Livro e bate papo em Imperatriz.

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Fui convidado pelos meus colegas da Academia Imperatrizense de Letras para fazer uma palestra e participar de um debate sobre literatura maranhense durante a realização da quarta semana do livro promovida por aquela instituição.
Honrado, mas também temeroso de não estar à altura nem do tema nem dos contendores, resolvi procurar meu amigo e conselheiro Sebastião Moreira Duarte, para que ele me ajudasse a descobrir um jeito para que em dez minutos pudesse falar sobre literatura maranhense, sem ser muito econômico nem perdulário.
“Doutor Joaquim! Por que o senhor não imagina um Deus maligno que apartasse o Maranhão do Brasil como queriam os fracasses em 1612!?”.
E por ai fui. Imaginei se a França Equinocial tivesse dado certo. A conseqüência disso, para efeito dessa tese literária, seria um incalculável prejuízo para o Brasil e o empobrecimento da cultura e das letras nacionais auriverde.
Em Imperatriz, na parte da manhã recebemos na AIL, grupos de estudantes de diversas escolas. Leram-se poemas e apresentaram-se coreografias.
Em seguida pedi audiência a dois deputados recentemente eleitos. Valdinar Barros, com quem foi praticamente impossível conversar na Praça da Cultura, porque a todo instante parava alguém para cumprimentá-lo. No almoço me avistei com o outro, João Batista, detentor da maior votação de um candidato a deputado estadual em uma única cidade, mais de 33.000 votos em Imperatriz.
No final da tarde pude relaxar e tomar um delicioso vinho do porto, degustar deliciosos pasteis de bacalhau e carne seca no bar do restaurante Ritz, em excelente companhia, batendo um papo inteligente e agradável e ouvindo boa musica.
Na hora marcada, lá estava eu pronto pra discorrer sobre a suposta independência literária do Maranhão. Fui logo falando que o Brasil perderia de cara o padre Antônio Vieira. Lembrei seus sermões aqui pronunciados, em especial aquele onde teimava em pregar aos peixes a verdade que os homens se negavam a ouvir.
Disse-lhes que o Brasil perderia Odorico Mendes, tradutor da obra de Virgílio e de Homero. Situado no mesmo patamar dos grandes tradutores dos clássicos em outras literaturas, como Alexander Pope e Aníbal Caro.
Lembrei Sotero dos Reis, mestre da Gramática e da Filologia. De João Lisboa, mestre do jornalismo e da historiografia.
Disse que Gonçalves Dias não poderia ser simplesmente visto como um fenômeno da natureza, mas como o ponto culminante da produção literária de toda uma gloriosa geração. O primeiro e maior poeta romântico de temática propriamente brasileira.
Falei do visionário Sousândrade, de sua incomum capacidade de inovação. Fosse ele um autor de língua inglesa, sua obra já teria sido virada e revirada em muitos outros idiomas.
E Aloísio Azevedo, pioneiro do realismo literário brasileiro e seu melhor realizador. O que seria o teatro brasileiro sem seu irmão Artur e o parnasianismo sem Raimundo Correia, componente indispensável da tríade sagrada do parnaso.
Não esqueci de citar uma luta travada em 1924 no recinto da Academia Brasileira de Letras, protagonizada por dois maranhenses, cada um em seu pólo de radicalidade: “Eu sou o último dos helenos” – brada Coelho Neto, advogando pelos valores perenes da expressão verbal. “Se a Academia não se renova, morra a Academia” – responde-lhe Graça Aranha, levado nos braços pela juventude esfuziante.
Indispensável também seria falar de Humberto de Campos como um dos representantes maranhenses de uma época literária impar. Humberto era lido e respeitado por multidões. Um verdadeiro ídolo.
O que dizer de Josué Montello, um dos que melhor trabalhou a alfaiataria romanesca, a arte de costurar e estruturar a narrativa.
Odylo, poeta lírico de finíssimas qualidades, que se escondeu em seu jornalismo e em sua modéstia. Ferreira Gullar, de duas obras, que bastam para fazer-lhe imortal: a Luta corporal, divisor de águas em nossa história literária e seu translúcido Poema sujo.
José Louzeiro, repórter desde cedo, migrou pra o sul e transformou-se o maior expoente de um gênero novo no Brasil, a reportagem policial como literatura. São dele as obras que deram origem aos filmes Lucio Flavio, Araceli meu amor, O caso Claudia, Pixote e o Homem da capa preta, dos quais também foi roteirista.
Não poderia esquecer de José Chagas e Nauro Machado. A proximidade com esses autores – graças a Deus, ainda vivos – é muito grande, para que sejamos capazes de uma avaliação isenta do valor de sua obra, mas não tenho dúvida que eles estão entre os maiores poetas de nossa língua.
Em síntese, o Maranhão, se não fizesse parte da Federação Brasileira deixaria desfalcado o panteon de luminares de nossa cultura. Nossa terra se sobressaiu e ainda o faz como poucos territórios da Nação, no panorama da cultura e da literatura.
Para encerrar, pedi licença para ler dois pequenos poemas de dois amigos meus. Poemas que eu considero belos exemplos do mais alto espírito maranhense.

Tenho um encontro com Deus:
– José!
– Onde estão tuas mãos que eu enchi de estrelas?
– Estão aqui nesse balde de juçaras e sofrimentos.
&
“Somos poucos,
Cada vez menos…
Somos loucos,
Cada vez mais…”

Acredito que todos tenham gostado do bate papo no barzinho, da palestra, do debate e dos poemas! Eu gostei de tudo “… E do que ficou pra depois…”

2 comentários para "Livro e bate papo em Imperatriz."


  1. Anônimo

    Acho que você só escreve esses troços pra dizer que tem cultura. Vê se escreve algo mais aproveitável pra população.

  2. Carlos

    Joaquim, não liga para o idiota que escreveu esse comentário ai em baixo, é por causa de gente como ele que eu tenho cada vez mais certeza da necessidade da existência de pessoas como você, tanto na literatura quanto na política.

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