Às vezes o bom nasce do ruim

Essa crônica já começa me custando uns mil reais*. Explico: É que o fato que me levou a escrevê-la custou-me esse valor, mas em compensação deu-me além de um novo amigo, a impagável comprovação de que nossa cidade, que agora tem mais de um milhão de habitantes, de certa forma, ainda mantém algumas das boas características de cidade pequena.

Deixe-me explicar melhor. Voltava pra casa depois de um cansativo dia de trabalho e resolvi que facilitaria a vida de meu motorista deixando-o no retorno da Cohama, embaixo do viaduto, para que ele pegasse o ônibus e fosse mais cedo e mais comodamente para casa.

Acontece que algo um tanto imponderável estava para acontecer.

Como o trânsito encontrava-se congestionado, os carros quase não se movimentavam, resolvi que pegaria logo ali, onde nos encontrávamos, a direção do veículo, liberando o motorista ainda mais cedo. Porém ao abrir a porta, e olha que só entreabri a porta, nem cheguei a escancará-la; ao abri-la acabei por atingir e ser atingido por uma motocicleta que resolveu passar pelo lado direito do meu carro, o que além de ser proibido era um tanto improvável que acontecesse, já que o espaço entre o carro e o meio fio era quase nenhum.

O certo é que ao abrir a porta fui atingido e atingi a motocicleta que, depois fui saber, era pilotada pelo Roberto. Até hoje não sei seu sobrenome.

O susto que eu levei foi enorme. Imagine o susto que sofreu o Roberto, sendo que além de susto ele também levou um tombo, tendo machucado um dedo da mão esquerda e o joelho do mesmo lado.

Durante intermináveis segundos Roberto não disse palavra. Apena segurava o joelho com as mãos.

Fui logo procurando se havia algum sangramento e não havia. Observei que ele estava de capacete e isso garantia que a cabeça não havia sofrido nenhum trauma, mas até ele ter falado eu fiquei preocupado.

Quando ele falou, eu relaxei. A dor que ele sentia era visível e o inchaço no joelho foi instantâneo, ele disse que já havia tido problema com aquele joelho, jogando bola.

Ele ficou sentado no chão durante bastante tempo e enquanto isso eu fiquei ao seu lado. Perguntei o seu nome e lhe disse o meu. Ele falou ao telefone com três pessoas, avisando o que havia ocorrido.

Pedi que ele anotasse meus números telefônicos, o que ele fez.

Conversamos um pouco e ele me contou que naquele dia ele havia mandado colocar em sua moto exatamente as peças que quebraram no acidente. Eu não estava nem um pouco preocupado com os prejuízos matérias, minha preocupação era unicamente com o estado físico dele, que nada tinha de grave, mas preocupava pela dor no joelho já anteriormente machucado.

Em momento algum o acidente gerou agressividade, fúria ou raiva. Desde o início tanto eu quanto ele, reconhecemos que ambos fizemos coisas que não deveríamos ter feito. Mesmo que fosse improvável que viesse alguém pela minha direita, eu deveria ter olhado para me certificar disso, enquanto ele jamais poderia ter feito aquela manobra, que além de proibida era arriscada.

Durante todo o tempo estávamos tranquilos, mesmo que eu estivesse preocupado e ele dolorido.

Tudo aquilo deve ter durado uns 30 minutos, e desde o momento do acidente pelo menos uma dúzia de pessoas que passavam pelo lugar paravam e perguntavam se estava tudo bem, se estávamos precisando de ajuda.

Primeiramente parou um rapaz que passava andando pelo local, depois um outro numa bicicleta e logo depois um conhecido em uma moto.

Devido à hora e à má iluminação, em que pese a favor, a pouca distância, e contra, a “vista cansada”, não pude identificar nenhuma das muitas pessoas que passaram oferecendo ajuda.

Fico imaginando se aquilo tivesse ocorrido em outra cidade onde o trânsito é muito mais intenso, se as pessoas teriam a mesma atitude.

Essa peculiaridade de nossa gente, esse jeito de ser um tanto provinciano se comprova não apenas pela forma solidária de agir de nossos cidadãos, mas pela incrível agilidade de como voam as notícias, pois dez minutos depois do acidente, meu amigo Vadequinho me ligou querendo saber se estava tudo bem, se eu estava precisando de alguma coisa. Achei incrível que ele já soubesse. Ele então disse que uma amiga passou pelo local do acidente e ligou para ele, avisando.

Alguns podem dizer que isso acontece em todo lugar, outros podem afirmar que faz parte da natureza humana e outros ainda que isso seja exatamente coisa da província, mas não no que ela preserva de melhor e sim em sua forma mexeriqueira de se comportar.

Para mim, em que pese o ocorrido, ficou a clara percepção da solidariedade de nossa boa gente.

Chamei então o motorista de minha mulher para que, na camionete em que trabalha, levasse a motocicleta de Roberto até sua casa. Depois recomendei que o motorista levasse Roberto a um hospital, o que ele recusou, dizendo que iria no dia seguinte ao Socorrinho que há em seu bairro.

Talvez não volte a encontrar o Roberto, mas tenho certeza que apesar de termos nos conhecido em circunstância ruim, mesmo sem ter sido dito, ficou de ambas as partes uma sensação de civilidade, urbanidade, respeito e compreensão.

*Os mil reais acima citados foram gastos no conserto da moto do Roberto e da porta de meu carro.

Décio Sá

Confesso que não sei por onde começar esse texto. Não sei o que dizer, ou melhor, não sei o que dizer primeiro. Em verdade nem sei se quero dizer alguma coisa neste momento. Não me sinto distanciado o suficiente dos fatos e poderia acabar por dizer coisas que possam não traduzir verdadeiramente os sentimentos que tomaram conta de mim desde que recebi o telefonema do jornalista Zeca Soares dando conta do assassinato de nosso amigo, Décio Sá.

Estava fora de São Luis. Trabalhava no documentário que venho fazendo já algum tempo sobre o padre Antonio Vieira. Acordei como faço sempre às seis da manhã e vi a ligação. Achei que algo muito sério havia acontecido. Retornei pra Zeca que me deu a notícia absurda de forma acachapante. Não acreditei no que estava ouvindo. Parecia que estava sonhando. Mas não era sonho. Depois que acabei de falar com Zeca, apareceram algumas mensagens de texto em meu celular dizendo a mesma coisa: “Décio Sá foi assassinado”.

No apartamento em que eu estava hospedado não conseguia acessar a internet e saí imediatamente em busca de sinal para saber mais detalhes. A história estava em todos os sites e blogs. Li tudo o que foi publicado sobre o assunto. Li o que Décio havia publicado em seu blog nos últimos dias. Li o que havia sido publicado em todos os blogs de nossa cidade nos dias que antecederam aquele covarde assassinato e garanto-lhes que quem fizer o que eu fiz tenderá a acreditar que, aparentemente, no próprio blog de Décio se encontram as pistas para a solução de seu ultrajante assassinato, mas é a policia quem deve apurar este caso, prender o assassino e seus cúmplices e a justiça quem deve julgar não só o assassino mas principalmente o mandante, devendo essas instituições fazer isso de forma urgente e indubitável, sob pena de se perder para o banditismo, o controle de nossa sociedade.

Mas como já disse antes, não gostaria de falar disso agora, não quero falar do crime. Gostaria de falar de Décio Sá, do jornalista, do amigo, sobre o que conhecia dele, de minha amizade com ele, de seu trabalho, de sua importância no panorama jornalístico do Maranhão.

Conhecia Décio desde que ele começou a trabalhar cobrindo os trabalhos da Assembleia Legislativa, onde eu era deputado. Naquela época ele e Marco D’éça formavam uma espécie de dupla dinâmica do novo jornalismo político de nosso Estado. Com Walter Rodrigues (já falecido), Lourival Bogéa, Roberto Kenard, Luis Cardoso, e alguns poucos outros, eles compunham um grupo de interlocutores privilegiados do setor ao qual se dedicavam.

Com o advento da internet e a possibilidade dos blogs, alguns jornalistas de jornais diários, em papel, passaram a ter seus espaços no jornalismo virtual, canal de comunicação mais direta e mais efetiva entre eles e seus leitores, sem ter como intermediário, um jornal, um patrão. Isso transformou alguns jornalistas em estrelas tão brilhantes quanto os personagens de quem eles davam notícias. Décio em pouco tempo passou a ser o blogueiro mais lido de nosso Estado.

O estilo literário não era o aspecto mais forte de seu jornalismo. Muitas vezes disse isso a ele, ao que me respondia que a rapidez da notícia prejudicava seu texto. Às vezes lhe ligava fazendo um comentário e ele dizia “já vou consertar”, e nunca o fazia, pois uma outra notícia aparecia e ele já postava. Seu forte era mesmo a notícia. A notícia gostava dele, o procurava, de certa forma o perseguia. Ele construiu uma sólida e confiável rede de fontes de notícia e sabia ler como poucos as entrelinhas das informações que lhe eram passadas, sabendo separar o que era notícia boa e legítima das que eram falsas, facciosas e vinham recheadas de segundas, terceiras e quartas intenções.

Não é porque ele morreu que vou endeusá-lo. De modo algum. Em que pese ser um repórter brilhante, o mais competente de seu tempo, muitas vezes discordava dele, da mesma forma que faço em relação a vários outros jornalistas amigos e não amigos meus, que praticam em alguns casos o jornalismo partidário. Sou daqueles que acreditam que os jornalistas devem dar a notícia mostrando todos os ângulos e expondo todos os pontos de vista dela. Acredito que as opiniões pessoais devam ser expressas em artigos, crônicas, ensaios e coisas parecidas, não através de reportagens ou publicações correlatas, pois o leitor comum tende a acreditar no que lê e nem sempre tem o senso critico de separar fato de opinião.

Como disse, em pouco tempo Décio criou em torno de si uma rede de interlocutores das mais diversas procedências, das mais improváveis facções políticas, ideológicas e sociais, consolidando-se como o mais bem informado jornalista maranhense.

Não foram poucas as vezes que eu liguei para ele para perguntar-lhe sobre assuntos de meu interesse. Não foram poucas as vezes que ele me ligou para confirmar alguma notícia ou checar alguma informação, saber de algum detalhe sobre o regimento da Assembleia Legislativa ou sobre a aplicabilidade de alguma norma constitucional.

Trabalhei com ele algumas vezes fazendo cobertura de apurações de eleição e vi de perto como ele trabalhava, vi que a notícia lhe interessava a qualquer custo, pouco importando se ela iria causar polêmica, mal estar ou prejuízo a alguém. Décio cultivou com sua forma de ser, poucos amigos e muitos desafetos e isso fez com que covardes mandassem assassiná-lo.

Ele era um sujeito que mantinha uma vida social comum. Regularmente nos encontrávamos em shows de música, festas de carnaval, restaurantes. Nos finais de semana o peixe pedra e o caranguejo do Mirante do Araçagy eram sagrados.

Estou aqui escrevendo e ainda não consigo acreditar que essa tragédia tenha realmente acontecido. Às vezes paro com um nó na garganta e os olhos embaçados e então respiro fundo e volto ao texto.

Acabei de acessar o blog de Décio e constatei que vou sentir muita falta de seu trabalho. Vou sentir falta dele, pois era uma rica fonte de informação e um bom e querido amigo.

Em sua homenagem continuarei acessando diariamente a sua página e sugiro que o Sistema Mirante crie um blog que se chame “Blog do Décio” onde sejam publicadas matérias em defesa das liberdades, principalmente da liberdade de expressão e contra todas as formas de intolerância e de violência.

Nada melhor para a noite de domingo

Vi todos os filmes que estão indicados ao Oscar e confesso que é impossível dizer-se com certeza quem irá levar para casa a famosa estatueta, em qualquer uma das mais importantes categorias. Há muitos anos a disputa não era assim tão acirrada. Parece que em 2011 o cinema melhorou bastante, em comparação com os anos anteriores.

Tendo declarado isso, o resto passa a ser mera especulação de quem é apaixonado pela arte de se fazer sonhar acordado, de olhos bem abertos e normalmente comendo pipoca.

Mas vamos diretamente ao que interessa. O melhor filme.

Não quero de cara arriscar-me em dizer quem irá ganhar, posso comentar com você sobre aqueles que eu acredito que não irão ganhar.

Em minha opinião “A Árvore da vida” nem deveria estar concorrendo nessa categoria. A única em que admitiria que esse filme pesado e difícil pudesse concorrer seria na de melhor diretor, pois Terrence Malick consegue fazer aquilo a que se propõe, e é isso que caracteriza um bom diretor… Se o que ele se propõe a fazer resulta em uma coisa da qual não gosto, e certamente pouca gente vai gostar, isso é matéria para outra crônica. (Alguns amigos meus, chegados ao cinema denso vão me malhar depois dessa…).

“Os descendentes”, “Histórias cruzadas” e “O homem que mudou o jogo” são histórias americanas demais e a indústria cinematográfica vive muito mais do mercado externo do que do interno, e não nos esqueçamos que esse prêmio, antes de qualquer coisa, é da indústria e não da arte, dos artistas que a fazem. São ótimos filmes, mas não devem sair vencedores.

Hollywood não vai dar um Oscar para o “Meia-noite em Paris” de Wood Allen porque este é um filme da franquia “fastscreen”, onde o diretor sai pelo mundo mostrando as belezas das maravilhosas cidades que servem de pano de fundo para suas histórias, como já fez em Barcelona e parece que pretende fazer também no Rio de Janeiro. Gostei de tudo nesse filme, mas não vai ganhar.

Eu particularmente gosto muito, mas muito mesmo de filmes como “Cavalo de Guerra” e “Tão forte e tão perto” porque suas estruturas de roteiro e narrativa nos levam a um passeio por um tempo, um espaço, um ambiente, onde o homem, suas circunstâncias e as consequências de suas ações são também personagens importantes na história que é retratada, nesse caso por diretores do quilate de Spielberg e Stephen Daldry, que dirigiu o belíssimo “Billy Elliot”. Não acredito que tenham chance.

No final das contas só dois filmes estão realmente concorrendo ao prêmio de melhor do ano: “A invenção de Hugo Cabret” e “O artista”. O primeiro é uma mega produção de quase 130 milhões de dólares, enquanto o segundo não chegou a 30.

Vejam só! 100 milhões de dólares de diferença e disputam em pé de igualdade o maior prêmio do cinema mundial. Isso é o que se poderia chamar de igualdade cinematográfica, onde estilos, conteúdos, recursos financeiros, recursos humanos, ideias e ideologias diferentes se igualam quando o juiz é o cérebro, o intelecto humano… E porque não dizer a alma humana seduzida pela magia de quem sabe contar histórias.

Em que pese “A invenção de Hugo Cabret” ser um ótimo filme, uma bela fantasia de Scorsese em homenagem ao cinema francês, eu votaria em “O artista”, pois é um filme corajoso e arrojado. Em preto e branco e mudo, ele fala e põe cores em um importante episódio do cinema e de como vivia quem o criou. Da dor e da delicia de serem como eram e como são. Não só por isso, mas por ter visto retratado no personagem principal, grandes ídolos da arte que tanto amo: Vi naquele filme Chaplin e seu cão, vi Douglas Fairbanks, Mary Pickford e D. W. Griffith… Vi Buster Keaton, Errol Flynn, Fred Astaire…

Depois de melhor filme, o que mais importa é o prêmio de melhor diretor e esse acredito ser também difícil prever o vencedor. Alexander Payne por “Os Descendentes, Terrence Malick por “A Árvore da Vida”, Woody Allen por “Meia-Noite em Paris”, Michel Hazanavicius por “O Artista” e Martin Scorsese por “A Invenção de Hugo Cabret”. Essa é minha lista em ordem crescente, sendo que Michel e Martin estão em pé de igualdade, com ligeira vantagem para o segundo.

Como o espaço é curto, vou a seguir apresentar a você minha lista de prováveis vencedores da festa de logo mais à noite em Los Angeles, vou dizer-lhe quais seriam meus votos caso pertencesse à Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, apenas nas categorias que posso opinar: Filme: O Artista; Diretor: Martin Scorsese; Roteiro original: O Artista; Roteiro adaptado: A Invenção de Hugo Cabret; Ator: Jean Dujardin; Atriz: Meryl Streep; Ator coadjuvante: Max Von Sidow; Atriz coadjuvante: Berenice Bejo; Filme em língua estrangeira: A Separação (Irã); Longa animado: Chico & Rita; Fotografia: Cavalo de Guerra; Direção de arte: Cavalo de Guerra; Montagem: A Invenção de Hugo Cabret; Canção original: “Real in Rio”; Efeitos visuais: A Invenção de Hugo Cabret; Maquiagem: A Dama de Ferro; Figurino: W.E. – O Romance do Século; Trilha sonora original: As Aventuras de Tintim; Edição de som: Cavalo de Guerra; Mixagem de som: Cavalo de Guerra.

Espero que tenha ajudado você a passar alguns minutos em companhia do que há de melhor nos cinemas da atualidade e que tenha lhe convencido de que não há nada melhor para fazer nessa noite de domingo.

Sem palavras

Há muito não escrevo e por isso não tenho publicado nada neste espaço. Isso não significa que eu não tenha o que dizer ou o que comentar com vocês. Muito pelo contrário, a cada instante surge um assunto que gostaria de tratar, um tema que acredito ser importante que discutíssemos.

Muita gente, amigos próximos, outros nem tanto e até pessoas que eu nunca vi antes me abordam e perguntam por que não tenho mais publicado crônicas aqui, nem postado no meu blog.

Não é apenas por falta de tempo. Escrevi este texto às quatro horas da madrugada do dia15 de fevereiro de 2012. Deitei por volta da meia noite, adormeci assistindo pela trigésima vez, o filme “Palavra e Utopia”, acordei com uma imensa vontade de escrever e me danei a catar milho no teclado do PC.

O que ocorre é que os processos criativos de que me sirvo para escrever nem sempre são possíveis de serem utilizados e muitas vezes, ultimamente todas elas, esse esforço criativo tem se transformado em outra forma de energia motriz de minha existência: a sublimação.

Nesse meu período de afastamento já tive vontade de falar sobre o trabalho que desenvolvemos em 2011 na Secretaria de Esporte, onde com um orçamento de apenas seis milhões de reais realizamos ações e eventos de grandes e importantes proporções.

Pensei que pudéssemos comentar, mais uma vez, sobre a nossa Lei de Incentivo ao Esporte e à Cultura que em muito boa hora a governadora sancionou e que já começa a dar frutos.

Imaginei que seria muito bom falarmos sobre política, lato sensu. Falar dela como filosofia, como um caudaloso rio que serve ao mesmo tempo de caminho e de veículo de transformação, ou simplesmente falar do aspecto prático e eleitoral dela, no que diz respeito à eleição municipal que se aproxima.

Estava certo de que poderíamos falar, mais uma vez, aproveitando a comemoração dos 400 anos de nossa capital, sobre trabalharmos no sentido de mudarmos a forma de como nós, cidadãos, podemos agir para salvarmos o nosso patrimônio histórico arquitetônico, para oferecermos opções sadias de lazer e entretenimento aos nossos jovens, para juntar esforços e alinharmos ações que possam melhorar a nossas vidas.

Estava certo que falaríamos sobre os diversos trabalhos que eu e um grupo de amigos estamos começando a realizar na tentativa de preservar a memória de alguns de nossos importantes personagens do setor cultural e resgatar a memória de outros relevantes vultos de nossa história, além da realização de um documentário sobre o padre Antonio Vieira, um desenho animado sobre a fundação de São Luis e um longa-metragem onde seis diretores ludovicenses, contando histórias que se passam em nossa cidade, desenhem em linguagem cinematográfica uma homenagem, uma declaração de amor a ela.

Cogitei falar da crise que assola a Europa e comentar sobre como nós estamos, pelo menos aparentemente, passando ao largo dela. Imaginei falar sobre a eleição americana e a loucura que é a escolha partidária de um candidato a essa disputa.

Durante esse tempo em que estive ausente aconteceu um fato ou factoide que tive vontade de comentar. Um contrato que um órgão público teria celebrado com um prestador de serviço para aluguel de veículos num valor absurdo, algo que estava na cara que só poderia ser resultado de um erro, um engano, um equivoco e transformou-se em nossa imprensa em um fato retumbante. Gostaria de falar disso, dessa loucura em que tem se transformado a imprensa de nossa terra e de nosso país, onde os jornalistas e as empresas desse setor disputam, pelejam, brigam mais que os verdadeiros contendores.

Não lembro a última vez que em aqui publiquei uma crônica, mas Ademir Santos, jornalista responsável por essa página, liga semanalmente me cobrando e tenho respondido a ele tal qual Michelangelo fez com Julio II, “…Quando for o tempo…” Parece que o tempo é agora.

Uma coisa me fez despertar, levantar e escrever esse texto para publicar infelizmente num dia em que poucos deverão lê-lo, já que hoje é domingo de carnaval.

Essa coisa de que falo foi uma profunda angústia que tomou conta de mim, começando por secar minha garganta e alastrando-se por todo o meu corpo, imobilizando meus braços, enrijecendo minhas pernas, assim que soube da morte do sobrinho de minha querida amiga Heloisa, garoto de 13 anos de idade, neto de meu confrade Sálvio e filho de meu amigo Flávio. A partir desse momento o dia ficou turvo e o meu ânimo que normalmente é agitado, arrefeceu, fiquei abatido e à proporção que o dia avançava, ficava pior.

Fui ao velório do professor Pompílio Albuquerque, pai de Roberto e avô de Sérgio, e lá vi o retrato de uma existência realizada, um homem que ajudou a escrever uma página de nossa história e que, expirado seu tempo de serviço, reformou-se, definitivamente.

Mas a morte de um menino de 13 anos, isso eu não consigo assimilar.

Fiquei imaginando como podem algumas pessoas reclamar da vida, se maldizer, se lastimar… Fiquei tentando imaginar o tamanho, a intensidade, a contundência da dor daquela mãe, daquele pai, dos irmãos, dos avós, da tia… Senti-me pequenino, insignificante.

Ficou claro para mim que normalmente reclamamos da vida sem razão, ficou claro que há sempre alguém em pior situação que nós.

Não sou capaz de imaginar palavras que traduzam o que sente quem passa por uma coisa como essa. Só sei dizer que as dores que já senti e aquelas que tenho sentido, são infinitamente menores.

Em busca do padre Antônio Vieira

Depois de mais de um ano de preparativos e pesquisas, estamos começando a trabalhar num documentário sobre a vida e a obra de Antônio Vieira Ravasco, o nosso padre Vieira.

Nessa Jornada irei contar com o indispensável apoio de Coi Belluzzo e Antonio Abreu Freire. O primeiro, dividindo comigo a responsabilidade de produzir e dirigir esse filme. O segundo terá a tarefa de juntamente comigo escrever uma escaleta, um roteiro mínimo, que só será concluído na ilha de edição, onde me encontrarei novamente com Coi que estará ao lado de Vini Martins na finalização desse trabalho. A direção de fotografia ficará sob a responsabilidade de Cleisson Vidal e a produção executiva será de Ariana Chediak. Na fase inicial do trabalho contei com o apoio de Cássia Melo que elaborou o projeto para apresentarmos no Ministério da Cultura, para que pudéssemos nos credenciar ao financiamento da Lei Rouanet.

Meu objetivo, ao idealizar esse documentário, em que pese o que preconiza seu título, ainda provisório, não é estabelecer prioritariamente quem foi o padre Antônio Vieira, mas possibilitar uma observação privilegiada dos muitos Vieiras que sabíamos de antemão que encontraríamos no decorrer da pesquisa. Essa observação será conseguida graças aos depoimentos de pessoas que se dedicaram a estudar sua obra e pesquisar sua vida.

É bom que se ressalte que a existência desses vários Vieiras é constatada não apenas através da leitura dos textos de quem se dedicou a analisar e escrever sobre esse importante personagem da historia de Portugal e do Brasil, mas também lendo-se o próprio Vieira se chega a essa conclusão.

A realização desse filme deve-se não apenas ao fascínio que sempre tive pela história de Vieira, mas pela constatação de que ela conquista a atenção de todos que têm a oportunidade de conhecê-la.

Quem se propõe a conhecer Vieira, imediatamente descobre que se trata de um homem multifacetado e ao mesmo tempo uníssono: há a pessoa de Vieira; há o Vieira padre, e dentro deste há um verdadeiro escaninho de onde saem o Vieira missionário, o Vieira herético, o Vieira orador sacro, o profético… Há o Vieira político que dá origem ao Vieira ambicioso, ao oportunista, ao maquiavélico, ao intriguento… E há vários outros Vieiras.

Da observação, da analise e do consequente conhecimento de todos esses Vieiras, acabará por surgir o nosso personagem, que longe de ser coerente traz em si as incertezas comuns aos seres humanos, exacerbadas pela vaidade, por uma ambição imensa, por um senso de oportunidade incomum e por um pragmatismo que beira o maquiavelismo.

Mas não pense que estou destratando o nosso personagem. Não. Longe disso. O Vieira que iremos encontrar em sua jornada de 89 anos, depois de mais de uma dúzia de travessias atlânticas, tendo sido suas embarcações duas vezes tomadas de assalto por corsários, e tendo ele naufragado em outras duas oportunidades; tendo sido condenado pelo Santo Ofício e conseguido do papa um brevê que impedia de ser alcançado pelo longo braço da Inquisição; tendo ele tramado e tecido planos de expansão de seu país e advogado o retorno dos judeus a Portugal por interesses meramente financeiros; defendido os índios brasileiros da escravidão e não tendo a mesma preocupação com os negros africanos… Tendo feito tudo o que fez, tendo feito até mesmo algumas coisas não recomendáveis a um homem de bem, a um sacerdote, ele parece jamais ter feito qualquer coisa visando proveito pecuniário ou próprio, nunca agiu em defesa primeira de seus interesses individuais, mas sim de uma coletividade, quase sempre em defesa de seu país ou da missão da qual estivesse incumbido.

Vieira foi antes de tudo um patriota. Tão patriota que tentava sê-lo ao mesmo tempo patriota português quando imaginou entregar Pernambuco aos holandeses, e patriota brasileiro quando em ato continuo se preparava para retomá-lo deles.

Antônio Vieira é um personagem marcante não apenas no contexto do século em que viveu, mas sua importância transcende seu tempo e o espaço que nele ocupou, transformando-se num dos mais importantes personagens da história, certamente o maior dentre os representantes dos povos de língua portuguesa.

O Vieira que saltará das telas em que nosso filme for exibido não será um Vieira definitivo, será apenas um Vieira que abrirá a porta que nos levará a uma dimensão que nos possibilite ir em busca dos personagens que fizeram a nossa história passada, para que com isso possamos construir as bases, os fundamentos da nossa história presente e realizarmos, como profetizou Vieira, “A Historia do Futuro”.

São Luís

Outro dia, conversando com alguns amigos, comentávamos sobre os locais e as coisas que mais gostamos, que mais nos aprazem em nossa cidade, essa jovem e encantadora mulher, que no ano que vem vai completar 400 anos.

A primeira vista é fácil dizer um ou outro lugar, citarmos uma ou outra atividade que mais nos cause alegria ou felicidade nesse cenário maravilhoso em que vivemos.

Eu imediatamente disse que o lugar que mais me agradava era o Centro Histórico, suas ladeiras e suas ruelas, as paredes azulejadas e seu calçamento de paralelepípedos… Depois fui vendo que, apesar do conjunto arquitetônico me emocionar, de ficar imaginando quantas moças bonitas ficaram nas sacadas, quantos casais de namorados se encontraram à porta dos casarões, quantos negócios foram feitos nas lojas, apesar disso fui lembrando de outros recantos e de outras histórias que me faziam a cada uma mudar de opinião sobre qual lugar eu mais gosto.

Cada um de nós ia dizendo as suas preferências: Havia quem preferisse as praias e delas nós estamos bem servidos, em que pese as condições não recomendáveis para banho em algumas delas. Precisamos resolver esse problema. Esse é um dos presentes que devemos dar a nossa mais constante namorada, a nossa cidade.

Naquela ocasião confessei que muitas vezes, há alguns anos atrás, quando precisava relaxar, eu pegava meu carro e ia passear de madrugada pelo centro, quando as ruas estavam vazias, quando as pessoas estavam dormindo. Muitas vezes eu consegui sentir o pulsar das ruas, como se o compasso de seu coração desse ao meu, o ritmo que ele precisava para relaxar. Alguns amigos reconheceram que também já haviam feito isso.

Alguém lembrou da casa dos pais de sua mãe, em plena Rua do Sol, uma daquelas moradas inteiras, onde havia um pátio interno cercado de alpendres que davam acesso a um quintal onde os meninos chutavam suas bolas de meia e as meninas desfilavam suas roupas novas. Lembrei da casa de minha avó Maria Haickel na Rua da Saúde, do sobrado de meu avô Joaquim Pinto, na Rua da Inveja… Lembrei dos maravilhosos nomes que nossas ruas tem, de seu traçado cartesiano, formado por paralelas e transversais. Lembrei das sombras frescas que os prédios criam ao esconder o sol, do cheiro da tarde na Praça Deodoro, da Mãe D’água da Pedro II, do frio na barriga ao passarmos pela Montanha Russa.

Lembrei dos cinemas de minha adolescência: O Éden, o Roxy, o Cine Passeio, o Monte Castelo, o Rialto, o Rex e até o Anil…  

Lembrei da fonte do Ribeirão, talvez o maior símbolo de mistério de nossa terra, mas lembrei também da deliciosa Fonte das Pedras, onde muitas vezes fui namorar, mesmo que fosse contra as regras do administrador…

Hoje vejo que a grande maioria dos lugares que nós comentamos naquele dia são de uma cidade do passado, de um lugar que já passou em nossa vida, individual ou coletiva. Mesmo quem disse que adora o Teatro Artur Azevedo ou o Museu Histórico, ou a Biblioteca Publica, ou a Escola de Música, ou o Sítio do Físico, ou o Tamancão, ou mesmo que disse que adora ir para seu sítio no Maracanã… Mesmo esses, se referem a uma cidade de outro tempo, uma cidade onde nós éramos outros, um cenário no qual nós pudéssemos congelar o tempo e passá-lo como se folheia as páginas de um álbum de fotografias.

Depois daquela conversa eu fiquei pensando… Não se pode pensar em uma cidade, qualquer que seja ela, sem levar em consideração as pessoas que nela vivem. A cidade, por mais concreta que seja, por mais monumentos que tenha, recebe uma carga definitiva, uma porção fundamental de energia provenientes das pessoas que dão a ela o sopro da vida.

Hoje analisando o que mais gosto em minha amada São Luis, fico dividido entre o nosso centro histórico, seus prédios e monumentos, suas frias pedras de cantaria, os arcos de seus portais, a velha madeira de suas portas, e a gente que vive nele; as mulheres de vida difícil, os pregoeiros escassos, os peixeiros do portinho, os octogenários que insistem em fazer companhia às suas velhas paredes, a seus vergados telhados, e os jovens descendentes deles…

No final ficamos imaginando qual o melhor presente poderíamos dar a cidade em seu aniversário de 400 anos e dentre tantos que ela tanto precisa me fica a vontade de juntar esforços para transformar o inútil Sítio Rangedor em um parque Zoo-Botânico que pudesse agregar a nossas vidas um pouco mais de lazer e conforto.

A outra

Que Diana Spencer foi um ícone da história inglesa e mundial isso ninguém duvida. A plebeia que virou princesa e poderia ter se tornado rainha, daquele que já foi o império mais poderoso do nosso planeta, apaixonou a todos que a conheceram, souberam a sua história, as circunstâncias de sua vida e as consequências de suas ações e de suas escolhas. Sua vida foi de comum ao conto de fadas e terminou em tragédia.

Mas eu não quero falar sobre a bela Lady Di. Gostaria na verdade de falar de uma outra mulher, uma outra figura que surge como surgem quase todos os personagens da história, inexoravelmente, por necessidade natural que toda história tem de tornar-se de alguma forma marcante, para que nós seus apreciadores possamos descobrir aspectos que possam ser comentados e discutidos.

Gostaria de falar sobre uma mulher que, ao contrário de Diana, que era doce, meiga, simpática, elegante, charmosa e linda, me parece que sempre foi feia, não se veste como as mulheres elegantes o fazem, não parece ser simpática, não demonstra nenhum charme, parece não ser meiga e muito menos doce. Falo de uma mulher que aparentemente se opõe em quase tudo a Diana. Falo de Camila Parker-Bowles, atual mulher do príncipe Charles.

Essa crônica poderia acabar bem aqui se a minha intenção fosse apenas comparar o que era público e conhecido sobre Diana e o que da mesma forma o é sobre Camila. Em uma competição comparativa, imagino que a princesa ganharia da megera em todos os quesitos, no entanto há um ponto no qual eu acredito que Diana perderia para Camila. Refiro-me ao item amor.

Na vida existem muitos mistérios inexplicáveis e aqueles que envolvem essa faceta humana, o amor, são os mais controversos de todos.

Como um homem, em sã consciência poderia preferir uma mulher como Camila, em detrimento de outra como Diana? Muito pouca gente consegue automaticamente imaginar como isso pode acontecer, é preciso primeiro que a ficha caia, que a maturidade se imponha e só depois de algum tempo é que vamos entender como funcionam verdadeiramente alguns dispositivos do comportamento humano.

De cara, apenas de olhar, à distancia, poucas pessoas podem imaginar as qualidades que possam existir escondidas por detrás da figura mal apessoada de Camila. Ninguém pensa que ela possa ser bem humorada, divertida, culta, inteligente, dedicada, carinhosa, compreensiva, solidária, até porque ela foi a mulher que de uma forma ou de outra destruiu o maior conto de fadas do século XX. Isso não é lá bem verdade. Existem pelo menos duas dúzias de contos de fadas como esse, e alguns muito mais bem sucedidos. Ocorre que esse foi retransmitido via satélite, em tempo real para o mundo todo, invadiu as nossas casas, as nossas vidas. Posicionamo-nos confortavelmente em frente da televisão e como se assistíssemos a uma partida de futebol ou ao capítulo final de uma novela, passamos a participar dessa história, que ao contrário dos folhetins televisivos, era muito real, além de ser da Realeza.

Mas o que eu queria mesmo no dia de hoje, era chamar a atenção para três fatos. O primeiro é que apesar de feia, e isso ela é mesmo, apesar de imaginarmos que ela seja uma megera, Camila Parker-Bowles, tudo leva a crer, realmente ama e é amada por Charles. Para mim isso é o bastante.

Há também o fato de nós termos nos transformado em espectadores privilegiados dessas histórias e quase sempre não procurarmos a verdade sobre elas, nos contentando com a versão mais publicável, mais popular.

Porém há outro aspecto importante que eu acredito que deva ser levado em consideração. Em minha modesta opinião não há personagem em qualquer que seja a história, real ou ficcional, que não apresente alguma faceta que o credencie a ser de algum modo envolvente. Todo personagem tem seu charme, seu valor, só precisamos observar e descobri-lo.

Fica aqui uma sugestão. Veja qual personagem, dentre os menos nobres, entre os mais desimportantes, entre os vilões mesmo, qual deles mais chama sua atenção, qual mais lhe agrada, em uma obra como, por exemplo, “Os Miseráveis” de Vitor Hugo. Talvez alguém chegue à mesma conclusão que eu. Quem sabe alguém concorde comigo e ache que depois de Jean Valjean e Javert, o mais fascinante personagem dessa obra clássica, é Éponine, a filha do miserável vigarista Thénardier. Eu a acho bem mais interessante que a própria Cossete, pois seu amor a Marius a torna capaz de atos de extrema nobreza, atos revestidos em um sentido de honra, existente apenas nos principais personagens das histórias. O amor a torna maior.

PS: Me espantei há duas semanas quando vi que a revista Veja publicou matéria com tema semelhante, falando sobre as mais conhecidas amantes da história, acontece que eu venho tecendo essa crônica já faz algum tempo, desde que sonhei que dirigia um filme sobre a vida de Camila Parker-Bolwes, filme este que era protagonizado pela maravilhosa Meg Smith, também velha, também feia, mas ma-ra-vi-lho-sa!

Novamente: Assim é, se lhe parece.

Na última terça-feira encontrei com uma querida amiga que me disse que a sua filha estaria muito chateada comigo, pois, segundo ela, a mocinha, eu estava torcendo “descaradamente” para o Colégio Batista na final do basquete masculino contra a sua escola, o Reino Infantil.

Quase morri de rir, pois, exatamente por causa desse jogo, eu e a organização dos jogos fomos “acusados” pela treinadora do Batista, de estarmos favorecendo ao seu adversário, justamente o Reino.

Eu estudei no Colégio Batista por 11 anos e muito admiro e respeito aquela instituição, principalmente porque ela foi uma das responsáveis pela minha formação como pessoa e como cidadão, e por isso mesmo, por ter esta sólida formação de caráter, jamais torceria por alguma escola, não na condição em que me encontro, a de ocupante, temporário, do mais graduado cargo público de gestão esportiva de nosso estado.

Como secretario de Esporte e Lazer do Maranhão, responsável pela realização dos JEMs, não torço por uma escola, torço pela a realização de bons jogos, disputados em condições de igualdade, com escolas, professores e atletas competindo com garra, mas honrando o ideal olímpico.

Em meio à declaração da minha amiga, que me conhece há muito tempo e sabe que a sua filha está equivocada, me veio uma sensação que não sentia faz algum tempo. A presença marcante do mestre da literatura e da dramaturgia italiana, Luigi Pinrandello, autor da imortal obra, “Assim é se lhe parece”, onde desenvolve um enredo intrincado que tem como protagonista a verdade, ou melhor, as versões dela, cada uma mais verossímil que a outra. Cada uma mais plausível e possível que a outra, e a cada uma que nos é dado conhecimento, tendemos a acreditar nela, descartando e desconsiderando a anterior.

Em suas peças “Seis personagens à procura de um autor”, “Assim é, se lhe parece”, “Cada um a seu modo” e em seus romances “O falecido Matias Pascal”, “Um, Nenhum e Cem Mil” e “Esta Noite Improvisa-se”, Pirandello nos mostra algumas de nossas maiores características, sejam elas boas, como a generosidade, o desapego e o bom humor ou as más, como a hipocrisia e a intolerância.

Há duas das frases desse gênio que acredito estarem entre as melhores já ditas. A primeira é quando ele versa sobre os personagens, sobre as pessoas e diz que toda a criatura, para existir, deve ter o seu drama, ou seja, um drama do qual seja personagem e pelo qual é personagem. O drama é a razão de ser do personagem, a sua função vital, necessária para a sua existência.

Depois de citar uma das frases que mais retratam o pensamento de Pirandello, vamos aos fatos ocorridos na final do basquete disputada por Batista e Reino Infantil.

A partida transcorria normalmente, em que pese o nível técnico do jogo não fizesse justiça às duas equipes que são bem melhores do que demonstraram na final, acredito que isso aconteceu devido à tensão e o nervosismo. Faltando menos de dois segundo para o final da partida, um jogador do Reino faz uma jogada maravilhosa que acaba em uma enterrada monumental, fato que levou a torcida ao delírio e a imediata invasão da quadra de jogo.

Eu, que me encontrava do lado oposto ao acontecido, me aproximei pedindo que os alunos do Reino Infantil se retirassem da quadra, pois a partida ainda não havia acabado e disse-lhes que isso não era um comportamento correto. Foi por isso que a filha daquela minha amiga achou que eu estivesse torcendo pelo Batista, porque eu queria que a torcida do Reino se portasse como manda a regra.

Já a treinadora do Batista, que perdia por uma diferença de 22 pontos, aproveitou-se da invasão da quadra para tentar justificar seu mau desempenho e dirigindo-se a mim disse que iria retirar sua equipe do jogo por causa da invasão da quadra e mais, que a sua equipe havia sido prejudicada pela arbitragem.

Tentei mostrar a ela que o erro da torcida do Reino não justificaria o erro que ela iria cometer ao retirar o seu time de quadra, que se ela retirasse a equipe, os atletas e o colégio seriam prejudicados, ao que ela respondeu dizendo que eu era só o secretário e nem deveria estar ali. Fiquei imaginando o que diriam se eu ali não estivesse. No mínimo diriam que eu sou um secretario ausente, que não me interesso pelos jogos… Não levei em consideração a atitude da treinadora, procurei entender que ela estava passando por um mau momento.

Bem, mas a segunda frase de Pirandello que eu gostaria de comentar, em minha opinião é tão boa, talvez até melhor que a primeira, e acredito que nesse caso bastante oportuna. É quando ele mesmo se pergunta como podemos nos entender se nas palavras que digo coloco o sentido e o valor das coisas como se encontram dentro de mim, enquanto quem as escuta inevitavelmente as assume com o sentido e o valor que têm para si, do mundo que tem dentro de si?

João para prefeito.

Calma pessoal! Não estou falando sobre uma candidatura para prefeito de São Luis, e o João de quem falo não é o Castelo nem o Alberto.

Deixem-me explicar:

Na segunda-feira dia 19, o jornalista Décio Sá postou em seu blog uma notícia que informava que eu, Joaquim Haickel, poderia vir a ser a opção do meu grupo político para disputar a prefeitura municipal de Santa Inês.

Gostaria, no entanto, de esclarecer os fatos. Fui procurado por um grande amigo meu, o empresário João Rolim, pessoa muito bem relacionada nos meios políticos e empresariais de nosso estado, que me disse que gostaria muito de me ver na prefeitura de Santa Inês, que eu tinha as qualidades necessárias para dar continuidade ao excelente trabalho que, primeiro Valdivino Cabral, e depois Robert Bringel, implementaram naquele município e mais ainda, que eu com o meu grande número de amigos espalhados pelo Maranhão e pelo Brasil, poderia alavancar novos projetos para Santa Inês e para toda a região do Pindaré.

“Seu” João me disse que procuraria tanto Bringel quanto Cabral para sugerir meu nome como candidato capaz de unir todos os anseios do nosso grupo, que com o passar dos anos, por melhor e mais uníssono que fosse, veio sofrendo os desgastes naturais do tempo e das circunstâncias políticas.

É claro que fiquei muito honrado com a lembrança de meu nome para exercer cargo tão importante, principalmente por vir de quem veio. Nunca escondi de ninguém que almejava um dia alcançar o cargo de prefeito da mais importante cidade da região do Pindaré, mas meu destino me levou a percorrer outros caminhos, sempre e cada vez mais me distanciando desse objetivo.

Fiquei honrado e até um tanto orgulhoso, mas de pronto disse a “seu” João que eu tinha consciência de ter muito pouco, quase nenhum peso eleitoral em Santa Inês. Veja, eu disse peso eleitoral, não político ou moral.

Ao contrário do que pensam alguns importantes jornalistas do Maranhão e do sul do país, entre eles o senhor Luis Carlos Azenha, nunca usei minhas emissoras de rádio e televisão, funcionando há mais de 20 anos em Santa Inês, como meio para conseguir poder eleitoral. Desde a morte de meu pai não sou votado sistematicamente na região. Fiz essa opção na intenção de construir minha própria trajetória, atingir meus objetivos, sendo que a partir da morte dele, usando seus exemplos de trabalho, dedicação e lealdade, construí um patrimônio moral e político capaz de me fazer ser lembrado com respeito e consideração em ocasiões como essa. Fiquei honrado sim.

Disse isso a “seu” João e complementei dizendo que quem deveria ser o prefeito de nossa cidade era ele. Disse isso naquela ocasião e reafirmo agora, mesmo que sua mulher e suas filhas fiquem zangadas comigo, mas acredito piamente que João Rolim seria um magnífico prefeito, por ser um homem sensível, um empresário competente, um cidadão honesto, um trabalhador incansável.

Acredito que se João fosse candidato a prefeito de Santa Inês, ele seria capaz de propor e conseguir um grande acordo com as diversas facções políticas do município, no sentido de todos em comum acordo, sem disputa, esquecendo as diferenças partidárias, esquecendo as paixões, lutarem por dias melhores para nossa gente.

Mas me parece que “seu” João não aceitará mesmo ser candidato e que o nosso grupo está em vias de se dividir, coisa que seria muito ruim.

Enquanto isso, já existem vários candidatos postos e alguns até lançados, todos desejosos de trabalhar em prol de Santa Inês. Tenho certeza que todos tenham tanta ou mais legitimidade que eu de pleitear o cargo de prefeito, pois para isso basta que o cidadão tenha domicílio eleitoral no município e que um partido político apresente o seu nome a julgamento público.

Quanto a mim, eu jamais me candidataria a prefeito de lugar algum se não tivesse o respaldo de meu grupo. Essa lição eu aprendi muito cedo, com meu tio Zé Antonio que por duas vezes foi prefeito de Pindaré-Mirim, município do qual Santa Inês foi desmembrado.

“Política se faz com grupo”, dizia ele, e eu não sou líder de nenhum grupo em Santa Inês. Faço parte de um grupo forte, que tem líderes importantes e consolidados como Bringel, Cabral, e o próprio João, além do Nono, do Nicolau, do Cirino, do Sousa Neto, dentre tantos outros, e não posso, de maneira alguma imaginar que haja alguma possibilidade, de alguém de nosso grupo ser candidato a prefeito de Santa Inês, com sucesso, a menos que esses líderes resolvam que seja.

Finalizando, gostaria de reafirmar que ao contrário da grande maioria das pessoas, que tem suas razões para pensar como pensam, vejo a política como uma coisa nobre, um ofício como outro qualquer, como o do padeiro, o da cozinheira, o do artesão… Só que bem mais delicado, porque trata com o destino das pessoas, com o nosso presente e o futuro que poderemos ter. Para mim política é coisa muito séria e também por isso fiquei honrado com a lembrança de meu nome para uma possível candidatura a prefeito de Santa Inês.

PS: nos últimos dias recebi inúmeras ligações de pessoas de Santa Inês e de vários lugares, entre elas duas que gostaria de citar: uma foi Dim da folha, ex-prefeito de São Domingos do Maranhão, município no qual fui votado majoritariamente em minhas três últimas eleições de deputado. Dim me disse que se eu aceitasse ser candidato a prefeito de Santa Inês, estaria sendo ingrato para com São Domingos, pois ele e seus amigos gostariam que eu concorresse para prefeito de seu município. A outra ligação foi de uma senhora de Pindaré que disse que soube de uma pesquisa mandada fazer pelo prefeito de lá, onde aparece o meu nome, amplamente citado, espontaneamente pelos entrevistados, como possível candidato a prefeito. Mais motivos de honra, pois por opção sou eleitor de Santa Inês.

Posse no IHGM

Auditório Fernando Falcão da Assembleia Legislativa do Maranhão
13 de setembro de 2011


DISCURSO DE RECEPÇÃO A
JOAQUIM ELIAS NAGIB PINTO HAICKEL
NA CADEIRA 47 DO
INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRAFICO DO MARANHÃO,
PATRONEADA POR JOAQUIM SERRA,
PROFERIDO POR LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ


Deram-me a missão de apresentar o Joaquim e dar-lhe as boas-vindas a este sodalício. Joaquim, apenas, como o conheci lá pelos idos de 1976, jogando basquete no Ginásio Costa Rodrigues; era setembro. Ao me apontarem os jogadores em treinamento, disseram: aquele é o Joaquim, filho do Nagib…

Recém chegado a este estado, não sabia quem era Nagib… Vim a saber depois. Joaquim aproximou-se, sorridente, e me cumprimentou, estendendo a mão. Esse nosso primeiro contato… Mesmo gesto que se repetiria ao longo desses anos todos, sempre educado, atencioso…

Nesses trinta e cinco anos, então, tenho acompanhado a carreira de Joaquim Elias Nagib Pinto Haickel, primogênito de Nagib Haickel e Clarice Pinto Haickel; hoje, pai de Laila Farias Haickel, marido de Jacira. Membro das academias imperatrizense e maranhense de letras, contista, poeta, cronistas e cineasta. Ex-atleta. Por mais de 30 anos, militou na política, como deputado estadual, deputado federal e constituinte, hoje Secretario de Estado de Esporte… Novamente o esporte surge em nossos encontros; neste momento em que esse velho amigo – pois Joaquim é assim, amigo de todos – ingressa nesta casa.

Ao ingressar na Academia Maranhense de Letras, disse ser duplo, Joaquim e Nagib, referencia ao seu pai, o Caboclo do Pindaré, o Deputado das Balinhas; refere-se, ainda, em seu discurso de posse na AML, que seu pai poderia afirmar, naquela ocasião que “esse menino chegou mais longe do que poderia imaginar. Para quem tinha extrema dificuldade em ler, para quem não sossegava um só instante, o lucro foi grande.”

Nascido em São Luís a 13 de dezembro de 1959, enquanto estudante do Pituchinha, e depois do Batista e do Dom Bosco viveu a efervescência dos anos 70 – a década em que houve o renascimento dos esportes no Maranhão através do empenho de Cláudio Vaz dos Santos, o Alemão, do Prof. Dimas, responsáveis pela criação dos Jogos da Juventude, depois Jogos Escolares Maranhenses (1972), do Prof. Laércio, do Prof. Lino, do Marcão, do Zartú. Como já dito, jogava basquete… Concluída a fase juvenil, ingressou na Universidade Federal do Maranhão, onde se bacharelou em Direito.

Ah os anos 70… Anos de rebeldia; culto à juventude. A televisão chegando a São Luis… As mudanças de hábitos com as novidades da telinha e a unificação do linguajar, todos falando – ou procurando imitar – o carioquês… E aquele jovem “boleiro”, seguindo a tradição da Atenas brasileira, dedica-se também às letras. Joaquim é um dos expoentes da nova geração de intelectuais que surgia naqueles idos. Dedica-se as lides das letras e da cultura, na época do Guarnicê. Desde então tem no cinema uma de suas paixões…

Seu primeiro livro, Confissões de uma caneta, é gestado ainda naqueles anos de 1975/76, embora lançado apenas em 1980; premiado no Concurso Cidade de São Luis… No ano seguinte, aparece O quinto cavaleiro, poemas; seguido do livro de contos Garrafas de ilusões, de 1982, premiado também, desta vez pelo Concurso SECMA/ SIOGE/ Civilização Brasileira.

Nesse mesmo ano de 1982, Joaquim junto com Celso Borges, e coadjuvados por Roberto Kenard, Ivan Sarney, Ronaldo Braga, e Nagibinho (seu irmão), produzia e apresentava o programa “Em tempo de Guarnicê”, levado ao ar pela Mirante FM; programa que falava de literatura, arte, cultura e tocava música maranhense; esses “novíssimos atenienses” se serviam do meio de comunicação de sua época, para discutir a cultura maranhense. Para quem conhece um pouco de nossa História, mais um movimento, qual Fênix, ressurge das cinzas… Já se passara um tempo da geração de 45…

Essa nova geração que surgia, credito eu herdeira da “Geração de 53”, daqueles jovens atletas, também herdeiros da geração dos “R”…

A Geração dos “R” era formada por Ronald Carvalho, Rinaldi Maia, Rubem Goulart, José Rosa, Djard Ramos Martins, Raul Guterres; dentre outros; a geração de 53 é a de Cláudio Alemão, dos irmãos Itapary, dos Fecury, Alim Maluf, José Reinaldo… Cláudio viria criar os Jogos da Juventude, e sacudir nossas escolas…

Para participar dos Jogos, necessário ser bom aluno… Joaquim está nesse meio… Pertence à geração seguinte a essa, que surge nesses anos 70/80… Aquele programa de rádio foi o embrião do que viria ser, logo em seguida, a mais importante revista cultural maranhense daquele tempo.

Seu segundo livro de poemas, Manuscritos, é de 1983, mesmo ano em que começou a editar a revista Guarnicê. No ano seguinte, Joaquim e seus comparsas lançam a Antologia poética Guarnicê; seguida da Antologia crítica Guarnicê (1985). É de 1986 o livro de contos Clara cor de rosa. Após uma breve interrupção, eis que surge Saltério de três cordas, com a parceria de Rossine Correa e Pedro Braga dos Santos (1989).

Mas é o próprio Joaquim que as tem como ‘obras menores’, considerando-as ensaios do que estava por vir: lança, pela Global, sua coletânea de contos A ponte, bem recebida pela crítica, merecendo elogios de Artur da Távora e Nelson Werneck Sodré, sendo que este reconhecendo Joaquim como um bom contador de histórias…

Essa sua característica, de um contador de histórias, Joaquim leva para outro meio: o cinema! Prova disso é sua produção The Best Friend, o Amigão, com o qual conquistou prêmios no Festival Guarnicê de Cinema e Vídeo, em 1984. Continuando nessa mídia, recebeu menção honrosa por um roteiro apresentado em concurso realizado pela UFMA; tratava-se de A Vingança, adaptação para o cinema de um conto inserido no livro Garrafa das ilusões.

Quando das comemorações dos 20 anos da revista Guarnicê (2003) foi publicado o Almanaque Guarnicê (Clara e Guarnicê), espécie de ensaio-entrevista-reportagem, em que é narrada a trajetória do semanário e de seus idealizadores. É desse ano, e pela Clara Editora, uma coletânea de seus artigos publicados no sitio Clara on-line.

O inquieto e indisciplinado Joaquim – no dizer de José Louzeiro – novamente recorre aos amigos para cometer, em Paço do Lumiar, o curta Padre Nosso, de 59 segundos, também baseado em poema de sua autoria. É ainda desse ano de 2008, também roteiro a partir de conto Pelo Ouvido, publicado em A Ponte; roteiro, produção e direção, o sonho de realizar um filme estava concretizado. E selecionado para participar de inúmeros festivais de cinema, no Brasil e exterior; para ser mais exato, a 128 eventos, ganhando nada menos que 18 até agora…

Mas seus projetos não param por aí. Como disse dele Louzeiro, é um inquieto. Mas indisciplinado? Creio que não, haja vista sua determinação em produzir sempre, levando seus sonhos para o concreto, como Dito & Feito, registro de suas crônicas aparecidas em o Estado do Maranhão; ou O Múltiplo dos Quatro, reunindo o melhor de sua produção. De seu “avatar” de político, pretende reunir os seus discursos em A palavra quando acesa, título em homenagem a José Chagas; para 2012… Vamos aguardar, pois certamente terão a chancela de nosso IHGM…

Joaquim – o indisciplinado e inquieto – além de atleta, foi ‘cartola’, exercendo a presidência da Federação Maranhense e a vice-presidência da Confederação Brasileira de Tênis – outra de suas paixões – e da Associação Desportiva Mirante; membro-fundador do Instituto de Cidadania Empresarial do Maranhão – ICE. Joaquim é ainda vice-presidente do Forum Nacional de Secretários de Esporte e Lazer.

E não podemos esquecer a Fundação Nagib Haickel; o Museu da Memória Audiovisual do Maranhão – MAVAM -, futuro pólo de cinema a ser implantada no Maranhão, realização de mais um sonho de juventude…

Mas onde está o político, o deputado atuante? Um pouco mais de paciência, para contar: inicia a trabalhar ainda em 1978, como assessor na Assembléia Legislativa, onde seu pai era deputado… Em 1979, está em Brasília, trabalhando ao lado de Nagib, seu pai, então deputado federal; de volta a São Luis, passa a atuar como oficial de gabinete do então Governador João Castelo…

Lembro, nos contatos que tivemos por essa época, que recebia a todos com cortesia e atenção, tratando as pessoas com simpatia e deferência.

Passa, então, “a aprendiz de feiticeiro”, indo trabalhar com o chefe da Casa Civil, José Burnet… Mas seu mestre, mesmo foi Nagib, com quem aprendeu a ser leal, honrado, coerente, simples, como um ‘caboclo’…

Elegeu-se deputado estadual em 1982; federal em 86, sendo um dos Constituintes… Passou a Secretário de Assuntos Políticos (Governo Lobão); Secretário de Educação (Governo Fiquene)…

De 94 a 98, afastando-se das lides políticas, dedicou-se as empresas da família, retornando em 1998 à Assembléia, lá permanecendo até a última legislatura. Não concorreu às ultimas eleições, fiel às determinações do grupo político a que pertence. Mas antes de sair, deixou importantes contribuições à ciência e à cultura maranhense, através de emendas parlamentares. Fomos, o IHGM, aquinhoados, dentre outras instituições…

Atualmente, está de volta às origens, vamos dizer assim – mesma quadra onde o conheci à 35 anos passados: é o nosso Secretário de Estado de Esporte…

Bem vindo, Joaquim!

 

DISCURSO DE POSSE

DE

JOAQUIM ELIAS NAIGB PINTO HAICKEL

NO

INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO


Senhora Presidente do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão,

professora Telma Bonifácio dos Santos Reinaldo,

Ilustres Sócios,

Minhas senhoras e meus senhores…

Bem, gostaria que vocês soubessem que eu sempre quis, pelo menos uma vez na vida, subverter a ordem, e vou fazer isso agora, agradecendo em primeiro lugar aos de corpo e alma presentes.

Refiro-me a Excelentíssima Presidente, Telma Bonifácio e ao meu particular amigo Leopoldo Vaz, pelo convite que me fizeram para ingressar nesta entidade.

Sinto-me muito honrado pelo convite.

Igualmente agradeço aos demais diretores e associados deste Instituto, pela carinhosa acolhida.

Aqui irei conviver com queridos amigos como Elizabeth Rodrigues, Manoel dos Santos Neto, Nivaldo Macieira, João Francisco Batalha, Edomir Oliveira, José Marcio Leite entre tantos outros com quem a partir de agora poderei estreitar laços de sincera amizade.

Agradeço também a todos que me distinguem, nesta noite, com sua presença e sua paciência. O meu muito obrigado.

Minhas palavras agora são de respeito e reconhecimento, pois tenho a honra de suceder nesta Casa, a Kalil Mohana, ilustre professor, homem carismático e batalhador, que lutou pela vida até o seu último suspiro. Pessoa extremamente afetuosa, sempre com a preocupação de estimular a juventude, Kalil Mohana gostava de refletir sobre os mistérios e as peculiaridades da consciência humana.

Gostava de analisar os sentidos da vida usando para isso aquilo que ela tem de mais verdadeiro: os exemplos da história, da filosofia e da humanidade.

Esse valoroso maranhense que faleceu em São Luís no dia 24 de dezembro de 2010, era filho de Miguel e Anice Mohana, libaneses e cristãos maronitas que se mudaram para o Brasil, dentre outros motivos, em razão da perseguição dos turcos islamitas contra os de sua crença em um Líbano sitiado.

Resolveram se estabelecer consecutivamente nas cidades de Coroatá, Bacabal e Viana, sendo que nesta última foi o local onde Kalil nasceu no dia 10 de novembro de 1935.

Cursou o Primário e o Ginásio no Colégio Marista. Já o científico no Ateneu Teixeira Mendes e no São Luís. Fez os cursos de Geografia, História e Didática na Faculdade de Filosofia, semente da Universidade Federal do Maranhão.

Lecionou no Marista, na Escola Normal do Estado, em vários cursinhos Pré-Vestibular, na Federação das Escolas Superiores sendo dos fundadores da Universidade Estadual do Maranhão, onde foi catedrático durante vários anos.

Formou sucessivas gerações de maranhenses e conheceu o mundo inteiro por meio de suas viagens. Realizou aproximadamente 130: cerca de 35 com alunos do Colégio Marista e mais de 90 com formandos universitários, sem contar com as que sozinho.

Além de membro efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, ele ocupava a cadeira de nº 8 da Academia Vianense de Letras, patroneada por seu irmão, o médico, escritor e padre, João Mohana.

Autor de diversas obras, dentre elas o livro “Viajando e Educando: As grandes Viagens”, o meu antecessor nesta Cadeira era oriundo de família tradicional maranhense, composta por sete irmãos: João, Alberto, Laura, já falecidos, e Ibraim, Julieta e a professora Olga Mohana, ainda entre nós.

De todos, Kalil era o mais receptivo e inquieto. Bom amigo e aconselhador, passar-se à tarde pela Rua Afonso Pena e não encostar-se na Casa Mohana para bater um bom papo não tinha sentido, pois ele estava sempre lá pronto para recepcionar e trocar idéias com os inúmeros amigos que conquistou ao longo de vida.

Sobre Kalil e a família Mohana há um fato que devo citar: passei os primeiros anos de minha vida vivendo praticamente na casa de minha avó paterna, Maria Haickel, que ficava na Rua da Saúde, uma travessa da Afonso Pena. Quase todos os dias ela me levava para tomar benção para tia Anice, mãe de Kalil. É que para os libaneses, os amigos mais queridos são como parentes, como irmãos mesmo.

Na Casa Mohana eu era tratado como um principezinho, tanto pelo padre, que mais tarde seria decisivo em minha opção pela literatura, como pelo vibrante Kalil, mas principalmente por Julieta que era amiga de minha tia, Rose Mary.

Hoje, aqui, tenho a nítida sensação de suceder um parente, um tio, um primo bem mais velho.

Senhoras e Senhores,

Não posso deixar de fazer o registro de que, antes do professor Kalil, dois outros ilustres intelectuais – Domingos Chateaubriand e Domingos Vieira Filho – ocuparam esta Cadeira Nº 47, que é patroneada por Joaquim Serra, que também é o patrono da Cadeira Nº 21 da Academia Brasileira de Letras, por escolha de José do Patrocínio, e da de Nº 12 da Academia Maranhense de Letras.

Não há como negar o espírito universal das obras de meu xará, Joaquim Serra, o qual em suas crônicas maravilhosas no “Semanário Maranhense” e em outros jornais, sempre relacionava a economia com o progresso, e o trabalho com a técnica.

Sua peça “Quem tem boca vai a Roma” faz-nos pensar na velocidade com que as ondas eletromagnéticas levam o som e a imagem pelos meios modernos de comunicação, e também a facilidade com que aquele e outros maranhenses aprendem línguas estrangeiras.

Joaquim Serra era filho do dono do imenso sobrado que ficava no Largo de São João, que ficou conhecido como Palácio das Lágrimas, pois uma linda escrava que servia na casa, pareceu ao dono, ser a assassina, por envenenamento, de seus dois filhos menores, irmãos de nosso patrono. Como o caso não foi esclarecido, a escrava foi enforcada. Quando a verdade foi descoberta, o pai de Serra, Leonel, enlouqueceu.

Mas nosso mentor na Cadeira 47 não se tornou abolicionista apenas para fazer justiça póstuma à negra bela que seu pai mandou executar. Tudo leva a crer que meu homônimo desejava para o Maranhão a solução encontrada por São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul: a imigração estrangeira.

Joaquim Serra conhecia bem os progressos da Revolução Industrial assim como seus malefícios trabalhistas. Era humanista como Cândido Mendes, César Marques e Sousândrade. Pensava numa economia forte, grande produção, mas com produtividade: ou seja, o máximo de frutos, com o menor esforço possível. Aliás, essa é a filosofia da computação e da eletrônica modernas.

Ele escreveu também a peça “O salto de Leucade”. Leucade, como sabem, é uma ilha grega com um alto penedo, de onde eram atirados ao mar os condenados à morte. Assim, JS sonhou com a velocidade horizontal em “Quem tem boca vai a Roma”, e com a vertical em “O salto de Leucade”. Com certeza, o grande maranhense pensava na escrava inocente enforcada, ao escrever essa peça.

Joaquim Serra nasceu em São Luís, no ano de 1838, e faleceu no Rio de Janeiro em 1888, ano da abolição da escravatura e com quase dois anos a menos que a idade que tenho hoje.

Já Domingos Chateaubriand, no íntimo, talvez pensasse como La Fontaine; o poeta via na zoologia e na entomologia, parábolas da vida humana, em seus aspectos belos ou sombrios; Vieira Filho estudava o folclore como alguém que analisa a alma do povo

Falar de Serra e Chateaubriand faz lembrar de dois outros ilustres membros do IHGM: os professores Ronald de Carvalho e Mário Meireles.

Enquanto Ronald de Carvalho ensinou geografia, apontando para a história, Mário Meireles ensinava história, focando a base física das civilizações. A história e a geografia entrosam-se, abraçam-se, influenciam-se, revelam mutuamente seus segredos.

Lendo-se as crônicas de Joaquim Serra, seus poemas, ou suas peças de teatro, mesmo as humorísticas, temos diante de nós um espírito inteligente, culto, otimista, ao mesmo tempo profundamente brasileiro e internacional, cultuador dos direitos humanos e desejoso de ver a democracia reinar de direito e de fato sobre a imensa nação brasileira.

Há um forte laço que une Serra e Vieira. É notável o fato de que em pleno século XIX Joaquim Serra era um fervoroso amigo da raça negra, e de se admirar que Domingos Vieira Filho na década de 50 do século XX, escreveu algo tão notável e precoce para seu tempo, em relação ao prestígio dos irmãos de pele de João do Vale.

No livro “Folclore Sempre”, Vieira Filho, professor de geografia humana, comenta que em São Luís do Maranhão os brancos aceitam sem reserva a competição do negro e sua consequente ascensão social.

Em Serra encontra-se a mesma elegância física, mental e literária de Vieira.

Domingos tanto fez pela cultura do Maranhão, que sua atuação fez surgir a Secretaria de Estado da Cultura, sucessora ampliada dos órgãos culturais que dirigiu.

Em seus escritos ele cita autores de muitos países e dá sempre a etimologia dos fatos que estuda e não apenas dos nomes.

Dizem que o semblante reflete a pessoa. Os títulos dos livros são como os semblantes dos escritores, revelando sua alma.

É notável o fato de Serra ter titulado dois de seus livros assim: “Epicédio à morte de Odorico Mendes” e “A Capangada”. Capangada é um termo bastante popular, e epicédio é uma flor erudita do vocabulário, usada para designar uma ode fúnebre.

Em outros livros como “Um coração de mulher” e “Os melros brancos” vemos que o mesmo Joaquim Serra que foi um enamorado, um apaixonado, vergastava com classe os espertalhões e finórios como podemos observar no uso e no sentido do termo melro.

Pietro de Castellamare era um de seus pseudônimos, o que revelava seu espírito jocoso e internacional. Traduziu muitos poetas franceses e praticava verdadeira exegese, pois não se cingia à tradução literal; muitas vezes usava expressões um pouco diferentes do original, para ser mais fiel ao pensamento do autor. Algo como, traduzindo o português de Portugal para o brasileiro, a melhor versão de “Rapariga”, seria “moça donzela”.

Joaquim Serra nasceu quando espocou a Revolta da Balaiada, pouco antes de ser declarada a maioridade de Dom Pedro II.

Como se sabe, Serra traduzia fluentemente do francês, conhecia o alemão, sabia latim, usou um pseudônimo italiano, estava por dentro de toda a etimologia grega de nossa língua culta e bela.

Em São Luís era comum ouvirem-se pelas ruas e praças conversas em grego, latim, francês e alemão. Em sua fazenda de Itapecuru, Gomes de Sousa lia Goethe, no original. Sousândrade ensinava grego. Sotero era exímio em línguas.

Assim se explica porque Joaquim Serra possui um estilo tão atávico, um pensamento tão claro, uma pedagogia tão didática no escrever, conversar, planejar e agir.

Explica-se muito mais: porque aquela São Luis era chamada de Atenas Brasileira.

Meus caros amigos,

Estou muito feliz, honrado e emocionado. Vivo um momento importante em minha vida, um momento muito gratificante, pois a geografia sempre me fascinou e a história sempre foi o meu maior fator de aprendizado para a vida.

Acredito piamente que nós não somos apenas nós, mas sim, nós, as nossas circunstâncias e nossas conseqüências; nós e a época em que vivemos; nós e as viagens que fazemos, os mares que singramos, as histórias que lemos e aquelas que escrevemos.

Entusiasmo-me com a época em que vivo, a assumo em pleno e com ela me identifico. Mas devo dizer que adoraria ter, como tenho certeza que todos vocês também, uma máquina do tempo, que me permitisse passar a limpo, se não todos, mas muitos dos acontecimentos da história.

Sobre mim há pouco a dizer, mas que fique registrado para que no futuro quando alguém, quem sabe, for pesquisar quem teve a honra de representar Joaquim Serra e suceder Domingos Chateaubriand, Domingos Vieira Filho e Kalil Mohana na cadeira 47 deste Instituto, possa saber que Joaquim Elias Nagib Pinto Haickel era o primogênito de Nagib Haickel e Clarice Pinto Haickel, pai de Laila Farias Haickel e que quando aqui tomou posse, era o amantíssimo marido de Jacira, mais bela que a lua cheia, mais doce que o mel, mais forte que o jatobá.

Que se diga que esse dito Joaquim era membro das academias imperatrizense e maranhense de letras, que tentava com afinco e dedicação ser contista, poeta, cronista e cineasta.

Que se diga que esse maranhense, por mais de 30 anos, militou na política, ora como deputado estadual, ora como deputado federal e constituinte, ora como secretário de estado. Que sempre soube a hora certa de entrar e de sair de cena.

Que por fim se diga, principalmente quem for um dia suceder este JH, que eu fui acima de tudo um homem feliz, que tive a sorte de fazer o que gosto e de gostar do que faço. Um homem para quem as jornadas foram passeios e que as guerras nada mais que juvenis jogos de basquete.

Balzac dizia que “é um sinal de mediocridade ser-se incapaz do entusiasmo”. Eu não desejo ser medíocre e “como jamais se faz algo de grande sem entusiasmo”, no pensar de Ralph Emerson, eu vivo os momentos que me rodeiam, envolvo-me e faço parte deles sempre fugindo da solidão.

Nos idos do ano de 1682, Bartolomeu Bueno da Silva, hoje conhecido como o Bandeirante Anhanguera, afirmava como bandeira de sua vida: “Ou encontro o que procuro, ou morrerei na empreitada”.

Sou discípulo desse pensamento e herdeiro dessa vontade e é talvez por isso que tenha chegado até aqui e é também por isso que vou continuar com vocês até onde a nossa história nos levar.

Muito obrigado!

Perfil

“Poeta, contista e cronista, que, quando sobra tempo, também é deputado”. Era essa a maneira como Joaquim Elias Nagib Pinto Haickel aparecia no expediente da revista cultural Guarnicê, da qual foi o principal artífice. Mais de três décadas depois disso, o não mais, porem eterno parlamentar, ainda sem as sobras do tempo, permanece cronista, contista e poeta, além de cineasta.

Advogado, Joaquim Haickel foi eleito para o parlamento estadual pela primeira vez de 1982, quando foi o mais jovem parlamentar do Brasil. Em seguida, foi eleito deputado federal constituinte e depois voltou a ser deputado estadual até 2011. Entre 2011 e 2014 exerceu o cargo de secretario de esportes do Estado do Maranhão.

Cinema, esportes, culinária, literatura e artes de um modo geral estão entre as predileções de Joaquim Haickel, quando não está na arena política, de onde não se afasta, mesmo que tenha optado por não mais disputar mandato eletivo.

Cinéfilo inveterado, é autor do filme “Pelo Ouvido”, grande sucesso de 2008. Sua paixão pelo cinema fez com desenvolvesse juntamente com um grupo de colaboradores um projeto que visa resgatar e preservar a memória maranhense através do audiovisual.

Enquanto produz e dirigi filmes, Joaquim continua a escrever um livro sobre cinema e psicanálise, que, segundo ele, “se conseguir concluí-lo”, será sua obra definitiva.

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