenvolvesse juntamente com um grupo de colaboradores um projeto que visa resgatar e preservar a memória maranhense através do audiovisual.

Enquanto produz e dirigi filmes, Joaquim continua a escrever um livro sobre cinema e psicanálise, que, segundo ele, “se conseguir concluí-lo”, será sua obra definitiva.

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