Apenas uma reflexão

Acredito que raramente os fatos acontecem exatamente como suas narrativas são propagadas. Já uma ideia tem um potencial maior de similitude quando relatada.

Os acontecimentos, por suas características fundamentais, como seu ponto de observação ou visualização, sua iluminação física e ideológica, ou a intenção de seu uso, trazem em si imensas distorções, que precisam sempre ser levadas em conta por quem desejar se aproximar o mais possível da verdade.

Dito isso, eu chego perto de estabelecer um postulado filosófico que já deve ter sido objeto de estudo de alguém, muito mais capacitado que eu: Não existe verdade em seu estado puro. Ela é um produto manufaturado pelas circunstâncias que a envolvem e agem sobre ela.

A busca da verdade é uma aventura titânica, e só gigantes realmente indomáveis podem embarcar nesta viagem.

Estamos vivendo num tempo onde as narrativas se impõem de maneira cruel, impedindo que se vislumbre um mínimo traço de verdade que nelas possam existir. É que essas narrativas estão impregnadas de intolerância, desrespeito, mágoa, medo, rancor, desesperança, venalidade, e mais que isso, de ideologias, filosofias e psicologias usadas no sentido de transformar essas narrativas em verdades inquestionáveis e inabaláveis, para com elas destruir quem não as professem, e controlar os demais.

É muito difícil desempenhar o meu papel em toda essa tragicomédia! É muito difícil manter a lucidez, a correção, a coerência e o bom senso, quando de alguma forma você também faz parte desse angu de caroço.

Não digo que eu consigo ser sempre lúcido, correto, coerente e ter bom senso. Algumas vezes eu falho, mas estou sempre tentando acertar.

Gostaria de estar sempre na posição que o mestre Aristóteles sacramentou como sendo a mais correta para que o homem alcance a virtude, palavra que pode ser interpretada como verdade, sucesso ou prazer, sem que haja discordância ou conflito entre elas. O centro, o caminho do equilíbrio. A ponderação.

Busco muito essa posição para mim e para minha vida, mesmo sabendo que tenho uma leve tendência para me posicionar um pouco a direita do centro, ser um pouco “conservador,” nas palavras de alguns.

A palavra conservador, da mesma forma que a palavra revolucionário, bem como qualquer outra palavra, umas mais outras menos, está impregnada por conceitos e preconceitos valorativos e adjetivos atribuídos a ela no decorrer dos anos, que acabam por descaracterizá-la.

A palavra demagogo, por exemplo, era usada na Grécia antiga para designar cada um dos líderes do partido democrático, que dominavam a arte de conduzir o povo. Com o passar dos séculos, demagogo passou a ser simplesmente aquele que manipula a massa popular, fazendo promessas que muito provavelmente não serão cumpridas, visando apenas a conquista do poder político ou outras vantagens. O que não deixa de ser verdade.

Entende-se por conservador, aquele que não deseja a evolução, o progresso, a liberdade, as coisas boas. Quando se fala em conservador, se imagina um velho rabugento, vivendo no passado, sem deixar os ventos da modernidade avançarem. Esse entendimento está completamente equivocado. Conservador é quem é contido, paciente, precavido, cauteloso. Alguém que não é dado a aventuras vãs.

Já revolucionário é hoje o que sempre foi. Alguém destemido, pronto para enfrentar as dificuldades, um aventureiro sonhador que deseja mudar o mundo e não mede as consequências.

O problema não é ser uma coisa ou outra, pois existem bons e maus conservadores e bons e maus revolucionários. A Igreja Católica, conservadora, estabeleceu a Inquisição que matou milhares de pessoas, mas em compensação, Churchill, conservador, livrou o mundo do nazismo! Stalin e Mao Tse Tung foram revolucionários que mataram milhões de pessoas, já os revolucionários Fleming e Sabin, salvaram milhões de vidas!

Bem, foi esta a minha reflexão desta madrugada sem sono.

Reconheço-me um conservador moderado, que busca incansavelmente a lucidez, a correção, a coerência e o bom senso, que está disposto a lutar contra a intolerância, o desrespeito, a mágoa, o medo, o rancor, a desesperança, a venalidade, e outras coisas que complicam a vida.

Desejo ser alguém que busca, não uma verdade, mas informações fidedignas e confiáveis que me permitam tirar uma conclusão que se aproxime bastante dela.

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Perfil

“Poeta, contista e cronista, que, quando sobra tempo, também é deputado”. Era essa a maneira como Joaquim Elias Nagib Pinto Haickel aparecia no expediente da revista cultural Guarnicê, da qual foi o principal artífice. Mais de três décadas depois disso, o não mais, porem eterno parlamentar, ainda sem as sobras do tempo, permanece cronista, contista e poeta, além de cineasta.

Advogado, Joaquim Haickel foi eleito para o parlamento estadual pela primeira vez de 1982, quando foi o mais jovem parlamentar do Brasil. Em seguida, foi eleito deputado federal constituinte e depois voltou a ser deputado estadual até 2011. Entre 2011 e 2014 exerceu o cargo de secretario de esportes do Estado do Maranhão.

Cinema, esportes, culinária, literatura e artes de um modo geral estão entre as predileções de Joaquim Haickel, quando não está na arena política, de onde não se afasta, mesmo que tenha optado por não mais disputar mandato eletivo.

Cinéfilo inveterado, é autor do filme “Pelo Ouvido”, grande sucesso de 2008. Sua paixão pelo cinema fez com desenvolvesse juntamente com um grupo de colaboradores um projeto que visa resgatar e preservar a memória maranhense através do audiovisual.

Enquanto produz e dirigi filmes, Joaquim continua a escrever um livro sobre cinema e psicanálise, que, segundo ele, “se conseguir concluí-lo”, será sua obra definitiva.

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