Sean

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A última semana foi muito corrida, e acabei deixando apenas para hoje um assunto que me é muito caro. O falecimento de um dos poucos ídolos que cultivei no cinema: Sean Connery.

Seu pai o chamava pelo primeiro nome, Thomas, já sua mãe só o chamava assim quando era para brigar com ele. Para ela, ele era quase sempre Sean.

Nasceu em Edimburgo, onde aos 13 anos, para ganhar uns trocados foi ser leiteiro, depois serviu na Marinha naval inglesa, foi motorista de caminhão, modelo vivo para pintores e até chegou a ser terceiro colocado no concurso de mister universo.

Um amigo conseguiu-lhe um teste para ator da BBC e ele nunca mais parou.

Em 1962, com 32 anos, ele fez um pequeno papel no épico de guerra “O mais longo dos dias” e logo a seguir, teve sua grande chance. Foi o primeiro ator a encarnar o célebre personagem de Ian Fleming, James Bond, para o qual serviu de modelo, régua e compasso, não apenas para o personagem em si, mas para todos os protagonistas da franquia que viriam depois dele. É importante que se diga que nenhum de seus sucessores conseguiu igualar o desempenho de Connery como Bond, tanto que o James Bond de hoje, por mais que a tecnologia contemporânea possa ajudar no desenvolvimento das intrincadas histórias, e o ator seja bom, como foi o caso de Pierce Brosnan e é o caso de Daniel Craig, não tem o mesmo charme que tinha nos anos 60.

Naqueles maravilhosos anos, o agente secreto, que tinha permissão para matar a serviço de sua majestade, a rainha da Inglaterra, agia de maneira que se o fizesse hoje, seria crucificado em praça pública. Ele fumava, bebia, usava as mulheres como objetos de poder e de sexo, não se preocupava com o que as pessoas pensavam ou sentiam… Como diziam por aí, hoje em dia esse menino não se criava!… E se assim o fosse teríamos perdido algumas das melhores cenas de nossa juventude.

Connery deixou Bond para trás em 1971, em “Os Diamantes são para sempre”, mas voltaria excepcionalmente a ser o personagem em 1983 em “Nunca diga nunca outra vez”, porém, nestes 12 anos de afastamento de seu alter ego, Sean nos presenteou com verdadeiras pérolas da cinematografia mundial.

“Assassinato no Orient Express”, quando mostrou ao mundo que estava à altura de gente como Albert Finney, Ingrid Bergman, Anthony Perkins e Sir John Gielgud. “O vento e o leão”, onde foi dirigido pelo grande John Millus e contracenou com a lenda viva John Huston e com a maravilhosa Candice Bergen. “O homem que queria ser rei”, um dos filmes que fez com que eu, aos 16 anos, decidisse que o cinema era o meio pelo qual eu desejava me conectar com o mundo. “Robin e Marian”, onde vemos um Robin Hood envelhecido, o que nos deu perspectiva de como é realmente a vida. “Uma ponte longe demais”, onde novamente ao lado de um elenco fenomenal, prova e comprova que estava à altura dos maiores atores do mundo.

Mas é em 1986, aos 56 anos de idade, com “O nome da rosa” e ‘Os intocáveis” que Sean tem a consagração definitiva de seu trabalho.

Ele fez ainda muitos e bons filmes como “Highlander, “Caçada ao Outubro Vermelho”, “A casa da Rússia”, “Robin Hood, príncipe dos ladrões”, “Sol nascente”, “Lancelot, o primeiro cavaleiro”, “A rocha”, “A armadilha” e “Encontrando Forrester”, onde ele encarna um personagem que se parece muito com a ideia que sempre fiz dele, um professor inteligente e sensível, mas forte.

Há no entanto uma coisa que muito me liga a Sean Connery. Certa vez, fizemos uma viagem para Las Vegas. Nos hospedamos em um gigantesco e maravilhoso Hotel, o Venetian. Numa manhã, quando saíamos do quarto para fazer um passeio pela cidade, eu e meu bom amigo Alejo Olle, espanhol que teve a sorte de casar com nossa querida amiga Adriana Sarney, andando mais a frente, e nossas devotadas esposas alguns passos atrás de nós, como manda a boa tradição nipônica, passaram por nós, duas americanas de uns 30 anos. Elas pararam no meio do corredor e olhando para mim, disseram uma para outra: “Oh! Sean Connery!…”.

Eu ouvi aquilo, virei-me para trás e disse a Jacira que vinha logo atrás: “Ouviu isso?!… Você casou comigo, mas vive com um homem que sabe que só se vive duas vezes, e que os diamantes são eternos. Então aproveita!…”

Muitas outras pessoas diziam que eu lembrava Sean Connery, o que pra mim era motivo de grande honra e até de alguma vaidade. Até hoje rimos dessa história.

É claro que fiquei triste com a morte de meu ídolo, mas sei que ele viveu bastante e intensamente. No fundo é isso que importa, escrevermos da melhor maneira as nossas histórias, de modo que possamos ser lembrados pelas boas coisas que realizamos.

Jamais esqueceremos de Sean Connery. 

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