Pensamentos nefrológicos

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Como faço quase todos os dias, naquele acordei por volta das cinco da manhã. Não que eu precise acordar a essa hora, não que eu seja um operário que precise madrugar para chegar no horário certo à obra, é que minha bexiga que não funciona normalmente durante o dia pede para ser esvaziada invariavelmente nessa hora. Ela é como um relógio cuco suíço que expulsa o passarinho pontualmente no horário previsto.

Depois desse ritual nefrológico e muitas vezes também gastroenterológico, eu estou pronto para exercitar um de meus passatempos favoritos: Escrever. Antigamente diria que era a árdua tarefa de desenvolver pensamentos em papel e tinta, hoje é um exaustivo exercício de “catar milho” nas letrinhas do teclado.
Naquela madrugada me peguei analisando friamente os aspectos do voto facultativo. Fui rever minhas opiniões e minhas convicções, ver se elas poderiam ser abaladas, levando-se em consideração uma analogia absurda que me veio à mente quando pingava a última gotinha de urina no vaso.

Imaginei-me sendo obrigado a analisar a possibilidade de aceitação do voto facultativo no Brasil, levando em consideração alguns dos meus passatempos ou esportes favoritos.

Imediatamente raciocinei que numa sociedade evoluída a obrigatoriedade não precisa existir, pois as pessoas evoluídas não precisam de normas coercitivas, tais como o voto obrigatório, ou o quinto mandamento de Moisés, que diz “Não matarás” para fazer ou deixar de fazer alguma coisa.

Dito isso, conclui que o que deveria ser obrigatório, nas sociedades menos evoluídas, eram aulas curriculares de xadrez, modalidade que dá às pessoas que o praticam uma ampla e objetiva visão de rumo, de estratégia para conseguir um determinado objetivo.

Que o judô deveria ser ensinado a todos, pois ele desenvolve o corpo em conjunto com a mente e o espirito, no sentido de extravasar energia física sem uso de violência. Que todos deveriam conhecer o basquete, modalidade que irreversivelmente nos faz descobrir a importância de agirmos em conjunto, em equipe, de forma fraternal e unida.

Que o desenvolvimento do vocabulário e da linguística poderia ser muito melhorado, eliminando grande parte das dificuldades de entendimento e comunicação, se todos praticassem as simplórias palavras cruzadas, e por fim, imaginei que se todos pudessem conhecer o jogo da paciência, que desenvolve nas pessoas a humildade do reconhecimento de seus erros e faz com que seus praticantes busquem a correção dos mesmos, os fazendo mais tolerantes, fazendo com que consequentemente se tornassem mais evoluídos.

Ao terminar de formular essa teoria no mínimo “estrambólica”, descobri que coisa semelhante poderia ser dita e justificada, quem sabe até com muito mais brilhantismo, sobre muitas outras modalidades esportivas e disciplinas curriculares, do que como eu fiz com as armas escolhidas por mim para evoluir a sociedade.

Ao pensar nisso cheguei a uma constatação e a uma conclusão fulminante: a única coisa que verdadeiramente pode fazer com que uma sociedade realmente evolua é o conhecimento, o ensinamento aos membros dessa sociedade, da educação formal e da educação complementar que se possa dar a eles. Sem isso ninguém, nenhuma pessoa individualmente e nenhuma sociedade coletivamente será evoluída. Sem instrução, sem ensino, sem educação, não se chega a lugar algum!

Ao final acabei por me deparar com um sério dilema: é preciso que o cidadão, primeiro tenha a educação necessária para que, só depois disso ele possa, conscientemente, escolher se usa ou não o seu direito de eleger seus representantes ou ao cidadão sem educação e consequentemente sem a formação necessária, deve deixar nas mãos de outras pessoas a decisão de escolher aqueles indivíduos que irão lhes representar?

Pensamentos assim não saem na urina…

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