
Ai, ai, iaiai!… Tá chegando a hora… De vaca desconhecer bezerro.
Meses atrás fui convidado para uma conversa com um grupo de pessoas que gostaria de debater sobre a atual conjuntura política e eleitoral de nosso estado e falar sobre suas atuais circunstancias e sobre as possíveis consequências decorrentes delas.
Depois de vários encontros resolvemos que deveríamos suspender as reuniões, pois mesmo que a conversa em nosso âmbitofosse muito produtiva, na pratica não levava a nada, já que estávamos completamente fora no núcleo das decisões. Eu, no entanto, acredito que o simples fato de um grupo de pessoas influentes, cada um em seu segmento, como eram aquelas, sempre acabam ganhando ao se reunirem para conversar sobre os rumos pelos quais o nosso estado pode e deve seguir.
Desde nossa última reunião não mantive mais nenhum contato em conjunto com aqueles amigos, apenas falei individualmente com um ou com outro, mas sei que todos continuam preocupados com o rumo que a coisa tomou.
Constatamos que o grupo do qual fazemos parte, que mais tem se mantido o poder no Maranhão nesses últimos 48 anos (34 anos contra 14, fazendo uma diferença de 20anos), vêmao longo do tempo cometendo erros graves.
Em nome de uma renovação, necessária e indispensável, jogou-se fora o manual da boa e antiga política. Antiga, jamais velha. Antiga, porem sábia e experiente. A boa prática dos dois dedos de prosa na porta da casa do cabo eleitoral, do chefe político, a visita pura e simples, sem ser preciso alarde, comitiva, entrega de obras…
Nos últimos anos faltou-nos a vontade de conversar com os políticos, até porque os políticos também mudaram, passaram a não querer apenas conversar ou simples promessas, ou compromissos não cumpridos. Passaram a exigir participação no governo, nas decisões, emendas parlamentares…
Mas deixemos os entretantos e entremos logo nos finalmentes.
Do jeito que as coisas estão, elas não podem ficar. Chegamos a um impasse que nos coloca em uma situação bastante delicada, mas acredito que ainda haja uma saída. Uma única.
Bem, como tive que me afastar por alguns dias para acompanhar minha mãe em São Paulo, que teve que se submeter a uma importante cirurgia cardíaca de emergência, vou quebrar a promessa que fiz a mim mesmo, quando disse que não me meteria nesse parangolé se não fosse chamado. Lá vai.
Aprendi muito cedo que em politica, existe uma coisa indispensável, de tempos em tempos. O fato novo, com o qual se muda as circunstâncias para fazer com que as consequências desejadas sejam alcançadas. Sem fato novo tudo fica mais difícil.
Primeiro, não vou dizer nada que todos os envolvidos não estejam carecas de saber.
O melhor caminho para elegermos o nosso candidato ao governo é colocá-lo desde já à frente da administração deste mesmo governo. Para sua eleição ficar mais leve ele deve ter um candidato a senador que o ajude nesse intento.
Logo, para que Luís Fernando seja o governador eleito pela Assembleia e para que Roseana, o melhor nome para disputar o senado ao seu lado possa realmente fazê-lo, precisa-se que o presidente da ALM entenda e aceite que, se ele não abrir mão de sua candidatura de governador para um mandato de nove meses, isso não irá acontecer e ai… Nem mel nem cabaça. Talvez um pouco ao contrário. Um pouco de má vontade por parte de quem se sentir prejudicado.
Bom, mas o que Arnaldo Melo e seus fieis escudeiros deputados estaduais, que na verdade são os detentores do poder de decisão sobre a eleição governamental e senatorial de outubro próximo, ganham com tudo isso? Conversa eles não aceitam mais. Quando aceitariam não tiveram. Agora só há uma saída e não há como enganar nem ser enganado nesse jogo, o que é uma grande vantagem.
Precisa-se de um acordo de cavalheiros. Entre pessoas honradas. Com fiadores de crédito reconhecido na praça e no mundo político,capazes de garantir com segurança que Roseana possa deixar o governo para se candidatar ao senado; que Luís Fernando seja eleito governador na ALM; Que o vice seja indicado por Arnaldo e por seus deputados mais chegados; Que no novo governo, se abra espaço para que o presidente da ALM e esses deputados indiquem alguns importantes secretários de estado; Que no ano que vem, depois do governador eleito, da Assembleia refeita, fique desde logo acertado a recondução de Arnaldo Melo para a presidência do legislativo maranhense.
Em minha modesta opinião não há outro acordo que possa ser feito ou aceito por nenhum dos lados desse imenso e hoje paquidérmico grupo político.
Não vejo hoje nenhuma outra saída. Nenhuma que nos possibilite mais chance de vencermos as eleições de outubro próximo.
Alguém poderia perguntar se é possível confiar nas partes envolvidas nesse acordo. Tenho certeza absoluta que sim, pois ambas conseguiram uma coisa inédita na vida politica maranhense. Não tersaída. Se correrem o bicho pega, se ficarem o bicho come.
Se Arnaldo e os deputados que o querem ver nos Leões, não abrirem mão de suas posições, Roseana permanecerá no cargo e tentará eleger Luís Fernando. É claro que esse não é o melhor cenário, mas é menos pior que os outros que se apresentam. Se Luís Fernando não cumprir os acordos estará dando motivo para os demais descumpriram sua parte nele, se bandeando para o lado adversário, fato que muito possivelmente decidiria a eleição.
Estão no mesmo barco. Numa dança cigana de lenço e faca.
Comentário e Resposta
Como faço quando acredito ser relevante vou publicar um comentário como post, e a consequente resposta a ele vem a seguir, abaixo.
Recebi um post e um e-mail contendo o texto abaixo, assinado por uma Fernanda Matos que acredito ser um nome fictício. Li, achei graça e resolvi usa-lo a favor e não contra minha postagem anterior. Fazendo isso talvez ensine ao tolo que escreveu esse comentário um pouco sobre a vida.
“Eu não acredito que você tenha coragem publicar esse meu comentário, mas mesmo assim envio-lhe para comprovar o que penso a seu respeito. Você é mais um paspalho, um puxa-saco, um verme que se alimenta da carne apodrecida dessa oligarquia que escraviza o Maranhão faz cinquenta anos. Você escreve um texto pobre, sem nenhuma profundidade, sem nenhum proposito, falando de um assunto que você mesmo se recusa a comentar, fazendo um suspense a respeito de fatos que todos estão carecas de saber e que os jornalistas do Sistema não se cansam de abordar a respeito da candidatura de Roseana Sarney ao senado e sua eventual renuncia ao cargo de governadora do nosso sofrido Estado. Você acha que sabe de tudo, como quando analisa as eleições de vereadores e deputados, dizendo quem vai se eleger e consequentemente quem não se elegerá. Você erra muito e dessa forma prejudica quem poderia se eleger.
Nesse seu texto você demonstra toda sua covardia, todo seu oportunismo, toda sua má fé, quando deveria simplesmente dizer o que você pensa. Que Roseana tem que ser candidata ao senado, caso contrário ela ficará em situação delicada, pois não terá um mandato para se proteger. Que ela deve se acertar com o presidente da Assembleia, Arnaldo Melo, no sentido de ele ser o governador e fazer a campanha de Luis Fernando, pois Arnaldo sendo governador, as coisas vão ficar ótimas para você e para seus amigos deputados aproveitadores, os mesmos que traíram a governadora e Ricardo Murad e elegeram Arnaldo Melo.
Você cita previsões sobre futebol e cinema como se quisesse demonstrar conhecimento nessas áreas, coisa que sabemos que você não tem. Você cita isso com ares de expert, dando a parecer que tem segurança nesses assuntos. Você é arrogante e prepotente. Você se acha o cara, mas não passa de um canalha sem escrúpulos.
Repito. Duvido que você tenha coragem de publicar meu comentário”.
Aqui vai minha resposta:
Como tenho certeza que o nome que você usa neste comentário bem como o e-mail aqui utilizado por você são falsos, não vou nem me dar o trabalho de contra argumentar suas afirmações, porem devo dizer que pela forma que esse texto foi escrito tenho motivos para desconfiar que eu saiba quem é o autor dessas mal traçadas linhas.
Quanto ao conteúdo da pretensa ofensa de seu comentário, devo dizer que a-do-rei, pois você demonstra uma certa “adoração” pelos meus textos, como acredito que já fez antes. Você se dá ao trabalho de “analisar” tão minuciosamente esta minha postagem, demonstrando no mínimo que você leva muito em conta as coisas que eu escrevo, ainda mais quando se lembra de textos anteriores onde abordos outros assuntos. Poxa, Fico lisonjeado com tamanho apreço que você me dispensa, mesmo sendo ele motivado por um declarado desprezo. Ocorre que ser desprezado por pessoas imbecis como você me dá um prazer ainda maior. Saber que incomodo gente preconceituosa, pequena, mesquinha e burra como você me causa uma alegria vitoriosa, quase olímpica. Saber que ser como sou, que mostrar clara e abertamente como eu penso, sinto e ajo, causa incomodo a pessoas como você, é uma verdadeira gloria para mim.
Quanto ao conteúdo de meu texto, seu imbecil, digo “seu”, pois o fato de assinar um nome feminino e escrever claramente como alguém do sexo masculino me dá mais certeza de que você não é lá alguém bem resolvido na questão de gênero, mas não tem importância, eu não sou preconceituoso. Mas voltando. O conteúdo de meu texto era exatamente sobre aquilo que você não alcançou. NÃO FALANDO DO ASSUNTO, EU ESTAVA O ENFATIZANDO. Pelo visto usei a ironia, o deboche, de forma tão magistral que você, raso, nem entendeu seu babaca.
AO ME RECUSAR A FALAR SOBRE UM ASSUNTO QUE PRECISA SER FALADO E O QUAL EU SINTO UMA DECLARADA VONTADE DE ABORDAR, PASSO A FALAR DELE SEM DIZER UMA ÚNICA PALAVRA DIRETAMENTE SOBRE ELE.
Ah! Coitado! Você não entendeu, não é?! Não importa seu besta. Quem eu queria que entendesse, eu tenho certeza que entendeu. E se não entendeu é tão besta quanto você.
Só para teu controle: Sobre a premiação do Oscar da noite de ontem, eu comentei em meu texto que “existem algumas quase certezas, como Cate Blanchett, de Blue Jasmine, Jennifer Lawrence de Trapaça”. ACERTEI A PRIMEIRA E ERREI A SEGUNDA. “e uma antipatia gratuita de minha parte com “Gravidade” e com seu diretor, Alfonso Cuarón”. GRAVIDADE LEVOU SETE PRÊMIOS INCLUSIVE O DE DIRETOR, MAS NÃO LEVOU E DE MELHOR FILME. EU SABIA QUE GRAVIDADE ERA FORTE CANDIDATO, APESAR DE EU NÃO GOSTAR DELE. ELE É BOM, TECNICAMENTE FALANDO, MAS NÃO O SUFICIENTE PARA SER O MELHOR FILME. TER O MELHOR SOM, A MELHOR FOTOGRAFIA, A MELHOR MONTAGEM, MELHOR EFEITOS VISUAIS E ATÉ O MELHOR DIRETOR NEM SEMPRE GARANTE A UM FILME QUE ELE SEJA O MELHOR.
NA VIDA É ASSIM. NA POLITICA É TAMBÉM ASSIM.
Pra finalizar, eu disse o obvio, pois é o obvio aquilo que normalmente acontece: “TUDO PODE ACONTECER…” ACONTECEU BEM PARECIDO COM O QUE EU DISSE, NÃO FOI?… VAMOS AGORA ESPERAR PELO CAMPEONATO MARANHENSE DE FUTEBOL E POR “OUTRAS COSITAS MÁS…”
QUEM VIVER VERÁ!
Tchau, otário!
PS: Estou acompanhando a minha mãe em um procedimento médico e não vou alongar esse papo.
Tudo pode acontecer. Quem viver verá.
Outro dia me ligou um grande amigo meu para perguntar o que estava havendo comigo. Por que eu não estava publicando minhas crônicas aos domingos no JEM nem postando em meu Blog. Ligou dizendo que estava com saudades de minhas análises políticas, que queria muito saber a minha opinião sobre o momento pelo qual passamos…
Expliquei a ele o mesmo que passo a explicar a você que me lê agora: Tenho feito um esforço hercúleo para me abster de publicar os textos que tenho produzido. E olha que eles são muitos e atualíssimos. Sou daqueles que adora dizer o que pensa, pois acredito que a melhor maneira de se aprender e de se crescer é conversando, e meus textos, para mim, servem para isso. Tenho pensado e escrito compulsivamente, mas os tenho “encofado”, alguns até deletei, pois seus conteúdos eram explosivos demais. A verdade é muito explosiva.
Minhas opiniões são quase sempre polêmicas e controversas, podem, em um momento político delicado como esse, parecer manobra, jogo. Algum desavisado ou maldoso mesmo, pode imaginar que eu seja um desses bonecos de ventríloquo, coisa que não sou de forma alguma, quem me conhece sabe disso. Se isso acontecesse iria ficar muito chateado, por isso prometi a mim mesmo que não falaria nada a esse respeito.
Decidi que só falaria alguma coisa quando e se me perguntassem, e ainda assim dependendo de quem perguntasse, até porque eu iria apenas repetir o que já disse diversas vezes antes, pois tudo isso que está acontecendo no cenário político de nosso Estado já foi comentado por mim em pelo menos meia dúzia de artigos publicados aqui mesmo. Tá tudo lá, tim- tim por tim-tim!
Você não pode imaginar a vontade que me dá de não cumprir a promessa que fiz a mim mesmo e começar a desfolhar o rosário de nossa Senhora das Boas Causas, ou a novena de Santo Expedito, o santo das causas difíceis. Meu catolicismo pode ser pouco, mas meu instinto e minha parca experiência me dizem que em boca fechada não entra mosquito, que as pessoas que estão aí, envolvidas nos acontecimentos, são todas mais experientes e sábias que eu, todas elas são bem mais poderosas, suas decisões ou indecisões são capazes de sacramentar o presente e estabelecer o futuro, como já fizeram com o passado.
Um dia, depois que tudo isso acabar, quem sabe eu tenha disposição de colocar os pingos nos “is”. Bom, mas depois que tudo tiver acontecido, de tudo acabado vão dizer que eu sou profeta de passado, que falar é fácil. Deixa pra lá…
Cada dia que se passa em minha vida, minha compreensão sobre a política, o entendimento que eu tenho dela, com uma observação mais imparcial, fica cristalina. Vejo coisas que o fato de ter estado totalmente imerso dentro da política por tanto tempo, talvez fosse complicado de reconhecer e de entender. Não que eu esteja totalmente fora dela, ninguém nunca está, mas hoje me coloco em uma posição muito mais confortável, em uma situação privilegiada pela independência que sempre cultivei e que agora me deixa livre até para não ter que opinar, mesmo estando morrendo de vontade. Antes não me controlaria.
Sendo assim prefiro falar sobre o jogo da final do primeiro turno do campeonato maranhense de futebol. Duelo de gigantes travado entre Sampaio e Moto em tarde inspirada. O melhor jogo de futebol que vi nos últimos anos. Uma verdadeira pintura, um espetáculo maravilhoso de se ver. Senti orgulho de ser maranhense, de nós termos aquele belo futebol.
Fico feliz por sentir que de alguma forma, mesmo que pequena, nesse tempo em que eu e minha equipe estamos frente à SEDEL, tenhamos ajudado a soerguer o futebol maranhense, bem como trabalhado para melhorar o setor esportivo de nosso Estado.
Se quiserem perguntar quem vai ser campeão maranhense de futebol, eu até digo e acho que acerto. O Sampaio. Sendo o Moto vice e indo consequentemente para a série D do Campeonato Brasileiro. Melhor pra nós, né?!
Prefiro falar sobre o Oscar, sobre os filmes que disputam esse ano a estatueta dourada. “O Lobo de Wall Street”, “Trapaça”, “Gravidade”, “Doze anos de escravidão”, “Capitão Phillips”, “Clube de compras Dallas”, “Nebraska”, “Ela” e “Philomena”.
Esse ano os concorrentes estão extremamente competitivos. Qualquer um que ganhe não será injustiça, falo isso não apenas em relação a melhor filme, mas em relação às outras categorias também. É bem verdade que existem algumas quase certezas, como Cate Blanchett, de “Blue Jasmine”, Jennifer Lawrence de “Trapaça”, e uma antipatia gratuita de minha parte com “Gravidade” e com seu diretor, Alfonso Cuarón. Mas no frigir dos ovos, tudo pode acontecer.
Repito: Tudo pode acontecer.
Para finalizar, cito Lister Caldas: “Quem viver verá”.
PS: Quem quiser saber de “outros assuntos” procurem textos antigos publicados por este autor, nesta página.
Madiba
Tem causado bastante interesse como eu faço para escolher os temas das crônicas que publico aos domingos no JEM e em meu blog. Muitas pessoas me perguntam sobre como escolho os temas de meus textos, sobre os motivos que me levam a escrever sobre isso ou sobre aquilo.
Confesso que nunca havia parado para pensar mais profundamente nesse assunto. Escrevo sobre o que está acontecendo, seja na cidade, no país ou no mundo, e com bastante frequência abordo fatos que estão acontecendo em torno de mim ou com as pessoas com quem convivo.
Acredito que optar por um assunto, resolver falar daquilo que transcorre em meu círculo de relacionamento, me coloca bem próximo dos leitores, pois com quase todas as pessoas acontecem coisas bem semelhantes, e a quem, um determinado fato não seja familiar, em última análise ele suscitará interesse pelo fato de poder um dia vir a sê-lo.
Um grande amigo meu perguntou por que resolvi de repente filosofar em meus textos! Não é que eu filosofe. Quem sou eu para isso. Essa impressão fica pelo fato de enfocar com alguma riqueza de detalhes aspectos de nossa condição humana.
Isso se deve às nossas buscas e às opções que temos de fazer no trilhar de nossos caminhos, na constatação dos fatos idiossincráticos de algumas personalidades que atravessam nossa jornada, aos aspectos banais vistos e analisados de maneira curiosa ou inusitada, fazendo com que o óbvio se torne relevante.
O certo é que tenho recebido uma grande e boa resposta das pessoas, que do meu ponto de vista, conversam comigo sempre que lêem o que escrevo. Sim, porque pelo simples fato de lerem o que escrevo, essas pessoas dialogam comigo, mesmo eu não tendo a possibilidade de responder a elas sobre suas indagações, mesmo eu sendo incapaz de dirimir seus questionamentos ou simplesmente ouvir suas ponderações. O diálogo entre o escritor e o leitor se faz pelo simples fato de haver leitura e desta levar o paciente a pensar sobre o que leu. É o diálogo do que eu escrevi, com o pedaço do eu coletivo que há em cada um de nós.
Agora mesmo que aquele meu amigo vai dizer que mudei, ou estou tentando mudar de um reles escritor para um filósofo de fim de semana. “Deixa que digam, que pensem, que falem…” afinal é por isso que todos os escritores escrevem, para que pensem, para que falem.
Tem gente que não gosta do que eu escrevo. Paciência! Tem gente que não concorda e repudia o que escrevo. Mais paciência ainda para com estes! Tem gente que gosta e admira o que escrevo e como o faço. Agradeço! Mas sabe de uma coisa? Fico satisfeito de saber daqueles que gostam do que escrevo, mas fico muito mais curioso e interessado naqueles que não concordam ou até mesmo que se incomodam com meus textos. Não que eu seja sádico, goste de ver as pessoas sofrendo, isso nunca, mas porque sabendo sobre os pontos divergentes fica mais fácil descobrir como transformá-los em convergências, ou pelo fato de me fazer pensar se eles não estariam certos e eu errados.
Quem escreve o tipo de texto que eu escrevo não deve ficar preocupado com a verdade ou com o certo. Quem escreve as coisas que eu escrevo deve se preocupar em estar comunicando a sua verdade, o seu ponto de vista, como vê as coisas, como as sente, de forma clara e honesta. Essa é a beleza desse tipo de literatura. A beleza e o prazer de escrever compromissado com o sentimento que transmite, com o enfoque do assunto, com sua abordagem.
Em minha opinião o assunto de uma crônica de jornal pode ser qualquer coisa. A única exigência é que ela crie entre o escritor e o leitor esse diálogo tácito. Que o escritor mudo possa responder a tudo ou a quase tudo que o leitor ensurdecido precisa saber, ou pelo menos levá-lo a pensar sobre o assunto.
No dia de hoje, por exemplo, tive vontade de ao invés de escrever um texto de 4.500 toques, fazer publicar uma única palavra: Mandela!
Tenho certeza que meus leitores, ao decodificarem o que a reunião dessas letras significa, lembrarão daquele que em minha opinião foi uma das personalidades mais importantes do século XX. Mais do que isso, ligarão seu nome a sentimentos que ele simbolizou, simboliza e tenho certeza simbolizará para sempre, toda vez que se disser o seu nome ou que se pensar em coragem, esperança, sabedoria, honra, compreensão, perdão, simpatia…
Queria ter escrito antes, mais e melhor sobre Madiba, porém eu seria apenas mais um fã a falar de seu ídolo. Falo então de mim, da necessidade que tenho de fazer brotar em mim, não aqueles mesmos sentimentos nem aquelas mesmas ações, isso seria impossível, mas algo que me possa fazer sentir merecedor de ter vivido em um mundo que produziu este homem extraordinário, que deve ter tido muitos defeitos, mas que na contabilidade final superou todas as expectativas.
Parece filosofia? Mas não é. É simplesmente o que eu queria conversar com você, hoje, aqui, nesse cantinho de página.
Mandela! Esse nome deveria passar a ser usado como uma espécie de saudação, assim como os judeus dizem Shalom e os mulçumanos Salam.
Mandela!
Isso é tudo por hoje. E saiba… É muito.
Mandela!
A Importância da Entourage
Comecemos pelo significado da palavra entourage. Ela é de origem francesa e significa grupo social, conjunto de indivíduos com quem convivemos habitualmente. Pessoas que vivem em volta de uma espécie de líder, de senhor, de governante.
Para efeito desse texto vou abrasileirar a expressão francesa. Usarei em seu lugar a palavra anturragem.
Os poderosos, de todos os tamanhos, de todas as procedências e em todos os tempos sempre cultivaram em torno de si um grupo de pessoas que algumas vezes se assemelham a uma flora, outras vezes a uma fauna, dependendo do tipo de poder que detenham ou da propensão de cada um para exercitar seu poder.
Todo poderoso deve antes de qualquer coisa ter consciência de que não pode viver sem pessoas em seu entorno e por isso mesmo deve se cercar dos melhores espécimes ao seu dispor. Aqui não me refiro apenas à competência laboral, falo de caráter, da formação cultural, moral e ética.
Um Barão medieval ou mesmo um príncipe da renascença tinham muitas pessoas a seus serviços. Tinham gente das mais diversas procedências e ocupações, até mesmo assassinos, mas estes, com raríssimas exceções, não faziam parte do séquito de seu senhor. Ficavam restritos aos seus covis.
Se observarmos melhor, todos nós temos uma anturragem, pois todos nós, uns mais outros menos, detemos alguma espécie de poder, o que cria em torno de nós um círculo de relações nas quais desenvolvemos nossas vidas.
Detalhados registros históricos nos dão conta que muitas vezes o senhor, o governante, passa facilmente do papel de manipulador de sua anturragem ao de manipulado por ela, por um grupo dentro dela ou por alguém dentre seus convivas.
Reis poderosos como Henrique VIII cometeram atrocidades motivadas por aqueles que o cercavam mais de perto. Henrique desterrou companheiros, mandou matar o seu melhor amigo e conselheiro, e inclusive, incensado por figuras de seu staff, mandou decapitar duas de suas mulheres.
Há um, porém! O poderoso ou o governante é no final das contas o único responsável por tudo aquilo que sua anturragem faz. Ele é o responsável direto pelas ações de quem o cerca, por todos os conselhos que ouve, principalmente pelos maus que aceita e até pelos bons que rejeita.
Vejamos o caso de Luís XVI e Maria Antonieta! A anturragem criou em volta deles um mundo restrito, embaçando sua visão de mundo. Não os deixavam ver além de seus umbrais. Minto. Na verdade eram o rei e a rainha da França que não queriam ver o que acontecia fora de seus portões. Por esse motivo acabaram sendo apartados de suas cabeças.
A anturragem diz muito sobre um líder. Uma análise das pessoas que gravitam em torno de alguém pode nos desenhar clara e facilmente um fiel retrato de seu vértice.
Quando era criança minha mãe sempre dizia: “Diz-me com quem andas que te direi quem és”. Ao que meu tio Stenio retrucava: “Toda regra tem exceção”.
Não serei aqui hipócrita ao ponto de desconhecer que precisamos ter em nossa anturragem algumas figuras das quais não temos lá muita satisfação em tê-los em nosso círculo de convivência. Não falo dos cães assassinos de César Bórgia, falo de uma cambada de bajuladores e capachos, falo da escória que todo líder parece precisar ter para que se sintam “amados”. Falo dos lacaios, alguns até de nível cultural elevado, às vezes bem mais elevado que do tal líder, mas que se diminuem por ter que lamber as botas de seu príncipe.
Não guardo maior rancor do rato que faz isso, fico mais indignado com o dono desses roedores. Poderia ter em torno de si animais menos pútridos.
Não há nenhuma espécie de poder, de qualquer tipo ou qualidade, que não atraia uma anturragem. Logo uma coisa que me parece fundamental, escolher cuidadosamente as pessoas que nos cercam.
Como já disse, todos nós precisamos de gente em nossa volta. Os mais poderosos, os líderes, precisam muito mais. Precisam de pessoas que exerçam as mais distintas funções. Qual governante vive sem um motorista, um secretário, um servente ou um garçom?
O que essa pessoa, detentora de uma relevância tem que saber é que não pode se deixar manipular por sua anturragem. O líder deve saber que os que estão bem próximos, à sua volta, desfrutam, pelo simples fato de estarem ali posicionados, de um poder incrível. A qualquer instante, através de um comentário “inocente”, um simples garçom pode passar uma informação inverídica ou propositalmente facciosa e transformar os aurículos do chefe em úteros envenenados. As consequência disso podem ser catastróficas.
Muita coisa errada nesse mundão de meu Deus já foi e continua sendo perpetrada dessa forma infame!
Exercícios de Respiração
Nas últimas semanas engoli vários sapos em nome da urbanidade, da civilidade e em alguns casos, em nome da preservação de queridas e indispensáveis amizades.
Tive que em diversas ocasiões recorrer aos tais exercícios respiratórios que aprendi na única aula de ioga que tive e acho que o fiz com sucesso.
Não vou aqui relatar com riqueza de detalhes as questões do âmbito fraternal, pois são problemas bobos que causam desconforto e dor, como aquela com um amigo que nos deixa em situação constrangedora por furar prazos de entrega de um serviço, ou uma na qual outro amigo, por um equivocado posicionamento pseudo-político, comete uma desconsideração quando confunde gratidão com submissão.
O que vou passar a comentar aqui acontece com muito mais frequência. Algumas pessoas chegam para mim e dizem que preciso fazer uma coisa importante para elas. Que como sou político, ocupante de um cargo no governo, só não faço se não quiser.
O mais comum nesses casos é pedirem um emprego. Só muda o destinatário do emprego. Para a própria pessoa, para um filho ou filha, para um parente ou para um amigo. Já me apareceu um sujeito que precisava se livrar da ex-mulher e me pediu que arrumasse um emprego para ela, e o pior, uma colocação onde ela ganhasse algo em torno de três mil reais.
Isso acontece diariamente. Falam como se fosse a coisa mais fácil e simples do mundo, “que eu só não faço se não quiser”. Mais delicado é quando abordam a minha mãe, para que ela interceda junto a mim.
Existem também aqueles que pedem para que eu interceda junto a alguma instituição, para que um candidato a concurso seja chamado ou aprovado em uma seleção ou prova. Um verdadeiro absurdo!
Pedido de ajuda financeira para tratamento de saúde, para comprar remédios, óculos, até para viagens. Para pagar contas de luz, água ou gás.
Já aconteceu, e não foi uma vez só, de um pai ou uma mãe chegar até mim para pedir que interceda junto a uma autoridade policial ou jurisdicional para soltar um filho que se envolveu em alguma briga ou em algum delito.
O último pedido absurdo que recebi foi de um torcedor do Moto Clube, que ao invés de pedir ajuda para seu time, que está precisado, gostaria que a Sedel ou seu gestor, eu, contribuísse para uma feijoada e uma roda de samba que faria em um desses finais de semana. Seria pouca coisa… Só uns mil reais. Ele ainda se sentiu no direito de ser grosseiro porque neguei a tal “ajuda”.
Outro dia fui convidado para exibir meu filme, “Pelo Ouvido” e participar de um debate sobre o atual momento do cinema no Maranhão. Aceitei e fui, crente que falaríamos de cinema, que o papo seria sensacional, que todos estavam preparados para uma boa conversa. Isso foi quase totalmente verdade, com exceção de um sujeito obtuso que resolveu direcionar a conversa sobre cinema para o lado político, cometendo a grosseria e a tolice de me usar como símbolo do que ele acredita ser a falta de apoio do Estado à cultura, às artes e ao cinema de modo específico. O imbecil simplesmente esqueceu ou não quis se lembrar que as leis de incentivo à cultura e ao esporte, colocadas democraticamente a serviço desses setores pela atual administração são de minha autoria, quando ainda era deputado estadual.
A vontade que tive foi de ter sido violentamente verborrágico. Meu lado animal chegou bem perto de, como um lobisomem, pular na jugular do ogro que nada tinha de Shrek e trucidá-lo. Foi ai que comecei a me sentir orgulhoso de mim mesmo. Respirei fundo, exercitei a respiração e sorri um sorriso irônico, beirando o deboche. Olhei-o nos olhos até que ele abaixasse a cabeça e quando fui perguntado se eu gostaria de me manifestar, sacudi a cabeça negando e sorrindo discretamente. Não iria revidar dizendo que só os como ele, os preguiçosos, os incompetentes e os incapazes de produzir bons projetos estão fora do mercado desde que essas leis de incentivo passaram a funcionar.
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
Escrevi este texto primeiramente para mim, mas espero que ele sirva, de algum modo, para você também, querido leitor. Que ele possa nos ajudar a aprender a perdoar os amigos queridos, a reconhecer como devemos tratar e a compreender as pessoas…
PS:
Por amor um homem é capaz de fazer quase qualquer coisa.
Só por amor um homem é capaz de abrir mão de coisas que lhe são realmente importantes, inclusive eliminar um pedaço de um texto seu que foi gestado e fundido na fornalha mais profunda de seu ser.
Uma visão sobre a verdade na política
O primeiro título que me veio à mente para esse texto era muito mais pretensioso e arrogante que o que consta acima. Pensei em chamá-lo de “A verdade sobre a política”. Imediatamente ao ouvir o som de tamanha pretensão escrita por mim mesmo procurei tirar dele qualquer característica perniciosa ao bom debate democrático, coisas que possam descaracterizar a boa e saudável discussão a qual eu me proponho sempre que tento abordar esse tema, que como todos sabem, é de meu extremo interesse.
A política, ao contrário do que muita gente acredita, não é algo mau e a sua boa prática é indispensável para a vida da sociedade. O que é nocivo é o uso inadequado dela. É bem verdade que há muito maior incidência de seu uso inadequado e nocivo que do sadio, mas isso se deve aos agentes da política e não a ela em si.
Paremos um pouco para analisar os motivos pelos quais estamos em meio a essa imensa crise de credibilidade e de confiança em nossos representantes, sejam eles do Legislativo, do Executivo ou mesmo do Judiciário! Executivo permissivo, Legislativo conivente e Judiciário prepotente.
Caso queiramos fazer um exercício de análise, simples e prática, iremos descobrir que isso se deve ao fato de que, em que pese hoje as nossas instituições estarem mais sólidas e democráticas, seus agentes ainda são frágeis e carecem de melhor formação. Até alguns que não são tão frágeis se contaminam com o convívio dos outros, se diluem, nivelam-se aos demais, pois estes existem em maior número.
Há quem, sendo simplista, diga que o excesso de liberdade, sem uma contrapartida de limites claros e rígidos causa distorção no comportamento das pessoas.
Há quem diga que em coisas mínimas, como por exemplo, termos que por determinação legal, chamar a mulher que ocupa a presidência da república de Presidenta, quando um simples “A” (artigo indefinido feminino…) antes do nome Presidente resolveria esse problema, causam essa insegurança. E cá pra nós isso realmente é um absurdo!
Há quem diga que pagar-se um salário, uma pensão, para a família de um latrocida enquanto a família de sua vítima fica desamparada é outro imenso absurdo. E é mesmo!
Falando assim até parece pouca coisa, mas não é. Às vezes nos fixamos em coisas pequenas e acabamos por nos esquecer ou por não dar a devida atenção às coisas realmente significativas. Exemplo disso é alguém querer fazer uma reforma política através de um plebiscito. Um verdadeiro absurdo que não poderia ter sido nem imaginado, cogitado e muito menos sugerido por alguém que nos lidera e tem obrigação de saber qual o melhor caminho pelo qual deve nos conduzir.
Veja bem! Isso não é uma mera questão de opinião, isso é elementar. Imagine se passa na cabeça de alguém que se possa fazer uma reforma tão importante como a reforma política e eleitoral de forma populista e irresponsável, deixando que a massa, incauta e inculta que já não tem condição de indicar seus bastantes procuradores, os parlamentares, possa plebiscitariamente decidir coisas as quais não conhece nem entende.
Pior é o Congresso poder fazer mudanças importantes e acabar fazendo uma minirreforma que na prática muda pouquíssimas coisas.
Quando falo de verdade sobre a política não falo de verdade ideológica, falo de verdade pragmática, de colher aquilo que as ideologias têm em comum, de fazer uma continha simples de somar, escolhendo as melhores propostas de rumo para dentro da legalidade e do possível, realizar o anseio primordial das pessoas: A felicidade.
Imaginemos que tudo fosse perfeito. Que o trânsito não fosse caótico e infernal, que não faltasse saneamento básico, que não houvesse violência, que quando se ficasse doente fôssemos atendidos em hospitais que nos dessem conforto e possibilidade de cura, que quando parássemos de trabalhar tivéssemos uma boa aposentadoria, que não houvesse preconceito de qualquer natureza, que não houvesse corrupção, que a justiça fosse operada com agilidade e correção… Se tudo isso fosse verdade, a disputa política seria meramente ideológica. Uma questão dogmática, de opinião, de preferir o azul ao invés do amarelo. Ela não é assim e não será jamais, porque o ingrediente humano, pessoal, faz com que ela se torne uma questão de vaidade, de ego, de disputa de poder. Uma coisa muito mais antropológica que sociológica. A necessidade de predomínio de um grupo em detrimento de outros. A única coisa que podemos fazer quanto a isso é amenizar seus efeitos colaterais, procurando entender os mecanismos e descobrir como usá-los de forma sadia.
Em minha modesta opinião deveria haver uma prescrição na lei que obrigasse a alternância do poder entre os grupos minimamente respaldados pela população, pois da mesma forma que é difícil para quem está no controle do poder resolver as questões que se apresentam, para quem está fora dele, sem o poder, a solução desses mesmos problemas não seria de forma alguma mais fácil. Pensar diferente seria subestimar seu oponente, ou ser extremamente arrogante e prepotente, sentimentos que expulsei desde o título deste texto.
Comecei a escrever e fui fazendo isso, sem sentir, desobedecendo meu método laboral e criativo. Despejei de uma vez só o que estava sentindo intuitivamente, sem rever o que escrevia. Descarreguei no papel um monte de sentimentos entalados em minha garganta… Se isso vai servir de alguma coisa para você que me lê agora, não sei, mas para mim serviu para desabafar, para expulsar de mim, talvez de forma desordenada um sentimento de impotência e de insegurança em relação a algo que me é muito caro e que tem sido negligenciado e não levado a serio: A boa prática da política, como caminho para a boa convivência social e a busca da felicidade.
PS: Ao finalizar esse texto, senti como se alguém falasse ao meu ouvido: “Sabes o porquê da mentira ser tão comum na política? Porque os políticos querem agradar o povo e este não quer necessariamente a verdade. O povo simplesmente quer o que quer, quer aquilo que precisa e normalmente através da verdade é bem mais difícil que os políticos possam dar ao povo o que ele deseja, por isso os políticos mentem para o povo”.
Cidade linda, comida ruim, papo bom.
Estávamos eu e Jacira em uma taverna, em Siena, no coração da Toscana, fazendo uma das coisas que mais gostamos de fazer quando estamos viajando.
Observamos os ambientes e as pessoas à nossa volta. Demos conta de que se tratava de um prédio realmente muito antigo, talvez tivesse uns 600 anos. Localizava-se em uma das ruelas próximas ao Doumo da cidade, numa ladeira íngreme.
O atendimento variava de sofrível a péssimo. O pão italiano característico tinha menos sal que de costume, fomos salvos pelo bom azeite toscano, sal e pimenta. Fizemos escolhas erradas no cardápio, mas às 16 horas quase todos os lugares já estavam fechados para o almoço.
Aquele foi o pior almoço de toda a viagem. Culpa nossa. É praticamente impossível comer mal na Toscana.
Como compensação à má comida e ao rude atendimento pudemos desfrutar de um debate acalorado travado pelos ocupantes de uma mesa que estava ao nosso lado.
Quando chegamos observamos que alguns casais discutiam de forma italianesca. Bem poderia ser “a La” napolitana, milanesa, calabresa ou siciliana. O assunto versava sobre arte. Eles comentavam a importância da arte, alguns pareciam bastante cultos e faziam colocações que renderiam horas de debate.
Em certo momento eles se embrenharam em uma polêmica sobre a fotografia. Uns argumentavam que fotografia não poderia ser considerada arte e outros tratavam de defender a ideia de que ela era sim uma das artes modernas.
Jacira identificou entre os personagens daquela discussão uma moça que parecia ser fotografa, pois trazia para si o foco do debate. Não chegamos a uma conclusão definitiva se ela era realmente fotógrafa ou apenas uma apreciadora dessa atividade, mas isso pouco importa.
Já estávamos sendo mal servidos, famintos, cansados e passamos a conversar a respeito do mesmo assunto, e quando podíamos observávamos o que diziam os patrícios de Paolo Rossi.
Fotografia é ou não é arte? Existem argumentos de sobra para provar que sim, fotografia é arte, mas para bons argumentadores sempre há espaço para transformar um assunto, aparentemente tão simples e bem resolvido, em uma polêmica acalorada que na pior das hipóteses nos faz pensar e quanto a mim e a minha mulher, naquela tarde nos distraiu, fazendo com que o serviço ruim e a má comida não maculassem uma viagem tão maravilhosa.
Os macarronistas que defendiam a tese que fotografia não é arte eram mais incisivos e duros, como compete a todos aqueles que desejam demolir uma tese que parece ser aceita como verdadeira pela maioria das pessoas.
Para eles arte era música, dança teatro, literatura. Compraram e vendiam a tese de que arte era tudo aquilo que os gregos estabeleceram como sendo arte. Argumento insuficiente e frágil, tendo em vista que o estabelecimento dessa lista de artes se deu há 3.000 anos e no mundo de hoje outros fazeres humanos podem e devem ser considerados arte.
Alguém contra-argumentou que se assim fosse o cinema não poderia ser considerado arte, pois não há cinema sem fotografia. Fez-se silêncio e em seguida um exaltado polemista diz que a fotografia é apenas uma engrenagem da intrincada máquina da arte cinematográfica.
Nessa hora quis intervir, mas o olhar de Jacira me desautorizou. Ainda bem que o que eu ia dizer foi dito por outro participante daquela mesa: A literatura, através do roteiro, e o teatro, através da encenação dramatúrgica, são engrenagens da intrincada máquina da arte cinematográfica e individualmente também são artes, logo a fotografia pode também ser considerada arte.
Nessa hora saltou o exaltado e disse que arte é tudo o que a inventividade humana cria, não apenas o que ela opera ou administra. Que para ser considerada artística a atividade humana tinha que ser transformadora e criadora. Que o artista deveria ser uma espécie de Deus criador, que colocasse palavras onde não as tinha que esculpisse e pintasse que coreografasse movimentos e que criasse sons.
Fez-se novamente silêncio só interrompido quando aquela moça que pensamos ser fotógrafa perguntou ao seu oponente se ele acredita que pelo fato de um fotógrafo captar o instante de uma paisagem, de uma pessoa, de objetos, se nisso por si só já não havia na fotografia o poder criador dos deuses? Indagou se ele já havia pensado que se pra nada servisse a fotografia ela não deveria ser considerada arte pelo simples fato de esculpir o tempo, desenhar sentimentos, poetizar imagens, dramatizar cenas.
Por fim eles já estavam discutindo a qualificação e a valoração da arte e da fotografia, tema delicado e perigoso que não fiquei para ouvir, pois a conta chegará e nós tínhamos uma cidade belíssima para conhecer.
Não sei se foi o político Joaquim Haickel, se foi o artista, escritor e cineasta, quem mais gostou daquele debate. O político gostou da polêmica, das teses e das antíteses. O artista gostou do tema. O gourmet glutão gostou pelo fato de ter tirado minha atenção da comida não recomendável.
Continuamos a nossa viagem conhecendo algumas das pequenas cidades da Toscana. Em nenhum outro lugar comemos tão mal, mas travamos conhecimento com muitas outras pessoas interessantes.
Para mim fotografia é arte e fotógrafo é artista. Quem bem exerce essa atividade é mestre de uma das mais complexas formas de expressão criadora do homem.
Para provar definitivamente que fotografia é arte, basta compará-la às artes tradicionais. Ela tem as mesmas funções das demais e como as demais engrandece o ser humano.
Para mim, um apaixonado por memória, por lembranças, a fotografia perpetua o tempo nos permitindo voltar nele. Isso é coisa de artista, de um deus criador.
Novela da Vida Real
Faz muito tempo que tenho vontade de escrever sobre as novelas produzidas pelas Redes de Televisão brasileiras, e essa oportunidade parece-me perfeita para falarmos do produto artístico que identifica bem essa poderosa indústria que em nosso país é vista pela grande maioria da população como simples produtora de entretenimento e por alguns estudiosos da sociologia e da antropologia como meros produtores de alienação da massa inculta e incauta.
Em todo o mundo as empresas desse setor se transformaram em poderosas corporações porque dominaram a informação jornalística, na maioria dos casos por serem orientadoras e opinativas, acabam por criar uma “consciência social” ou ao defenderem posições ideológicas, políticas, econômicas, religiosas e sociais, funcionam como uma espécie de maestro da grande orquestra humana no raio do alcance de sua audiência.
O que vemos hoje em nosso país, como ocorre já faz algum tempo, é o grande predomínio de uma empresa sobre as demais, tanto no setor jornalístico quanto no ramo do entretenimento.
Mas chega de entretantos e vamos logo aos finalmentes. O assunto específico sobre o qual quero tratar hoje é o dos personagens de novelas, figuras que extraídas da vida real se transformam em ícones de nossa raça, espelhos nos quais vemos a nós e aqueles que convivem conosco, ou mesmo que não fazendo parte de nosso mundo, somos capazes de descobrir e identificar neles um trejeito familiar, uma característica peculiar a alguém.
Os personagens do bem, as boas moças e os bons rapazes representados normalmente por espécimes humanos quase perfeitos, são fáceis de serem identificados e agradarem a todos. Difícil é transformar a sempre boazinha da Lilia Cabral numa mulher rude, que para sustentar a família é obrigada a encarnar uma “faz tudo”, “o Pereirão”, uma operária que conserta pias, troca lâmpadas e fiação elétrica, resolve problemas em sistemas de refrigeração e permanece boa e doce, chegando a se tornar elegante e sofisticada. O inverso é o que acontece com personagens como o da belíssima e estonteante Cristiane Torloni que deu vida a Teresa Cristina, uma ricaça de dinheiro, mas paupérrima de princípios.
Nos primórdios das telenovelas os vilões não causavam tanto fascínio nos expectadores, mas com o passar do tempo, autores e diretores foram humanizando esses personagens ao ponto de os transformarem nos pontos altos de seus folhetins.
Perguntei a alguns amigos meus, escritores e roteiristas, entre eles José Louzeiro, Mario Prata e Di Moretti, qual o segredo de um bom roteiro para uma novela do horário nobre e eles foram unânimes em dizer que a única coisa que o autor tem a obrigação de ter em mente quando escreve um argumento e depois um roteiro é escolher bem o ponto da tensão, o caso em torno do qual os personagens devem desenvolver as suas trajetórias.
O ciúme, a inveja, o rancor, a vingança, o medo, tudo isso de um lado, e o desprendimento, a generosidade, a fraternidade, o perdão e a coragem do outro, sentimentos antagônicos que pautam as vidas, normalmente de pessoas próximas, irmãos, amigos, estão em qualquer folhetim televisivo que se preze, assim como no nosso dia a dia.
Odete Roitman é muito provavelmente o maior símbolo de vilania da Televisão brasileira. Do lado dos personagens do bem aparece a emblemática Maria da Graça.
Falemos dos vilões.
Na vida real existem muitos desses personagens de novela. Gente que pensa que é normal, que não consegue enxergar que não tendo “salgado a santa ceia” salgou a sua própria vida ao não olhar as coisas pelo melhor lado, com os melhores olhos.
Alguém que prefere esconder suas deficiências e os erros consequentes delas, imputando a outros os seus pecados, cujos maiores deles nem são mortais. São simplesmente a burrice e a falta de capacidade de bem se relacionar com as pessoas!
Existe um teste para que você possa descobrir se você daria um bom personagem maligno de novela. Basta que verifique se você sente a amargura do ciúme em sua garganta, se já sinta o calor da inveja em seus braços, se é comum sentir o calafrio do medo do abandono e do desprezo em sua espinha. Isso por si só não fará de você um importante vilão ou vilã de novela da Globo, mas deveria chamar sua atenção, pois esses são claros sintomas de que algo muito sério e difícil está acontecendo com você.
Se tudo isso vier agregado ao cultivo de relações problemáticas com seu parceiro, esposo ou esposa; se você cultivar uma inveja indisfarçável por um parente próximo ou por um amigo antigo; se você insistir em implicar com sua nora ou genro, tentando transformar a vida dela ou dele em um inferno sem pensar no mal que pode fazer para seus filhos e netos; se o apego por alguém transformar você em um trapo dependente da atenção, do amor e do carinho dessa pessoa; se você for uma pessoa amarga, mesquinha, intriguenta, desagregadora e ainda por cima incapaz de reconhecer que precisa de ajuda médica, ai sim!…Você estará bem perto de se transformar em matéria-prima para a próxima novela do horário nobre da Rede Globo, isso se você for uma pessoa citável, pois se for uma pessoa sem nenhum charme, talvez seu personagem só seja digno de uma rede de televisão bem menos importante.
Se você que me lê agora pensa que personagens como os descritos acima são difíceis de encontrar, entre em contato comigo que passarei a você uma lista imensa…
Perfil
“Poeta, contista e cronista, que, quando sobra tempo, também é deputado”. Era essa a maneira como Joaquim Elias Nagib Pinto Haickel aparecia no expediente da revista cultural Guarnicê, da qual foi o principal artífice. Mais de três décadas depois disso, o não mais, porem eterno parlamentar, ainda sem as sobras do tempo, permanece cronista, contista e poeta, além de cineasta.
Advogado, Joaquim Haickel foi eleito para o parlamento estadual pela primeira vez de 1982, quando foi o mais jovem parlamentar do Brasil. Em seguida, foi eleito deputado federal constituinte e depois voltou a ser deputado estadual até 2011. Entre 2011 e 2014 exerceu o cargo de secretario de esportes do Estado do Maranhão.
Cinema, esportes, culinária, literatura e artes de um modo geral estão entre as predileções de Joaquim Haickel, quando não está na arena política, de onde não se afasta, mesmo que tenha optado por não mais disputar mandato eletivo.
Cinéfilo inveterado, é autor do filme “Pelo Ouvido”, grande sucesso de 2008. Sua paixão pelo cinema fez com desenvolvesse juntamente com um grupo de colaboradores um projeto que visa resgatar e preservar a memória maranhense através do audiovisual.
Enquanto produz e dirigi filmes, Joaquim continua a escrever um livro sobre cinema e psicanálise, que, segundo ele, “se conseguir concluí-lo”, será sua obra definitiva.
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