Comentando a notícia
O jornalista Décio Sá publicou em seu blog na última sexta-feira a matéria abaixo, para a qual eu fiz o comentário que se segue.
Repercuto aqui tal notícia porque acho necessário que se fale sobre oportunismo e sobre oportunistas de forma clara e direta.
Texto publicado no Blog de Décio Sá:
Joaquim ‘enciumado’ com visita de Arnaldo a Roseana
O deputado Joaquim Haickel (PMDB) foi à tribuna da Assembleia Legislativa nesta quinta-feira (19) para comentar a audiência que o prefeito de Altamira, Arnaldo Gomes (PT), teve esta semana com a governadora Roseana Sarney, acompanhado do deputado Marcelo Tavares (PSB).
Durante o encontro, o prefeito reivindicou do governo estadual a construção de uma ponte e uma estrada ligando aquele município a Vitorino Freire. “Política é uma coisa engraçada. O prefeito do PT que não votou em Roseana, fez campanha contra ela, vai reivindicar coisas que eu já reivindico há muitos e muitos anos”, ressaltou ele, dizendo que em 2000 o governo Roseana construiu a ponte e devido às fortes chuvas e à falta de manutenção, ela desabou no governo Jackson Lago (PDT). Depois que a obra foi refeita e caiu de novo, hoje uma balsa faz a travessia de carros entre Altamira e Vitorino Freire.
Segundo Joaquim Haickel, além da estrada Arnaldo Gomes pediu e conseguiu que o Estado adquira para o município um hospital que pertence ao ex-prefeito Rosalino Lima, (PMDB) correligionário do deputado e da governadora. “Acho que o prefeito está no papel dele, mas até parece que ele, que sempre foi adversário de Roseana, vai resolver todos os problemas de Altamira. Quem faz política há muitos e muitos anos em Altamira sou eu, e apoiei o atual prefeito quando ele não se elegeu e perdeu por 32 votos para o mesmo Rosalino Lima”, enfatizou o parlamentar.
Citando texto publicado pelo jornalista Décio Sá (reveja abaixo ou aqui), o deputado disse que, ao deixar a audiência bastante satisfeito com a atenção dada pela governadora, Arnaldo Gomes avistou Rosalino Lima numa sala, foi ao seu encontro e deixou o ex-prefeito perplexo.
Joaquim Haickel acrescentou que o petista venceu a eleição por apenas 166 votos, mas os dois ficaram de conversar posteriormente porque o ex-prefeito disse não ter nada contra o adversário e nem querer atrapalhar o Governo. “Eu gostaria muito que realmente fossem os novos tempos em Altamira e no Maranhão, mas não vou deixar passar a oportunidade de separar alhos de bugalhos, de separar o joio do trigo, de deixar claro que o prefeito do PT de Altamira, que era contrário à governadora Roseana, está reivindicando essas benfeitorias para o seu município, mas antes dele os deputados Joaquim Haickel e Stênio Rezende já haviam reivindicado essas obras”, ressaltou.
Ele concluiu dizendo que se essas obras forem realizadas pelo Governo do Estado, não será pela ida do prefeito ao Palácio dos Leões, “mas pela pressão da população que tanto precisa”.
Meu Comentário:
Meu caro amigo Décio, fique tranqüilo, eu não estou enciumado! Estou é indignado e apenas estou deixando bem claro o que acontece em Altamira. Você que conhece bem o professor Arnaldo sabe que em sua primeira tentativa de ser prefeito fui eu quem o apoiou, atendendo pedido de meu amigo e correligionário, ex-prefeito daquela cidade, Zeca Brás. Arnaldo e Zeca perderam as eleições por 32 votos. Em vão lutamos na justiça eleitoral tanto em São Luis quanto em Brasília para que fossem apreciadas as denúncias de irregularidades daquela eleição. Tinha no Arnaldo a esperança de que Altamira com ele iria mudar. Ledo engano! Plantei meu trabalho e minha esperança no solo menos fértil e enganoso que poderia existir.
A primeira providência tomada pelo professor Arnaldo depois que houve o rompimento de Zé Reinaldo e Roseana, foi me trair e se passar de malas e bagagens para o lado de quem poderia $ustentá-lo, à custa do governo.
Agora, depois de tudo, de me trair politicamente, de fazer campanha, de insultar a governadora, me aparece com cara de bom moço, de bom samaritano, pra tentar usufruir de prestígio que é devido a mim, pois os pleitos que ele fez agora, já havíamos feito, tanto eu e Zeca Brás, quanto o senhor Rosalino.
Isso é demais pro meu pobre estômago. São por essas e por outras semelhantes que a política não é respeitada nem levada a sério.
Faço o que posso para me manter coerente, e é nesse sentido que fui à tribuna da ALM para deixar patente e claro que quem trabalha por Altamira junto ao governo, em primeiro lugar sou eu e Zeca Brás, em segundo lugar é o ex-prefeito Rosalino e nem em terceiro lugar é o prefeito Arnaldo, um jovem que tinha tudo para mudar a historia de Altamira do Maranhão, mas optou por ser pior do que aqueles que ele critica e se opõe, enveredando pela prática da covardia e da traição.
Para finalizar, quero dizer que oportunismo não é crime. Em nosso país os maiores oportunistas são os maiores ídolos de nosso povo. Craques como o genial Pelé, como Roberto Dinamite, Romário, Nunes e até mesmo o galinho Zico de Quintino. Para ser oportunista corretamente ou você é um centro-avante ou você é um político coerente, que age nas oportunidades que se apresentam, mas com a devida moral, respeitando a ética e a coerência.
Não pode num dia estar num palanque insultando alguém e no outro estar beijando a mão de quem insultou. Isso não é oportunismo, é safadeza. E é esse tipo de coisa que infelizmente faz a classe política ser a classe mais desacreditada em nosso país.
Aviso aos navegantes: Não vou postar nenhum comentário grosseiro.
Um Pedaço de Ponte – Parte XI
Pelo ouvido
Cego era Churck. Cego e surdo.
Em verdade Churck era cego, surdo e mudo.
Kate não era sadia. Talvez não muito sã, mas sadía.
*
Casaram-se em Richmond e foram morar em Washington, num bairro atingo – Georgetown.
Kate trabalhava numa fábrica de sutiãs – telefonista.
Churck recebia pensão do exército. Na Coréia, uma granada estourou-lhe os tímpanos, arrancou-lhe as cordas vocais e vazou-lhe os olhos. Mas foi só.
*
Voltou pra casa e casou com a namorada da infância Katarrine Hampumt.
Kate o amava muito. “Kate o ama muito”-comentava-se.
*
Voltar pra casa, encontrar Churck e amar era o que passava pela cabeça dela desde a saída.
Chegava, preparava banho pra dois. Espuma e amor na banheira.
Churck adorava. Kate nem tanto. Preferia na cama.
*
Depois do chá com torradas, Kate lia – Dashiell Hammett – em voz alta.
Churck nada ouvia. Pintava: mulheres – azuis, verdes, lilases, sempre mulheres nuas – nada via.
*
Onze horas, a de deitar. Kate sorria – hora de sentir prazer. Primeiro adaptava o Headfone com a qual trabalhava a seu aparelho, discava: Chevy Chase, 3951.
*
Alô!”‘ – Kate.
Estava ansioso…”‘ – voz masculina do outro lado da linha.
*
Kate e Churck amavam, Churck nada falava.
Kate ouvia.
Conchavo!?
Nos últimos dias tenho sido submetido a uma enorme bateria de questionamentos acerca da possibilidade de participar da composição da lista de seis advogados que será submetida ao Tribunal de Justiça do Estado, para a formação de lista tríplice a ser encaminhada à governadora do Estado, para a escolha e nomeação de mais um desembargador indicado pela OAB.
Tais questionamentos surgiram depois de uma matéria postada pelo jornalista Marco D’Eça em seu Blog, fato que acabou causando o maior reboliço junto, principalmente, a setores mais ligados à direção da Ordem dos Advogados do Brasil, secção do Maranhão.
Vejamos um trecho dessa matéria: “O deputado estadual e vice-líder do governo na Assembléia Legislativa, Joaquim Nagib Haickel (PMDB), deve concorrer à vaga de desembargador do Tribunal de Justiça do Maranhão a ser preenchida por um membro da Ordem dos Advogados do Brasil.
Haickel era candidato a um dos cargos da Ordem na chapa encabeçada pelo então candidato a presidente, Daniel Blume. Quando Blume aceitou compor com Roberto Feitosa, o deputado abriu mão da presença na chapa para facilitar a composição.
Agora, pode ser o indicado do grupo Feitosa/Blume à lista sêxtupla que será encaminhada ao Tribunal de Justiça para análise dos desembargadores. (…)”
Dentre as muitas reações à matéria do jornalista Marco D’Eça, umas elogiosas, outras carinhosas e diversas de irrestrito apoio, uma delas me causou espécie: Aquela que enxergava um espúrio conchavo entre mim e os meus amigos e futuros dirigentes da OAB no Maranhão, Roberto Feitosa e Daniel Blume.
E mais, a nota de D’Eça deu origem à matéria que se segue, publicada num site da campanha do meu querido amigo e também candidato à presidência da OAB, Mário Macieira: “Caiu como uma bomba a notícia, divulgada ontem pelo blog do jornalista Marco Deça (http://colunas.imirante.com/platb/marcosdeca) que o deputado estadual e vice-líder do Governo Roseana Sarney na Assembléia Legislativa, Joaquim Nagib Haickel (PMDB), deve ser o indicado pela chapa formada pelos advogados Roberto Feitosa e Daniel Blume para concorrer à vaga de desembargador do Tribunal de Justiça do Maranhão, a ser preenchida por um membro da Ordem dos Advogados do Brasil.
Dezenas de advogados repudiaram ontem o acordo, que já teria sido fechado em favor do deputado governista para sua indicação na vaga. O principal motivo de protesto por parte dos advogados é que a chapa Juntos pela Ordem havia divulgado, publicamente, como proposta de campanha, que defendia a escolha para a lista sêxtupla de nomes para concorrerem ao cargo de desembargador, como resultado de uma consulta feita a todos os advogados inscritos na Ordem”.
Nunca houve qualquer acordo no sentido de apoio a uma eventual candidatura minha à vaga de desembargador pelo quinto constitucional, mas se acaso houvesse uma simples manifestação de apoio, nada possuiria de estranho ou espúrio, até porque, a chapa contrária à dos meus amigos, tem preferência clara e sinalizada para outros advogados, que possuem até muito mais chances do que eu na disputa.
Se bem lida a nota do jornalista Marco D’Eça, nela percebe-se que em momento algum ele afirma categoricamente que eu e os doutores Roberto Feitosa e Daniel Blume firmamos um acordo no sentido de apoiar quem quer que seja para o pleito. Afirma o jornalista tão somente que o grupo de Daniel Blume e Roberto Feitosa poderia me apoiar sem meias palavras, o que é absolutamente óbvio, pois deles sou amigo e na chapa de Daniel faria parte, até abrir mão de participar de sua composição final para ajudar na viabilização do acordo eleitoral com o doutor Roberto Feitosa.
Sobre a existência de um “conchavo”, palavra equivocadamente usada no sentido de criticar um acordo inexistente, cumpre deixar claro que isto seria impossível de ocorrer, pois tanto eu quanto Daniel e Roberto apoiamos irrestritamente a escolha da lista sêxtupla por consulta direta a todos nós os advogados inscritos na Ordem. Jamais deverá ser esta ou aquela diretoria, por razões estritamente pessoais, que deverá escolher quem são os seis causídicos aptos a compor os quadros do Tribunal de Justiça como representantes de nossa classe.
Senti-me honrado com a lembrança de diversos conhecidos e amigos do meio-jurídico, e mais honrado ainda com a lembrança de muitas pessoas que nenhuma relação possuem com a Justiça do Maranhão, mas que se disseram felizes com uma minha possível futura investidura junto ao Tribunal de Justiça.
Mesmo vendo a notícia da minha possível participação na disputa ser erroneamente deturpada, devo dizer que me senti honrado com a lembrança e que mais honrado eu estaria em compor a Justiça Maranhense em vaga antes ocupada pelos desembargadores Esmaragdo Sousa Silva, Jouglas Bezerra e Milson Coutinho, que tanto honraram a toga e o Estado.
Tenho certeza que a vitória de Feitosa e Blume elevará a totalidade dos advogados à condição de eleitores, deixando de ser meros sujeitos indiretos e passivos de uma disputa essa sim, de conchavos, com os quais não concordo e não participo.
Honorável Bandido.
Caro deputado Joaquim Haickel, gostaria que o senhor reproduzisse esse meu texto e as fotos constantes dele em seu conceituado blog.
Honorável Bandido.
Visitando um Blog deparei com as duas fotos abaixo que bem representam o que acontece na política maranhense. O Zé Reinaldo, ex- quase tudo, de Secretario de Estado, Diretor da Novacap, Presidente do DNOCS, passando por Superintendente da SUDENE, Ministro dos Transportes, Deputado Federal, e acabando Vice e depois Governador do Maranhão, tudo isso graças ao Zé Sarney, no lançamento do livro caça-níquel do oportunista jornalista Palmério Dória.
Com toda certeza Zé Reinaldo deve constar desse livro do Palmério, pois ele estava com o Sarney durante quase todo o tempo de sua vida, os dois eram unha e carne! Se ele não for um dos personagens principais desse livro é porque esse livro é exatamente o que eu imaginava: uma forma esperta do tal jornalista ganhar um dinheirinho à custa dos desavisados ou dos muito avisados que dizem, até pagaram para ele fazer o livro.


Um Pedaço de Ponte – Parte X
Dando continuidade ao texto “Um Pedaço de Ponte” leia a seguir:
Clara cor-de-rosa
Eu a via constantemente, ali, sentada naquele banco, sempre só, sempre com o mesmo vestido cor-de-rosa, o olhar vago, distante, perdido, de quem tem algo a dizer, mas não sabe como. Todos os dias, após minha jornada de trabalho, pegando e contando dinheiro dos outros, tinha que passar por aquele banco, situado a alguns passos da sorveteria do Hotel Central, onde entrava também diariamente para tomar o meu sorvete de ameixa. E lá estava ela, com seus olhos tristes e seu vestido cor-de-rosa, todos os dias, semanas a fio.
Depois voltava para casa, onde mergulhava de novo na minha vidinha de trabalho e televisão, cujo motivo se interrompia nos fins de semana com um bate-bola na praia ou uma cervejinha com os amigos.
De certo modo, porém, a presença da menina vestida de rosa quebrava a mesmice do meu cotidiano. Ao sair do trabalho, já não era no sorvete de ameixa que eu pensava, era nela. Que iria vê-Ia outra vez, encolhida e só, no seu banco de rua. Depois que passava, sem ao menos vírar-lhe o rosto, a constância daquele apelo que sentia na nuca como se estivesse a chamar-me sem os psius e eis que me acostumara a ouvir das garotas sentadas na mureta da praça. No fundo, eu sabia que não era um chamado, era apelo. Mas eu continuava o caminho de casa, telefonando para Lígia, apenas para dar sinal de vida e seguindo o meu roteiro de programa – “Chico Anísio Show”, “Casa do Terror” – até dormir no sofá.
Em um fim de tarde, o vento soprando forte do lado do mar, a mesma multidão de caixeiros viajantes sentada à fresca, em frente ao Hotel Central, falei afinal com ela.
– Todo dia você está aqui, assim parada, sempre vestida de rosa. Ela apenas levantou a cabeça como se fosse dizer-me algo, mas logo voltou a baixá-la acompanhando com os olhos os riscos imaginários que fazia na calçada com a ponta dos sapatinhos.
Só então reparei que eram sapatilhas de dança, que mal cobriam os pés miúdos e terminavam graciosamente num trançado de fitas um pouco acima dos tornozelos. As pernas eram firmes e bem feitas, marcadas até as coxas pela roupa leve que vestia, por aquela generosa aragem que corria do mar.
– Como é teu nome?
– Clara.
Mais duas semanas transcorreram assim, sem que nada mudasse, nem no meu, nem no comportamento dela. Apenas agora, ao passar, acenava-lhe com a cabeça, e ela me respondia com um sorriso mais triste que sua solidão e seu silêncio.
– Vamos tomar um sorvete, Clara?
Ela se levantou tão prontamente que me espantou, como se aquele convite fosse um bem longamente esperado, algo que houvesse perdido a esperança de receber.
– Vamos!
Eu lhe notara as pernas, mas ainda não havia percebido como era bonita, um rosto de criança numa disposição de mulher.
– Chocolate, ameixa, baunilha, maracujá, abacaxi, limão, tamarindo, coco, cupuaçú, bacuri, creme, nata! Que que você quer?
Quando nos despedimos, sabia que faltava alguma coisa. Entre nós, um ar pesado de desapontamento, de festa que termina antes de começar. Bem o sabia, mas era segunda-feira, e eu não queria perder “Tela Quente”.
Na terça, amanheci com febre e fortes dores de cabeça. Só fui trabalhar na quinta.
– Clara, como você está abatida!
– Estive doente.
– Eu também.
– Eu sei, dores de cabeça, febre alta, calafrios.
– Como você sabe?
– Eu não sei, eu sinto.
E outro adeus sem jeito, outro adeus desnecessário e doído, que nenhum dos dois seria capaz de explicar o por quê.
Hoje será diferente Clara. Vamos jantar fora.
Amei Clara como jamais amei mulher alguma. Com fogo e todo o desejo do mundo. Como lembrar aquelas horas? Depois do amor, o nada. O que resta é um emaranhado de imagens e lembranças absurdas, aquela confusão de olhos e de dedos, de cabelos e de seios, de coxas e de costas, de pés e de bocas. Mas sinto, ainda agora, tanto tempo já passado, que explorei cada pedaço de seu corpo, cada momento vivido, cada instante exaltado e em seguida, a recomposição do repouso, que se transfigura em enternecimento e entrega total. Conheci então, Clara sem tristeza, uma Clara exultante de tão mulher, uma Clara companheira, Clara eterna, na solidariedade do prazer.
Não lhe perguntei onde morava, nem fiquei sabendo seu nome completo. Deixei-a no mesmo lugar em que a encontrara. Só, no seu banco, vestida de rosa.
Não tive sossego no fim de semana. Ela não apareceu na praça. Segunda-feira, mal pude esperar que o expediente terminasse para correr ao seu banco e vê-Ia de novo. No entanto, Clara não estava lá. Terça-feira, fui outra vez esperá-la. Sentei-me no banco. Eu estava só, fazendo sem perceber, riscos imaginários no chão com a ponta do meu sapato. Às nove horas fui para casa. Deixei há muito tempo de ligar para Lígia. Não havia mais televisão. Os meus fins de tarde se tornaram um tormento, sem que nada pudesse preencher o vazio que se cavara em meu peito. O banco de Clara era, agora, só meu, até que o desgosto e o cansaço me levassem de volta para casa.
Três semanas se escoaram na minha amargura. Clara havia desaparecido por completo. Aos poucos, eu me fui acostumando àquela solidão cor-de-rosa, absorvido no meu trabalho, cada vez mais apegado à televisão. Uma tarde, passei distraído pelo banco direto para a sorveteria. Lá encontrei o Ribamar que, excitado, me agitava um jornal nas mãos:
– Olha aqui! Encontraram aquela menina que havia fugido da casa do pai, nosso colega da agência de Belém.
O que olhei ao tomar o jornal nas mãos me fez desabar na cadeira. O suor frio logo porejou na testa, um tremor de não agüentar pelo corpo todo, enquanto braços e pernas me fugiam inteiramente ao controle. Quis falar, mas não consegui, a cabeça rodando, como se houvesse caído bem no meio de um terrível redemoinho. Lá estava ela, talvez numa última fotografia, os mesmos olhos tristes, possivelmente o mesmo vestido cor-de-rosa. Não podia ler direito, porém uma ou outra frase me chegavam à alma. “Encontrado nas matas do Anjo da Guarda o corpo da menor C.M.L., que desaparecera da casa dos pais, há seis meses, em Belém. Os legistas acreditam que foi homicídio. Pelo adiantado estado de putrefação, o crime deve ter ocorrido há dois meses”.
Hoje é dia de assistir “Louco Amor” e “Quarta Nobre”. Meu Deus, como era mesmo o telefone da Lígia? Não, amanhã tenho que estar cedo no trabalho. Depois, tomar meu sorvetinho de ameixa e me recolher a esta vidinha besta.
Clara? Perguntei à moça de vestido cor-de-rosa, sentada na mureta da Praça Benedito Leite.
Entrevista exclusiva do Deputado Joaquim Nagib Haickel concedida ao jornalista Robert Lobato.
1. Deputado, é fácil defender o governo Roseana Sarney?
Resposta: Defender, quem quer que seja, qualquer que seja o governo é sempre mais difícil que atacar. Diria pra você que defender o governo Zé Reinaldo ou o governo Jackson Lago seria muito mais difícil, pelo menos do meu ponto de vista.
2. O senhor está satisfeito com o desempenho do governo até aqui?
Resposta: Acho que pode melhorar e acredito que irá melhorar bastante, mas posso lhe garantir que esse governo mesmo não tendo engrenado, ainda assim é muito melhor que os dois anteriores.
3. Há corrupção no governo?
Resposta: A corrupção é uma conseqüência das atividades humanas. Não vou lhe dizer que não haja corrupção neste ou naquele governo, a única coisa que posso lhe garantir é que não concordo com essa prática.
4. O secretário Hildo Rocha criticou publicamente a disputa por espaços entre secretários e a intromissão de alguns nas pastas de outros. Como o senhor avalia essa questão?
Resposta: Concordo com o Hildo, mas acho que ele se esqueceu de falar da gula eleitoral de alguns secretários de estado que estão se achando os donos dos cargos que temporariamente estão ocupando. Esse é um dos fatores que tem prejudicado a performance do governo.
5. Um secretariado mais político do que técnico ajuda ou atrapalha o governo?
Resposta: Depende! Se o secretário mais político do que técnico quiser mudar a forma de construir estradas ou mudar o jeito de ministrar uma aula vai ser um desastre. Se um secretário mais técnico que político quiser reescrever “O Capital” ou “O Príncipe” será desastre certo. Cada um deve desenvolver o trabalho para o qual está mais preparado.
6. O senhor tem dito que é uma voz isolada na defesa do governo na Assembleia. Em sua opinião, a base do governo tem vergonha de defender o governo?
Resposta: Eu nunca disse que sou uma voz isolada em defesa do governo, quem tem dito isso é a imprensa. E a imprensa tem dito isso para me jogar contra os líderes Chico Gomes e Tatá Milhomem, coisa que não vai acontecer, pois me dou muito bem com os dois. Não acho que a base do governo tenha essa vergonha, pelo contrário, estão todos doidos para mostrar serviço.
7. O senhor é um quadro qualificado dentro do seu grupo, talvez um dos mais qualificados. E me parece que o senhor foi convidado para ser secretário de Estado, porque não aceitou?
Resposta: Realmente, fui convidado mas não aceitei. Primeiro me foi dito que seria convidado para secretaria da cultura, mas nunca acreditei que seria realmente convidado para essa pasta. Se tivesse sido poderia até aceitar, desde me fossem dadas as condições necessárias para fazer um bom trabalho. Mas fui convidado para secretaria de esportes e juventude. Em seguida foi só para esportes, pois juventude seria desmembrada, e para lá deveria ir Roberto Costa, indicado do vice- Governador João Alberto. Achei mais prudente não dividir uma coisa que já era pequena e abri mão em nome do companheiro Roberto, que vem se saindo bem nessa pasta. Depois fui convidado para minas e energia e disse que só aceitaria se essa secretaria fosse unificada com a secretaria de indústria e comércio, pois sozinha, nela se teria pouco o que fazer. Então preferi ficar mesmo na Assembleia, lá posso fazer uma das coisas que mais sei e gosto de fazer, que é política.
8. Qual seria o melhor nome do PMDB para disputar o governo em 2010, Roseana ou Lobão?
Resposta: Os dois são ótimos candidatos. São melhores individualmente que todos os outros pretensos candidatos reunidos. Roseana por estar no mandato, ser carismática e ser eleitoralmente poderosa. Lobão porque está num ministério que tem ajudado no desenvolvimento do Brasil e do Maranhão de maneira contundente, por ser um diplomata e por quase não ter rejeição
9. Em sua opinião, quem seria o melhor candidato das oposições para o grupo Sarney enfrentar nas próximas eleições?
Resposta: Encaro eleição como encarava campeonato de tênis. No tênis você tem que vencer todos os jogos para ser campeão. Política é assim. Não tem esse negócio de melhor candidato. Dentre os que estão postos ai para disputar o palácio dos leões só o Flávio Dino será governador, um dia, e não será ainda dessa vez. Dessa vez, se eu fosse ele, seria candidato ao senado. Há uma vaga reservada para ele. Nós com toda certeza elegeremos um senador e disputaremos a outra vaga. Caso o Flávio não concorra ao senado até eu, tenho chance de me eleger. Se eu fosse Zé Reinaldo me candidataria à Câmara Federal, lá ele terá uma eleição tranqüila e uma boa votação, podendo puxar votos para ajudar sua chapa. No senado ele vai é gastar “seu dinheiro” e vai dificultar bastante a vida de seus correligionários. Como deputado federal ele terá o mesmo foro privilegiado de que tanto precisa e assim não se arriscaria em não tê-lo caso não se eleja senador. A candidatura de doutor Jackson ao governo não é uma candidatura política, é uma candidatura moral.
10. O senhor se considera um Sarneysista, no sentido de ter o senador José Sarney como referência na política maranhense?
Resposta: Claro! Quem achar que Zé Sarney não é a maior referência na política maranhense não é muito certo da cachola. Você pode discordar dele, mas daí a achar que ele não seja a maior referência da política do Maranhão é desconhecer a realidade.
Não posso me considerar um jackista ou um reinaldista, nem ainda um flavista. O doutor Jackson eu tenho como referência de pessoa, de homem, não de político. Zé Reinaldo é uma referência como técnico. Flávio por enquanto para mim é referência de competência, de capacidade intelectual e só vai passar a ser referência política para mim quando ele conseguir me provar que os votos que ele recebeu em Tuntum, São Domingos, Caxias e em outros lugares semelhantes, foram obtidos da mesma maneira e ao mesmo custo que os votos que ele teve em São Luis, dos estudantes da UFMA, ou melhor, que ele para se eleger deputado federal em 2006 não usou os mesmos recursos que diz abominar e combater, em síntese que ele é um político diferente.
11. O que o senhor tem achado dos debates políticos na Assembleia Legislativa?
Resposta: Fracos. São raros os debates de alto nível.
12. Qual o seu projeto político-eleitoral para 2010?
Resposta: Sou candidato a deputado estadual, pois pretendo concorrer à presidência da Assembleia, caso me reeleja.
13. Vou citar algumas personalidades e gostaria, em breves palavras, a sua opinião sobre cada uma delas:
Sen. José Sarney: Um visionário. O criador do Maranhão moderno. Um grande mestre da política a quem a história, um dia, saberá conferir seu verdadeiro valor.
Gov. Roseana Sarney: Uma pessoa extremamente carismática que revolucionou o nosso estado administrativamente falando. Essa importante e necessária revolução que ela implementou custou-lhe o controle político-eleitoral do estado nas últimas eleições.
Sen. Edison Lobão: Um diplomata da política. É impossível não se gostar dele.
Vice-Governador João Alberto: Enérgico e firme. Amigo de seus amigos.
Ex-Governador Jackson Lago: Bem intencionado mas mal assessorado.
Ex-Governador José Reinaldo: O melhor dentre os técnicos inventados por Sarney, mas em compensação seu maior equívoco político e olha que foram vários durante todos esses anos. Poderia ter feito tudo que queria fazer sem precisar trair seu mestre e criador.
Pref. João Castelo: Um dos grandes governadores que o Maranhão já teve. No seu governo foram construídas obras importantes e estruturais em nosso estado.
Dep. Flávio Dino: Ele é certamente o futuro, será certamente senador e governador do Maranhão, mas difere pouco, operacionalmente falando, dos políticos do passado. É uma pena que essa minha afirmação só poderá ser comprovada daqui a trinta anos. Jovem talentoso e competente que tem a seu favor o tempo e a vontade de mudanças. Contra si, só o fato de ter que aceitar o mesmo jogo político de sempre, coisa que não considero nenhum pecado mortal, mas ele sim, para isso basta ver como foi sua eleição de deputado federal em 2006.
MEUS PÊSAMES
A má crendice
ao faturamento
à pergunta que você não fez
ao amor conjugal de duas pessoas que se odeiam
à carta de um suicida na hora da última ciranda
a quem sabe o que é melhor
ao herói
ao covarde
à missa dos fariseus
à resposta não publicada
à procissão dos omissos
aos que amam os que odeiam
primeiro interrogatório de si mesmo
ao segundo interrogatório de todos
aos que ouvem
aos que falam
à ecologia
à fome
à miséria
à liberdade
à viúva
ao órfão
ao morto
meus pêsames.
Leal ou fiel?
“Quando eu voltar a São Luís irei parabenizá-lo pessoalmente por sua grande conquista na Academia Maranhense de Letras. Esse feito é prerrogativa de poucos. Nobre Deputado e Imortal.
OBS: Por gentileza post novamente o seu excelente texto sobre LEALDADE E FIDELIDADE.
Abçs.
Márcia soares”
Sei de antemão que o que vou dizer aqui, hoje, neste nosso bate papo, vai chocar muita gente. Mas é assim que fui ensinado a agir e é assim que sempre faço na minha vida. Digo o que penso, mesmo que para isso tenha aprendido a dizê-lo de tal modo, que mesmo chocando algumas pessoas, o que diga, possa suscitar algum acréscimo no indispensável conhecimento de nós mesmos e da vida.
Sou da opinião que lealdade e fidelidade são duas coisas bem diferentes, em que pese o fato de serem facilmente confundíveis.
Diferenciar coisas tão parecidas, e que ainda por cima se completam e se confundem é uma tarefa extremamente difícil, o que geralmente requer que se usem exemplos claros e práticos para dirimir qualquer possível duvida.
A principio pode-se pensar que se trata do uso de palavras diferentes para expressar a mesma idéia, a mesma ação, o mesmo sentimento. Não é. Da mesma forma que ética é diferente de moral, lealdade difere de fidelidade.
Este é um tema tão controverso que talvez não iremos exauri-lo em uma única crônica dominical, mas mesmo assim vou tentar.
Lealdade é uma espécie de mãe, de coletivo de fidelidade. Lealdade você tem que ter em primeiro lugar para consigo mesmo para que só então, possa ser no mínimo fiel para com os outros.
O mais incrível nisso tudo é que o oposto de fidelidade é infidelidade e de lealdade é deslealdade. No entanto há uma palavra que sintetiza o oposto das duas. Traição. Inclusive, traição não possui um antônimo único, prefixal. Não existem as palavras intraição ou destraição. Mais incrível ainda é que quando se fala de lealdade ou de fidelidade, o que nos vem imediatamente na cabeça, antes de qualquer outra coisa, é o seu antônimo.
Um cônjuge pode ser espiritual e mentalmente leal ao outro e ser carnalmente infiel. Este pode ser desleal mentalmente para com o outro sem nunca tê-lo traído carnalmente.
Tempos atrás comentei esse assunto numa roda de amigos e notei o mal estar que causei, principalmente em algumas mulheres que estavam na conversa. Para algumas delas pareceu que eu estava tentando tirar uma carta de seguro, uma licença previa e tácita para trair. Quem pensou assim se enganou. Tentava era mostra-lhes o peso, a importância de certas ações, de certos sentimentos, nem sempre claros, nem sempre bem entendidos.
Em minha opinião a lealdade é um sentimento maior, individual. Independente do outro. Meu, pra mim, por mim. Fidelidade é coisa externa, de mim para o outro. É o sentimento, o vinculo que há entre animal e amestrador. Entre senhor e servo.
Um político pode permanecer leal, mesmo não podendo cumprir um compromisso preestabelecido. Mas às vezes seu código de ética é tão frágil, que não lhe fornece moral para que seja honrado e leal, fazendo com que se torne um reles traidor infiel.
Caso real é a historia daquele político que tendo se empenhado na candidatura de três correligionários, depois da eleição destes, teve tratamentos distinto de cada um deles.
O primeiro, apesar de ser analfabeto, mas tendo grande senso de honra manteve-se leal a si e fiel ao companheiro. Exceção que confirma a regra.
O segundo, apesar de pouco instruído, mas sendo sábio, antes de cometer qualquer ato que pudesse ser interpretado como infidelidade, chamou o bom amigo das horas difíceis e mostrou-lhe a situação em que se encontrava. Foi leal consigo e com o outro, apesar de não cumprir in totum o que havia sido acordado. Meno male.
O terceiro, apesar de doutor, sendo covarde o bastante para não enfrentar a situação de cabeça erguida, sumiu sem dar explicação. Foi desleal e infiel consigo e com o companheiro. Com esse, o julgamento da historia será impiedoso.
Mas o melhor e mais claro exemplo da diferença que há entre lealdade e fidelidade se encontra na historia medieval de Tristão e Isolda(não percam o filme em cartaz nos cinemas), onde o amor de um rapaz por uma moça supera o sentimento de gratidão e devoção dos dois para com o pai adotivo dele que é esposo dela.
Em Tristão e Isolda, ficam bem aclaradas as semelhanças e as diferenças entre lealdade e fidelidade.
Há uma linha tênue entre estes dois sentimentos, entre estas duas ações, mas em minha opinião, são coisas bem distintas uma da outra.
Se perguntarem pra mim como prefiro ser tratado, responderei sem titubear, prefiro que as pessoas me sejam leais.
PS: Assistindo as chamadas da próxima novela das vinte horas da Rede Globo, “Paginas da vida”, escrita por Manoel Carlos, vi que o personagem Olívia, interpretada por Ana Paula Arosio, diz uma coisa muito parecida com isso, lealdade e fidelidade não são a mesma coisa. Resta apenas se saber em que contexto será desenvolvida e explorada tal afirmação, por este que é um dos grandes mestres da polemica televisiva.
Um Pedaço de Ponte – Parte IX
Dando continuidade ao texto “Um Pedaço de Ponte” leia a seguir:
Padre Nosso
ÍNDICE
I – No lugar onde eu nasci
II – O padre
III – Três horinhas, saía pela sacristia
IV- Cruzava a praça – nome do avô do ex-prefeito
V -Saboneteira na mão, toalha branca no pescoço, quixotesco, ia banhar-se na casa da viúva Sibá – da padaria
VI – Seis horas, já banhado e paramentado, rezava a missa: “em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo…” amante
VII – Poema? Conto? Ponto.
I
NO LUGAR ONDE EU NASCI – Ex-cidadezinha. Três mil habitantes na zona urbana e o restante, para completar um pouco mais de seis mil, na zona rural De ruas paralelas e transversais, com exceção da Rua do Escorrega (diagonal às outras, mas paralela à curva que o rio fazia quase dentro da cidade). Arquitetura pós-colonial, alguns casarões, moradas inteiras, meias-moradas, portas e janelas e as típicas “quítandas-residências” onde na frente da casa o proprietário consegue o sustento da família que mora nos fundos. Urbanisticamente era uma cidade igual às outras: a matriz, as praças, o coreto, a delegacia, o cartório, a prefeitura, a casa do coronel, o cabaré, o ginásio que hoje é o segundo grau, e o mundo em volta.
II
O PADRE – Francisco das Chagas Bento. Para uns o padre Chagas, para outros, padre Bento, para alguns, padre Chico e para algumas simplesmente Chiquinho. Nascido na capital onde cursara o seminário e proveniente de família abastada, era o quinto de cinco filhos que antes dele já deveriam ser advogado, médico, engenheiro e político. Só restava-lhe a batina, para a qual foi guinado desde cedo pelas três tias beatas: D. Dada, D. Dedé, D. Didi (Damiana, Deocleciana
e Dinorá).
Desde menino, levado pelas tias à igreja, decorara e mais tarde aprendera rezar missa, ladainhas, cânticos e sabia a bíblia de trás para frente.
Ordenado padre seria mandado para a paróquia de São Pedro, num município onde sua família tinha terras e era poderosa.
Já estava ali há mais ou menos uma geração.
III
“TRÊS HORINHAS, SAÍA PELA SA CRIS TIA
Àquela época, por aquelas bandas era hora de todos tirarem um cochilinho. Os hábitos mudaram muito desde então. Acordava-se cedo, cinco e meia, seis horas. Tomava-se banho, tomava-se café e trabalhava-se até uma, duas horas da tarde, quando se almoçava e tirava-se um cochilo até mais ou menos cinco horas. Isso quem podia.
Quem quer que saísse à rua nada ou ninguém veria. A cidade era deserta. Só uma figura era movimento naquela hora na cidade (isso há mais de cinco anos, desde a morte do padeiro, José Leopoldo de Cintra, português fino e estimado, que falecera depois de uma noite de amor com sua esposa).
lV
“CRUZ4 VA A PRAÇA – NOME DO AVÔ DO EX-PREFEITO -A praça da matriz como era conhecida por alguns também tinha outro nome: “‘Praça Rodrigo Coelho em homenagem ao avô de um ex-prefeito eleito num desses intervalos que há entre a existência de uma oligarquia e outra. Rodrigo Coelho era, na verdade, um ex-escravo que alforriado no Ceará imigrou rumo oeste, firmando residência numa das curvas do rio, um pouco ao norte da cidade. Trabalhador, Rodrigo casou-se com uma filha de criação do Dr. Oliveiro e deu origem a sua descendência.
Certa vez numa disputa de coronéis pelo domino político, o velho Dr. Oliveiro, quase no fim da vida, se aproveitou e lançou candidato próprio às eleições: o neto de Rodrigo Coelho, ex-prefeito e hoje mais um quitandeiro.
V
“SABONETEIRA NA MÃO, TOALHA BRANCA No PESCOÇO OUIXOTESCO, IA BANHAR-SE NA CASA DA VIUVA SIBÁ – DA PADARIA” – Dona Sebastiana Erundina Pinheiro era a viúva do padeiro José Leopoldo de Cintra, Portugal Morena balzaquiana, formosa e insinuante, havia, mesmo que involuntariamente, contribuído decisivamente para a morte do marido, pois o Lepô como era conhecido, morrera após a sofreguidão de uma noite de amor com seu cônjuge, herdeira da padaria, da mercearia, de três quitandas, do armarinho e da fazenda de vacas leiteiras que abastecia toda a cidade.
Depois da morte do marido, Dona Sibá, sozinha, consolava-se entregando-se a religião e as obras de caridade.
VI
SEIS HORAS, JÁ BANHADO E PARAMENTADO REZ4 VA A MISSA: “EM NOME DO PAI, DO FILHO E DO ESPÍRITO SANTO… “AMA N TE – Dizia eu, lá com meus botões. Certa vez amuado, não conseguia tirar a empregada da casa de seu Custódio da cabeça, fui brechá-la tomando banho. Pulei o muro de trás da casa de meu pai, caí no quintal do seu Zezico; pulei a cerca e estava na vacaria do finado Lepô. Quando tentava pular o cercado vi e ouvi coisas e sons estranhos. Passarinheiro, mansamente, fui ver o que era e deparei com o padre e a viúva cantando salmos, louvando a Deus e aos profetas enquanto desesperadamente, para usar um termo adequado, fornicavam.
VII
No lugar onde eu nasci,
o padre,
três horinhas,
saía pela sacristia,
Cruzava a praça – nome do avô do ex-prefeito.
Saboneteira na mão, toalha branca no pescoço,
quixotesco, ia banhar-se na casa da viúva Sibá – dona da padaria.
Seis horas já banhado e paramentado, rezava a missa:
“Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo…”
Amante.
Perfil
“Poeta, contista e cronista, que, quando sobra tempo, também é deputado”. Era essa a maneira como Joaquim Elias Nagib Pinto Haickel aparecia no expediente da revista cultural Guarnicê, da qual foi o principal artífice. Mais de três décadas depois disso, o não mais, porem eterno parlamentar, ainda sem as sobras do tempo, permanece cronista, contista e poeta, além de cineasta.
Advogado, Joaquim Haickel foi eleito para o parlamento estadual pela primeira vez de 1982, quando foi o mais jovem parlamentar do Brasil. Em seguida, foi eleito deputado federal constituinte e depois voltou a ser deputado estadual até 2011. Entre 2011 e 2014 exerceu o cargo de secretario de esportes do Estado do Maranhão.
Cinema, esportes, culinária, literatura e artes de um modo geral estão entre as predileções de Joaquim Haickel, quando não está na arena política, de onde não se afasta, mesmo que tenha optado por não mais disputar mandato eletivo.
Cinéfilo inveterado, é autor do filme “Pelo Ouvido”, grande sucesso de 2008. Sua paixão pelo cinema fez com desenvolvesse juntamente com um grupo de colaboradores um projeto que visa resgatar e preservar a memória maranhense através do audiovisual.
Enquanto produz e dirigi filmes, Joaquim continua a escrever um livro sobre cinema e psicanálise, que, segundo ele, “se conseguir concluí-lo”, será sua obra definitiva.
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