O que Nagib Haickel faria nesta situação?

Neste dia 7 de setembro de 2018, há exatos 25 anos, falecia o então presidente da Assembleia Legislativa do Maranhão, deputado Nagib Haickel, que entre outras coisas era meu pai.

Passado tanto tempo ocorre em relação a ele um fato curioso! As pessoas o conservam em suas lembranças e muitas comentam sobre algum fato ao qual ele irremediavelmente é ligado, como ter criado a “Meruoca”, uma loja que jamais fechava as portas, até porque não as tinha; O fato dele ter inventado a planilha Excel e não Bill Gates; como ser ex-presidente do Moto Clube; a respeito dos bombons que ele distribuía durante as campanhas políticas; sobre o fato dele narrar um trecho de uma partida de futebol nos comícios, muito antes do Tom Cavalcante fazer o mesmo; das milhares de nomeações que ele distribuiu entre 1968 e 1988; e de tantas outras coisas que o fizeram ser um personagem ímpar na vida empresarial, esportiva, social e política de nosso estado.

O fato de ser filho de Nagib Haickel não me faz automaticamente seu fã ou seu defensor incondicional. Tenho em relação a ele um posicionamento crítico que considero ser isento e honesto, e vou aqui expô-lo.

Acredito que as maiores qualidades de meu pai eram a autêntica generosidade, a sincera devoção à família e aos amigos, a grande inteligência e a aguda sagacidade para as oportunidades de negócios.

Meu pai não teve oportunidade de aprofundar seus estudos, cursou até o primeiro ano de contabilidade. Se tivesse se dedicado neste setor, se formado, teria ido, em certo sentido, muito mais longe, mas talvez não teria feito as coisas que queria fazer da forma que desejava. Não ser formalmente letrado não o tornava um homem desinformado, ele estava sempre em dia com as notícias e os acontecimentos locais, nacionais e internacionais.

Algumas pessoas o achavam rude, tosco ou mesmo boçal. Ele não era nenhuma dessas coisas, mesmo que tenha criado um personagem para si, do qual se utilizava no intuito de aproximar-se das pessoas comuns e distanciar-se das pessoas que considerava pedantes e chatas: “Nagib, o caboclo do Pindaré, acostumado a comer tapiaca e mandubé”.

Como empresário cultivou grandes amizades e o respeito de quase todos. Como político, vangloriava-se de não ter nenhum inimigo. Dizia ter apenas adversários com quem divergia pontualmente, mas com quem mantinha relações respeitosas e cordiais, mesmo que em duas ou três ocasiões tenha sido preciso a turma do deixa disso intervir. Em dois desses casos que eu presenciei, um com Luís Vila Nova e outro com Domingos Dutra, depois da refrega, ambos passaram a ser mais amigos dele que antes, tamanho era o respeito e a consideração que ele mantinha pelas pessoas, independentemente de suas posições sociais, políticas e ideológicas (no filme que fiz sobre meu pai, os depoimentos de Vila Nova e Dutra, são alguns dos mais vibrantes e emocionantes. Veja o link:https://www.youtube.com/watch?v=iZ1TXXdqw7U&list=PL1CRSF1DLcjwvUpyJAY3ASdVzCjgcex3I&index=9)

Meu pai não era nenhum santo, graças a Deus!… Ele não gostava muito de pagar impostos, pois achava que os cidadãos eram lesados pelos três níveis do estado, que não lhes davam a contrapartida que lhes era devida.

Algumas pessoas localizadas mais à esquerda do espectro político ideológico o consideravam clientelista e fisiológico, predicados e adjetivos que não o incomodavam de forma alguma, até porque ele, em seu modo jocoso, dizia não saber o que significavam essas expressões.

O seu fisiologismo era justificado pelo fato dele dizer abertamente que tinha sempre que estar atrelado ao poder dos governantes, pois apenas os governos poderiam possibilitar os benefícios de infraestrutura que os municípios e as pessoas que o apoiavam precisavam e mereciam. O mesmo dizia a respeito do clientelismo: Ao prestar relevantes serviços às populações e às pessoas, recebia em troca o apoio para se eleger.

Esses 25 anos sem ele me deram certeza de sua importância, não apenas nas vidas das pessoas de nossa família e do seu círculo de amigos, mas no panorama geral de nosso estado.

Ainda hoje me guio por um parâmetro que desenvolvi mesmo antes dele morrer. Sempre que tenho que tomar uma decisão complicada me faço uma pergunta: O que Nagib Haickel faria nesta situação!?…

 

 

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Perfil

“Poeta, contista e cronista, que, quando sobra tempo, também é deputado”. Era essa a maneira como Joaquim Elias Nagib Pinto Haickel aparecia no expediente da revista cultural Guarnicê, da qual foi o principal artífice. Mais de três décadas depois disso, o não mais, porem eterno parlamentar, ainda sem as sobras do tempo, permanece cronista, contista e poeta, além de cineasta.

Advogado, Joaquim Haickel foi eleito para o parlamento estadual pela primeira vez de 1982, quando foi o mais jovem parlamentar do Brasil. Em seguida, foi eleito deputado federal constituinte e depois voltou a ser deputado estadual até 2011. Entre 2011 e 2014 exerceu o cargo de secretario de esportes do Estado do Maranhão.

Cinema, esportes, culinária, literatura e artes de um modo geral estão entre as predileções de Joaquim Haickel, quando não está na arena política, de onde não se afasta, mesmo que tenha optado por não mais disputar mandato eletivo.

Cinéfilo inveterado, é autor do filme “Pelo Ouvido”, grande sucesso de 2008. Sua paixão pelo cinema fez com desenvolvesse juntamente com um grupo de colaboradores um projeto que visa resgatar e preservar a memória maranhense através do audiovisual.

Enquanto produz e dirigi filmes, Joaquim continua a escrever um livro sobre cinema e psicanálise, que, segundo ele, “se conseguir concluí-lo”, será sua obra definitiva.

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