Armas, dinheiro e histórias

Podemos identificar diversos fatores que contribuem para o predomínio de um país sobre os demais no contexto das nações. Dois fatores se sobressaem mais que os outros, uma vez que ambos estabelecem, cada um ao seu modo, quem manda e quem obedece, quem é o senhor e quem é o servo. O poderio bélico e militar, através da capacidade de controlar os ambientes e exterminar a vida, e o poderio econômico e financeiro, através da capacidade de dispor de riquezas e proporcionar a manutenção da vida.

Parece ser muito difícil identificarmos qual desses dois fatores precedo o outro, tanto em termo de tempo quanto de importância propriamente dita. Não é fácil estabelecermos se uma nação se torna predominante primeiro por ser rica econômica e financeiramente e depois por ter um formidável poderio militar, ou vice-versa. Parece ser mais fácil pensar que alguém que tem muito dinheiro possa montar uma melhor estrutura bélica, mas há quem acredite que quem tem uma formidável estrutura bélica pode conquistar o poder econômico.

Diversos pensadores discorreram sobre assuntos que nos levaram a pensar muito sobre esses dois fatores. Sun Tzu, Maquiavel, Smith, apenas para citar três, um que se dedicou a guerra bélica, um que se dividiu entre a guerra bélica e a econômica e outro que ficou no âmbito das finanças.

Porém, existe um fator que aparentemente não é tão poderoso e relevante como os citados anteriormente que faz com que uma nação se sobressaia sobre as demais de maneira tão ou mais relevante, é aquilo que Gramsci, um aparentemente obscuro filósofo italiano identificou como hegemonia cultural, e que já havia sido estabelecido indiretamente pelos três sustentáculos do pensamento, Sócrates, Platão e Aristóteles, como a base de nossa existência, o pensamento, o conhecimento do homem e sobre o homem, aquilo que se pode chamar, lato sensu de cultura.

Analisando tudo isso, observei que dentre o controle cultural que um país pode ter sobre os demais, sua capacidade de contar histórias, de contar suas histórias, é algo fenomenal.

Dois são os exemplos que podem sustentar essa tese. Na antiguidade os gregos e depois os romanos se impuseram sobre os demais povos e países por seu poder econômico e militar, mas foi seu poder cultural e sua capacidade de contar e fixar suas histórias que os fizeram maiores e mais relevantes que os outros. O mesmo não aconteceu com outras potências que tiveram muito poder bélico e econômico, mas não se sobressaíram no setor cultural, como é o caso dos assírios e persas.

Na modernidade, os britânicos e os americanos, de forma extraordinária, repetiram o que aconteceu com os gregos e os romanos.

Nos séculos XVIII e XIX os britânicos impregnaram o mundo com suas histórias através de sua maravilhosa literatura, enquanto no século XX os americanos, além de sua literatura, usaram o cinema como vetor de distribuição e fixação dos fatos e ficções que fizeram de sua cultura um poderoso trunfo.

Gramsci, que não tinha nem poder econômico nem poder bélico, arquitetou então um plano para influir e controlar as pessoas e as nações, se infiltrando e destruindo o outro sistema através do qual é possível submeter toda uma família, uma sociedade, um modo de vida, a tal hegemonia cultural, que não sendo para construir, seria para destruir o que havia e colocar no lugar dela aquilo que os seus operadores bem o desejassem.

Analiso tudo isso e vejo que a capacidade de contar e fixar nossas histórias nas cabeças e nas memórias das pessoas, é o melhor remédio para nos mantermos imunes a esse tipo de ataque.

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Perfil

“Poeta, contista e cronista, que, quando sobra tempo, também é deputado”. Era essa a maneira como Joaquim Elias Nagib Pinto Haickel aparecia no expediente da revista cultural Guarnicê, da qual foi o principal artífice. Mais de três décadas depois disso, o não mais, porem eterno parlamentar, ainda sem as sobras do tempo, permanece cronista, contista e poeta, além de cineasta.

Advogado, Joaquim Haickel foi eleito para o parlamento estadual pela primeira vez de 1982, quando foi o mais jovem parlamentar do Brasil. Em seguida, foi eleito deputado federal constituinte e depois voltou a ser deputado estadual até 2011. Entre 2011 e 2014 exerceu o cargo de secretario de esportes do Estado do Maranhão.

Cinema, esportes, culinária, literatura e artes de um modo geral estão entre as predileções de Joaquim Haickel, quando não está na arena política, de onde não se afasta, mesmo que tenha optado por não mais disputar mandato eletivo.

Cinéfilo inveterado, é autor do filme “Pelo Ouvido”, grande sucesso de 2008. Sua paixão pelo cinema fez com desenvolvesse juntamente com um grupo de colaboradores um projeto que visa resgatar e preservar a memória maranhense através do audiovisual.

Enquanto produz e dirigi filmes, Joaquim continua a escrever um livro sobre cinema e psicanálise, que, segundo ele, “se conseguir concluí-lo”, será sua obra definitiva.

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