Se sonhamos, é possível realizar.

Nunca conheci meu avô Elias, pai do meu pai. Por isso, ele sempre foi o mais distante dos meus quatro avós. Dos quatro era ele aquele com quem menos me identificava, pelo menos até hoje, pois na noite passada, sonhei com ele, conversei com ele

Meu tio Zé Antônio o adorava, enquanto meu pai sempre foi fascinado por minha avó, Maria, fato que é fácil de entender. Elias tinha mais afinidade com o primogênito, enquanto Maria compensava a ausência do pai na vida do caçula, dando-lhe mais atenção.

Se minha avó sempre foi presente em minha vida, meu avô, até esta madrugada, por volta das cinco horas, permanecia uma figura remota, talvez ficasse assim para sempre, se não tivesse me aparecido em sonho, dizendo-me mais ou menos estas palavras:

“O grande problema pelo qual passa o mundo neste momento, Joaquim Elias, é que ele sofre de uma doença mortal, e o Brasil é o país mais afetado por ela. Trata-se de uma profunda falta de altruísmo, que causa insuficiência de abnegação e se agrava ainda mais quando as pessoas sintetizam os hormônios do egoísmo e da hipocrisia, provocando uma completa paralisia da capacidade de fazer o que realmente devem, o que é necessário e imprescindível.”

Saltei da cama e vim direto ao computador para escrever este texto, antes que minha velhice me fizesse esquecer da mensagem que meu subconsciente — usando a figura do meu avô, havia me transmitido.

Vejam bem: altruísmo, é o sublime ato que nos leva a nos preocuparmos com o bem-estar alheio, é agir em benefício de alguém, de um grupo ou de toda sociedade, mesmo que isso envolva sacrifício pessoal , e sem esperar nada em troca. É o oposto do egoísmo, e pressupõe generosidade, solidariedade e cuidado com o próximo.

Abnegação, por sua vez, é quando renunciamos a algo, seja um desejo, um bem ou uma atitude, em favor de um ideal, deixando nossos interesses pessoais de lado.

O sonho que tive com meu avô me deixou leve e feliz. Mas a reflexão que dele nasceu me deixou pesado e triste. E embora os sentimentos positivos tenham sido sucedidos por sentimentos negativos, estes não conseguiram destruir a esperança que ainda tenho, de que possamos superar essa pandemia que assola o mundo, em especial ao Brasil, a pandemia da falta de altruísmo e abnegação.

Essa doença terrível nos contamina com a acomodação, com a passividade diante das injustiças, impedindo-nos de lutar pelo que é justo e certo, não apenas por nós ou por nossos grupos, mas pelo bem comum. Não para vencer uma disputa ou uma eleição, mas para restaurar a dignidade do viver bem pessoal e coletivamente.

Não é só esperança. Eu sei! Tenho certeza: no fim, o bem sempre prevalece.

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Perfil

“Poeta, contista e cronista, que, quando sobra tempo, também é deputado”. Era essa a maneira como Joaquim Elias Nagib Pinto Haickel aparecia no expediente da revista cultural Guarnicê, da qual foi o principal artífice. Mais de três décadas depois disso, o não mais, porem eterno parlamentar, ainda sem as sobras do tempo, permanece cronista, contista e poeta, além de cineasta.

Advogado, Joaquim Haickel foi eleito para o parlamento estadual pela primeira vez de 1982, quando foi o mais jovem parlamentar do Brasil. Em seguida, foi eleito deputado federal constituinte e depois voltou a ser deputado estadual até 2011. Entre 2011 e 2014 exerceu o cargo de secretario de esportes do Estado do Maranhão.

Cinema, esportes, culinária, literatura e artes de um modo geral estão entre as predileções de Joaquim Haickel, quando não está na arena política, de onde não se afasta, mesmo que tenha optado por não mais disputar mandato eletivo.

Cinéfilo inveterado, é autor do filme “Pelo Ouvido”, grande sucesso de 2008. Sua paixão pelo cinema fez com desenvolvesse juntamente com um grupo de colaboradores um projeto que visa resgatar e preservar a memória maranhense através do audiovisual.

Enquanto produz e dirigi filmes, Joaquim continua a escrever um livro sobre cinema e psicanálise, que, segundo ele, “se conseguir concluí-lo”, será sua obra definitiva.

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