O assunto de hoje é amizade

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Certa vez, seguindo o conselho do mestre Shakespare, procurei não achar impossível, algo que só me parecia improvável.

Como já cantava o grande Milton Nascimento “amigo é coisa pra se guardar”. O difícil é fazer a diferença! De tudo. De quem é realmente amigo. De onde e de como guardar cada tipo de amizade que nos aparece.
Por favor, não encare a frase a seguir apenas como mais um clichê tolo. “Cada um de nós precisa desesperadamente de pelo menos um verdadeiro amigo”. Todo mundo sabe disso, não é?
Posso ser mal interpretado e até crucificado pelo que vou dizer agora, mas vou correr o risco: acredito que a amizade é um sentimento mais importante que o amor. O amor não é um sentimento puro, cristalino, sem misturas. É na verdade é um híbrido resultante da combinação de sentimentos unitários e indivisíveis. Se o amor fosse uma cor, não seria uma cor primária. Nem amarelo, nem azul, nem vermelho. O amor seria branco, cor que possui em si todas as outras cores, menos o preto que é a ausência de cor, a ausência de luz.
É muito fácil, senão provar, pelo menos defender essa tese. Sem amizade não há amor. Sem respeito não há amor. Sem compreensão não há amor. Sem lealdade não há amor. Sem companheirismo não há amor. Sem dedicação não há amor. Pelo menos no que diz respeito ao amor, suas partes são mais importantes que seu todo, pois sem uma única dessas partes, não há um todo. O que há é um pedaço, que até parece ser grande, mas que na verdade é pequenino e triste, porque esse amor se torna um sentimento equivocado e falso. É por isso que digo que a amizade é maior que o amor.
Existem vários tipos de amizades e de amigos. Existe aquele amigo que você conhece desde o colégio, na infância, e que depois nunca mais vê, mas que quando reencontra sente que há algo que os une. Esse algo ou é o companheirismo de uma época em que tudo na sua vida era ilusão e sonho, ou é a amizade que se consolidou em anos de convivência.
Existe aquele amigo que era como unha e carne conosco. Nossos companheiros de alcatéia, de jogos de basquete, e até dos embalos de sábado à noite. Amigos que a vida e suas circunstâncias trataram de afastar, mas se esse sentimento é verdadeiro, ele reverbera dentro de você quando reencontra o amigo.
Há os amigos de ocasião, os de precisão e os de opinião.
Há o amigo inesperado, que você jamais pensou que fosse tão amigo.
Há amigos que ligam toda semana apenas para almoçar ou para ir ao cinema. Com quem não aprofunda muito a amizade, mas sabe que há respeito, vontade de conviver e camaradagem.
Há o amigo que lhe dá o filho para batizar, não porque você é rico ou poderoso, mas porque acredita realmente que você possa vir a ser uma referência para aquela criança, para aquela pessoa.
Há um tipo de amigo que te ajuda a ganhar dinheiro, mas que, além disso, do dinheiro que ganham juntos, você sente que há uma coisa mais forte que os une. Uma coisa mais forte que o vil metal.
Há também um tipo de amigo muito estimado, por quem você daria seu braço direito, aquele amigo que não mediria esforços para vê-lo bem e feliz. É esse que importa. Por isso, muito cuidado para não ser injusto nem ingrato com os amigos que realmente importam.
Há amigos incondicionais como seus pais e seus irmãos, de quem você pode até discordar e divergir, com quem você pode até brigar, mas aos quais sempre que você recorrer, estarão do seu lado, para o que der e vier.
Chego à conclusão que eu sou um sujeito de muita sorte, pois tenho grandes e bons amigos. De pessoas pobres, simples e humildes até gente rica, sofisticada e poderosa. Mas eu não faço distinção de minhas amizades segundo esse critério. O critério em que me baseio para aferir uma amizade é o critério da reciprocidade. Sei que esse não é o melhor critério, mas é o meu, é o que aprendi a usar.
Ando meio ressabiado com certos tipos de amigos que tenho visto por aí. Há aquele a quem você sempre se dedicou, foi companheiro e defensor e lhe troca por outro, temporariamente mais bem colocado que você. Existe um que imaginamos ser amigo mesmo, e por um desentendimento besta, lhe atinge no lado pessoal. Ou então aquele outro que lhe era tão caro, em quem depositava tanta confia, a quem tanto se dedicava, quando você liga para ele buscando conforto, diz não poder lhe atender naquele momento, pois está assistindo sua telenovela favorita. Por fim, há aquele que ama canjica e lhe troca por um bom prato dela. Você se quiser, que espere essa canjica esfriar.
Amigo é realmente coisa pra se guardar do lado esquerdo do peito e nos dois hemisféricos do cérebro. Amigo de verdade.
Sabe o que deveria se fazer com certos tipos de amigos? Descartá-los como se faz com rei em jogo de burro ou ralá-los junto com o milho para fazer uma gostosa canjica. E eu odeio canjica.

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Notícias da estrada 2.

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Semana passada, comecei a listar algumas anotações que tenho feito enquanto viajo em campanha por esse Maranhão afora, nessa que se não é a mais esquisita é a mais curiosa de todas as campanhas políticas de que já participei e da que já tive noticia. Como a lista não era pequena, resolvi dividir em duas partes para que pudesse ser publicada como se fosse crônica.
Espero que você tenha gostado da parte um, no domingo passado. Ai vai a segunda parte dessas minhas notícias da estrada.
7- Outro dia, em São Domingos, tive a oportunidade de assistir a propaganda eleitoral gratuita na televisão, graças ao advento da Mirante Sat. Uma coisa chamou muito minha atenção: Alguns candidatos não apenas pedem os votos dos telespectadores, eles chegam mesmo a implorar. Só faltam se ajoelhar no vídeo. Foi ai que a minha propaganda apareceu na telinha da TV. Falei durante quase 30 segundos e nem pedi votos. Se depender da propaganda eleitoral na televisão para que alguém escolha em quem votar pra deputado… Meu amigo!!!… Vai ter muito voto nulo e branco. Nessa campanha, em termo de propaganda eleitoral, só meu amigo Bira do Pindaré tem conseguido se sobressair. Em minha opinião, ele foi o único que ganhou pontos na televisão e no rádio.
8- Dia desses, mamãe me levou para participar de uma palestra, a convite do padre Antonio, ali do seminário, no cantinho do céu, na Cohama. A principio fiquei preocupado, podia pôr tudo a perder. É que sou, ao meu modo, muito franco e direto, às vezes as pessoas não estão preparadas para isso. Mamãe deve ter ficado preocupada também. Pensou que pudesse dar algumas das minhas opiniões ecumênicas demais… Sabe como é… Mas no final deu tudo certo. Aquela reunião serviu para provar pra mim mesmo, definitivamente, que ser verdadeiro, consciente e coerente nos torna respeitáveis e até aceitáveis, inclusive para aqueles que não pensam da mesma forma que nós.
9- Estou nesse troço de política desde que me entendo por gente. Mais precisamente desde 1978 quando comecei a assessorar meu pai, então deputado federal. Em 82 concorri pela primeira vez a um cargo eletivo e de lá pra cá tenho aprendido muito sobre a vida, com a lida política. Talvez não seja a maior, mas com toda certeza, essa é uma das grandes lições que tive em termos de eleição. Falo a respeito da força que se tem de fazer numa reeleição. Quando você se candidata pela primeira vez, tudo é novidade, tudo é simples e fácil. Depois de quatro anos, mesmo se você tiver feito o seu trabalho direitinho, seu dever de casa, vai descobrir que se reeleger é fo…go!!! Tarefa Hercúlea. Não por que você foi um mau parlamentar, um político omisso, uma figura apagada. Não por isso, ou melhor, menos por isso, mas principalmente porque na reeleição você concorre é consigo mesmo, não é com outros candidatos. Você concorre é com as expectativas que você causou, com a idéia que as pessoas faziam de você antes e a idéia que tem de você agora.
Pra se reeleger com relativa tranqüilidade algumas coisas importantes devem ser observadas: 1 – Escolher uma legenda que alem de se identificar com suas metas possa facilitar e não dificultar sua reeleição. 2 – Se manter coerente. Fazer com que o que você tem na cabeça coincida com o que você tem nas mãos. Com que as suas intenções coincidam com suas ações. Alinhar, balancear e equalizar seu discurso e sua pratica política. 3 – Por fim e mais importante de tudo, não pensar, de modo algum, que os amigos, os correligionários, o povo de modo geral sejam bestas. Besta é quem pensa que o povo é besta. Portanto não andem por ai mentindo.
Agora, depois de reler o que acabei de escrever acima, descubro que se isso tudo for realmente verdade, reeleger-se é bem mais fácil do que eu mesmo imagino, e não é…
10-Tenho recebido muitos telefonemas de amigos, de jornalistas e até mesmo de vários candidatos, a respeito do levantamento prévio que sempre faço sobre o resultado das eleições. Isso foi algo que aprendi vendo e ouvindo alguns mestres dessa arte, e olha, eu tive bons professores! Alem de meu pai que era um crânio na aritmética, tive aulas grátis com um dos mestres da lógica, da sátira e da ironia, o velho professor Pedro Neiva de Santana. Colei grau, com louvor, no curso que me foi ministrado durante os anos em que Clodomir Milet foi amigo de meu pai. Aproveitei todas as oportunidades que tive de conversar e apreender os ensinamentos de Tácito Caldas. Convivi desde menino com Ivar Saldanha, Baima Serra, Raimundo Leal, Bento Neves, Celso Coutinho, Cid Carvalho… Depois tive a impagável oportunidade de ser amigo e colega de todos estes, com quem sempre procurei aprender. Por fim fiz minha pós-graduação com Edison Lobão e Zé Sarney. Mas nos últimos anos, tenho dividido com meu amigo Fernando, as melhores informações sobre o quadro político-eleitoral de nosso Estado. Sem a menor sombra de duvida é ele quem, hoje, mais conhece a nossa realidade eleitoral e política.
As contas são simples. É resultado de algum conhecimento da geopolítica municipal maranhense, somado a um conjunto de informações bastante confiáveis, aliado a um profundo senso de critica e auto-critica, levando-se muito em consideração o desenrolar da campanha, e os fatos novos que constantemente se apresentam.
Esse levantamento que fazemos não é uma profecia ou um vaticínio, é apenas um estudo do momento eleitoral, mas tem se mostrado correto em pelo menos em 85% dos casos.
Como dizia um dos mestres com quem aprendi um pouco do que sei de política, “é só uma questão de tempo, quem viver, verá!”

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Notícias da estrada 1.

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Há semanas tento escrever uma crônica sobre as peripécias da campanha política, mas a única coisa que consegui até agora foi fazer algumas anotações. São observações e reflexões sobre a vida de um candidato e curiosidades sobre a estrada. Quando digo estrada, falo num sentido mais amplo. Estrada como metáfora de vida, de suas circunstancias e de suas conseqüências.
Ai vão algumas destas anotações. Espero que assim, listadas, virem uma crônica boa de se ler e suficientemente boa pra se refletir um pouco sobre nosso atual momento político.
1- Ao sair de um torneio de futsal, depois de jogar num time que foi vice-campeão, fui chamado por um rapaz que me pediu que lhe presenteasse um par de tênis. O meu, aquele em que eu estava calçado. Fiquei pasmo, mas como tenho resposta pra quase tudo, imaginei faze-lo desistir de seu intento, dizendo que meu tênis não caberia em seus pés. Perguntei-lhe qual sua pontuação e ele disse calçar 41. Então disse a ele que como calço 45, meus tênis não iriam lhe servir. Com isso pensei que ele se desse por satisfeito, mas qual nada… “Não tem problema, me dê ele assim mesmo!” Só me restou então sorrir, entrar no carro e ir embora. Fui, mas me sentindo angustiado e constrangido. Era como se o meu valor, o valor do meu trabalho, se restringisse ao preço de um surrado par de tênis.
2- Nos últimos anos a prática da traição, que é comum na política, tornou-se ingrediente indispensável em nosso cardápio. Foi um tal de “filho” apunhalar “pai”, insultar “irmã”, rejeitar “irmão”, cuspir nos pratos em que comeu. A epidemia se alastrou de tal forma que chegou ao cumulo de ter esposa que desconheceu todos os compromissos para com o esposo. E olha que neste caso não estou falando simplesmente de fidelidade, mas de lealdade. E as coisas foram além. Políticos até então considerados sérios resolveram abandonar aqueles que sempre estiveram do seu lado, muitos em troca de benefícios para seus municípios, outros simplesmente a troco de ganhos pessoais. Foi um verdadeiro festival de punhaladas. Umas maiores, outras menores. Umas de canivete, outras de facão. Uma com aviso prévio, outras na mais completa surdina. Teve de tudo, pra todos os gostos. Teve até aquele prefeito que por muitos anos foi funcionário do gabinete de um determinado deputado, o mesmo deputado que sempre esteve ao seu ao lado, ao lado de sua família e de seus correligionários em todas as horas, e ainda assim o tal prefeito abandonou seu deputado da forma mais cruel que possa existir, para alguém que mais que um cabo eleitoral, era um verdadeiro amigo, quase um irmão.
Mas como diz o ditado, o que é do homem o bicho não come, a grande maioria dos que foram, já voltaram. Os que não chegaram, estão a caminho.
3- A legislação eleitoral vigente trás boas inovações como o fim do showmicio, mas em compensação proíbe aquela, que em minha opinião, é a melhor das propagandas. As camisetas. Com ela o cidadão veste a camisa e mostra a foto do candidato, seu nome e o seu numero. Em que isso pode configurar abuso de poder econômico? Já que carros de som, panfletagem, pichação de muros, cartazes de todos os tamanhos, tudo isso também configura gasto! De verdade!? Será que alguém vota num candidato apenas por ter ganhado uma camiseta!? Se um candidato tem mais recurso financeiro que outro terá mais carros de som, por exemplo. O mesmo aconteceria com as camisetas. A única justificativa é o fato de que a camiseta passa a ser propriedade do usuário. Mas se analisarmos do ponto de vista da propaganda, este é um pagamento bem menor que o efetuado àquelas pessoas que participam de bandeiraços, panfletagem ou carreatas! Falta conhecimento pratico aos teóricos “legisladores eleitorais” de nosso país.
4- A Academia Imperatrizense de Letras é com toda certeza, proporcionalmente, a instituição que mais contribuiu com candidatos nesta eleição. A Academia tem quarenta membros e seu presidente, o pastor Luis Porto, é candidato a vice-governador. Dr. Fiquene é candidato a suplente de senador. São candidatos a deputado estadual, alem deste humilde cronista que vos fala, os acadêmicos Adalberto Franklin, Domingos César e Edmilson Sanches. Para deputado federal, temos um pai de candidato, caso de Sálvio Dino. São 15% ou seja, seis de seus membros na disputa por uma das 64 vagas em jogo. Esta é mais uma prova de que o Estado do Maranhão do Sul é apenas uma questão de tempo, e quando vier, estará bem alicerçado.
5- O deputado Nagib Haickel, que entre outras coisas era meu pai, morreu faz treze anos e mesmo assim, aonde chego, todo mundo ainda se lembra dele. Dos bom-bons que ele distribuía de dentro de seu fusquinha vermelho, passando pelo jogo de futebol que irradiava nos palanques e terminando nas historinhas engraçadas que costumava contar nos comícios. Ninguém esqueceu dele nem dos milhares de empregos que ele distribuiu durante os quase vinte e oito anos em que foi deputado. Em Guimarães um grupo de barrigudos jogadores de futebol de meia idade se orgulha muito de seu atual preparo físico, alguns chegam a dizer que sua atual boa forma deve-se ao fato de que quando criança, saírem em desabalada carreira atrás dos bom-bons que Nagibão jogava. Em Matinha, uma senhora se lembra com orgulho de que, com o emprego de professora que meu pai lhe conseguiu em 1972, no governo Pedro Neiva, ela pôde criar e educar os seis filhos, “quatro dos quais são hoje doutores”.
6- Fomos eu e o ex-prefeito de Primeira Cruz, João Neto, que não é apenas um correligionário, mas um amigo, numa festa na cidade de Humberto de Campos. Lá fomos recepcionados por Dona Neide Sabóia, sua família e seus amigos. Quando entramos na praça, do show havia uma multidão de pessoas. Eu fui passando e notei que uma moça na casa dos vinte quase trinta, não parava de me olhar. Fui cumprimentando a todos e quando cheguei nela, ela sorriu e disse: “Já conheço o senhor. O senhor escreve aos domingos no Jornal O Estado do Maranhão. Não perco nenhuma de suas crônicas. Tratam sempre dos assuntos do cotidiano das pessoas. Sou sua fã.” Naquela hora ganhei o dia. Na verdade ganhei a semana, o mês, o ano. É muito bom quando você consegue atingir seus objetivos, e acredito que através da literatura também possamos mudar a nossa cidade, o nosso estado, o nosso país, o mundo.

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Meu pai, Alexandre Dumas.

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Faz algum tempo, cheguei à conclusão de que foi Alexandre Dumas, com seus personagens inesquecíveis, quem mais marcou a história da minha infância, a juventude de meu pai, e a nossa convivência em família e imagino que assim como a nossa, ele povoou e preencheu a vida de muitos outros. Por essa razão, vinha pensando em prestar este merecido tributo ao escritor francês, criador daquela velha história que mistura injustiça, cobiça, e usurpação e que leva da alegria do amor à tristeza da prisão, um certo “Conde de Monte Cristo”, ou aquela outra história, que baseada em fatos verídicos, traz até os nossos dias, os amores e desventuras de uma certa “Rainha Margot” ou ainda aquela outra história, protagonizada por “Três Mosqueteiros”, que na verdade eram quatro.
Vou me fixar naqueles quatro destemidos espadachins que sempre me vêm à memória, restituindo a mim mesmo, o garoto que fui. Por vezes, me pego pensando que sou um deles, um dos Mosqueteiros do rei, ou todos eles, de maneira conjunta, esparsa ou simultaneamente.
Com a releitura de “Os Três Mosqueteiros” de Dumas, sinto a emoção das histórias de capa e espada com a descrição de vibrantes exibições de esgrima combinadas a romances de nobres apaixonados. Para mim, esse clássico da literatura mundial é muito mais do que a história em que é contada a trajetória venturosa do jovem D`Artagnan, que parte de sua terra, a Gasconha, rumo a Paris, para juntar-se aos mosqueteiros do Rei Luís XIII.
Na trama, D`Artagnan torna-se amigo da trinca inseparável formada por Athos, Porthos e Aramis, exímios espadachins e grandes apreciadores dos prazeres da vida. Juntos, os quatro partem para uma difícil missão: tentar reaver o colar e os brincos de brilhantes que o rei deu a rainha, Ana da Áustria, e que esta, deu de presente a seu amante, o duque de Buckingham. Por sugestão do cardeal de Richelieu, que trama desmascarar a infidelidade da rainha, e com isso enfraquecer o rei e conseqüentemente consolidar a sua influencia na corte, Luís XIII é levado a organizar um grande baile onde as jóias devem ser exibidas. Numa corrida contra o tempo e lutando contra a espiã do cardeal, Milady (que no cinema, certa vez, foi interpretada pela maravilhosa Lana Turner), os mosqueteiros partem para tentar recuperar as jóias antes que ocorra uma tragédia.
Nessa história, cada um revela suas idiossincrasias. Athos é arrogante, autoritário, passional e questionador; Porthos é truculento e grosseiro, mas valoroso e amigo; Aramis é suave, elegante e até bastante mulherengo, mas também é religioso e politizado; o ultimo, D`Artagnan, é jovem e inexperiente, porém audacioso e destemido.
Todos que me conhecem, hoje, de certa forma, conhecem também o meu pai. Pois bem, meu pai, não era um sujeito muito dado a literatura. Em verdade vos digo, ele era muito pouco dado a qualquer forma de arte. Porem, ele adorava ouvir histórias e estórias, não se importando se ficção ou realidade, pois no seu modo todo especial de encarar a vida e suas conseqüências, ele sabia que muito pouca diferença entre realidade e ficção havia, ou melhor, há, no presente, por que meu pai pode ter morrido, mas as suas idéias assim como as de Dumas não morreram jamais, estão sempre no tempo presente.
Meu pai, e muitos de sua geração, de certa forma, são meio que filhos de Dumas e Verne. Alguns conseguiam ir um pouco mais adiante e se contaminarem por Hugo e Balzac, enquanto outros alcançaram Flaubert e Molière.

Talvez alguns de vocês, que acham que conheciam meu pai, imaginem que ele fosse incapaz de ter atingido tal grau de cultura, e estão certos quanto a isso, porém o que realmente pouca gente sabe, é que raros são os homens que, com tão pouca cultura formal e clássica, conseguem intuitivamente saber o significado de palavras como “Vestal”, “Messalina” ou mesmo de “Tartufo”, coisa que muito “Doutor”, por aí, não vai saber. Os humildes ou curiosos vão correr ao dicionário e os hipócritas e presunçosos vão dizer que sabem. Mas meu pai sabia realmente, e só ele sabia como aprendera.
Meu velho pai não era um sujeito culto, mas era inteligente o suficiente para, sabendo disso, suprir essa falta de alguma forma, e a melhor forma que ele encontrou foi fazendo amigos, reais e leais, dando tudo de si por seus ideais, buscando sempre a felicidade, mas sempre a um preço possível de se pagar com um só tipo de moeda: dedicação, empenho, trabalho.
Foi meu pai, que sem querer, incutiu em mim essa personalidade, essa forma de encarar a vida, como se na verdade fosse um personagem de Dumas, um misto de Athos, Porthos, Aramis e D`Artagnan. Os quatro, em um: questionador, amigo, politizado e audacioso.
Relendo Dumas, lembro daquele poeta que dizia que ler é como respirar e que é a percepção do leitor, que faz o livro. Sempre busquei a intimidade com os livros, portanto, reconheço nesses, os melhores guias para a extraordinária aventura do pensamento.
Repensando Dumas, lembro de meu pai, aquele homem grande, forte, pouco culto, mas consciente e esperto o suficiente para ensinar ao seu filho, o significado verdadeiro daquela frase: “um por todos e todos por um”.

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Homero, Mallory, Brown, Mainardi.

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Os dias que tenho passado preso na cama (na rede para ser mais preciso, pois apesar de ter em meu quarto uma cama que mede quatro metros quarados, só durmo em rede) têm servido para me dedicar a algumas das coisas que mais gosto.
Estando proibido pela minha condição clinica de dedicar-me a outras que tanto aprecio, e por estar sofrendo de falta de apetite proveniente dos medicamentos que tenho tomado, os únicos prazeres que me restaram e dos quais não tenho me fartado são os prazeres da mente.
Tenho tido mais tempo para ler e pesquisar para o livro sobre cinema, filosofia e psicanálise que estou escrevendo (muitas vezes esse trabalho parece mais uma briga de eu comigo mesmo).
Mas a coisa que mais tenho feito nestes dias é ver televisão. E que diferença da televisão de agora para aquela do tempo em que tive sarampo e tendo que ficar em repouso absoluto meu pai me deu o meu primeiro televisor. Lembro-me como se fosse hoje. Era um aparelho Telefunkem e a transmissão ainda era em preto e branco.
Naquela época só tínhamos a TV Difusora, canal 4 quatro (a TVE, canal 2 só exibia aulas). Hoje são mais de 200 canais de televisão, com uma programação variada e eclética.
Tem de tudo para todo gosto. São canais infantis, canais direcionados as donas de casa, aos desportistas, aos religiosos. Existem ate os canais que exibem os trabalhos dos três poderes da republica. E como não poderia deixar de ser há os canais dedicados aos cinéfilos de todas as espécies e aos loucos por informação, cultura e entretenimento.
Eu sou um destes que ama cinema independentemente do filme, do gênero, da nacionalidade… mas também sou fanático por documentários, biografias, reportagens e entrevistas.
Estes dias apesar de estarem sendo dias de dor, de ansiedade e de impaciência, pelo menos tem sido dias de distração. Pena que a grande maioria da programação eu já tenha visto. Mas não faz mal, isso reaviva o conhecimento e muitas das vezes nos dá uma outra percepção que não tivemos anteriormente.
Gostaria de comentar aqui alguns programas que vi recentemente.
O primeiro é sobre a guerra de Tróia, a Ilíada de Homero. O History Chanel está exibindo um documentário que enfoca essa história, meio mitológica meio real, de mais de três mil anos, e que até hoje ninguém sabe dizer ao certo se ela é, pelo menos em parte, fato ou mito. Uma história que só foi documentada 500 anos depois de supostamente ter acontecido, pois ate então não existia uma escrita grega que praticamente foi inventada, adaptando-se o alfabeto fenício e acrescentando-se as vogais, para registrar tais feitos. O fato mais incrível é que essa historia conseguiu manter-se em uma única linha de narrativa e de lógica, tendo sido muito pouco modificada durante todo o tempo em que passou sendo cantada e contada oralmente até ser ditada por Homero.
Outro documentário, no canal Mundo, conta uma historia muito mais recente, dois mil anos mais nova. A história do Rei Artur e da Távola Redonda que não se manteve tão fiel. Tem pelo menos uma dúzia de versões diferentes e mais de cem pequenos acréscimos ou decréscimos, dependendo de seu narrador, dentre os quais se destaca sir Thomas Mallory.
Mas duas coisas me chocaram nesse meu mergulho quase que forçado pelos canais de TV por assinatura. A primeira é a reportagem investigativa feita pelo Discovery Chanel sobre o tal Código da Vinci, livro de Dan Brown, o qual fiz questão de não ler, pois não gosto que alguém imagine que possa me enganar. Eu até posso me enganar, sabendo ou sem saber, mas não admito que um espertinho qualquer tente me enrolar com um papo velho e furado. Esse documentário expõe as vísceras, mesmo que milionárias, desse novo tipo de charlatão cultural.
A outra coisa que me causou indignação nesses dias de convalescença foi a participação de um cidadão pernóstico, chamado Diogo Mainardi no programa Manhatan Concection do ultimo domingo.
O arrogante e prepotente articulista conseguiu proferir opiniões deploráveis em não mais de dez minutos de aparição no programa. A primeira foi que, para o mundo, o projeto de Lula estaria acabado porque jamais ele poderia se sentar a uma mesa com lideres mundiais sem que estes não cochichassem sobre o dinheiro pago pelo PT a Coteminas (fabrica têxtil de propriedade de vice-presidente, José Alencar). O imbecil se esquece que à mesa que Lula sentasse ele deveria estar na companhia de Clinton, o da Mônica Lewinsky ou do Bush da guerra suja do Iraque e da Eron. Com o comprovadamente corrupto primeiro ministro Berlusconi, da Itália, com o simpático e carismático ditador cubano Fidel Castro, ou em outros tempos, até mesmo com o quase perfeito Nelson Mandela, que já foi casado com a dona Wine, aquela que mandou assassinar um militante.
Outro absurdo do Mainardi foi achar maravilhoso que o teatro da opera de Veneza, onde ele teve o privilegio de morar, tenha pegado fogo para poupá-lo de ver espetáculos enfadonhos. Além de dizer alguns impropérios contra a figura de John Lenon e música dos Beatles.
Moral da historia: Ficar doente nunca é bom, mesmo que se possa aproveitar para descansar, estudar, pesquisar e escrever.
Em meio a isso tudo a gente pode acabar encontrando um cidadão culto, bem educado, inteligente, mas que se mostra um chato, imbecil, arrogante e prepotente. É melhor estar bom, trabalhando e não perdendo tempo com esse tipo de figura.

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Guarnicê.

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No domingo 14 de agosto de 1983, encartado no jornal O Estado do Maranhão, circulou pela primeira vez, o Suplemento literário Portando, na ultima quinta-feira, completaram-se 20 anos, que aquela idéia, tornou-se realidade. Uma idéia que não era apenas nossa, do advogado e deputado Joaquim Haickel, do jornalista e diretor da Fm Mirante Celso Borges, do jornalista Roberto Kenard, do designer gráfico Paulo Coelho, do arquiteto, cartunista e professor Érico Junqueira Ayres, da relações publicas e apresentadora de Tv Dulce Brito, do economista e músico Ronaldo Braga e do funcionário público e cartunista Cordeiro Filho, uma idéia que pertencia a uma geração inteira, uma idéia que era também de outras pessoas daqui mesmo, como Ivan Sarney, que era até mesmo de pessoas de outros estados, como Franco Jasiello, um italiano comedor de jerimum, radicado em Natal. E essa idéia tinha uma forma, era um suplemento literário, um jornalsinho, uma revista, como quer que queiram chamar. Essa idéia tinha um nome: Chamava-se Essa idéia tinha um motivo: nós estávamos cansados de não termos um espaço onde expor, onde escancarar nossos corações e nossas mentes, onde dizer o que pensávamos e sentíamos.
Era o tempo da abertura política, os primórdios da redemocratização de nosso país e principalmente, era o momento de nós tentarmos sair da casca, do ovo.
Não vou querer contar-lhes aqui o que, o como, o onde, o porque e o quando tudo isso aconteceu. Isso será um trabalho para o livro que nós do e a Clara Comunicação, do jornalista Felix Alberto, estamos preparando para ser lançado, se Deus quiser, no próximo mês, quando das festividades do aniversario de 391 anos da cidade de São Luís, mas vou dar-lhes algumas pistas:
Imaginem o que pode resultar da junção de meia dúzia de jovens, no inicio dos explosivos e decisivos anos da década de 80, tendo quase todos eles nascido no ultimo ano da década de 50 ou no primeiro ano da década de 60?
Imaginem o que pode sair das cabeças de meia dúzia de jovens, que tendo estudado em bons colégios, recebido uma boa orientação educacional, cultural e social, se achavam preparados para dizer a cidade e ao mundo o que pensavam através de suas poesias, crônicas, criticas e desenhos, compilados e editados por eles semanalmente e levado ao público encartado no maior e mais importante jornal de nossa capital?
Imaginem o que aqueles jovens, foram capazes de fazer naqueles tempos. E aqui, jovem vem impregnado de todos os simbolismos e adjetivos que a palavra possa transmitir – energéticos, incansáveis, temerários, destemidos, ácidos, sarcásticos, puros, tolos, irresistíveis, desbravadores, irresponsáveis… e tempo, aqui, aparece para enfatizar essa variável permanente em nossas vidas.

Sabedor de que esse mundo mudou mais nos últimos vinte anos que nos 200 antes deles, me parece hoje, que o que fizemos foi muito pouco. Se voltássemos no tempo, na memória, iríamos ver e comprovar o que fizemos. E em verdade vos digo, fizemos muito. Muito mais do que poderíamos ou estávamos preparados para fazer.
Falando assim, hoje, ate parece que foi muito fácil termos editado vinte suplementos semanais em 1983, vinte e quatro revistas mensais entre 1984 e 1985, uma edição especial(Devesenquandal) em 1986, uma antologia de poemas em 1984 e uma antologia de poemas eróticos em 1985, além de meia dúzia, outros livros de poemas, contos, ensaios e cartuns.
Aqui vale ressaltar a ajuda e o incentivo indispensáveis de alguns poucos patrocinadores que estão registrados lá nas nossas páginas, do meu velho pai que nos cedeu o espaço e o dinheiro para montarmos a nossa gráfica, de Francisco Camelo, então dirigente do SIOGE, órgão de saudosa e importante memória e principalmente de Fernando Sarney, então presidente da CEMAR, empresa patrocinadora de tudo que aconteceu nas artes e na cultura (e ate nos esportes) do Maranhão de 1983 até 1995. Fernando era, e continua sendo, o guru da cultura maranhense – e do esporte também -, agora através do jornal O Estado, da Tv Mirante e das rádios espalhadas por todo o nosso Estado.
Por falar em Fernando e em Mirante é importante que se diga que foi com a Mirante Fm que tudo começou. Foi lá que começamos tudo, fazendo o programa Em Tempo de com essa mesma turma, onde apoiávamos e incentivávamos a música, a poesia e a cultura maranhense, foi de lá que surgiu a Revista
Vinte anos se passaram e agora vejo que o que fizemos pode ter sido muito pouco, mas tenho certeza que foi o máximo, foi tudo que poderíamos ter feito.
O é para mim, uma das coisas das quais eu mais me orgulho de ter ajudado a idealizar e será para sempre, uma das coisas das quais eu mais me orgulharei ter construído.
Lembro agora da ultima pagina da ultima edição de nossa revista, o Devesenquandal, onde num poema curtíssimo Celso sintetizava os nossos sentimentos: “somos poucos, cada vez menos. Somos loucos, cada vez mais.” O que naquela época e ainda hoje nos é inconcebível e inaceitável é que o espírito desse poema tivesse mudado e nós passássemos a ser moucos cada vez mais e loucos cada vez menos. Isso não admitimos nem aceitaremos jamais.

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Grosseria versus deboche.

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Em homenagem ao saudoso Emanuel da Cunha Santos Aroso, homem que, ao longo de toda a vida, jamais foi grosseiro.

Na manhã da ultima terça-feira, 16, em entrevista ao radialista Roberto Fernandes, na radio Mirante AM, comentei a atual crise que assola o país e que tem servido para desmistificar tanto o partido dos trabalhadores quanto alguns de seus membros, até então, tidos como personalidades políticas diferentes de todas as outras. Disse naquela ocasião que caía o ultimo véu da ultima vestal. Que as ações da direção nacional do PT e as atitudes de pessoas ligadas ao partido, comprovam o que já havia dito antes: tanto os dirigentes do partido dos trabalhadores quanto o próprio partido são feitos do mesmo material dos outros. Na pratica, pouca diferença existe entre o PT e o PL, o PP, o PFL, o PSDB, ou o PMDB… Apesar dessa constatação afirmei naquela ocasião e reafirmo hoje, que não sou favorável a uma possível proposta de impechemam do presidente Lula. Isso causaria danos irreparáveis a nossa estabilidade institucional, social, e principalmente econômica, logo agora nesse momento em que a nossa economia começa a se organizar e se estabilizar.
Saí do estúdio da radio e fui para sessão da Assembléia Legislativa, onde abordaria o mesmo assunto no grande expediente. Ocorre que naquele dia não foi possível, pois o Deputado Mauro Bezerra ocuparia o horário.
Então, na quarta-feira, 17, resolvi analisar o assunto no plenário do legislativo estadual, no que fui bastante aparteado, principalmente pelos meus colegas de oposição(?), ou melhor, de esquerda.
Em certa altura de meu discurso, ilustre membro do nosso legislativo me pediu um aparte e de forma não muito elegante, diz que não iria admitir que nenhum hipócrita jogasse o PT na vala comum. Que não admitiria que pessoas como eu, denegrisse a imagem do PT, partido sério, de pessoas éticas e de parcela importante e considerável do povo brasileiro.
E é aqui, nesse ponto, que quero focar meu assunto deste domingo. Recebi vários telefonemas e muitas pessoas me abordaram naquela mesma manhã dizendo que fui muito brando e delicado em minha resposta ao tal aparte. Que pelas palavras usadas e pela forma como fui tratado, deveria ter sido mais duro em minha resposta. Que deveria ter sido tão ríspido e tão pouco elegante como foram comigo, no mínimo para deixar muito bem esclarecido quem eram realmente os hipócritas. Para isso bastaria mandar buscar um dicionário e ler o significado da palavra hipócrita: Do grego hypokrités, ator. Adjetivo. Diz-se daquele que age com hipocrisia. Demonstração de uma virtude ou de um sentimento louvável que realmente não se possui. Impostura, fingimento, simulação, falsidade. Bastaria isso para descaracterizar e rebater as palavras tão mal colocadas. Lendo o significado da palavra hipócrita talvez as pessoas se dessem conta de que aquele adjetivo não poderia ser usado contra mim. Contra mim não, mas contra a direção nacional do PT, contra alguns membros desse partido, envolvidos de alguma forma em todo esse mar de lama.

Ao contrario disso não respondi como tanta gente gostaria que tivesse feito, de forma ríspida, grosseira e deselegante para com uma pessoa a quem tenho admiração e respeito. Não fui contra ela com a força que tantas pessoas acharam que deveria ter ido. A ela, só respondi que não era eu quem estava jogando o PT na vala comum, mas sim os dirigentes e os membros do próprio PT envolvidos nesse lamentável escândalo. Que não era eu que estava denegrindo a imagem do maior partido de nosso país, mas sim, que eram as figuras mais exponenciais do partido dos trabalhadores que o faziam. E mais, que em recente entrevista a um jornal local, perguntado sobre o fato do suposto envio de dinheiro para as eleições municipais do ano passado por parte da direção nacional do PT, para membros do partido no Maranhão, eu reafirmei da tribuna o que já havia dito aos jornalistas, que não acreditava que algum membro do partido dos trabalhadores do Maranhão tivesse recebido dinheiro proveniente de qualquer esquema de corrupção, principalmente os deputados estaduais do partido em nosso Estado.
Vejam só como são as coisas! Eu, que naquela manhã, mesmo com o falecimento de um querido amigo, estava ali apenas para levar ao plenário da ALM uma discussão sobre o momento delicado pelo qual passamos, e fazer uma pequena analise dos caminhos possíveis para uma reforma política e principalmente eleitoral para o nosso país, na opinião de muitas pessoas, algumas bastante importantes e experientes, deveria era ter respondido ao tal aparte de maneira mais dura e contundente, grosseira mesmo.
No entanto procuro me comportar de maneira diferente. De maneira que tanto minha mãe quanto minha filha possam se orgulhar de mim. Procuro não levar para o lado pessoal nem a defesa de minhas idéias. Não coloco as minhas opiniões e os meus posicionamentos para competir, com a grosseria ou com o destempero. Ao contrario eu as coloco, na hora que quiserem e onde quiserem, para se confrontar com outras opiniões e posicionamentos, desde que no ringue só entrem as idéias. Posso até aceitar a entrada da dialética e do pragmatismo, mas jamais da hipocrisia. No entanto me reservo o direito de, se necessário, lançar mão de algum deboche.
Grosseria é instrumento dos despreparados. Sarcasmo, dos mal humorados. Ironia dos estressados. Mas o deboche, este é o instrumento daqueles que podem se dar ao luxo de serem leves e sutis em uma simples brincadeira ou em uma mera gozação, ou mesmo ainda em se tratando de uma coisa muito séria.

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Livro e bate papo em Imperatriz.

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Fui convidado pelos meus colegas da Academia Imperatrizense de Letras para fazer uma palestra e participar de um debate sobre literatura maranhense durante a realização da quarta semana do livro promovida por aquela instituição.
Honrado, mas também temeroso de não estar à altura nem do tema nem dos contendores, resolvi procurar meu amigo e conselheiro Sebastião Moreira Duarte, para que ele me ajudasse a descobrir um jeito para que em dez minutos pudesse falar sobre literatura maranhense, sem ser muito econômico nem perdulário.
“Doutor Joaquim! Por que o senhor não imagina um Deus maligno que apartasse o Maranhão do Brasil como queriam os fracasses em 1612!?”.
E por ai fui. Imaginei se a França Equinocial tivesse dado certo. A conseqüência disso, para efeito dessa tese literária, seria um incalculável prejuízo para o Brasil e o empobrecimento da cultura e das letras nacionais auriverde.
Em Imperatriz, na parte da manhã recebemos na AIL, grupos de estudantes de diversas escolas. Leram-se poemas e apresentaram-se coreografias.
Em seguida pedi audiência a dois deputados recentemente eleitos. Valdinar Barros, com quem foi praticamente impossível conversar na Praça da Cultura, porque a todo instante parava alguém para cumprimentá-lo. No almoço me avistei com o outro, João Batista, detentor da maior votação de um candidato a deputado estadual em uma única cidade, mais de 33.000 votos em Imperatriz.
No final da tarde pude relaxar e tomar um delicioso vinho do porto, degustar deliciosos pasteis de bacalhau e carne seca no bar do restaurante Ritz, em excelente companhia, batendo um papo inteligente e agradável e ouvindo boa musica.
Na hora marcada, lá estava eu pronto pra discorrer sobre a suposta independência literária do Maranhão. Fui logo falando que o Brasil perderia de cara o padre Antônio Vieira. Lembrei seus sermões aqui pronunciados, em especial aquele onde teimava em pregar aos peixes a verdade que os homens se negavam a ouvir.
Disse-lhes que o Brasil perderia Odorico Mendes, tradutor da obra de Virgílio e de Homero. Situado no mesmo patamar dos grandes tradutores dos clássicos em outras literaturas, como Alexander Pope e Aníbal Caro.
Lembrei Sotero dos Reis, mestre da Gramática e da Filologia. De João Lisboa, mestre do jornalismo e da historiografia.
Disse que Gonçalves Dias não poderia ser simplesmente visto como um fenômeno da natureza, mas como o ponto culminante da produção literária de toda uma gloriosa geração. O primeiro e maior poeta romântico de temática propriamente brasileira.
Falei do visionário Sousândrade, de sua incomum capacidade de inovação. Fosse ele um autor de língua inglesa, sua obra já teria sido virada e revirada em muitos outros idiomas.
E Aloísio Azevedo, pioneiro do realismo literário brasileiro e seu melhor realizador. O que seria o teatro brasileiro sem seu irmão Artur e o parnasianismo sem Raimundo Correia, componente indispensável da tríade sagrada do parnaso.
Não esqueci de citar uma luta travada em 1924 no recinto da Academia Brasileira de Letras, protagonizada por dois maranhenses, cada um em seu pólo de radicalidade: “Eu sou o último dos helenos” – brada Coelho Neto, advogando pelos valores perenes da expressão verbal. “Se a Academia não se renova, morra a Academia” – responde-lhe Graça Aranha, levado nos braços pela juventude esfuziante.
Indispensável também seria falar de Humberto de Campos como um dos representantes maranhenses de uma época literária impar. Humberto era lido e respeitado por multidões. Um verdadeiro ídolo.
O que dizer de Josué Montello, um dos que melhor trabalhou a alfaiataria romanesca, a arte de costurar e estruturar a narrativa.
Odylo, poeta lírico de finíssimas qualidades, que se escondeu em seu jornalismo e em sua modéstia. Ferreira Gullar, de duas obras, que bastam para fazer-lhe imortal: a Luta corporal, divisor de águas em nossa história literária e seu translúcido Poema sujo.
José Louzeiro, repórter desde cedo, migrou pra o sul e transformou-se o maior expoente de um gênero novo no Brasil, a reportagem policial como literatura. São dele as obras que deram origem aos filmes Lucio Flavio, Araceli meu amor, O caso Claudia, Pixote e o Homem da capa preta, dos quais também foi roteirista.
Não poderia esquecer de José Chagas e Nauro Machado. A proximidade com esses autores – graças a Deus, ainda vivos – é muito grande, para que sejamos capazes de uma avaliação isenta do valor de sua obra, mas não tenho dúvida que eles estão entre os maiores poetas de nossa língua.
Em síntese, o Maranhão, se não fizesse parte da Federação Brasileira deixaria desfalcado o panteon de luminares de nossa cultura. Nossa terra se sobressaiu e ainda o faz como poucos territórios da Nação, no panorama da cultura e da literatura.
Para encerrar, pedi licença para ler dois pequenos poemas de dois amigos meus. Poemas que eu considero belos exemplos do mais alto espírito maranhense.

Tenho um encontro com Deus:
– José!
– Onde estão tuas mãos que eu enchi de estrelas?
– Estão aqui nesse balde de juçaras e sofrimentos.
&
“Somos poucos,
Cada vez menos…
Somos loucos,
Cada vez mais…”

Acredito que todos tenham gostado do bate papo no barzinho, da palestra, do debate e dos poemas! Eu gostei de tudo “… E do que ficou pra depois…”

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Fronteiras humanas

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Na ultima terça-feira, dia 3, fiz um discurso na Assembléia Legislativa, da tribuna que leva o nome de meu falecido pai, Deputado Nagib Haickel, cujo assunto gostaria de comentar hoje aqui com vocês.
Naquele dia a minha responsabilidade com a forma e o conteúdo do meu discurso ficou redobrada pela presença do historiador, tribuno, homem de letras, de grande saber e cultura, presidente do Tribunal de Justiça do Estado, Desembargador Milson Coutinho, que estava em visita ao nosso parlamento.
Usei meus cinco minutos no Pequeno Expediente, para fazer um relato aos meus colegas Deputados sobre um filme que vi durante a madrugada. Um filme que já havia visto meia dúzia de vezes, mas que sendo tão bom, é sempre oportuno e nunca demais ver outra vez. Chama-se A Queda do Império Romano e para quem não conhece a história e não é cinéfilo, esta é uma produção da década de 60 e deu origem a uma recente refilmagem com o titulo de O Gladiador.
O filme começa com o narrador falando que um Império não cai apenas por causa de um único evento e que o Império Romano levou 300 anos decaindo, para só então realmente sucumbir sob seu próprio peso.
Ele foca um desses episódios, A transição do poder das mãos do Imperador Marco Aurélio para as de seu filho Cômodo. Essa transição, e a mudança política que resultou dela, foi, segundo alguns, uma das causas da queda do poderoso Império Romano. As invasões bárbaras (nome de outro filme sensacional e imperdível) e as revoltas nas províncias também foram causas marcantes da decadência do Império. Mas em minha opinião nada abala mais uma hegemonia que suas causas vicerais e intestinas.
Não foi Aníbal, com seus 40 anos de batalhas, as famosas guerras Púnicas, que destruiu o Império Romano. Não foram todos os exércitos que se postaram para adentrar em Roma pela via Ápia, que destruíram o Império Romano. Muitas foram as causas que puseram fim em séculos de seu domínio sobre o mundo.
Eu que sou antes de tudo um observador, não só de cinema, mas principalmente da história, graças ao maravilhoso advento de review e do pause, me pus em plena madrugada a meditar: Não será, também na história contemporânea, nenhum grande império ou hegemonia destruída por um evento único, mas sim por uma sucessão deles, por uma grande sucessão de equívocos e de erros.
Marco Aurélio, grande e sábio Imperador, que passou a vida toda fazendo guerras, no final, talvez já prevendo o declínio, queria instituir o que chamava de fronteiras humanas. Queria que se fizesse a Pax Romana, começando pelo norte com os bárbaros Germânicos.
Ao serem implantadas essas fronteiras humanas, mesmo que com a condição de superioridade de Roma, elas seriam mais confiáveis e menos caras que as muralhas e as guarnições de fronteira, que a manutenção de grandes exércitos e de um estado permanente de guerra.
Para que haja uma fronteira humana é preciso que haja conversa. Fronteira humana requisita paz, homens de entendimento e de diálogo. E fazendo uma pequena analogia com a nossa situação política, o meu intuito com aquele discurso, era fazer com que meus colegas se conscientizassem, de uma vez por todas, que nós 42 deputados somos as primeiras fronteiras humanas de nosso Estado.
Não foi apenas um evento que destruiu o Império Romano, nem ele foi destruído apenas pela falta das fronteiras humanas. Mas a falta do diálogo, a falta do entendimento, a falta de vontade de que houvesse a paz que a vida exige. A falta de tolerância, isso sim, ajudou a destruir o Império Romano, assim como contribuiu e continuara contribuindo decisivamente para a destruição de todos os grandes poderes hegemônicos da história.
Se a culpa foi de Marco Aurélio que não conseguiu implantar as tais fronteiras humanas antes de morrer ou se de Cômodo que não quis fazê-lo, que preferia as festas Dionisíacas da corte e o convívio com os gladiadores nas arenas à conversação, à diplomacia, isso não importa. O que realmente Importa é que, anos depois, Átila, o rei dos Hunos, varreu Roma do Mapa e entrou pra história.

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Fenix

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A árvore da minha família vem se desfolhando desde 1954, quando meu avô Elias se foi, sem que pudéssemos, nós seus netos, conhece-lo. Vovó Maria nos deixou em 1969 e àquela altura eu me achava o seu neto predileto.
As folhas da árvore da nossa família continuaram a cair: tia Lizete, que não cheguei a conhecer; tio João, o mais jovem dentre os primos de meu pai; tio “Sinhô” do qual só me lembro de sua enorme pança; tia Alzira, nossa tia-avó, santa criatura; tia Josefina, guerrilheira incubada, culta, espírito livre, poema em forma de mulher libanesa; tio Milhem, único nascido no Líbano. Meu pai, Nagib, em 93, desfolhou-se; tio Aziz, o magnífico. Se esse homem tivesse tido mais estudo seria o nosso Rockfeller; tia Norma, a Ava Gardner Haickel, artista e bela; Tia Celeste deixou-nos sem sua visão critica; tio Miguel, o único fisicamente parecido com meu pai; tia Rosinha, que sempre morou conosco e morreu solteira; tia Antoninha, uma batalhadora.
Agora, sexta-feira, dia 12, o mais elétrico e enérgico dos meus tios, foi ter com seus irmãos e primos. Agora foi a vez de “Zantão”, José Antonio Haickel, ex-prefeito de Pindaré-Mirim por duas vezes, somando-se dez anos à frente daquele município. Um dos primeiros políticos do interior do Maranhão a defender a mudança de estilo e forma de se fazer política em nosso estado e defensor de primeira hora da candidatura de José Sarney para o governo em 65.
As diferenças entre meu pai e tio Zé Antonio eram marcantes: Zantão tomava uma cervejinha de vez em quando e fumava duas carteiras de cigarro por dia. Meu pai nunca bebia ou fumava. Meu pai era gordo glutão enquanto tio Zé Antonio era um glutão magérrimo. Meu pai era Moto, Zantão era maqueano doente. Meu pai era moderado em comparação a tio Zé Antonio.
Além de meu tio, Zantão me batizou e dizem que quem põe a mão põe as virtudes, e uma das suas maiores virtudes era a lealdade.
Sagitariano de cinco de dezembro (junto com Lobão e Pipoca), tio Zé Antonio era um sonhador, um aventureiro de capa-e-espada. Leitor voraz, lia dos gibis que adorava a enciclopédias. No começo dos anos 80 fez vestibular para história e passou. Cursou três meses e largou, “já sei o bastante para aprender muito mais aqui, na prática, fazendo a história”, disse-me na época.
A morte é um fato a mais em nossas vidas, um dia todos teremos uma. O que mais me preocupa agora é que a minha família, de certa forma está morrendo, acabando. A minha e quase todas as antigas famílias que eu conheço. Os mais velhos vão morrendo e os mais novos não convivem entre si, vão se distanciando. Os tempos são outros e os compromissos diferentes nos separam. O mundo contemporâneo exige o seu preço e muitas das vezes é família num sentido maior (irmãos, primos, tios e sobrinhos) que se afastam, vivem na mesma cidade mais em mundos diferentes.
No sábado passado fui, eu, meu irmão Nagib, meus primos Eduardo e Socorro, visitar “Zantão” em sua casa. Conversamos sobre a guerra e sobre política, comemos quibes e esfirras, brincamos e contamos piadas e quando saímos, tivemos um pensamento comum, quando aquele nosso tio se fosse, nossa família estaria mais fraca, mais distante.
O único ascendente homem que nos resta é tio “Zuca” e é hora de dedicarmos a ele toda nossa atenção antes que a família acabe. É hora de todos, não só os Haickel, pensarmos nisso, é hora de reforçarmos o espírito familiar, o convívio de irmãos e primos, pois é na família que buscaremos e é nela que deveremos encontrar as principais forças para superarmos qualquer dificuldade.
Os nossos ascendentes que sobraram, estão todos com mais de 70 anos, e dentre eles, tia “Lôry”, a fada madrinha de meu pai, tem lutado bravamente por sua vida já há algum tempo, depois dela só restarão minhas tias Mirtes, Violeta e Muriel e aí os primeiros Haickel terão acabado. A responsabilidade de não deixar nossa família morrer agora é toda nossa, da 2ª e da 3ª geração de Haickel do Brasil. Que a morte de “Zantão” sirva para fortalecer e fazer reviver a nossa família.

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