Roma

Você é a minha cidade.
Conheço tuas ruas,
passeio por elas.
Planto em teus becos a minha árvore
e ela floresce em você.
Tomo conta de teus jardins
e cuido de teus gramados com esmero.
Sou teu jardineiro.
Acendo todo o dia
os lampiões de tuas avenidas,
de teus olhos,
para que ilumines a minha vida
e espero que o fogo que uso para acender-te
a alma,
a mente,
o corpo
acabe por nos incendiar
Amor.

Razão

Encaro o teto
esperando que o silencio
decida se apresentar.
A boca parada,
dedicada inteiramente ao pensamento
e a dor.
Fico quieto
tempo suficiente
para descobrir
a cor do ar.
Levo suavemente um suspiro até a boca,
Fecho os olhos,
tento adivinhar o futuro
e reescrever o destino.
Olho
por um longo tempo para tuas calças
jogadas no sofá,
antes de mover apenas a mão esquerda
e com o dedo médio
seguir as dobras
imaginando as carnes que elas abrigavam.
Continuo parado,
imóvel,
na tentativa de me misturar com a mata.
Para que ela devore a minha duvida,
amarrada tão firmemente
com um fio de teu cabelo.

Pierre, o pato e Isabelle.

Sozinho,
Pierre foi ao mercado.
Comprou um pato,
um quilo de cebola,
dois quilos de batata
– redondinhas –
ervas de Provence e mostarda.
Foi para casa e preparou um banquete.
Sentou-se à mesa,
abriu um Borgonha,
rasgou uma baguete…
Num pratinho,
azeite de oliva,
sal e pimenta do reino…
e depois
ainda apunhalou um foie gras.
Comeu e bebeu de olhos fechados.
No fogão de lenha,
o fogo é brando
mas no tempo certo
o pato
duro,
amolece.
Na caçarola
batatas e cebolas
salteiam
na manteiga fresquinha
com as ervas de Provence,
com a mostarda,
e com o arsênico.
Pierre,
sozinho,
senta e come.
Isabelle irá sentir sua falta.

Encordado


noite adentro
acordado.
Em claro.
De luz
a lua.
Abajur de 29 polegadas
chuvisco da tv
fora do ar.
Olhos fixos nos punhos da rede
pragas sanguinárias há pular.
Laços fora soldados.
Independência sem sono
sonho bizarro
filme de Lynch.
Saudade do que não foi.
Quase plagio
de jingle antigo.
Plagio legitimo
de um outro eu de ontem.
Poema mascado
mascavo
fumo de rolo
cuspido
cupido sem asas.
Azar o teu
o meu
o nosso.
Ir
tu podes
para onde quiser
desde que não arraste contigo
pedaços do meu
coração
violão.
Senta praça
meganha.
Barganha
canta cantiga antiga
arranha-a-jarra-arranja-aranha
brincadeira de criança.
Palavras perdidas ao sol.
Gestos soltos ao vento.
E tu
e tua outra parte
ainda solta
ainda perdida
no infinito balouço azul.

Mulher-Borboleta

Cavalos brancos
feitos de nuvens,
de sonhos.
Veleiro com velas de flores,
choronas.
Uma mulher-vulcão,
em erupção.
Moinhos de vento
asas de borboletas.
mulher liquida feita de mar
amando
homem sólido feito de pedra.
Flor pegando fogo. Pétalas feitas de gente.
Moça dormindo na praia.
Ondas como lençol e livro como companheiro.
Enquanto isso,
um cara navega nas ranhuras da madeira.
Coitado!
Os cavalos brancos desceram das nuvens,
agora são uma avalanche de neve.
Pavio de vela em forma de mulher.
Pegando fogo.
Labareda.
Mulher-montanha.
Cabelos de cachoeira. Se derramando.
Menino travesso escondendo lixo debaixo do tapete
deus ta vendo.
Mulher, apoio erótico,
de livros.
Mulher borboleta presa dentro de um livro de poesia.
Vela servindo de farol par um pequeno barco.
Perdido.
Alimento básico.
Ovo feito sol.
Arvore- Janela- Atlas.
Caravela voadora.
De velas,
asas de borboletas.

A memória é feita de lembranças ou de esquecimentos?

?

LEMRAR DE ESQUECER (+)

De canjica,
escargot,
e imã de geladeira.
De comer o rabo do camarão,
torta de brigadeiro,
e remédio para emagrecer.
De tratamentos de beleza,
de filipeteiro de semáforo,
de vontade de aprender.
De sopa de shitake,
caranguejo toc-toc,
de mentiras, pernas curtas e tortas.
De pegar suave, mas com força,
de transar de manhã cedinho ao acordar,
de gozar e não fingir.
De computador (orkut, MSN…),
de jogo,
de dinheiro e de poder.
De repetir as mesmas historias,
musica de Ana Carolina,
e falta de memória.
De prisão de ventre,
de insônia,
dor de cabeça e neusaldina.
De Clio preto,
aliança prata,
e de comida japonesa.
De calça capri,
suco de abacaxi,
e de trocar mim por eu (e, v v)*.

ESQUECER DE LEMRAR (-)

De que toda borboleta é antes de tudo é uma mariposa,
de que meias verdades são mentiras inteiras,
De que muita franqueza é excesso de fraqueza.
De que a extrema coragem de enfrentar a solidão em meio a uma multidão nada mais é de que o supremo medo de enfrentar a companhia de um único alguém, em casa.
De que a frieza e a dureza são as principais características do gelo.
De que viver reclamando de tudo em relação aos outros é uma forma de não deixar tempo para que os outros vejam os nossos defeitos.

ESQUECER DE ESQUECER

De não querer mais amar,
de que as pessoas não são, em principio más,
de que “nada está perdido quando resta uma esperança” (já dizia o narrador da historinha de chapeuzinho vermelho).
De que ninguém muda na sua essência,
de que o que não tem solução, solucionado esta,
de que perdoar é diferente de esquecer (e, v v)*.

LEMBRAR DE LEMBRAR

De acordar cedo pra trabalhar,
de pagar as contas (todas),
de cuidar da saúde,
de ir ao cinema,
de largar todas as mulheres, menos Laila, Clarice e Célia,
de perder tudo, menos a coerência.

* v v significa vice-versa, viu!

Num quadro de Monet

Na velhice
só me restará entrar
num quadro de Monet

Desenhar
uma casinha
de sapé

À beira
de um lago
em Verget

E me por
a ouvir
os pássaros
da memória
a cantar.

Presentes de Natal que minha mãe me ensinou há pedir todo dia.


“Que Deus me dê tenacidade e honra para que possa transpor os obstáculos que em meu caminho se apresentem.

Que Deus me dê coragem e humildade para que possa enfrentar os obstáculos que não consiga superar.

Que Deus me dê, sendo ainda mais generoso para comigo, inteligência e sabedoria para que eu possa diferenciar os obstáculos que posso transpor daqueles que não consiga superar”.

No final eu completava, “que Deus me dê tudo isso e mais algumas “coisinhas” mais, porque ninguém é de ferro, né!?”

Desencontro

Como te levar
para o futuro
se eu morro
todo dia
no passado
ansiando
por mais um
misero segundo
de presente
junto a ti.

CASSIOPÉIA

Constelação distante
no espaço
há um palmo da mão.

Escorre estrela
por entre os dedos
em tempo.

Para jamais chegar
ao chão.

Perfil

“Poeta, contista e cronista, que, quando sobra tempo, também é deputado”. Era essa a maneira como Joaquim Elias Nagib Pinto Haickel aparecia no expediente da revista cultural Guarnicê, da qual foi o principal artífice. Mais de três décadas depois disso, o não mais, porem eterno parlamentar, ainda sem as sobras do tempo, permanece cronista, contista e poeta, além de cineasta.

Advogado, Joaquim Haickel foi eleito para o parlamento estadual pela primeira vez de 1982, quando foi o mais jovem parlamentar do Brasil. Em seguida, foi eleito deputado federal constituinte e depois voltou a ser deputado estadual até 2011. Entre 2011 e 2014 exerceu o cargo de secretario de esportes do Estado do Maranhão.

Cinema, esportes, culinária, literatura e artes de um modo geral estão entre as predileções de Joaquim Haickel, quando não está na arena política, de onde não se afasta, mesmo que tenha optado por não mais disputar mandato eletivo.

Cinéfilo inveterado, é autor do filme “Pelo Ouvido”, grande sucesso de 2008. Sua paixão pelo cinema fez com desenvolvesse juntamente com um grupo de colaboradores um projeto que visa resgatar e preservar a memória maranhense através do audiovisual.

Enquanto produz e dirigi filmes, Joaquim continua a escrever um livro sobre cinema e psicanálise, que, segundo ele, “se conseguir concluí-lo”, será sua obra definitiva.

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