Poder não é para quem tem, poder é para quem sabe

Meu eu pai, o deputado Nagib Haickel, ex-presidente da Assembleia Legislativa do Maranhão, costumava repetir corriqueiramente, a frase título deste texto e ela  sempre me pareceu expressar uma verdade extraordinariamente poderosa.

Sempre que meu pai discursava para seus eleitores da região do Vale do Pindaré, ou mesmo em outros lugares, principalmente pelo interior do Maranhão, ele repetia essa frase, e ele a dizia para justificar que mesmo tendo ele pouco poder de decisão e pouca influência política, ainda assim fazia com que as melhorias e o progresso chegassem até às regiões que ele  representava e ao povo que o apoiava, pois o conhecimento que ele tinha dos problemas que aquelas pessoas enfrentavam e das necessidades que elas tinham, possibilitava com que ele buscasse a ajuda de quem, com mais poder que ele, mais bem posicionado que ele, pudesse ajudá-lo a resolver tais situações.

​A frase “Poder não é para quem tem, poder é para quem sabe” poderia ser atribuída a diversas figuras proeminentes da filosofia ou da política, mas não é possível se estabelecer sua autoria claramente. Essa frase reflete uma ideia recorrente em reflexões sobre liderança e autoridade: o verdadeiro exercício do poder está ligado ao conhecimento e à sabedoria de utilizá-lo, mais do que à mera posse de autoridade.​

Essa perspectiva é explorada por diversos pensadores. Por exemplo, o filósofo francês Michel Foucault discute em suas obras como o poder está intrinsecamente ligado ao saber, sugerindo que o conhecimento é uma forma de poder e que o poder é exercido através do conhecimento. Em seu livro Microfísica do Poder, Foucault afirma que o poder não está apenas nas instituições, mas nas relações e práticas cotidianas, sendo o saber uma ferramenta fundamental para o exercício do poder .​

Além disso, a frase “Saber é poder”, atribuída a Francis Bacon, reforça a ideia de que o conhecimento é a base para o exercício eficaz, eficiente e efetivo do poder .​

Acredito que meu pai não teve notícia sobre os pensamentos de Foucault ou de Bacon.

Portanto, a autoria dessa frase deve ser atribuída a Nagib Haickel, mesmo que ela encapsule uma visão de campos nos quais ele tinha pouco conhecimento, filosofia e sociologia, mas também de um outro campo no qual ele era autodidata, a política. Meu pai sabia que o poder efetivo está ligado à capacidade de compreender e aplicar o conhecimento de forma sábia, de trilhar caminhos por onde apenas o conhecimento e tudo aquilo que ele é capaz de agregar, pode trazer de benefício para realização de seus intentos.

Tudo isso enriquece ainda mais o significado da frase e faz com que ela se torne um símbolo da prática política de Nagib Haickel: agir com inteligência estratégica, sensibilidade social e senso de dever público, mesmo diante de limitações de seu poder formal.

Como somente as pessoas com mais idade conheceram meu pai e sabiam como ele pensava e agia, é importante que se diga para aqueles que não sabem de sua história, que ele não tinha instrução formal, só cursou até o segundo ano do ensino médio do curso de contabilidade e morreu três meses antes de completar sessenta anos, mas mesmo assim construiu e manteve empresas comerciais por 40 anos e elegeu-se deputado estadual e federal em cinco mandatos.

A frase título deste artigo, é para minha vida um mantra.

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Perfil

“Poeta, contista e cronista, que, quando sobra tempo, também é deputado”. Era essa a maneira como Joaquim Elias Nagib Pinto Haickel aparecia no expediente da revista cultural Guarnicê, da qual foi o principal artífice. Mais de três décadas depois disso, o não mais, porem eterno parlamentar, ainda sem as sobras do tempo, permanece cronista, contista e poeta, além de cineasta.

Advogado, Joaquim Haickel foi eleito para o parlamento estadual pela primeira vez de 1982, quando foi o mais jovem parlamentar do Brasil. Em seguida, foi eleito deputado federal constituinte e depois voltou a ser deputado estadual até 2011. Entre 2011 e 2014 exerceu o cargo de secretario de esportes do Estado do Maranhão.

Cinema, esportes, culinária, literatura e artes de um modo geral estão entre as predileções de Joaquim Haickel, quando não está na arena política, de onde não se afasta, mesmo que tenha optado por não mais disputar mandato eletivo.

Cinéfilo inveterado, é autor do filme “Pelo Ouvido”, grande sucesso de 2008. Sua paixão pelo cinema fez com desenvolvesse juntamente com um grupo de colaboradores um projeto que visa resgatar e preservar a memória maranhense através do audiovisual.

Enquanto produz e dirigi filmes, Joaquim continua a escrever um livro sobre cinema e psicanálise, que, segundo ele, “se conseguir concluí-lo”, será sua obra definitiva.

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