Três assuntos

O primeiro, rápido, a respeito do lançamento de meu livro “Contos, Crônicas, Poemas e Outras Palavras”, na última quinta-feira, dia 9, na Academia Maranhense de Letras, cuja solenidade foi bastante prestigiada por amigos de todas as áreas: Devo além de agradecer a presença, dizer que, não pela grande quantidade de exemplares autografados, 157, mas pela satisfação dos presentes, aquela noite foi um sucesso. Espero que todos tenham gostado tanto quanto eu.

O segundo, mais demorado, sobre literatura e outras artes: acredito que o frescor do trabalho de um escritor se deve ao fato dele saber manter, mesmo depois de muitos anos nessa lida, a capacidade de praticá-la com o mesmo prazer juvenil, com os mesmos ares do início, juntando a estes a maturidade do tempo, espelhando-se o mais possível no menino eterno que havia em Machado de Assis.

Para mim está claro, já faz algum tempo, que em termos de literatura, sou melhor contista do que cronista e melhor cronista do que poeta. Devo ressaltar que de tudo, o que mais gosto de fazer é cinema, pois nele junto em um único meio de expressão todas as artes que eu tanto aprecio, e onde posso exercitar mais livremente toda essa minha alma inquieta e multifacetada.

Se por um lado acredito que há uma porção considerável de autobiografia em quase tudo que produz um artista, principalmente um escritor, no que diz respeito a mim, esse fato também é marcado pela ocorrência de histórias curtas que, muitas vezes desenrolam-se na inquietante fronteira entre a crônica e o conto, frutos da simples observação dos acontecimentos, dos quais, mesmo que distante, sou personagem. Para mim e acredito que seria o mesmo para qualquer escritor, escrever desta maneira dá muita satisfação, o texto apropria-se de uma narrativa cinematográfica, tem um ritmo visual, híbrido de “causo” e reportagem.

Pensando bem, talvez eu me identifique realmente muito mais com o que há na fronteira entre a crônica e o conto. Lugar onde a crônica passa a ser uma história contada de forma resumida e o conto torne-se uma simples linha de tempo. A fusão da crônica e do conto é talvez o marco da minha literatura. A forma com que escrevo reduz o tamanho das histórias. Consigo concatenar uma ideia, uma narração de forma precisa. Se por um lado isso é bom, por outro nem tanto, pois tendo boas ideias para histórias, bons argumentos que poderiam virar novelas ou até mesmo romances, acabo transformo-os em simples contos.

Talvez minha paixão pelas histórias curtas e pelo cinema seja consequência de minha dislexia, dificuldade de leitura e aprendizado da qual sou vítima e que uso de forma a aprimorar minha maneira de escrever e produzir filmes. Convivo com esta característica peculiar há algum tempo, o que não me impediu de produzir minhas obras literárias e cinematográficas, graças à forma com que transformo a deficiência dessa disfunção em arma contra seus efeitos.

É que para escrever mais e melhor, desenvolvi uma “literatura auditiva” que vai além das palavras escritas. Para que consiga o resultado esperado, uso minha mulher como voz, como eco do que escrevo.

Tenho extrema dificuldade de leitura, o que com o tempo foi acarretando muitos aborrecimentos e preguiça. Então desenvolvi um método que me ajuda bastante. Sempre escrevia e lia em voz alta. O som do que escuto é que estabelece o conteúdo do que venho a escrever. Tenho feito isso desde sempre, mas de uns quatro anos para cá, escrevo e peço para Jacira ler pra mim. É a leitura dela que faz com que eu mude preposições, artigos, vírgulas, ou mesmo expressões inteiras. A minha literatura é muito audível, afinal o mundo nos vem em primeiro lugar pelo ouvido.

Recentemente tornei-me um usuário compulsivo de um tipo diferente de literatura, a auditiva: ouvir em áudio livros obras como “O Príncipe” de Maquiavel, “Utopia” de Thomas More, “Dom Casmurro” de Machado de Assis, “Contos Escolhidos” de Artur Azevedo, e “A Vida Como Ela É” de Nelson Rodrigues, entre outros, me traz uma dimensão que não consigo alcançar quando simplesmente leio esses mesmos livros.

O terceiro, curto, mas tão ou mais relevante: Apesar de hoje ser Dia dos Pais tenho que falar de um assunto delicado. Estive presente em algumas das partidas finais dos Jogos Escolares Maranhenses, categoria infantil, e pude, para minha tristeza, observar que alguns pais não estão preparados ou para serem pais ou pelo menos para torcerem por seus filhos.

Em mais de uma oportunidade vi homens e até mesmo mulheres perdendo a compostura e insultando os atletas e as equipes adversárias de seus rebentos, todos imensos, apesar da ainda pouca idade.

Na hora fiquei horrorizado, mas dei um desconto, pelo fato de estarem no calor da disputa. Depois, pensando melhor, cheguei à conclusão de que é exatamente por causa desse calor, que o exemplo que os pais devem dar aos filhos tem muito mais importância. Deveriam se comportar de maneira completamente diversa daquela. Mostrarem o “fair play” necessário para todo atleta e para todo ser humano, pressuposto básico para se encarar tanto o jogo quanto a vida.

O esporte deve, antes de qualquer coisa, ensinar os jovens que a competição traz em si, antes e de forma mais importante, o espírito nobre, a elegância e a honra. Depois é que vêm as qualidades atléticas, técnicas e táticas inerentes a cada modalidade.

 

Contos, Crônicas, Poemas & Outras Palavras

Na próxima quinta-feira, dia 9 de agosto, às 19 horas, na sede da Academia Maranhense de Letras, localizada à Rua da Paz, 84, lançarei o livro intitulado “Contos, Crônicas, Poemas & Outras Palavras”, evento para o qual você que me lê agora está desde já convidado.

Trata-se de uma obra que deveria ter sido lançada em 2010, quando comemoraria 30 anos do lançamento de meu primeiro livro. Naquela ocasião não comemorei com um lançamento de livro, preferi comemorar a data aprovando na Assembléia Legislativa, em meus últimos meses como deputado estadual, as leis de incentivo à cultura e ao esporte, encerrando assim minha carreira política eleitoral. Fiz isso como preconizava meu pai que se mirava em Pelé, que segundo ele soube a hora de parar de jogar futebol. Parou no apogeu, quando ainda fazia uns golzinhos. Eu acredito que fui mais além. Parei quando fiz o único gol de placa em toda minha carreira política, que não foi curta, começou em 1983 e acabou em 2011.

Pensei que pararia definitivamente com a política e me dedicaria apenas a minha família, aos negócios, à literatura, ao cinema, às viagens. Pensei que poderia então me dedicar a finalmente dirigir a Fundação Nagib Haickel, entidade que idealizei em meados dos anos 90 e a qual jamais pude dar a devida atenção. Não consegui. Tentei ficar totalmente fora da política, mas não resisti às pressões e acabei aceitando o cargo de secretário de Esporte e Lazer do estado.

Como em tudo que faço, faço de forma total e completa, os projetos que tinha para essa fase de minha vida foram adiados temporariamente. Alguns, inadiáveis, vêm sendo desenvolvidos de forma mais lenta. Mas o lançamento de meu livro não. Só faltava achar uma boa oportunidade para fazê-lo. Essa ocasião é agora.

Trabalhei recolhendo alguns de meus textos inéditos, contos e poemas, pois as crônicas que constam desse livro já foram publicadas no jornal O Estado do Maranhão.

O restante do título do livro, “& Outras Palavras”, bem que poderia ser o título todo, mas poderia parecer para alguns que plagiasse Caetano… Preferi dar precedência, hierarquia, no que acredito ser a sequência decrescente de minha competência literária.

Acredito ser melhor contista que cronista, e melhor cronista que poeta, então coloquei essa ordem no frontispício do livro.

O “&” (e comercial) representa e significa a importância que dou aos coadjuvantes, personagens sem os quais, não podem existir, em toda a sua plenitude e grandeza, os atores principais.

Vejo-me muitas vezes como coadjuvante, mesmo quando desempenho o papel principal. Esse exercício me coloca em uma situação bem mais confortável e privilegiada para analisar tudo que ocorre na cena, como está disposto o cenário, como os personagens se apresentam.

No capítulo “Outras Palavras” reúno tudo o que não sejam contos, crônicas ou poemas. Lá estão alguns discursos políticos além de meus discursos de posse na AIL, na AML e no IHGM. Estão algumas frases, que ultimamente perdi a vergonha de colocar no papel. Elas foram a minha primeira forma de manifestação literária. Ainda garoto tinha cadernos cheios delas. Graças a Deus estas não são aquelas.

Coloquei neste livro alguns de meus roteiros cinematográficos e também estão nele alguns de meus contos antigos transformados em histórias em quadrinhos, verdadeiros storyboards para futuros filmes. As HQs foram desenhadas por Beto Nicácio e Iramir Araújo, companheiros da Dupla Criação. Senti-me o próprio Stan Lee.

A capa nasceu de uma ideia minha e foi realizada por Edgar Rocha e Nazareno Almeida. São fotografias de três janelas e uma porta de casarões antigos. Uma alegoria que acredito ser perfeita para o título: os contos, as crônicas e os poemas estão debruçados nas janelas, à mostra, acessíveis, enquanto para alcançar as outras palavras o leitor deve ir porta adentro.

A seleção do material publicado, o editor responsável pelo livro, é meu amigo e mestre Sebastião Moreira Duarte, que apresenta a obra e dirá algumas poucas palavras antes do lançamento. Também avalizam a publicação os escritores Jomar Moraes e Américo Azevedo Neto.

A revisão ficou ao cargo de Reydner de Carvalho, o projeto gráfico é do velho parceiro Paulinho Coelho e a impressão foi feita na Gráfica Minerva de meu amigo e irmão de alma Antonio Carlos Barbosa.

Dito isso, só espero que depois de 32 anos tentando ser um escritor razoável, os meus críticos mais cruéis concordem que pelo menos estou no caminho.

Petromax

Dentre todas as histórias bíblicas, as que eu mais gostava de ouvir, daquelas contadas por minha avó Maria Haickel, que em português era quase analfabeta, eram as que retratavam o rei Salomão.

Ela me punha sentado ao seu lado e lia a bíblia soletrando. Nos intervalos comentava algumas passagens. Quando ela me contou a história do filho cortado ao meio, resolvi que seria aquele o poder que eu queria para brincar. O super homem, meu super-herói favorito, havia sido definitivamente superado.

Deus teria perguntado a Salomão, o que ele preferia, riquezas infindáveis ou sabedoria. Ele então preferiu a segunda, pois com sabedoria conseguiria não só grande quantidade de riqueza, mas também todas as outras coisas que a riqueza seria incapaz de comprar. Só soube bem mais tarde, que Salomão teve seiscentas esposas e oitocentas concubinas. Era também um homem muito corajoso!

Quem me conhece sabe de minha fome de saber, de minha vontade por conhecer. Aliada a isso tenho uma incondicional admiração por figuras históricas. Esses fatos acabaram por levar minha busca pela sabedoria através do conhecimento da história dessas pessoas, fato que contribuiu muito para a minha formação, em todas as áreas da vida.

Os ídolos formadores de meu caráter vão de pessoas bem próximas, como minha mãe e meu pai até aquele herói quase anônimo que sacrificou sua vida para salvar um garoto que caiu no fosso das ariranhas no zoológico de Brasília. Seu nome: Sílvio Delmar Hollenbach.

Vai desde Buda, passando por Confúcio, Jesus, Maomé, até chegar à Madre Teresa de Calcutá. Admiro T. E. Lawrence, Gandhi e Mandela. Sun Tzu, Sócrates, Platão, Aristóteles, Hipácia de Alexandria, Maquiavel e Thomas More. Elisabeth I, Churchill, Da Vinci, Shakespeare, Cervantes, Vieira, Moliere, D. W. Griffith, Darwin, Einstein, Freud, Machado, Nelson Rodrigues e Stanley Kubrick dentre muitos outros.

Conhecendo a vida e a obra dessas pessoas, aprendi coisas que parecem ser pouco importante se analisadas separadamente, mas quando reunidas, a serviço de uma vivência, o que parece pouco se avoluma e consubstancia.

Algumas coisas parecem irrelevantes. Veja por exemplo o que diz Maquiavel quando qualifica as três espécies de inteligências que os príncipes possuem. Diz ele que há uma, excelente, que entende as coisas por si. A inteligência nata, pessoal, orgânica; outra, muito boa, que discerne as coisas através do que os outros entendem. Através de seus próximos, seus ministros. Adquirida pelo do aprendizado, a cultural ou social; e uma terceira, inútil, que não entende nem por si nem por intermédio dos outros. Uma inteligência arrogante, que pensa que tudo sabe ou aquela que é simplesmente incapaz de compreender as coisas mais simples.

Exclua o príncipe a quem Nicolau se refere e coloque em seu lugar uma pessoa qualquer, um de nós. Alguém que seja príncipe apenas de sua própria vida e comprovaremos que precisamos muito saber desse ensinamento, aparentemente tolo, mas indispensável para que tenhamos consciência de como podemos ser inteligentes ou não sê-lo. Ensinamento que se complementa ao que pregava um outro gênio, Sócrates, que dizia que devemos antes de tudo conhecer a nós mesmos.

Tenho um grande e bom amigo, ex-padre e professor de filosofia, que nas horas vagas, coisa que ele pouco tem, é também teólogo e cientista político amador. Certa vez ele me disse uma frase que jamais esqueci: “Existem algumas batalhas “religiosas”, que se as ganharmos, na melhor das hipóteses, ganhamos apenas o dízimo. Se as perdermos, é possível que se perca o próprio Deus”. 

A propósito de lutas, de pelejas, sempre me lembro do que disse meu pai uma vez quando conversávamos sobre a semelhança que há entre a política e a guerra. Ele me fez entender que o bom general escolhe as batalhas que deve lutar, o campo onde dispor suas tropas, a ocasião em que atacar ou defender, quando deve avançar ou recuar. O bom general sabe quando deve ser duro e quando deve ser suave.

A esse ensinamento incorporei uma observação minha: o manejo da espada, arte que Salomão pouco dominava, pode ser comparado ao exercício da vida ou mesmo da convivência com uma mulher, áreas em que o sábio rei se sobressaía. Com ambas precisamos ser fortes, mas também suaves, pois desse equilíbrio resulta o sucesso da luta com uma e a felicidade com a outra.

Para consubstanciar efetivamente a sabedoria que ganho conhecendo a vida daqueles que uso como régua e compasso, recorro sempre a um artifício importante, pergunto: O que faria fulano nessa situação? O que cicrano faria se isso acontecesse com ele? Como resolveria Beltrano esse dilema?

Acredito que a simples conjectura dessas questões nos levará certamente a encontrarmos as respostas para as perguntas que nelas residem, pontos de luz em nossa jornada.

O professor, um argumento

Resolvi publicar aqui o rascunho inicial do roteiro original de um longa-metragem que pretendo realizar nos próximos anos.

Faço isso para praticar um pouco de ficção, para deixar um pouco de lado a crônica, a conversa filosófica, política, cultural e temporal, além de estabelecer publicamente a autoria da ideia e a propriedade da obra, já que ainda está tramitando seu registro da Biblioteca Nacional, o que ira resguardar meus direitos autorais.

“O professor” – em momento algum seu nome é citado – é um homem maduro, por volta dos 50 anos, bem apessoado e simpático. (Alexandre Borges)

Elegante e educado. Veste-se bem e porta-se de maneira correta. Sua situação econômica e financeira é tranqüila e estável. É separado e pai de uma filha. Mantém um relacionamento cordial com a ex-mulher. Filha e mãe não aparecem em cena, apenas ao telefone. (Luiza e Julia Lemmertz)

Ele não tem mais pai e sua mãe mora em um apartamento próximo ao dele. Ele a visita diariamente. Conversam sobre vários assuntos, de futebol a política, de sexo a religião. Há uma certa tensão entre eles. No decorrer do filme sua mãe irá morrer devido a problemas cardíacos, oportunidade para tratar a questão da morte. (Fernanda Montenegro)

Ele tem uma empregada que o acompanha há muitos anos. Ela também cuida do apartamento de sua mãe. Trabalhava anteriormente com sua ex-mulher e quando da separação, ela optou por acompanhá-lo. Serve de contraponto. Pouco fala, mas tudo vê, e o que ela vê o espectador percebe. (Zezé Mota)

A cidade onde ele mora não aparece. Pode ser em qualquer lugar, de médio pra grande. Só há cenas internas.

Ele vive em um apartamento espaçoso, com uma sala ampla, uma boa cozinha e um escritório-biblioteca.

Suas ocupações são na área de humanidades. É filósofo, professor, escritor e jornalista. Toca um instrumento musical e adora cinema. Tem algo de freudiano, um que nietzschiano… Meio filosófico, meio cru; Meio poético, meio tarado; Meio alegre, meio suicida…

Não consegue desacreditar de Deus, mas luta para conseguir. Abomina as religiões.

Politicamente moderado, é tolerante e diplomático. É contra qualquer forma de autoritarismo, mas defende a autoridade legítima.

A forma de narração do nosso filme é semelhante a de Tropa de Elite 2, alternando um off muito presente com diálogos indispensáveis e pontuais.

“O professor” escreveu alguns livros e obteve com eles prestígio e sucesso de crítica, além de algum dinheiro. Escreve para um importante jornal onde aborda temas culturais, filosóficos, sociológicos, econômicos e políticos. Uma de suas maiores fontes de renda são as palestras que dá sobre os temas que domina. É professor de filosofia e história da arte em uma universidade importante. Adora dar aulas para jovens, mas tem turmas de mestrado e doutorado.

Envolve-se com três mulheres. Uma bem jovem que conheceu na saída de um cinema. Ela tem idade pra ser sua filha. Com ela tem apenas um relacionamento platônico (Cléo Pires); A segunda, não tão jovem… Uma dessas garotas de programa de luxo. Ele a conheceu em um bar. Formada em pedagogia, é inteligente e sagaz. Entre os dois há uma forte atração carnal (Camila Pitanga); A terceira é um pouco mais velha. Aluna de doutoramento com quem mantém um romance sexo-filo-psico-cultural maduro (Maria Fernanda Cândido).

Nosso homem tem uma vontade antiga: escrever um livro onde ensine um jovem o que e como fazer para se tornar um homem quase perfeito, no que concerne ao trato com as mulheres. Mas tem medo do que possam pensar as pessoas, de como possa ele ser visto pela crítica. “Logo ele que sempre foi um homem equilibrado, moderado, politicamente correto, escrevendo um livro como esse!”

Ele quer escrever um verdadeiro código de postura, um tratado de como ser uma pessoa, um homem e um macho. Orientações sobre o que deve e o que não deve fazer aquele que deseja dominar a arte de agradar as mulheres nas diversas formas e nas várias situações que se apresentem, ou pelo menos em algumas delas.

Ele frequenta bares, restaurantes, boates, cenários onde observa os personagens que compõem seu livro.

No entanto nosso filme se passa efetivamente em duas locações. No escritório-biblioteca do “professor” onde ele devaneia escrevendo seu livro e em um quarto imaginário em sua mente onde as narrativas de como proceder sexualmente com uma mulher se consubstanciam. Tais narrações serão encenadas por um casal de atores (??).

As cenas de sexos devem ser realistas, mas não pornográficas. Os personagens estão envolvidos sentimental e amorosamente, mas o sexo domina a cena. A iluminação deve ser onírica, acompanhando o clima da narração.

O desfecho é poético, inconcluso, em aberto: pode ser que “O professor” acorde de madrugada para escrever. Escreva por algum tempo, mas de repente empaque e fique imóvel, pensativo, fitando a tela do computador onde o cursor pisca em uma frase inconclusa. Ele se levanta, vai à cozinha, toma água, e volta para o quarto. Ele vê o sol raiando pela fresta da cortina. Fecha a cortina, se deita, começa a pensar na história e adormece. Os créditos finais sobem.

O filme deverá ter 90 minutos de duração total e não terá nenhuma marca que o vincule a um tempo ou a um espaço.

O formato poderia ser também o de uma minissérie em 13 capítulos onde poderiam ser aprofundadas um pouco mais algumas características e os dilemas dos personagens.

 

P.S. Sugestões e comentários a respeito desse texto devem ser enviados para o e-mail: [email protected]

Candeeiro

Há muito tempo coloquei em cima da mesa de meu escritório, em minha casa, três livros que pensava, e ainda penso, me serviriam de apoio em tudo o que eu fosse fazer na vida.

O primeiro deles foi A Bíblia Sagrada. O segundo, O Príncipe de Maquiavel, sendo o terceiro A Arte da Guerra, de Sun Tzu. Por fim, coloquei junto com estes um livro que ganhei de um amigo. Trata-se do Alcorão, livro que Deus teria ditado ao profeta Maomé, texto sagrado para os islamitas. Poderia ainda ter sobre minha mesa um exemplar do Torá, o livro santo dos judeus, mas ele de certa forma já está lá, inserido na Bíblia. É o que chamamos de Velho Testamento.

Imagino que em cima de minha mesa tenha conhecimento, sabedoria e história suficiente para dirimir qualquer dúvida que se me apresente. Acredito que precisamos ter todas essas coisas o mais próximo de nós que for possível.

Outro dia comentei com um amigo que usava os livros sagrados das três grandes religiões como oráculo, abrindo-os aleatoriamente e buscando neles respostas ou caminhos. Disse a ele que fazia isso também com as obras de Maquiavel e de Sun Tzu.

Esse amigo riu e desdenhou de mim dizendo que em nada aqueles livros combinavam ou tinham em comum e eu fiquei de provar-lhe que tem. Comprometi-me em escrever um texto onde provasse que há alguma relação, mesmo tênue, entre os dois livros, segundo ele profanos, que falam de poder, corrupção, usurpação e guerra, com os livros sagrados, que falam de fé e de Deus.

Meu amigo foi mais além, deu um tema para que eu tentasse alinhavar passagens semelhantes entre as obras, mesmo que distantes. Pediu-me para falar sobre os discípulos, os seguidores, os ajudantes, aqueles que servem como representantes.

Fui pesquisar e organizei o texto que se segue. Espero ter conseguido provar alguma semelhança entre esses livros, entre suas histórias.

1) Sun Tzu diz: “Lembre-se dos nomes de todos os oficiais e subalternos. Inscreva-os num catálogo, anotando-lhes o talento e suas capacidades individuais, a fim de aproveitar o potencial de cada um. Quando surgir oportunidade aja de tal forma que todos os que deves comandar estejam persuadidos que seu principal cuidado é preservá-los de toda desgraça”.

2) No capitulo XXII de O Príncipe, Maquiavel fala da importância da escolha dos ministros de um mandatário e responsabiliza diretamente a este pelo sucesso dessa escolha. Ele diz que é usando de sabedoria e prudência que o príncipe deve escolher aqueles que o ajudam na administração dos negócios de seu ducado e será principalmente pela boa ou pela má fama de seus ministros e conselheiros que o duque será conhecido. Caso escolha bons ministros e conselheiros tidos em alta conta, este será lembrado como grande, se aqueles que o cercam e ajudam tem má fama, são cruéis e corruptos, o duque assim parecerá a todos. “… A primeira conjectura que se faz da inteligência de um senhor, resulta da observação dos homens que o cercam”, diz ele literalmente.

3) Tenho conhecimento de alguns poucos seguidores graduados de Moisés. Sei de seu irmão Aarão e seu general Josué. Aarão era uma espécie de sacerdote e foi um dos de pouca fé que construíram um bezerro de ouro para idolatria, pecado grave. Josué foi a espada de Deus na terra. Depois da morte de Moisés tornou-se líder de seu povo e destruiu quase todos os seus inimigos. Deve ter aprendido muito do que sabia com seu príncipe.

4) Conhecemos 12 dos ministros de Jesus. Nós os chamamos de discípulos. Destes Pedro se sobressaía. Apesar de ter negado seu mestre três vezes, tornou-se o primeiro chefe da nova igreja.

Já Judas é vítima de cruel preconceito. Tinha ele importantes ligações políticas, pois era do partido dos Zelotes, fervorosos e zelosos defensores da fé e dos costumes judaicos. Ele foi orientado pelo próprio Jesus para fazer o que precisava ser feito… Bem mandado, o ministro fez o que seu mestre mandou e aconteceu o que todos nós sabemos, ou melhor, o que nos foi contado e que muitos de nós acreditamos realmente aconteceu.

O maior de todos os ministros de Jesus, no entanto, nunca esteve pessoalmente com ele. Saulo ouviu apenas o que seria a sua voz, no caminho para Damasco. Mesmo tendo perseguido e matado muitos seguidores do Cristo, aquele que viria a se chamar Paulo, tornou-se a ferramenta, a cunha indispensável para colocar a pedra angular da nova religião no seu devido lugar.

5) De Maomé conheço pouco. Conhecemos pouquíssimo. E alguns de nós o vê de maneira preconceituosa e equivocada. O que dele sei é que é o profeta de uma religião que se baseia nas mesmas histórias e tradições comuns aos profetas do judaísmo e do cristianismo.

Não consigo identificar na história de Maomé a figura de algum tipo de ministro.

Sua morte acaba por criar o esfacelamento do islamismo nas facções que existem até hoje. A minoria xiita acreditava no direito de Ali Abu Talib a suceder o Profeta, por entenderem que ele teria sido publicamente nomeado por Maomé como seu sucessor, enquanto a maioria sunita da população preferiu escolher Abu Bakr como sucessor de Maómé.

Dito isso, acredito que tenha provado para aquele amigo, e a quem mais interessar possa, não só que os livros sagrados e suas histórias combinam inteiramente com os livros profanos que lhes fazem companhia sobre minha mesa, como as histórias que eles contam, guardam grande semelhança e profundo nexo.

A Indústria Cinematográfica do Maranhão

De uns tempos pra cá a atividade audiovisual em todo nosso estado, e não só em São Luís, tem se desenvolvido de maneira bastante satisfatória.

Para apoiar e avalisar essa afirmação preciso fazer um pequeno retrospecto da história recente do cinema maranhense.

Em minha opinião o cinema maranhense contemporâneo nasceu efetivamente 35 anos atrás com a criação pelo Departamento de Assuntos Culturais da Universidade Federal do Maranhão da Jornada Maranhense de Super-8.

Antes de 1978 já havia quem fizesse cinema por aqui. Podemos citar a TV Difusora e a TV Educativa como celeiros dos primeiros cineastas de nossa terra. Nelas trabalharam alguns dos homens que desenvolveriam o nosso audiovisual, como Lindenberg Leite, Murilo Campelo e Mauro Bezerra. Mais tarde, proveniente da TVE, surgiria Murilo Santos. Um pouco mais adiante seria a vez de Euclides Moreira, João Ubaldo de Moraes, Ivan Sarney, Newton Lílio, Nerine Lobão, Luis Carlos Cintra, Cláudio Farias, dentre outros.

O cinema como ocupação era difícil e caro. Poucos podiam se dedicar a ele. Com o avanço tecnológico e a popularização dessa tecnologia, o cinema foi ficando mais acessível.

Se a Jornada de Super-8 marca o nascimento do nosso movimento cinematográfico organizado, a sua mudança de nome para Festival Guarnicê de Cinema em 1990, marca a nossa primeira tentativa de emancipação, logo amansada pelos afazeres pessoais de cada um.

Em meados da década de 90, José Louzeiro tentou arregimentar forças para estabelecer aqui um polo organizado de realização cinematográfica. Não conseguiu, mas a ideia ficou.

O Maranhão sempre teve excelentes agências de publicidade. Elas, em todo lugar do mundo, são os berços da produção cinematografica. Vide Fernando Meireles e outros grandes cineastas que sairam da publicidade.

As universidades colocam anualmente no mercado profissionais dos setores de comunicação, propaganda e marketing, desejosos de trabalhar no setor audiovisual. Massa de modelar, combustivel para essa indústria.

A criação da seccional local da Associação Brasileira de Documentaristas – ABD também foi um bom avanço.

Mais recentemente tivemos a implantação do Museu da Memória Audiovisual do Maranhão da Fundação Nagib Haickel que vem ao encontro do anseio de muitos que acreditam que se deva ter um polo de apoio ao cinema, para auxiliar quem deseja produzir obras audiovisuais em que a nossa cultura e a nossa memória, de alguma forma, estejam retratadas.

Mais uma vez aconteceu uma outra grande onda de avanço tecnológico que possibilitou a maior democratização dos meios e um efetivo desenvolvimento de aptidões relativas ao setor audiovisual.

Aparecem entre outros, cineastas como Cícero Filho que realiza a partir de Poção de Pedras, o longametragem “Ai que vida!…”, onde apresenta histórias de pessoas comuns do interior do Maranhão, do interior do Brasil. Ele faz isso de maneira alegre e descontraída. A produção de seu filme conta com pouquíssimo recurso financeiro e com quase nenhum recurso técnico, mas o resultado é retumbante.

Apesar dos críticos cinematográficos o acharem “trash”, seu filme conquista grande audiência através de cópias de DVDs vendidos por camêlos em feiras e pela disponibilização dele na internet.

São do Maranhão duas das maiores e melhores distrbuidoras de filmes independentes de nosso país. Uma é a Petrini Filmes, que pertence a um italiano filho de maranhense que desde 2010 distribui daqui para o resto do Brasil, filmes de diversos países do mundo. A outra é a Lume Filmes de Frederico Machado, que apostou na distribuiçao de um gênero jamais tentado antes por nenhuma empresa do ramo, alcançando grande sucesso.

Apartir de 2011, a Lume passou a promover um festival internacional de cinema em nossa capital, atraindo para cá o olhar de boa parte do mercado cinematografico em seu nicho.

Enquanto uns exploram um tipo de cinema, outros buscam setores distintos dessa arte. Nesse contexto temos Arturo Sabóia, Francisco Colombo, Ione Coelho, Breno Ferreira, Beto Matuk, Cícero Silva, Júnior Balby, José Maria Eça de Queiroz, Luis Fernando Baima, João Paulo Furtado, Denis Carlos, Gleizer Azevedo, Márcio e Vinícius Vasconcelos…

Vêm de Imperatriz dois outros realizadores de longametragens. Gildásio Amorim com “Renúncia” e Nilson Takashi com “Marilha”.

Os dois, cada um a seu modo, realizam obras únicas. O primeiro com um tema evangélico e o segundo realizando um folhetim que muito pouco deixa a desejar se comparado a produções semelhantes realizadas no sul do país.

Takashi em homenagem a São Luís, batiza os personagens de seu filme com os nomes de bairros e praias de nossa cidade. São pessoas comuns com quem convivemos no dia a dia, que prenchem um enredo que prende a atenção e emociona o expectador.

Temos também a nosso favor a existência dos maravilhosos cenários arquitetônicos e ecológicos, o que nos previlegia imensamente quando da escolha de locações para grandes produções como foi o caso de Carlota Joaquina e Casa de Areia.

Que fique registrado nos anais da história jornalística de nosso estado que no dia de hoje, foi dito pela primeira vez que no Maranhão tem cinema, que pela primeira vez se afirma que já podemos dizer que temos em nossa terra uma embrionária, mas promissora indústria cinematográfica.

Parabéns aos pioneiros dessa nova industria.

PS: Os mais novos cineastas maranhenses são Marcos Pontes, Vander Ferraz e Laila Farias Haickel, que tem em fase de pré-produção um filme inspirado num conto do acadêmico José Ewerton Neto.

Lamparina

Em toda história tem que haver sempre aquele que chama pra si a responsabilidade de ser “inconveniente” e dizer a verdade. É muito necessário aquele personagem que tentar fazer ver melhor quem precisa enxergar uma determinada situação. Essa ação, no popular, costuma se chamar de “colocar o guiso no pescoço do gato”, só que muitas vezes o felino em questão não é um bichano caseiro, um gatinho doméstico, desses que andam se enroscado nas nossas pernas por debaixo das mesas. Em muitos casos trata-se de um tigre, um leão, ou um leopardo, um felino de grande coturno, feroz e com garras afiadas, acostumado a de uma bocada só eliminar uma zebra, um antílope ou uma gazela, o que tenho certeza não é o meu caso. Acredito que eu esteja mais para um orangotango, macaco velho, gordo e meio careca, com cara de pensador, mas sem a força do gorila, sem a agilidade do macaco-aranha, sem a simpatia do chipanzé, mas com a inconveniência e algumas outras características dos macacos-prego.

Nem vou me ater à questão da verdade, até porque, o que é mesmo verdade? Qual é a verdade? Não falo de uma verdade específica. Refiro-me à verdade em lato senso. Falo da verdade filosófica, dela enquanto luz, como descortinamento, como argumentação. A verdade dialética.

A função de dizer a verdade para alguém que não a conhece ou não quer vê-la é quase sempre mal compreendida, principalmente tratando-se de algo constrangedor, algo que vá contra os interesses das pessoas.

Pior é quando essas verdades precisam ser ditas a gente poderosa, em qualquer dos sentidos que a palavra poder possa ser referenciada. Essas são pessoas que não estão acostumadas a dialogar. Pessoas que se acostumaram a ser seguidas sem contestação, que pensam estarem predestinadas a fazer coisas para as quais nem sempre tem capacidade.

Acaba levando muita bordoada quem se propuser a dizer o que precisa ser dito para que se estabeleça a argumentação necessária para o exercício da dialética. Para tentar fazer algumas pessoas verem o que precisa ser visto. Ver o que alguns são incapazes de enxergar. Uns pela extrema proximidade da cena, outros por serem protagonistas de um enredo que eles mesmos escreveram, por estarem comprometidos com a história, seus personagens e suas atitudes.

Há quem sofra de um simples defeito na visão, outros pela falta de iluminação suficiente, outros ainda por total cegueira mesmo.

Cegueira proveniente das mais diversas causas. Causada pelo poder que tudo pode ou pelo ouro reluzente que cega. Decorrente do sentimento de culpa ou de sentimentos subalternos, como a raiva, a vaidade, a mágoa, a inveja. Proveniente da inexperiência. Cegueira estimulada pelo bajulador ou pelo vigarista que nos envolve de tal modo, desenhando um cenário tão maravilhoso, usando artifícios tão espetaculares, atingindo-nos em pontos tão sensíveis que até mesmo os mais espertos e experientes muitas vezes são colocados em um torvelinho incapaz de ser desenrolado a tempo de nos safarmos de uma situação desastrosa.

É bom que se ressalte que o que digo aqui não serve apenas para os poderosos. O mesmo se aplica ao povo em geral.

Dizer a verdade a estes é tão ou mais difícil que dizê-la aqueles, pois a massa é disforme, nela há muitas facções, correntes de pensamento, religiões, paixões. Em meio a turba há muitas falsas verdades que precisam ser preservadas sob pena de quem a domina perder o frágil controle que tem sobre ela.

A massa não quer saber da verdade, ela quer é uma história que case com seus anseios, suas vontades, com aquilo que precisam, com aquilo que seus líderes a convença de que é o melhor.

Pois bem, já estou quase no fim do meu espaço nesse jornal e ainda não disse objetivamente nada de concreto, ainda não enfiei o dedo na ferida de ninguém especificamente, então vejamos dois exemplos, a propósito das eleições que se aproximam:

Para que lançar a candidatura de uma pessoa ao cargo de prefeito, sabendo de antemão que, mesmo sendo essa pessoa uma ótima criatura, suas chances de vitória seriam reduzidíssimas. Que sua derrota poderia ser infinitamente mais danosa do que os benefícios políticos e eleitorais que poderiam vir na possibilidade de uma improvável vitória?

No caso aludido, até em se ganhando se perderia. O custo-benefício de uma disputa dessa natureza se constata efetivamente pela contabilidade da qualidade e não da quantidade dos erros e dos acertos.

Ainda bem que em alguns casos as luzes são acesas a tempo de alumiar o caminho. O que nem sempre acontece, e esse é um caso exemplar, é o fato de que haverá pouca esperança de um bom futuro para aquela combalida população.

Caso semelhante, é fazer de tudo para eleger-se um representante legislativo que se sabe, será ausente, que não se manifestará, que quando tentar fazê-lo será desastroso, que será sempre um zero à esquerda.

O regime republicano e o estado democrático de direito por si só de nada adiantam se nós não tivermos o discernimento de fazer o que for melhor e não apenas o que é conveniente.

Café com Memória

Fui convidado por minha querida amiga Ceres Costa Fernandes para participar como palestrante de um de seus Cafés Literários, abordando a importância da preservação da memória através de meios audiovisuais.

Para quem não sabe o Café Literário é o evento promovido pelo Centro de Criatividade Odylo Costa, filho no intuito de movimentar o cenário cultural de nossa terra. Nele a população se reúne com escritores, professores, artistas, jornalistas que possam contribuir para o engrandecimento do conhecimento, discussão e difusão de temas ligados às artes e à cultura de modo geral.

Na última terça-feira, dia 19, fui conversar com as pessoas que lá compareceram. A casa estava lotada. Olha que concorríamos com os shows de João Bosco no TAA e de Erasmo Dibel no Sebrae, com o festival Lume de cinema, com as festas juninas que se espalham pelos terreiros da cidade, e mesmo assim a nossa plateia foi grande em quantidade e em qualidade. Fiquei muito satisfeito e espero que as pessoas tenham gostado.

Vou aproveitar esse mote para conversar aqui com você sobre o mesmo tema, propagar as ideias das quais tratamos naquela ocasião.

Primeiramente falamos sobre a memória. E o que é mesmo memória? Parece uma pergunta tola e imaginamos que a resposta seja fácil. Não é bem assim. Posso lhe garantir que memória não é simplesmente lembrança. Lembrança é apenas um ingrediente da memória, uma vigésima parte dela. Memória é muito mais.

Mas afinal de contas o que é memória. Memória é a capacidade que temos de adquirir,  armazenar, consolidar e lançar mão de informações, de conhecimentos, e colocá-los à nossa disposição, à disposição de todos.

Existem dois meios onde a memória se efetiva. No meio biológico, a memória interna e no meio artificial, a memória externa.

O objeto de nosso interesse frutifica na fronteira entre as duas. Falo do uso da memória biológica para a construção de uma memória artificial que possa ser transformada em biológica em outras pessoas, e assim sucessiva e eternamente.

Para que se tenha comprovação do que digo, basta analisarmos a importância de conhecermos os desenhos rupestres da era paleolítica e de sabermos das histórias contadas através da tradição oral, dos contadores de histórias, comuns em todas as culturas e em todas as épocas.

O que nós queremos é preservar o mais que pudermos, em meios audiovisuais. Primeiramente adquirindo, armazenando, catalogando, consolidando, recuperando, para que possamos lançar mão, não só nós, mas as gerações futuras.

Essa é a proposta do Museu da Memória Audiovisual do Maranhão – Mavam, pertencente à Fundação Nagib Haickel, que além disso se dedica à produção e a difusão da educação, da arte, da cultura, do esporte, da preservação de nosso patrimônio histórico, arquitetônico, cultural e ambiental e deselvolve ações de inclusão social e de cidadania.

Uma outra etapa desse mesmo trabalho é “produzir” nossa memória contemporânea que amanhã já será passada. Fazemos isso realizando filmes que possam servir como as paredes das cavernas para os arqueólogos do futuro.

Existem perguntas que automaticamente aparecem nessas discussões: A quem pertence essa memória e quem devem ser seus detentores? Pertence a todos nós, individualmente, mas devemos compartilhá-las entre nós, de forma que nossas memórias individuais passem a formar um patrimônio comum, onde todos e cada um de nós se façam representar.

Outra pergunta que se impoe é como preservar essa memória. Devemos procurar quem tenha conhecimento e competência para fazer isso ou, de forma amadora, digitalizarmos nossos acervos, como por exemplo, os álbuns fotográficos de família, as fotos tiradas nos jogos de futebol, os álbuns de casamento…

É bom que se diga que mesmo arquivos digitalizados, transpostos para HDs ou BRs ou DVDs ou CDs, são passíveis de serem perdidos e em alguns casos, quando isso acontece, o prejuízo é muito maior. A mídia mais confiável até hoje disponível, é a fita LTO e mesmo assim precisa de constante manutenção e checagem, necessitando ser refeita num prazo de 30 anos.

Depois passamos a falar do projeto de iniciativa da Academia Maranhense de Letras, intitulado, Academia da Memória – Homens & Imortais que irá realizar documentários sobre alguns de seus membros. O presidente da AML, o jornalista e historiador Benedito Buzar, tem dado apoio irrestrito e acompanhado de perto esse projeto.

A princípio serão realizados docs sobre os 12 fundadores da Academia e sobre outros 12 imortais, totalizando 24. Depois da palestra foi exibido o primeiro deles. Trata-se do filme “Palavrador” que retrata a vida e a obra do poeta José Chagas. Quem viu achou maravilhoso.

A obra foi roteirizada pelo poeta Celso Borges, dirigida pelo cineasta Beto Matuck e montada por Alberto Greciano. A produção é da empresa Play Vídeo que conta com uma dezena de profissionais de alto nível para a realização desse projeto, entre eles o cineasta Francisco Colombo, os produtores Joan Carlos e Marcos Araujo e o fotógrafo Manoel Martins.

Naquela noite, depois da palestra, uma senhora me chamou de lado para me parabenizar e dizer de como ela estava orgulhosa de que um maranhense tivesse tido uma ideia dessas, algo tão extraordinário e eu disse a ela que essa ideia não é minha, que existem muitas outras experiências similares como os Museus da Imagem e do Som e Museu da Pessoa. Os MIS são voltados basicamente para o registro das artes que envolvem o som e a imagem. Seu objeto é a arte, por mais documental que possa ser, tem sempre uma visão artística da obra. O Museu da Pessoa é um museu virtual de histórias da vida, aberto a participação gratuita de todo aquele que queira compartilhar sua história a fim de democratizar e ampliar a participação de todos na construção da memória social.

Não estamos inventando nada, estamos tentando, ao nosso modo, dentro de nossas possibilidades, desenvolver um trabalho de preservação e de construção de nossa memória, para que ela não fique apenas na lembrança.

Mesmo destinatário, outro remetente

Meu caro Daniel,

Já lá se vão 400 anos e se por um lado as coisas por aqui não mudaram em muito, por outro mudaram radicalmente.

Não há mais rastros de seus amigos Tupinambás. Sumiram com todos. De seus conterrâneos normandos restaram apenas a Casa França/Maranhão, e a Aliança Francesa, difundindo o ensino da língua dos Luíses. Há também os turistas que insistem em vir para ver o que poderia ter sido a França Equinocial. Albuquerque, Moreno e Moura se foram para outras aventuras. Os velhos portugueses e açorianos, seus sucessores, também se foram deixando por aqui uma cidade que começou comandada por Japiaçu, passou aos cuidados do senhor de La Ravardière, para em seguida ser entregue a Jerônimo de Albuquerque que posteriormente a passou aos cuidados de Simão Estácio da Silveira, instituidor do Senado da Câmara da cidade de São Luís do Maranhão.

Poderia até tentar em uma dúzia de laudas resumir o que aconteceu por aqui nos últimos quatro séculos, mas não vou. Seria perda de tempo, pois nem o melhor dos missivistas seria capaz de resumir em tão pouco espaço e tempo os fatos mais significativos de nossa história, por isso vou apenas me ater a um fato que considero relevante e a um outro, por acreditar que seja absurdo.

O primeiro fato diz respeito ao abandono em que se encontra o centro histórico de nossa cidadela.

Depois que você foi levado preso para a Torre de Belém, em Lisboa, o engenheiro-mor Francisco de Frias fez um traçado, moderno para a sua época, delimitando o núcleo inicial do que viria a ser a cidade que herdaria o nome do forte que você e seus companheiros gauleses haviam fundado naquele 8 de setembro de 1612.

Pois bem, os lusitanos construíram no lugar uma belíssima cidade de porcelana, bordada pelos mais belos azulejos barrocos que o dinheiro do açúcar e do algodão podiam pagar. Mas o tempo foi passando, o poderio econômico mudando de mãos como feliz ou infelizmente é a regra do jogo da vida, o que foi fazendo com que a bela cidade de porcelana fosse sendo negligenciada, abandonada, esquecida, ao ponto de terem se transferido para o que no século XVII era área conhecida como Jeevirée e pouco depois, ponta de São Francisco, hoje área residencial dos ricos e poderosos de nossa terra, parte noroeste da Upaon-Açu de outrora.

Os grandes comerciantes há muito já se foram, as indústrias não perduraram, os governos não tiveram a visão de implantar no centro histórico o seu núcleo gerencial e ele com o passar do tempo foi se tornando um amontoado de prédios abandonados, caindo aos pedaços, redutos da marginalidade não apenas no que diz respeito a traficantes e punguistas, mas aos excluídos sociais que buscam refúgios em áreas como esta.

Algo precisa ser feito com urgência sob pena de perdermos um dos mais preciosos bens que possuímos, o nosso patrimônio arquitetônico, a nossa identidade enquanto agrupamento humano e urbano, enquanto polis.

Ainda sobre isso, devo ressaltar que temos uma guerreira que empunha a bandeira dessa causa. Kátia Bogéa faz o que pode em defesa de nosso patrimônio histórico, mesmo que as regras do órgão que ela dirige, o IPHAN, algumas vezes atrapalhem mais que ajude.

O outro assunto querido amigo, chega perto de ser uma piada. Deve-se ao fato de ter visto recentemente uma entrevista de um cidadão que já foi quase tudo no cardápio político de nossa época, sempre colocado nesses lugares por uma espécie de príncipe moderno, e agora, tendo ele, se rebelado contra seu antigo senhor arvora-se de paladino dos fracos e oprimidos.

O tal compareceu ao programa de televisão de um amigo nosso para justificar a sua função de chefe de gabinete do alcaide, o mesmo que ele combateu ferozmente nos últimos anos quando estava sob as ordens do mestre, a quem hoje combate.

Mas o pior foi ouvir os aconselhamentos políticos do dito cujo. Imagine alguém que sempre cumpriu ordens sem pestanejar, soldado obediente e de nenhuma iniciativa própria, se passando por formulador de políticas, de teorias, postulando conceitos e arquitetando ações. Seria o mesmo que um tal Felipe Janout, estafeta de sua confiança, ter se rebelado depois de anos de obediência cega, depois de uma vida toda beneficiando-se de sua proteção e apropriando-se de parte de seus despojos, resolvesse se juntar aos portugueses seus adversários e o que é pior, tentar se tornar um dos chefes, querendo ser um estrategista melhor que o próprio mestre Charlex de Vaux, ou mais hábil na arte do rastreio de pegadas ou no uso das palavras nativas que Davi Migam, O Língua.

Analogias à parte, o que o homem está sugerindo por aqui é que um novo aspirante ao lugar do velho príncipe tome atitudes, movimente-se pelo cenário de guerra, aja da mesma maneira que eles imaginam que agiria o atual Kaiser.

Veja só isso! Querer mudar as coisas, tomar o poder, agindo exatamente como ele diz que faz quem o detém, da mesma forma que eles dizem repudiar e combater. Pregando a omissão como ação, como tática, no intuito de eximir-se da obrigação de apresentar-se no campo de batalha e enfrentar seus adversários em comum, como faria um covarde ou na melhor das hipóteses como faria um comandante que valoriza muito pouco a palavra empenhada e a vida de seus parceiros.

Que líder será esse no futuro, se no presente se portar assim, abandonando seus camaradas e não valorizando a palavra empenhada?

Já não sou mais um jovem, já não tenho os mesmos sonhos, já não sou dado aos mesmos arroubos dos 20 anos, por isso posso até concordar que a estratégia sugerida seja a correta… Se e unicamente se o personagem a quem os conselhos são dirigidos estiver tentando manter-se no poder. Para quem quer conquistá-lo, agir dessa forma, covardemente, será o mesmo que dizer a todos que as coisas talvez até mudem no começo, mas estará implícito que depois que conquistar o poder, que se tornar o novo príncipe, com o passar do tempo, o jovem líder se tornará igual ao velho Leão que ora caça, e a todos os outros que o antecederam.

É também verdade que isso mais cedo ou mais tarde vai acabar por acontecer, inexoravelmente, mas seria melhor que fosse muito mais tarde do que cedo.

Sem mais para o momento, despeço-me respeitosamente…

Conversando com mãe Loló

Semana passada, fomos ao teatro assistir “Conversando com mamãe”, com Beatriz Segall e Herson Capri. O enredo retrata o delicado relacionamento de um filho cinquentão com sua mãe que tem 82 anos. A peça me deixou a clara sensação de que nós, filhos, somos menos bons do que deveríamos ser em relação a nossas mães.

Digo isso para puxar o assunto que realmente quero abordar: A falta que vão nos fazer essas criaturas que tanto nos amam. 

Se por um lado eu fui abençoado pelo fato de ter tido muitas mães – eu tive seis – também serei mais penalizado que os outros filhos, pois acontecendo o que é normal, chorarei a perda de todas…

Como já disse, tive seis mães e ainda tenho três delas comigo.  

A mulher que me deu luz e vida chama-se Clarice e além de mim pariu meu irmão Nagib. Não satisfeita, resolveu criar mais de uma dúzia de outros filhos, entre sobrinhos e agregados.

Quem conhece minha mãe a ama imediata e incondicionalmente. Ela continua aos 82 anos de idade fazendo filhos por esse mundão de seu Deus, pois todos se afeiçoam a ela de forma filial e genuína.

Mãe Teté é minha segunda mãe. Ela se chama na verdade Estelita e foi morar conosco assim que eu nasci. O pai de Teté e meu avó materno se conheceram e se tornaram grandes amigos ainda rapazes. Casaram e acabaram morando no mesmo sobrado. Suas famílias se uniram e não mais se separaram. Essa união dura até hoje.

Teté é uma espécie de xerife da casa, é ela quem toma conta de tudo e bota ordem no estabelecimento. Ela costuma dizer uma coisa estranha sobre nos deixar. Diz que ninguém vai sentir saudades quando ela se for. Ela afirma de maneira jocosa que o que nós vamos sentir é falta dela. Falta principalmente de suas recomendações e de suas brigas. Engana-se!

Da terceira de minhas mães falarei ao final.

Minha quarta mãe era Didi. Já falei dela nestas páginas antes. Do cheiro dela que ainda hoje eu sinto no ar. Era uma velhinha maravilhosa. A bondade em forma de gente. Ela perdeu uma filha ainda bebê e dedicou o resto de sua vida a tomar conta de minha mãe que era uma menina mirradinha e asmática. Didica nos deixou há alguns anos, mas sua lembrança não nos deixa.

Minha mãe de número cinco era na verdade minha avó, mãe de minha mãe. Uma senhora enérgica que fazia um feijão branco com verduras como ninguém. Mãe Zezé também já se foi há algum tempo.

Minha sexta mãe é também minha tia. Mamãe Lúcia foi minha mãe de leite, pois eu sempre fui muito guloso e só minha mãe não dava conta de me alimentar. Ela é mãe de meu primo e irmão Jorge e foi casada com tio Samuel, de quem também já comentei com você anteriormente. A baixinha tá em forma.

Deixe-me voltar agora à minha mãe de número três. Falo de mãe Loló, criatura adorável que acaba de nos deixar.

É preciso ser dito que Loló era a irmã mais velha de Teté e as duas nunca se casaram.

Loló trabalhou muitos anos como auxiliar de enfermagem do Hospital Infantil, tendo colaborado com muitos dos maiores pediatras de nossa terra: Dr. Amaral, Dr. Egídio, Dr. Damasceno, Dr. Zé Martins, Dr. Costa Filho, Dr. Getúlio…

Yolanda era o nome de batismo de Loló que antes mesmo de se dedicar a mim e a meu irmão, criou minha prima e irmã Lúcia de Fátima e depois seus filhos Rochinha e Tadeu.

Você deve estar dizendo, de maneira muito educada, tenho certeza: “Joaquim deve estar ficando doido! O que eu tenho com isso tudo que ele resolveu escrever e publicar nesse domingo!?”

Eu explico! É que o momento pelo qual estou passando meu camarada, ou você já passou ou infelizmente ainda vai passar, fato que nos torna iguais. Vítimas de um sofrimento inexorável, réus de uma pena que mais cedo ou mais tarde teremos que cumprir, condenados depois disso a vagar sozinhos, apartados dos seres que nos deram não só a vida mas nos trataram quando adoecemos, nos protegeram dos perigos e nos descortinaram o mundo.

Fui visitar Mãe Loló na UTI do hospital onde ela estava internada. De certa forma fui me despedir dela. Não sei se ela ouviu o que lhe disse, mas eu ouvi e não vou me esquecer jamais, tanto do que eu disse em voz alta, quanto do que eu disse somente para mim, apertando as palavras contra os lábios.

Eu lhe disse que estávamos todos ali, com ela, esperando que ela melhorasse e voltasse para casa conosco. Disse-lhe que a amávamos muito e que Nagib estava chegando para vê-la. Passei quinze minutos fazendo carinho em seu ombro. Nunca me senti tão inútil, tão impotente. Ela não reagia. Por um instante parei de falar com ela e passei a falar comigo mesmo. Recriminei-me por não ter ficado mais próximo dela nos últimos tempos, por estar sempre tão ocupado, tão cheio de coisas pra fazer e não ter dedicado um pouco mais de tempo a ela e às outras também.

Pedi desculpas: A mim mesmo por ter feito isso comigo e a ela pelo mesmo motivo.

Lembro que era Mãe Loló quem me levava toda tarde para o colégio Pituxinha, e como eu era um pequeno muito chato, não deixava que ela voltasse para casa, chorava sem parar e ela ficava comigo. Pegava seus apetrechos de tricô e passava a tarde toda me pajeando.

Nunca vou me esquecer de nada. Nem de quando eu tive sarampo e ela cuidou de mim, isolado que fiquei de tudo e de todos.

Guardo na lembrança as muitas vezes que ela nos levou para os cursos no Centro de Arte Japiaçu, para brincarmos no parquinho do SESC ou para as aulas de judô do major Vicente.

Loló adorava dizer que quando eu era menino, pedia que ela ficasse de pé na porta do banheiro, me esperando tomar banho, pois eu tinha medo de ficar sozinho.

Lembro quando ela caiu e quebrou o pé, só eu queria carregá-la…

Não vou… Não vamos nos esquecer jamais de Loló.

Perfil

“Poeta, contista e cronista, que, quando sobra tempo, também é deputado”. Era essa a maneira como Joaquim Elias Nagib Pinto Haickel aparecia no expediente da revista cultural Guarnicê, da qual foi o principal artífice. Mais de três décadas depois disso, o não mais, porem eterno parlamentar, ainda sem as sobras do tempo, permanece cronista, contista e poeta, além de cineasta.

Advogado, Joaquim Haickel foi eleito para o parlamento estadual pela primeira vez de 1982, quando foi o mais jovem parlamentar do Brasil. Em seguida, foi eleito deputado federal constituinte e depois voltou a ser deputado estadual até 2011. Entre 2011 e 2014 exerceu o cargo de secretario de esportes do Estado do Maranhão.

Cinema, esportes, culinária, literatura e artes de um modo geral estão entre as predileções de Joaquim Haickel, quando não está na arena política, de onde não se afasta, mesmo que tenha optado por não mais disputar mandato eletivo.

Cinéfilo inveterado, é autor do filme “Pelo Ouvido”, grande sucesso de 2008. Sua paixão pelo cinema fez com desenvolvesse juntamente com um grupo de colaboradores um projeto que visa resgatar e preservar a memória maranhense através do audiovisual.

Enquanto produz e dirigi filmes, Joaquim continua a escrever um livro sobre cinema e psicanálise, que, segundo ele, “se conseguir concluí-lo”, será sua obra definitiva.

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