O mosquito e o urso

Nunca antes comentei publicamente as ações do deputado Eduardo Bolsonaro nos Estados Unidos. Faço isso agora, por entender que o momento exige clareza, coerência e correção moral.

Eduardo foi aos EUA denunciar, segundo ele e os que comungam de sua visão, um processo de perseguição política contra seu pai, o ex-presidente Jair Bolsonaro. Essa atitude, em si, não configura crime nem representa qualquer desvio ético ou moral. Pelo contrário, trata-se do exercício legítimo da liberdade de expressão e da atuação parlamentar em foro internacional.

Em suas falas, Eduardo acusa diretamente o ministro Alexandre de Moraes e o STF de conduzirem essa perseguição. Ele sustenta que o Supremo vem deturpando o devido processo legal, substituindo o sistema acusatório por práticas inquisitoriais, violando o princípio do juiz natural e corroendo a harmonia entre os Poderes da República, eliminando direitos e garantias individuais do cidadão brasileiro garantidos pela CF. Nenhuma dessas afirmações, repito, configura crime. E se o fizerem, então todos os políticos que já denunciaram o Brasil a organismos internacionais — historicamente da esquerda — também seriam criminosos.

Até aqui, nada a censurar.

O problema surge quando o deputado parece ultrapassar a linha que separa a denúncia legítima da provocação de danos concretos à nação. Ao sugerir ou apoiar a imposição de sanções por parte de um governo estrangeiro contra o Brasil, Eduardo atinge o coração dos interesses nacionais. Mesmo que tal ação não se enquadre tecnicamente como crime, ela é politicamente equivocada e moralmente indefensável.

Não se trata de defender pessoas ou instituições que agem de forma autoritária — como faz hoje o Supremo Tribunal Federal, cujo ativismo inconstitucional e arrogância jurídica são notórios. Mas defender o país é algo maior que defender seus governantes. Trabalhar para que o Brasil sofra sanções é uma atitude incompatível com qualquer noção de patriotismo ou responsabilidade pública.

Além disso, é preciso senso de proporção. Acreditar que o pedido de um deputado da oposição, ainda que filho de um ex-presidente, teria força para mudar a política externa dos Estados Unidos é dar importância demais a um mosquito político. Eduardo pode zumbir, pode incomodar, mas será sempre facilmente repelido — sua influência sobre Washington é irrisória.

Já o presidente Lula, por sua posição institucional e pelos gestos que faz no cenário internacional, é um verdadeiro urso político. Quando brada contra o dólar, quando se associa a regimes autoritários como Rússia, China, Irã, Nicarágua ou Cuba, quando se recusa a condenar explicitamente grupos terroristas como Hamas e Hezbollah, ele não age como um democrata ocidental, mas como um desafiante da ordem liberal que rege o mundo livre.

Nesse contexto, os Estados Unidos podem sim considerar respostas mais sérias e estratégicas ao Brasil — não por causa do mosquito, mas por causa do urso.

Portanto, se quisermos extinguir os mosquitos da política brasileira — esses que se alimentam de ressentimento, caos e ignorância — devemos eliminar as águas paradas e podres que os alimentam. São as decisões abusivas, o arbítrio judicial, o desrespeito à Constituição que dão vida a figuras como Eduardo Bolsonaro.

Se Alexandre de Moraes e o STF deixarem de violar as leis que deveriam proteger, se voltarem a respeitar os fundamentos da democracia e os direitos do cidadão, os mosquitos perderão seu alimento — e o Brasil poderá respirar melhor.

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Perfil

“Poeta, contista e cronista, que, quando sobra tempo, também é deputado”. Era essa a maneira como Joaquim Elias Nagib Pinto Haickel aparecia no expediente da revista cultural Guarnicê, da qual foi o principal artífice. Mais de três décadas depois disso, o não mais, porem eterno parlamentar, ainda sem as sobras do tempo, permanece cronista, contista e poeta, além de cineasta.

Advogado, Joaquim Haickel foi eleito para o parlamento estadual pela primeira vez de 1982, quando foi o mais jovem parlamentar do Brasil. Em seguida, foi eleito deputado federal constituinte e depois voltou a ser deputado estadual até 2011. Entre 2011 e 2014 exerceu o cargo de secretario de esportes do Estado do Maranhão.

Cinema, esportes, culinária, literatura e artes de um modo geral estão entre as predileções de Joaquim Haickel, quando não está na arena política, de onde não se afasta, mesmo que tenha optado por não mais disputar mandato eletivo.

Cinéfilo inveterado, é autor do filme “Pelo Ouvido”, grande sucesso de 2008. Sua paixão pelo cinema fez com desenvolvesse juntamente com um grupo de colaboradores um projeto que visa resgatar e preservar a memória maranhense através do audiovisual.

Enquanto produz e dirigi filmes, Joaquim continua a escrever um livro sobre cinema e psicanálise, que, segundo ele, “se conseguir concluí-lo”, será sua obra definitiva.

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