A sintaxe da vaia.

9comentários

Tenho certeza que muita gente já comentou esse assunto e que cronistas muito mais competentes que eu já escreveram sobre ele, mas não posso deixar de dar aqui minha modesta opinião.

Primeiro, devo dizer que fiz questão de não ler absolutamente nada sobre isso em qualquer jornal ou revista e que quando em alguma emissora de televisão, um repórter ou apresentador começava a falar do assunto, eu trocava de canal, na intenção de manter-me imune a qualquer opinião externa para poder passar pro papel, de maneira totalmente isenta, o que sinto e acredito a respeito desse fato que reputo bastante relevante.

Estava no Rio de Janeiro para a abertura dos jogos pan-americanos em sua décima – quinta edição, mas resolvi ver a cerimônia pela televisão. Acho que fiz bem. Pude ver mais do que quem compareceu ao Maracanã na tarde/noite da sexta-feira, 13 de julho.

Se por um lado não deixei que ninguém presenciasse a minha emoção com aquela belíssima festa, por outro, fiquei sozinho com minha indignação pela falta de educação e o despreparo das pessoas que ridiculamente vaiaram não só o presidente da republica, mas também algumas delegações de atletas que ali representavam seus paises e seus povos.

O uso da vaia como manifestação de desacordo é perfeitamente compreensivo, aceito e até necessário em alguns casos, mas em outros é de extremo mau gosto, deselegante e sem propósito.

Vaiar um time adversário dentro de campo é até compreensivo pelo simples fato de não ser o nosso time. A vaia é plenamente aceita quando um time, o seu ou o adversário, joga mal. E ela é necessária quando há uma jogada desleal ou anti-desportiva. Nessas horas, a vaia é muito bem vinda, não só no esporte, mas em qualquer setor da atividade humana.

Vaiar a delegação Argentina no desfile de abertura dos jogos pan-americanos, não é uma coisa descente, e a pessoa que fez isso, não só é mal educada, mas também despreparada para o convívio em sociedade, porque ali não havia competição, era a confraternização inicial dos jogos, onde atletas e árbitros iriam jurar competir e julgar dentro do espírito olímpico que deve sempre nortear as competições esportivas. Então porque vaiar nossos vizinhos? É verdade que eles são nossos tradicionais adversários em diversos setores, mas aquela não era a hora para dizermos de nossas diferenças.

Quem estava no Maracanã e vaiou a delegação Argentina cometeu não só uma gafe, mas também uma grande falta de educação, grosseria e deselegância que, em nada combina com a intenção de uma festa como aquela.

Quero deixar claro uma coisa. Eu também implico com os argentinos, mas acredito que deva para isso, como em tudo na vida haver momentos, circunstancias, nível e intensidade para fazê-lo.

Houve vaias para outras delegações, como Bolívia, Estados Unidos e Venezuela e por mais que discorde das políticas implementadas por aqueles paises, nas mais diversas áreas, por mais equivocados que eu acredite que sejam Evo Morales, George W. Bush e Hugo Chaves, por mais que discorde da política interna e externa desses paises e que repudie seus níveis de falta de tolerância ou de desrespeito à democracia, ali, naquela hora, não era o momento para demonstrar-se tal descontentamento e desacordo. Ali era a solenidade de abertura de um evento que envolve todos os paises e povos das Américas, e os espectadores brasileiros que estavam ali, estavam representando a todos nós, a todo país, não apenas a eles mesmos.

Mas as piores vaias ainda estavam por vir. As direcionadas ao nosso presidente da republica. Aquelas vaias, em minha opinião, simbolizam o que está acontecendo em nosso país, com o nosso povo.

A falta de credibilidade nas instituições, de um modo geral, está fazendo com que a nossa gente tome atitudes absurdas como aquela. Vaiar o presidente da republica, naquela circunstancia, é, não uma manifestação de descontentamento com as políticas de seu governo, mas uma forma de auto-flagelamento inconsciente. As pessoas que vaiaram o presidente Lula, naquela ocasião, estavam vaiando a si mesmas e ao nosso país. Se quisessem se manifestar contra o seu governo, contra o escândalo do mensalão ou contra tantos outros, fariam uma passeata, um comício, uma manifestação clara neste sentido.

Ali os vaiados foram os que vaiaram. Quem Vaiou o presidente vaiou a si mesmo, a você que me lê agora e a mim também.

PS: Hoje essas vaias perderam totalmente o interesse. Agora todos nós não conseguimos parar de pensar no acidente com o avião da TAM em Congonhas.

9 comentários para "A sintaxe da vaia."


  1. Valdemar Lopes

    O senhor fez muito bem em ficar imune ao noticiário. Sua análise é bastante diferente de todas as que eu li ou ouvi. Concordo em gênero, numero e grau com tudo que o senhor diz. Parabéns.

  2. Anônimo

    Também adoro vaiar os argentinos, mas acho que não deviamos vaia-los na abertura dos jogos. Quanto a vaia do Lula, ele merece, e eu adorei o fato dele ter sido vaiado, mas depois de ler sua crônica, vejo que não deveria ter sido vaiado naquelas circunstancias, pois só ficou feio pra nós.

  3. Anônimo

    adorei vaiar os argentinos agorinha na final do handbol, mas também não gostei da vaia que deram neles na abertura dos jogos… quanto ao lula ele merece mesmo…

  4. Pérola

    Olá Joaquim,
    Plac!Plac!Plac!Aplaudir de pé é grandioso, é para quem tem estilo e muita categoria! ( palavra bem em moda atualmente hehehe ), e vc mereçe todos os aplausos neste momento, não só pela matéria, mas pelo desprendimento ao abordar o assunto, pela força moral e pela ética tão peculiar Vc é uma pessoa destemida de críticas, ímpar na política, nas atitudes, na seriedade e na serenidade, e sabe, como ninguém, mostrar às pessoas a nobreza de ser J.H. !!! Plac! Plac! Plac! Vou aplaudi-lo sempre que puder, um aplauso alegre e sem-vergonha, mas cheio de admiração!
    Bjox

  5. Carla Giulliana

    Caro Joaquim, venho deixar o meu parabéns por mais um artigo, sempre trazendo assuntos diversificados sobre sua visão privilegiada.

    Realmente, foi lamentável que o povo brasileiro ali presente, tenha demonstrado ao mundo mais uma vez o nosso despreparo para expor e cobrar nossas reivindicações. Aquele jamais seria o momento propicio para extravasar descontentamento, mas sim, a alegria de um povo que recebe povos irmãos. Como fazemos ao receber amigos em nossas casas…

    Fiquei profundamente envergonhada e lamentei que tenhamos “vendido” mais uma vez a imagem de mal-educados, despreparados. Como querer um governo diferente?

    Você foi brilhante neste artigo e no anterior sobre agro-negocios.
    Abraços…
    Carla Giulliana

  6. Manoela

    Eu me sentia confusa em como me expressar minha opinião sobre as vaias, com seus escritos vi que não posso ser nem contra nem a favor

  7. Anônimo

    vc como sempre dando show!

  8. Luis Henrique

    Acabei de assistir no Jornal Nacional da Rede Globo uma matéria jornalística primorosa sobre vaia. Parece até que eles leram esta sua crônica, também primorosa. Fiquei muito orgulhoso de ser seu amigo e admirador. Continue assim. Parabéns.

  9. adailson rodrigues

    a rivalidade esportiva entre brasil e argentina é uma criação de galvão bueno a partir do final da decada de 80,portanto as vaias são fruto da manipulação e da ignorancia, como também a vaia a chaves e morales são manipulações dos meios de comunicações do brasil que somente repetem o que as agencias de noticias americanas fornecem.

    Resposta: Não acredito que seja tão simples assim. Existem vaias que vem do fundo de nossas almas e de nossas gargantas. Vaiamos um monte de gente sem preciasar de meios de comunicação. Pense e veja quanta vaia há travada na sua garganta.

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