A memória é feita de lembranças ou de esquecimentos?

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LEMRAR DE ESQUECER (+)

De canjica,
escargot,
e imã de geladeira.
De comer o rabo do camarão,
torta de brigadeiro,
e remédio para emagrecer.
De tratamentos de beleza,
de filipeteiro de semáforo,
de vontade de aprender.
De sopa de shitake,
caranguejo toc-toc,
de mentiras, pernas curtas e tortas.
De pegar suave, mas com força,
de transar de manhã cedinho ao acordar,
de gozar e não fingir.
De computador (orkut, MSN…),
de jogo,
de dinheiro e de poder.
De repetir as mesmas historias,
musica de Ana Carolina,
e falta de memória.
De prisão de ventre,
de insônia,
dor de cabeça e neusaldina.
De Clio preto,
aliança prata,
e de comida japonesa.
De calça capri,
suco de abacaxi,
e de trocar mim por eu (e, v v)*.

ESQUECER DE LEMRAR (-)

De que toda borboleta é antes de tudo é uma mariposa,
de que meias verdades são mentiras inteiras,
De que muita franqueza é excesso de fraqueza.
De que a extrema coragem de enfrentar a solidão em meio a uma multidão nada mais é de que o supremo medo de enfrentar a companhia de um único alguém, em casa.
De que a frieza e a dureza são as principais características do gelo.
De que viver reclamando de tudo em relação aos outros é uma forma de não deixar tempo para que os outros vejam os nossos defeitos.

ESQUECER DE ESQUECER

De não querer mais amar,
de que as pessoas não são, em principio más,
de que “nada está perdido quando resta uma esperança” (já dizia o narrador da historinha de chapeuzinho vermelho).
De que ninguém muda na sua essência,
de que o que não tem solução, solucionado esta,
de que perdoar é diferente de esquecer (e, v v)*.

LEMBRAR DE LEMBRAR

De acordar cedo pra trabalhar,
de pagar as contas (todas),
de cuidar da saúde,
de ir ao cinema,
de largar todas as mulheres, menos Laila, Clarice e Célia,
de perder tudo, menos a coerência.

* v v significa vice-versa, viu!

3 comentários para "A memória é feita de lembranças ou de esquecimentos?"


  1. Angela

    Cada dia que acesso o seu blog me surpreendo mais. Às vezes duro às vezes frágil, às vezes irônico, às vezes doce, às vezes amargo, mas sempre profundo, objetivo, contundente. Parabéns!

  2. Anônimo

    Que nada! Acho uma poesia pequena, protocolar, narrativa, contextualizada… Falta alma!

  3. Joaquim Nagib Haickel

    Desculpa, mas acho que um poeta, um grande, um dos maiores, já disse isso uma vez e quem sou eu para me contrapor a ele… Mas também não adianta ter uma alma grande e míope, incapaz de ver a beleza que há nas imperfeições e aproveitar a oportunidade de aprender com elas.

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