Uma casa na borda do mar

Ainda criança
aprendi o que é uma ilha.
Nasci em uma!
Agora
marcado pelas memórias
descobri que podem haver outros tipos.
Descobri que uma porção de terra
cercada de poesia por todos os lados
cercada de amor
também é uma ilha.
Ontem fui à casa de Naftalí.
Lá, vi os olhos doces de sua Matilda
suas conchas queridas
seu cavalo de papel machê.
Vi sus mascarones de proa
seu barco
nunca navegado
Su comedor
onde ele era el capitan
os outros sus tripulantes.
Vi uma ancora imensa
varias bússolas
binóculos e mapas.
Vi suas roupas
seus chapéus
sua cama
seu banheiro.
Havia imensas rodas de charrete encostadas no alpendre.
Vi rostos congelados
pelo tempo
em madeira
mundo afora.
Um dia o mar lhe trouxe uma porta
ele a transformou em sua mesa de trabalho
navegou com ela
mares navegados
de forma única.
Vi o mesmo pacifico que ele via
nem sempre em paz
sentado em sua cama…
Mas o melhor de tudo
sobre ontem
vi Pablo em cada concha
em cada garrafa vazia
cheias de sueños e poesia
em cada objeto adicionado aos seus dias como o ar do qual precisava…
Entendi…
“Hoje é hoje.
Ontem se foi.
Não há dúvida.”

4 comentários em “Uma casa na borda do mar”

  1. Com esse poema você prova definitivamente que é capaz de fazer poesia sobre qualquer assunto, não apenas sobre o amor. Ele é a doce descrição de um momento, um passeio de câmera pelos corredores de uma existência, é algo que nos faz revisitar nossa própria vida através de uma seqüência de aquarelas literárias. Lindo! Parabéns!

    Resposta: Palavras como essas, vindas de alguém que escreve como você escreve, me deixa extremamente satisfeito! Muito Obrigado.

  2. Joaquim,

    É tudo muito novo prá mim. E eu gostaria de deixar registrado. É extremamente gratificante ver eternizado um momento vivido ao seu lado através de sua poesia. Obrigada por me deixar fazer parte de sua vida!

  3. Joaquim, tua percepção poética está aguçada como uma lança, mas leve como uma brisa. Um grande momento de maturidade no dom de escrever.
    Aqui vai uma do Fernando Pessoa – espero que gostes

    Horizonte

    O mar anterior a nós, teus medos
    Tinham coral e praias e arvoredos.
    Desvendadas a noite e a cerração,
    As tormentas passadas e o mistério,
    Abria em flor o Longe, e o Sul sidério
    Splendia sobre sobre as naus da iniciação.

    Linha severa da longínqua costa
    Quando a nau se aproxima ergue-se a encosta
    Em árvores onde o Longe nada tinha;
    Mais perto, abre-se a terra em sons e cores:
    E, no desembarcar, há aves, flores,
    Onde era só, de longe a abstracta linha.

    O sonho é ver as formas invisíveis
    Da distância imprecisa, e, com sensíveis
    Movimentos da esp’rança e da vontade,
    Buscar na linha fria do horizonte
    A árvore, a praia, a flor, a ave, a fonte
    Os beijos merecidos da Verdade.

    (Fernando Pessoa)

  4. Joaquim, desde que vi seu filme “Pelo Ouvido” na UNDB, virei um fã seu! Agora comento com todo mundo que existe sim, vida MUITO inteligente em nosso Maranhão. Cara como você faz a diferença, PARABÉNS!

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Perfil

“Poeta, contista e cronista, que, quando sobra tempo, também é deputado”. Era essa a maneira como Joaquim Elias Nagib Pinto Haickel aparecia no expediente da revista cultural Guarnicê, da qual foi o principal artífice. Mais de três décadas depois disso, o não mais, porem eterno parlamentar, ainda sem as sobras do tempo, permanece cronista, contista e poeta, além de cineasta.

Advogado, Joaquim Haickel foi eleito para o parlamento estadual pela primeira vez de 1982, quando foi o mais jovem parlamentar do Brasil. Em seguida, foi eleito deputado federal constituinte e depois voltou a ser deputado estadual até 2011. Entre 2011 e 2014 exerceu o cargo de secretario de esportes do Estado do Maranhão.

Cinema, esportes, culinária, literatura e artes de um modo geral estão entre as predileções de Joaquim Haickel, quando não está na arena política, de onde não se afasta, mesmo que tenha optado por não mais disputar mandato eletivo.

Cinéfilo inveterado, é autor do filme “Pelo Ouvido”, grande sucesso de 2008. Sua paixão pelo cinema fez com desenvolvesse juntamente com um grupo de colaboradores um projeto que visa resgatar e preservar a memória maranhense através do audiovisual.

Enquanto produz e dirigi filmes, Joaquim continua a escrever um livro sobre cinema e psicanálise, que, segundo ele, “se conseguir concluí-lo”, será sua obra definitiva.

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