Uma estória da Romênia

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Quinhentos anos atrás, Valáquia e Moldávia ainda não unificadas com o nome de Romênia, antiga Dácia de Trajano, teve sua história sintetizada na história de uma de suas famílias mais nobres, uma historia muito interessante que precisa ser contada.
“Vladimir, terceiro filho de um ferreiro fazedor de sabres, tomou por casamento os destinos de seus cunhados e implantou a sua dinastia”. Vlad foi um governante severo, mas justo, combateu com sucesso os turcos ao sul e os russos ao norte, mantendo a unidade interna de seus domínios, fator indispensável para resistir aos adversários internos e externos.
Conta à lenda que Ruben, seu irmão caçula, o seu preferido, certa vez, espancou, num mercado, um estrangeiro, um desses franceses vendedores de queijos, só porque o queijo que este o vendera estaria fedido. Vlad o levou então a julgamento, onde o jovem príncipe foi absorvido. Após a proclamação da sentença, Vlad que se encontrava no recinto, levantou-se, chamou sua guarda pessoal com um simples gesto de mão, aprisionou tanto o irmão quanto o juiz que o absolvera, levou-os para a praça central da cidade, amarrou-os em um obelisco, e ele mesmo infligiu-lhes o castigo que achava que mereciam: no irmão deu doze chicotadas, o dobro da quantidade de socos e pontapés com que ele agrediu o queijeiro; no juiz, um antigo amigo e aliado, foram dezoito chicotadas, metade a mais que no réu absolvido injustamente.
Vlad governou quase vinte anos e morreu ainda jovem, tinha pouco mais de cinqüenta. A causa de sua morte é incerta, uns acreditam que foi em decorrência de ferimentos de batalha, outros a atribuem a uma forma incomum de envenenamento onde o veneno teria sido introduzido em sua corrente sanguínea através de suas feridas.
Com a morte de Vlad, o justo, seu filho mais velho Otto depois conhecido como o sábio, passou a governar. Pouco dado a batalhas, preferia delega-las a seus generais, quase todos estrangeiros, para que nenhum amigo ou parente se encantasse pelo poder e tentasse uma sublevação contra ele. Otto governou com uma tranqüilidade incomum para aquela época, naquela região tão conturbada do mundo. Incentivou as artes e tornou o estudo obrigatório a todas as crianças pelo menos dos sete aos doze anos. Construiu hospitais, estradas e firmou pactos comerciais com paises da Europa ocidental. Casou-se com Miguela, uma princesa Moldava, que durante anos só procriou filhas e que faleceu ao lhe presentear o seu único filho varão, o futuro príncipe Dácio.
Otto casou todas as suas filhas com seus sobrinhos mais inexpressivos, garantindo assim que ninguém cobiçaria o seu poder, o poder que ele preparava para o seu herdeiro.
Depois da morte de sua esposa Otto jamais se casou novamente e criou seu filho Dácio, sem uma presença feminina, de mãe. Quando Dácio completou treze anos, Otto chamou Serguei Kostakov, seu mais fiel general e mandou-lhe com ele para Paris onde o jovem príncipe deveria estudar para se tornar o governante, não mais de um principado, mas sim de um país unificado e independente, que Otto preparava para ele.
Quinze anos se passariam até o príncipe voltar a Valaquia e a Moldavia, terras de seu pai e de sua mãe. Mas Dácio era como chamaríamos no inicio do século passado, um Jonatas, um almofadinha. O próprio pai se assustou quando o viu pela primeira vez, mas o amor de pai é maior que tudo, logo, o velho Otto só tinha olhos para as qualidades do seu futuro “Hospodar” como os romenos chamavam o seu governante.
Otto fez então o que nenhum outro governante fez antes ou depois dele, abdicou em nome de seu filho e ficou olhando Dácio administrar uma embrionária Romênia, somatório de da Moldavia, da Valáquia e agora também da Transilvânia, libertada de seus vizinhos húngaros.
Dácio porem, para tomar suas decisões, ouvia mais ao seu mentor Serguei Kostakov que ao seu pai, o sábio e amado governante. Sem raízes, Dácio começou a descartar os amigos de seu pai, desprestigia-los, desqualifica-los, chegou até a persegui-los e exilá-los. Isso tudo causou grande dor e angustia ao velho Otto, que, no entanto não deixava nunca transparecer seu desagrado com as atitudes temerárias e irresponsáveis de seu filho.
Apenas alguns poucos anos se passaram desde que o “Hospodar” Otto, o sábio, abdicara em nome de seu filho Dácio, o tolo e o povo da Romênia já se rebelava contra seu novo governante. Mas o estopim da grande crise que viria ocorreu quando Kostakov, sob ordens diretas de Dácio prendeu todos os seus cunhados, sobrinhos e alguns conselheiros sob a acusação de alta traição. Otto, então com setenta anos apresentou-se nas masmorras para onde foram levados os prisioneiros, para também ser preso com eles, pois como os outros, estava descontente com os rumos que tomara sua nação. Quando o povo soube disso, invadiu o castelo, e só não chacinou o tolo Dácio e seu prepotente mentor estrangeiro, graças à intervenção de Otto, que reassumiu o comando, prendeu e depois exilou o filho, e colocou em seu lugar, um neto, filho de sua filha mais velha, Anna, como “Hospodar”. Foi esse neto, Carlos, depois conhecido como Carlos, o grande quem consolidou a unificação da Romênia.

3 comentários para "Uma estória da Romênia"


  1. Luis Carlos

    Meu caro deputado Joaquim Haickel,
    O senhor agora me deixou completamente confuso. Eu que tanto gosto de suas crônicas, depois dessa fiquei completamente perdido. Sinceramente não sei se o seu texto é realidade, parodia, ou mera ficção. Confesso que é tão bem trabalhado que mais parece um relato histórico, no máximo uma metáfora muito bem construída.
    De qualquer maneira o senhor como sempre está de parabéns. Sua cultura é invejável e sua capacidade de externá-la sem ser ou parecer arrogante é única.
    Belíssimo texto!

  2. Anônimo

    Ou é cultura ou é criatividade. O que for é de se tirar o chapéu. Parabéns!

  3. sheila cristina camargo

    Odoro tudo sobre a romênia, principalmente sobre Vlad, o empalador. Obrigado!

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