A bondade de Deus

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Há muito tempo atrás, no longínquo reino de Samarcan, na antiga rota da seda, havia um rei chamado Tariq, que não acreditava na bondade do Deus todo poderoso. Ele tinha, porém, um súdito que atendia pelo nome de Amir que sempre lhe lembrava dessa verdade eterna e imutável que é a sabedoria e a bondade de Deus, e que em todas as situações dizia a seu soberano: “Meu rei, não desanime, porque Deus é bom, ele sempre sabe o que fazer!”.
Um dia, o rei Tariq saiu para caçar e levou consigo o seu súdito Amir. Ao entardecer do segundo dia de caçada, uma fera atacou o rei. Amir, sempre com ele, conseguiu matar o animal, porém não evitou que sua majestade perdesse o dedo mínimo da mão esquerda.
Ao voltar ao palácio, o rei, furioso pelo que tinha acontecido, e sem demonstrar agradecimento por ter sua vida salva pelos esforços de seu leal servo, perguntou e este: “E agora, o que você me diz? Deus é bom? Ele sabe o que faz? Se Deus fosse bom eu não teria sido atacado, e não teria perdido o meu dedo”. Amir, como sempre, insistia: “Meu rei, apesar de todas essas coisas, somente posso dizer-lhe que Deus é bom, e que mesmo isso, perder um dedo é para o seu bem!” O rei, indignado com a resposta do súdito, mandou que fosse preso na cela mais escura e mais fétida do calabouço do palácio.
Havia na corte de Samarcan um outro súdito de Tariq, Amal Ibni-Marud, que se roia de inveja da amizade que o rei tinha para com Amir e aproveitando-se do infortúnio dos dois, para aproximar-se mais do rei, Amal mandou o artesão real confeccionar um dedo mínimo de ouro, para esconder o aleijume de sua majestade. Tariq ficou muito sensibilizado e agradecido.
Após algum tempo, o rei saiu novamente para caçar e dessa vez levou Amal consigo. Aconteceu dele ser atacado novamente, desta vez foi emboscado por uma tribo que vivia nas estepes, os Surihns. Estes eram temidos, pois se sabia que eles faziam sacrifícios humanos para seus deuses. Mal prenderam a todos os Surihns passaram a preparar, cheios de júbilo, o ritual do sacrifício. Quando já estava tudo pronto, e o rei Tariq já estava diante do altar, o sumo-sacerdote, observou um brilho estranho na mão do rei. Aproximou-se para ver melhor, pegou Tariq com força pelo pulso, o que fez com que seu dedo de ouro caísse, e rolasse a escadaria do altar, então gritou furioso: “Este homem não pode ser sacrificado, pois é defeituoso! Falta-lhe um dedo!”
O rei foi então libertado, mas o mesmo não aconteceu com aqueles que o acompanhavam, todos foram sacrificados.
Ao voltar para o palácio, muito alegre e aliviado, Tariq tratou imediatamente de mandar libertar seu leal súdito Amir e pediu que este viesse a sua presença. Ao ver o servo, o rei ajoelhou-se a seus pés, desculpou-se e o abraçou afetuosamente dizendo-lhe: “Meu caro, o seu Deus realmente foi bom comigo! Você já deve estar sabendo que escapei da morte justamente porque não tinha um dos dedos. Mas ainda tenho em meu coração uma grande dúvida. Se esse Deus é tão bom como diz, porque permitiu que você fosse preso da maneira como foi? Logo você, que tanto o ama e o defende! O servo sorriu e disse:” Majestade, se eu estivesse junto contigo naquele dia, certamente teria sido sacrificado como os outros o foram, pois não me faltava dedo algum!”
A partir daquele dia o rei Tariq não teve mais vergonha por não ter um dos dedos. Quanto a seu dedo de ouro, ele o deu de presente a seu leal súdito Amir, que o vendeu por mil moedas e as presenteou todas à viúva e aos filhos do falecido Amal.

* Crônica adaptada de uma estória antiga, mas pautada em acontecimentos recentes.

4 comentários para "A bondade de Deus"


  1. Roberto Monteiro

    Quero lhe dizer que sofro de um grave distúrbio do sono. Troco à noite pelo dia e às vezes fico passeando pela NET a procura de algo interessante. Até agora ainda não tinha achado nada que se aproveitasse, mas que bom que encontrei em seu blog algumas coisas interessantes pra ler… Uma hora dessas (mais de 4 da madrugada)! Essa história é sensacional! Parabéns!

  2. Osvaldo Damasceno

    Não sofro de insônia como Roberto, aí de baixo, mas concordo com ele. Essa é uma história linda, emocionante e o tema bem oportuno, desenvolvido de maneira leve, delicada e precisa. No final há uma observação interessante que diz que está crônica é adaptada de uma história antiga, mas confesso que não a conhecia. Parabéns!*

  3. ROSI BONFIM

    PARA VER O QUANTO SOMOS INGRATOS COM DEUS. ESSA HISTÓRIA SERVE COMO UMA LIÇÃO DE VIDA PARA NÓS QUE MUITAS VEZES NOS COMPORTAMOS EXATAMENTE COMO ESSE REI E NEM PERCEBEMOS. PARABÉNS PELO TEXTO E POR NOS LEMBRAR QUE DEUS ESTA SEMPRE AO NOSSO LADO, E PRINCIPALMENTE NAS HORAS MAIS DIFICEIS.

  4. Francisco José

    É verdade. “O tempo e o imprevisto sobrevem a todos.” Eclesiastes 9:11. Me faz lembrar de mais um texto bíblico: 1 Pedro 5:7.
    Mas é sempre bom lembrar que NÃO É DEUS que nos causa o sofrimento, ele permite. Mais do que qualquer ser humano, Deus odeia a perversidade e o sofrimento e por coisas más, ele não prova a ninguém. Tiago 1:13.

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