Pedras e Vidraças

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Recebi na semana que passou uma mensagem por correio eletrônico onde um indivíduo que se identificou por José Maria de Jesus Silva, comentava sobre uma matéria que ele lera num blog sobre a minha pessoa.

Segundo ele, a referida matéria discorria sobre o fato de eu ser melhor como pedra do que como vidraça. Não me lembro de ter lido a tal matéria, mas isso não é nenhuma novidade, pois minha memória está cada dia pior, mas o fato relevante neste caso é exatamente o que eu acredito que deve ocorrer com todo mundo. Todos nós devemos nos sair melhor como pedra do que como vidraça e para provar minha teoria dou dois exemplos definitivos, com os quais não precisarei me estender em detalhadas explicações: Ricardo Murad e Flávio Dino.

Mas voltemos ao José Maria de Jesus Silva! Em primeiro lugar quase tive uma síncope quando recebi sua mensagem, pois esse nome é o mesmo do ex subchefe da Casa Civil do Estado, na gestão do governador João Castelo, tempo em que trabalhei como oficial de gabinete do Palácio. O professor Zé Maria era uma espécie de “come livros”, um rato de biblioteca que conhecia todas as formas de agir quanto a algumas situações legais. Mais tarde ele veio a ser conselheiro de contas dos municípios.

Assustei-me por um bom motivo! É que o professor Zé Maria, já faz algum tempo, deve estar comendo livros na biblioteca celestial! Como é que um homônimo de um de meus primeiros chefes hierárquicos vem me chamar à razão. Fiquei intrigado!

No texto, o tal Zé Maria diz que eu deveria aproveitar o preparo que eu adquiri em mais de três décadas de prática na política legislativa para arremessar alguns seixos nas reluzentes vidraças do poder da ocasião.

O caso é que o ZM esquece ou talvez nem saiba que eu não aprendi a jogar pedra. Isso é coisa que se aprende quando jovem ou então jamais se aprenderá. Desde cedo fiz política do lado de dentro das janelas. Somente por 4 anos, dois na administração de Zé Reinaldo e dois na de Jackson Lago, fiz parte da oposição e mesmo nesse tempo não estilhacei muitas vidraças, não mais do que o faria se estivesse do lado de dentro dos muros do Palácio, como fiz durante muito tempo em relação às vidraças de meu próprio grupo político.

Em meus anos como deputado, desenvolvi uma forma muito particular de agir em relação às coisas com as quais eu concordava e com as quais eu discordava. Quando concordava com algo eu citava, elogiava e cumprimentava o autor. Quando discordava, procurava o responsável, dizia o meu ponto de vista, argumentava sobre o possível equívoco e tentava demovê-lo de sua posição ou ser convencido de que o errado era eu. Quando não era meu o equívoco e o agente persistia no erro eu o criticava publicamente, mantendo minha coerência, buscando fazer com que as coisas mudassem.

Ocorre meu bom amigo ZM, que naquela época eu tinha embaixo de mim a tribuna da Assembleia Legislativa, na minha retaguarda as prerrogativas comuns a um deputado, sobre mim a mão pesada daqueles que me nomearam seu procurador e à minha frente a ideia que eu defendia. Hoje, nobre amigo, sou um cidadão comum, igual a você e ao caro leitor que me prestigia nesta leitura. Posso ter sob mim esta prestigiosa tribuna jornalística e literária, em minha retaguarda tenho somente as prerrogativas de cidadão, sobre mim a mão pesada de minha consciência e à minha frente, as mesmas ideias que defendia antes, defendo hoje e pretendo continuar defendendo enquanto vida tiver. Mas os efeitos de minhas palavras e de minhas ações, meu nobre amigo, não são os mesmos, não têm a mesma força nem causam as mesmas consequências, talvez até não causem efeito algum.

Outro dia minha mãe me ligou para dizer que havia passado a manhã inteira assistindo a TV Assembleia e que havia ficado entristecida por ver que os deputados estavam preocupados unicamente em atacar ou defender o governo, não dando a devida importância para outros assuntos que segundo ela, devem ser colocados acima de qualquer posicionamento politico, partidário ou ideológico.

Ora, se minha mãe, uma senhorinha de 85 anos de idade sabe que existem coisas que não podem estar impregnadas pelo vírus da politica, do partidarismo e da ideologia, e algumas pessoas que tem obrigação de saber isso, não dão a devida importância para o assunto, não serei eu, meu amigo Zé Maria, que vou sair jogando pedras nas vidraças alheias. O máximo que farei será defender as ideias que reputo como indispensáveis para que se tenha um clima republicano e democrático de debate, onde todos possam dizer o que pensam, com responsabilidade e correção.

Aprendi desde cedo que em matéria de política, a maioria das coisas referentes a ela, é definida por uma mera questão de opinião, e quem detém o poder tem claramente uma opinião mais forte… Isso quando quem detém o poder tem sabedoria suficiente para transforma-lo em capacidade de realização e de transformação da quase sempre difícil realidade.

Eu comecei a pensar, a filosofar e a escrever, bem antes que comecei a fazer politica, mas nem por isso posso dizer que penso, filosofo e escrevo melhor que exerço o ofício que Aristóteles dizia ser comum à humanidade, e é exatamente por isso que eu lhe digo amigo ZM, é melhor eu tratar de melhorar meus pensamentos, minha filosofia e minha literatura que ir jogar pedra em vidraças de quem quer que seja, pois como já disse anteriormente, não aprendi a jogar pedras. O máximo que consegui aprender foi o método socrático de me posicionar num debate.

 

PS: O método socrático consiste em uma técnica de diálogo onde se faz uso de perguntas simples, quase ingênuas, com o objetivo, em primeiro lugar, de revelar as contradições presentes na forma de pensar do oponente, normalmente baseadas em valores e preconceitos comuns nas pessoas e na sociedade, e assim fazer com que ele possa redefinir seus valores e quem sabe até, aprender a pensar da mesma forma.

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