A vaidade de não ser

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Hoje, depois de 35 anos trabalhando em política – comecei assessorando meu pai na Assembleia Legislativa, no final do governo Nunes Freire – vejo que por um lado, muita coisa mudou, mas constato que muita coisa ainda continua como dantes no Quartel de Abrantes.

Se fosse começar hoje não poderia fazê-lo trabalhando com meu pai. Teria perdido essa oportunidade devido à lei do nepotismo. Hoje jamais “estudaria” numa escola cujos professores eram Sarney, Millet, Pedro Neiva de Santana, Zé Burnet, Alexandre Costa, Bayma Serra, Raimundo Leal, Zé Bento Neves, Gervásio Santos, entre tantos, quase todos mortos.

Os filhos sucederem os pais é coisa comum. Isso acontece faz milênios. Artesãos ensinavam seus filhos a sua arte; os filhos dos escribas aprendiam o oficio dos pais; saltimbancos faziam dos filhos seus sucessores em cantoria, dança, teatro e acrobacia. Antigamente dizia-se que aqueles que não saiam aos seus degeneravam.

Muitos filhos continuam sucedendo os pais nos mais diversos setores da vida. Filhos de médicos seguem a mesma carreira dos pais, filhos de empresários da construção civil constroem com seus genitores, donos de padaria colocam filhos com a mão na massa, comerciantes tem seus filhos lhe ajudando em seus negócios.

Na leva de políticos do final dos anos 70 começo dos 80, havia muitos filhos. Entre eles os filhos de Sarney, Alexandre Costa, Vieira da Silva, Pires Saboia, Artur Carvalho, Nagib Haickel, Albérico Ferreira…

Hoje os filhos são os de Sálvio Dino, Edivaldo Holanda e Lobão; filho de Zequinha e neto de Sarney; Filhos de Pedro Fernandes, Lourival Mendes, Carlos Braide, Fufuca e Rubem Pereira; filhos e neto de Luiz Rocha; Neto de Eugenio Barros, filho de Filuca, sobrinho de Cafeteira, além de uma infinidade de parentes em todos os graus de prefeitos e ex-prefeitos espalhados Maranhão afora.

Seguir os passos do pai não é reprovável em nenhuma cultura, nem em relação a qualquer profissão.

Tenho orgulho de ter começado pelas mãos de meu pai, de ter aprendido com ele as regras básicas de como me portar na vida e na política.

Em 1982, aos 22 anos, fui deputado estadual. Em seguida elegi-me deputado federal constituinte. Depois disso passei um tempo assessorando o então governador Lobão na Secretaria de Assuntos Políticos.

Bem aí, nesse momento, meu pai morreu e eu fiquei por conta própria. Tinha que cuidar de mim mesmo e o que é pior, tinha que cuidar de minha família e dos amigos que ele me legou.

Depois de arrumar a casa, voltei à Assembleia para mais alguns mandatos e então resolvi não mais me candidatar.

Estava desiludido com a política, porém aceitei, sob grande pressão de amigos e correligionários, o cargo de secretário de Esportes do estado.

No começo fiquei meio chateado porque acreditava que essa secretaria não era a que eu mereceria. Imaginava que por ser escritor e cineasta, por ter sido tantos anos deputado e ter excelente trânsito junto à classe política, por ter um projeto audacioso de educação a distância, eu poderia ser mais bem aproveitado na Secretaria de Cultura ou nos Assuntos Políticos ou ainda na Secretaria de Ciência e Tecnologia, quem sabe até na Educação.

Como fui tolo! Como a vaidade nos cega! Não sabia eu que com as dificuldades inerentes à administração pública, pouco ou nada poderia eu fazer naqueles cargos.

Em relação a essas outras secretarias, a pequenina Sedel é muito mais operacional, eficiente e eficaz. Nela as imensas dificuldades financeiras são muito menores que nas outras secretarias. Lá, mesmo com os poucos recursos e os muitos problemas é possível fazer alguma coisa, o que jamais seria possível fazer em outras áreas.

Não é fácil ser gestor público. Você se depara com situações inacreditáveis, coisas insólitas que você jamais pensou pudessem existir ou acontecer. Cito algumas: um determinado projeto de construção prevê uma viga num lugar que se construída impediria a passagem das pessoas, o que gera grande atraso; uma chuva derruba um muro e a licitação para reconstruí-lo demora quase o tempo de um parto; um cidadão urina na pia de um dos banheiros do estádio e o secretário é cobrado pela falta de educação do torcedor; pessoas de certa comunidade obstruem a saída da drenagem de uma praça esportiva fazendo com que a água emposse e cause grande prejuízo; vândalos quebram os banheiros de outra praça esportiva no dia de sua reinauguração; os dirigentes de certa federação e de importantes agremiações esportivas se desentendem, fato que prejudica o esporte maranhense que vem passando por uma boa fase.

Vez em quando fico esmorecido. Tenho vontade de largar tudo e tocar minha vidinha, mas teimoso, acabo continuando.

Na semana passada, almoçando com um querido amigo, ele na tentativa de me seduzir a voltar a disputar mandato eletivo, disse-me uma coisa que me deixou comovido. Disse que o bom em relação a minha pessoa é que onde quer que ele chegue e fale em mim, as pessoas dão crédito. Não querendo desmotivá-lo nem tão pouco ser deselegante, respondi-lhe dizendo que atualmente a minha maior vaidade é resistir aos insistentes convites de amigos e correligionários para que eu volte a ser candidato a deputado.

Na verdade, por enquanto ainda não apareceu e acho que não irá aparecer o motivo que me faria deixar o conforto de minha vida atual.

Além dos projetos de relativo sucesso frente à Sedel, há a paixão com que tenho me dedicado ao trabalho de descobrir, resgatar, catalogar e preservar fotografias e filmes antigos sobre nossa terra e sua gente, além do prazer que tem sido a possibilidade de realizar filmes sobre importantes personalidades maranhenses como Haroldo Tavares, Terezinha Rêgo, Eliezer Moreira, os membros da AML, os artistas plásticos do Maranhão, nossos radialistas, nossos fotógrafos…

Esses são tempos difíceis, mas extremamente felizes. Pra que mudar isso!?

 

1 comentário para "A vaidade de não ser"


  1. Arildes Passos

    quem nos dera ter de novo parlamentares como você deputado joaquim haickel, como aderson lago, helena helui, haroldo saboia, gervasio santos, celso coutinho, alberico filho… eita maranhão sem sorte…

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