Minha mãe não morreu

Em março de 2014, publiquei um texto cujo título era “O maior amor de minha vida”, sobre a operação cardiovascular que minha mãe fizera, em São Paulo. Na verdade, eu nem me lembrava mais daquele texto, até o padre Cláudio rememorá-lo, na homilia da missa de corpo presente que ele proclamou no velório de minha mãe.

É importante que eu diga que antes de Cláudio, estiveram conosco o padre Crispim, pároco da igreja que minha mãe frequentava, que disse belas palavras e cantou algumas das músicas que minha mãe mais gostava, e o pastor presbiteriano, António, que ela conhecera através de amigos e que passou a frequentar a casa dela para administrar estudos bíblicos.

Eu já conhecia António, mas não imaginava que ele era amigo de minha mãe e que frequentava a casa dela!

Em sua pregação no dia do velório de minha mãe, António contou uma história linda, estabelecendo uma metáfora poderosa sobre o cuidado que um pai tem para com seus filhos. Ele contou-nos que um filho adormecera na sala, assistindo televisão e o pai dele o carregou até seu quarto, o cobriu com um lençol e no dia seguinte, quando o garoto acordou, ficou intrigado, pois se lembrou que adormecera num lugar e despertara em outro, como isso era possível!?… E o pastor nos respondeu: “É o amor do pai que nos carrega, aconchega e protege, foi isso que aconteceu com Dona Clarice”.

Mas voltemos ao Cláudio. Ele não é apenas um padre! Pedagogo e psicólogo, ele é, já faz algum tempo, um religioso de referência, não só em São Luís, como também em todo estado do Maranhão, e uma das coisas que o fazem se diferenciar, é sua incrível capacidade de abordar, em suas homilias, temas que preenchem todos os espaços em que tais assuntos precisam ser observados. Naquele dia ele trouxe a baila o texto que eu escrevera 10 anos antes, em que eu declarava que o maior amor de minha vida era minha mãe.

Naquele mesmo dia, depois do enterro, ao chegar em casa fui procurar em meus arquivos o tal texto que Cláudio se referira em seu sermão. Quando o achei, fiquei perplexo com o que eu havia dito e escrito. Era exatamente aquilo que Cláudio havia falado e é exatamente tudo aquilo que eu estou sentindo agora.

Vou transcrever um trecho daquele texto para que você que me dá a honra de sua audiência, possa entender exatamente o que eu penso e o que eu sinto sobre a morte, não só de minha mãe, mas sobre ela de modo geral.

“Por que eu estou publicando esse texto hoje? (…) Porque daqui a muitos anos, na ocasião em que ela tiver ido, não escreverei sobre tal evento, não lamentarei nada, pois o tempo que ela tem passado conosco tem sido tão engrandecedor que já está eternizado em nossas vidas.

Escrevi este texto para dizer que minha mãe jamais morrerá enquanto alguém a quem ela tenha se dedicado, que ela tenha amado, se lembre dela.

Escrevi este texto para comemorar a vida da pessoa que mais amo e para agradecer a todos que a amam também”.

Pois bem, eu proclamo novamente, a quem interessar possa, que minha mãe, Clarice Pinto Haickel, não morreu e não morrerá enquanto alguém que a conheceu e a amou ou foi amado por ela, se lembrar dos momentos maravilhosos que passaram juntos.

Tenho dito para meus familiares e para alguns amigos, que minha mãe não morreu, que ela está em uma longa viagem, e que entrará sempre em contato conosco, nos dedicando a mesma atenção e o mesmo carinho de sempre, toda vez que nos lembrarmos dela, e que se observarmos atentamente nossas lembranças sobre ela, sentiremos os conselhos que ela nos daria se estivesse fisicamente ao nosso lado.

8 comentários em “Minha mãe não morreu”

  1. Dilercy Aragao Adler

    Texto lindo!

    Riquíssimo! Parabéns Confrade!

    É verdade o que diz!

    Ontem, 1° de janeiro, a minha mãe completaria 99 anos.
    Ela se foi aos 79 anos e comemoramos os seus 80 anos com lançamento do livro a ela dedicado *Joana Aragão Adler: uma história de amor e de fé… Uma História sem fim…”
    Mãe é para sempre!

  2. Dilercy Aragao Adler

    Texto lindo!

    Riquíssimo! Parabéns Confrade!

    É verdade o que diz!

    Ontem, 1° de janeiro, a minha mãe completaria 99 anos.
    Ela se foi aos 79 anos e comemoramos os seus 80 anos com lançamento do livro a ela dedicado, “Joana Aragão Adler: uma história de amor e de fé… Uma História sem fim…”
    Mãe é para sempre!

  3. És um homem agraciado por ter sido ladeado por tanto amor e cuidado, O maior amor é o maternal! O que não manda sinais, tão sublime o sentimento de quem valorizou uma mãe!!!!

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Perfil

“Poeta, contista e cronista, que, quando sobra tempo, também é deputado”. Era essa a maneira como Joaquim Elias Nagib Pinto Haickel aparecia no expediente da revista cultural Guarnicê, da qual foi o principal artífice. Mais de três décadas depois disso, o não mais, porem eterno parlamentar, ainda sem as sobras do tempo, permanece cronista, contista e poeta, além de cineasta.

Advogado, Joaquim Haickel foi eleito para o parlamento estadual pela primeira vez de 1982, quando foi o mais jovem parlamentar do Brasil. Em seguida, foi eleito deputado federal constituinte e depois voltou a ser deputado estadual até 2011. Entre 2011 e 2014 exerceu o cargo de secretario de esportes do Estado do Maranhão.

Cinema, esportes, culinária, literatura e artes de um modo geral estão entre as predileções de Joaquim Haickel, quando não está na arena política, de onde não se afasta, mesmo que tenha optado por não mais disputar mandato eletivo.

Cinéfilo inveterado, é autor do filme “Pelo Ouvido”, grande sucesso de 2008. Sua paixão pelo cinema fez com desenvolvesse juntamente com um grupo de colaboradores um projeto que visa resgatar e preservar a memória maranhense através do audiovisual.

Enquanto produz e dirigi filmes, Joaquim continua a escrever um livro sobre cinema e psicanálise, que, segundo ele, “se conseguir concluí-lo”, será sua obra definitiva.

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