O mito, o voto e a paciência

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O passar do tempo quase sempre nos priva do que mais precisamos. Enfraquece a vista, os ossos, a memória, e entre outras coisas reduz a paciência. Comigo é isso que tem acontecido, cheguei a um ponto em que a paciência passou a ser uma virtude cada vez mais escassa em mim.

A quantidade que carrego comigo desse ingrediente não é mais suficiente para levar em frente um determinado tipo de conversa. A conversa a que me refiro é a mitificação, seja ela a positiva que torna alguém comum, igual a todos, em uma pessoa cheia de qualidades, quase um Deus, ou a negativa que faz a mesma coisa no sentido contrário, transformando alguém normal em uma pessoa cheia de defeitos, maligna, demoníaca.

É o que tem acontecido no Maranhão e é o que está acontecendo em todo o Brasil, principalmente agora com a realização desse segundo turno da eleição presidencial.

Dilma é a encarnação do Diabo e Serra é a personificação de Deus.

Poderia lançar mão de mil teorias filosóficas, políticas, sociológicas e até antropológicas para comentar o que está acontecendo, mas como já disse, minha paciência está curta, vou tentar ser o mais objetivo possível.

Tenho certeza que você não é ingênuo ao ponto de acreditar em uma história onde de um lado todo mundo é bonzinho, bem intencionado, trabalhador, competente, preparado e honesto, e de outro, todos são maus, cheios de segundas intenções, vagabundos, incompetentes, despreparados, desonestos… É!?

Você já leu a revista Veja nos últimos meses? Se já, você deve ter se perguntado em algum momento como é que eles conseguem, enquanto uma revista jornalística, ser tão partidários. Eu não queria usar os termos que usei em minha última crônica, mas não tem jeito. Culpe minha falta de paciência. A revista Veja é o mais maniqueísta e sectário órgão da imprensa brasileira. Some-se a esses adjetivos, um outro, hipócrita.

Quase metade das páginas da maior revista de nosso país traz reclames publicitários, vende algum tipo de produto. Ousaria até dizer que quase a totalidade das páginas desse semanário, de uma forma ou de outra, até as matérias jornalísticas, estão impregnadas de material comercial, se prestam à venda de algum produto, seja ele tangível ou intangível.

Pois bem, para mim isso já bastaria para votar na Dilma: a Veja é contra ela! A princípio eu voto a favor de tudo que a Veja for contra. Pois eles, os donos e os jornalistas da Veja não são os donos da verdade, não são a palmatória do mundo. Eles não vão me colocar cabresto. (vai aqui um pouco mais de minha falta de paciência)

Mas se isso não fosse o bastante, li em algum lugar que “mantendo a coerência, Zé Reinaldo votará em Serra”. Mas que coerência é essa!? Esse senhor não é filiado ao PSB que faz parte da base de apoio ao PT!? Talvez ele tenha confundido filiado com afilhado, pois assim fica mais fácil trair, já que ele fez isso com seu padrinho, Zé Sarney, que lhe deu todas as oportunidades na vida. (aqui perdi toda paciência que tinha)

Mas para aqueles que acham isso pouco, eu quero dizer que desejo votar em um candidato que tenha compromisso, antes de qualquer coisa com meu Estado. Que vá nos ajudar a implantar a refinaria de Bacabeira. Quero um presidente que conclua a Ferrovia Norte-Sul, que amplie o Porto de Itaqui. Que invista em moradias populares. (preciso de paciência para ter esperança)

Quero alguém que olhe para o Maranhão sem o preconceito paulista de que nordestino bom é só o motorista de taxi, que faz o trânsito de São Paulo não estrangular, só o garçom que serve aos ricos empresários da FIESP, só o pedreiro que constrói os prédios da capital econômica de nosso país. (paciência em zero)

Desculpe, estou sendo contaminado, estou me portando como um desses maniqueístas sectários. Culpa da falta de paciência.

Fui colega de Serra na Constituinte e não me lembro de ter falado com ele algum dia. Foram dois anos de Constituinte e mais dois de Câmara dos Deputados, trabalhando juntos, convivendo nos mesmos ambientes. Lá fiz bons amigos como Artur da Távola, Florestan Fernandes, Wladimir Palmeira, Aécio Neves, Henrique Eduardo Alves, Nelson Jobim, Michel Temer, Amaral Netto, Sandra Cavalcante, Rita Camata, Delfim Neto, Roberto Cardoso Alves, Zé Genuíno e o próprio Lula, apenas para citar alguns. Mas Serra pertencia a uma classe diferente, uma nobreza que não se permitia conviver com os pobres mortais. Haja paciência!

Que Serra é preparado e competente, isso não posso discordar, mas daí a querê-lo como presidente de meu país, a distância é grande, pois não acredito que ele seria um bom presidente para o Maranhão nem para o Norte e Nordeste do Brasil.

Depois desta eleição ficará claro para todos nós que a diferença fundamental entre um político e outro, tenham eles todas as qualidades e os defeitos possíveis, é fundamental e simplesmente o que você espera dele.

Estão esperando muito de Serra. Eu espero pouco de Dilma. Só espero que ela faça o feijão com arroz, isso já vai estar muito bom.

PS: Antes que alguém me cobre coerência, tudo que disse sobre a revista Veja vale para todos os meios de comunicação ou organismos jornalísticos que tomam partido de forma descarada e acintosa. O jornalismo pode ser opinativo, filosófico, ideológico, mas jamais ao ponto de deixar de ser informativo, democrático e isento.

4 comentários para "O mito, o voto e a paciência"


  1. Henrique Morais

    Conheci você em um vôo para Brasília. Sou de Minas e trabalho em uma empresa que presta serviço para a Vale. Estou morando no Maranhão há quase seis anos e vi dois anos da administração de José Reinaldo Tavares, dois anos de Jackson Lago e agora dois de Roseana Sarney e não consegui ver a diferença entre um e outro. O estado é ineficaz e nada aqui funciona adequadamente.
    Espero que agora a Roseana melhore realmente o Maranhão, sob pena desse estado que já considero como meu perder definitivamente o trem da história.
    Concordo com você no que diz respeito a revista Veja, mas mesmo assim acho que o Serra seria muito melhor para o Brasil, no mínimo haveria alternância do poder.
    Vamos aguardar pra ver o que acontece. Abraço.

  2. maria do pote

    Escreve ai sobre como tu acha que vai ser o próximo governo de Roseana

  3. Diogo Adriano

    Agora os nordestinos são o “diabo” e os sulistas são “deus”. O “mal” (Dilma) venceu por nossa “culpa” segundo Sudeste e Sul, o que não é verdade, Dilma venceria independente dos votos do Norte e Nordeste. O que você acha disso, das campanhas contra os nordestinos deflagradas pelas redes sociais.

    Resposta: Um absurdo! Veja: http://raiosebombas.wordpress.com/

  4. João do Grajaú

    Caro Dep Joaquim,eu particularmente acumulo racionalmente uma grande adimiração pela sua postura literária. Na questão política vejo um imenso vazio da sua parte e ainda uma extraordinária incapacidade de compatibilizar o seu discurso político com a prática. Explico: o sr defende com unhas e dentes o desenvolvimento sócio econômico do nosso estado sem deixar de lado a sua flutuação política diante das tempestades envolvendo o poder no Maranhão nos últimos cinco anos, pois ataca vorazmente o outrora inatacável e sublime gov Zé Reinaldo que foi controvertido mas, para o bem do que é justo, desenvolveu econômica e socialmente o estado, basta analisarmos o IDH maranhense. O sr faz duras críticas aos meios de comunicação escritas do país, em especial à rev veja com muita propriedade, mas se esquece de dizer que a rev Isto É é tudo isso q foi colocado acrescido de outos adjetivos que não serão citados para não manchar o seu consgrado blog. O sr não pode se esquecer que pertence a um sistema de domínio político que em nada concorda com essa utópica maneira de defender algumas causas que não pertencem ao seu ideal.

    Resposta:Resposta: Confesso que não sei se entendi direito o que você quis dizer, mas de qualquer modo publico aqui sua opinião, pois mesmo discordante da minha, ela foi apresentada de uma forma que dela poderá resultar no mínimo um diálogo civilizado, uma discussão de nível elevado.
    As minhas posições políticas são claras e não me nego ao debate. Cometo equívocos como qualquer um também comete. Longe de mim a pretensão de infalibilidade, mas minhas opiniões são firmes e embasadas.
    Enquanto político me coloco ao julgamento de meus eleitores quando me candidato e da opinião pública quando me manifesto. Para isso estou preparado. Sei que alguns discordam de mim, mas sei também que muitos estão do meu lado.

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