Do Blog De Marco D’Éça

O jornalista Marco D’Éça postou no último dia 25 em seu Blog a matéria abaixo a qual achei por bem reproduzir aqui no meu Blog neste domingo.

Quanto ao ofício a mim dirigido pela Procuradora Regional Eleitoral, Carolina da Hora Mesquita, eu o reproduzo a seguir assim como também o faço com a resposta a ela enviada por mim.

Ainda sobre o incrivelmente popular Blog do jornalista Marco D’Éça, no que diz respeito aos comentários feitos por seus leitores à referida matéria, me detive apenas em um e o respondo ao final.

ofício da procuradora

resposta à procuradora

Procuradora eleitoral pede a Joaquim Haickel que esclareça discurso feito na Assembléia Legislativa

qui, 25/02/10

por Marco D’Eca | categoria Eleições 2010

carolina-da-hora-160909O titular deste blog estava hoje no gabinete do deputado Joaquim Haickel (PMDB), quando chegou o Ofício nº 025-PGE, assinado pela procuradora eleitoral Carolina da Hora Mesquita.

Ela solicita ao parlamentar que esclareça o discurso que fez na tirbuna da Asembléia, no dia 10 de fevereiro, em que critica o uso da máquina administrativa com fins eleitoreiros.

No documento, Carolina da Hora pede textualmente: “[que o deputado] especifique fatos e nomes referentes à frase: ‘não admito que se use a força política de um cargo para seduzir eleitores, como alguns têm feito’, grifada no seu discurso, em anexo”.

O deputado não estava no gabinete, então o titular do blog resolveu ler o discurso – disponível no site da Assembléia – e chegou à conclusão de que a procuradora eleitoral não precisava nem recorrer ao deputado para esclarecer os fatos.

O texto de Haickel é auto-explicativo e esclarece por si só de quem ele está falando.

Joaquim_HaickelLeia um trecho: Isso me deixa revoltado, principalmente porque não se leva em consideração o trabalho de anos e anos que se labutou em parceria com algumas pessoas e de repente, não mais que de repente, verdadeiros messias aparecem nesses municípios asfaltando ruas, nomeando professores, colocando postos de segurança (…)

Precisava ser mais claro???

Leia a íntegra ou ouça o áudio do discurso de Joaquim Haickel

16 Comentários para “Procuradora eleitoral pede a Joaquim Haickel que esclareça discurso feito na Assembléia Legislativa”

1.

leidy:
25 fevereiro, 2010 as 19:26

Perguntar não ofende. Qual foi a providencia tomada pela Procuuradoria Eleitoral sobre o suposto crime eleitoral acontecido na quarta-feira de cinzas lá pelas bandas da Maria Aragão???????????????????????????????????????????????????????
Fazer showmicio em nome de Deus não é crime eleitoral???????????

2.

SERGER:
25 fevereiro, 2010 as 20:25

O SECRETARIO CESAR PIRIS ESTA FECHANDO ACORDO DIRETO É SO A PROCURADORA DA UMA PASSADA NA SEDUC DO MONTE CASTELO OU ATE MESMO MANDAR ALGUEM IR DESFARÇADO PARA ELA VER O TANTO DE PREFEITOS QUE PASSAM POR AQUI DIARIAMENTE PRICIPALMENTE NA SAGI LA MESMO É QUE É FECHADO O NEGOCIO PASSE LA PARA COMPROVAR..

3.

Helena:
25 fevereiro, 2010 as 20:34

Você mesmo afirma que o deputado não estava no gabinte. Mas, como soubestes logo do teor do documento? Outro crime…….?!

Resp.; Eu li o documento. É público. Não estava lacrado. Até você pode ler se quiser.

4.

ferreirinha:
25 fevereiro, 2010 as 21:32

A pergunta é: O deputado Joaquim Haickel vai ter ‘peito’ para citar os nomes dos messias ? Não acredito que Nagibão vai fugir da raia, afinal, todo mundo sabe muito bem quem são essas figuras que fazem parte do governo Roseana e que estão fazendo o diabo no interior do estado. Deputado Joaquim chegou a hora de dá o troco nessa turma.

5.

Valerio:
25 fevereiro, 2010 as 21:50

Marcos, asfaltar ruas, contratar professores e colocar posto de segurança são obrigações, são atividades normais. O que o Deputado tem que esclarecer é quais são os atos ilicitos, como estão seduzindo eleitores.

6.

Pedro:
25 fevereiro, 2010 as 22:56

O mais idiota de todos os políticos é aquele que é dependente e quer dar uma de independente. Esse é o nosso Joaquim. Acabou desagradando a todos com essa postura dele incoerente. Inclusive Fernando S., seu amigo, ficou puto com essa história. Assim, o Joaquim colheu o que plantou. Tomara que o mandato dele seja cassado!

7.

PAULO:
26 fevereiro, 2010 as 10:26

ÀS VEZES PENSO QUE NESSE ESTADO O MINISTÉRIO PÚBLICO SÓ É UMA INSTITUIÇÃO, SEM NENHUM FIM, SEM NENHUMA UTILIDADE, POIS ESTÁ CHEIO DE PESSOAS SEM NENHUMA EXPRESSÃO PARA APLICAR A LEI…

SEMPRE O MP TEM TIDO UM LADO, QUANDO NA SUA ESSESNCIA DEVERIA SER IMPARCIAL..

AQUI NO MARANHÃO, INFELIZMENTE, O MP SÓ EXISTE PRÁ LADRÃO DE GALINHA E FILHJO DE POBRE, O RESTO É SÓ BALELEA E MAIS BALELA!!

8.

Diogo:
26 fevereiro, 2010 as 10:52

Mais uma vez o deputado Joaquim, para mim o melhor, está com a razão.

Esses secretários candidatos, por mais que façam parte do grupo político da governadora, estão agindo como age a turma do PDT e de Zé Reinaldo, sem escrúpulos para conseguir votos.

9.

Tarcísio:
26 fevereiro, 2010 as 12:27

Com a finalidade de ajudar a Procuradora, pode-se afirmar que são três messias.

I – asfaltando ruas;
II – nomeando professores;
III – colocando postos de segurança
E aí? Deu pra pegar agora, doutora?

10.

Francisco Veras:
26 fevereiro, 2010 as 13:25

Como pode a procuradora tomar qualquer medida com base em figuras de linguagem do deputado? Ela está correta em seu pedido.

11.

muda PSB:
26 fevereiro, 2010 as 14:24

O QUE EU NÃO ENTENDO NESTE RAPAZ VELHO É;
DINHEIRO NÃO FALTA PARA SER INDEPENDENTE, O PAPAI NAGIB DEIXOU UMA GRANDE FORTUNA;ESTÁ PREPARADO INTELECTUALMENTE, PODERIA SER INDEPENDENTE NOS SEUS PENSAMENTOS;SABE QUE A ROSEANE NÃO GOSTA DELE, O ZÉ REINALDO NUNCA FEZ QUESTÃO E COM JACKSON ELE NÃO CHEGAVA PERTO COM MEDO DO FERNANDO SARNEY.
É A HORA DE FICAR ADULTO, MOSTRAR QUE TEM INDEPENDENCIA…..SOMENTE….O RESTO ELE TEM.

12.

Sebastião Pires Aquino:
26 fevereiro, 2010 as 14:31

O deputado Joaquim Haickel não precisa dar troco algum a ninguém, pois a fatura da dívida desses “messias” é para com o povo do Maranhão. É Ele, o povo, quem deve dar esse troco. Asfaltar ruas, nomear professores, instalar postos de segurança são realmente obrigações dos secretários de estado, mas usar isso para ganhar votos ou fazer com que outros percam, não é coisa de pessoas éticas. Isso não é ilícito, mas é usurpação do poder de um grupo em proveito pessoal e próprio.
Há mais de 3 desses “messias”. Há quem construa hospitais, há quem planeje o futuro, quem gerencie os funcionários e o patrimônio público, quem deveria incentivar a agricultura, quem deveria proteger o meio ambiente. Há quem distribua cadeiras de rodas, quem deveria apoiar a pesquisa, a ciência e a tecnologia, há até quem deveria cuidar dos interesses do estado em Brasília….. Há muitos messias e poucos milagres.O Dep Joaquim Haickel pode até ser idiota, mas não por ter dito o que disse. Pode até ser idiota por bater no peito e se dizer Sarneysta, amigo de Fernando S., mas tem a coragem de reclamar do absurdo que seus supostos companheiros estão fazendo com nosso Estado.

13.

GRILO FALANTE:
26 fevereiro, 2010 as 15:46

DEÇA

O DEP JOAQUIM É UM EXCELENTE SER HUMANO MAS É EXTREMAMENTE VAIDOSO !
COMO NÃO FOI DOTADO DE BELEZA EXTERIOR BUSCA UMA COMPENSAÇÃO : PRECISA SER SUPERLATIVO EM TUDO – MELHOR ESCRITOR, MELHOR COZINHEIRO, MELHOR POETA, MELHOR DIRETOR DE CINEMA…É SÓ LER SEU PERFIL NO BLOG!
ENTRETANTO O DEPUTADO JOAQUIM, APESAR DE MUITO BOM, NÃO CONSEGUE SER O MELHOR ! E ISSO O DETERGE POR DENTRO E O FAZ INFELIZ !
POR VEZES SUA INFELICIDADE O LEVA AOUTROS CAMINHOS QUE O AFASTA DOS “AMIGOS” . LEMBRAM-SE QUANDO ELE TOMOU PARTIDO DE MALUF E AJUDOU A CERCAR A AL COM METRALHADORAS ? ISSO SARNEY NUNCA ESQUECEU E QUANDO ELE TENTA ESQUECER DONA MARLY O RELEMBRA !
É CLARO QUE ROSEANA GUARDA MUITAS QUEIXAS DO DEPUTADO E APOIA MUITOS ADVERSÁRIOS DELE !
AGORA O DEP VAI TER QUE EXPLICAR SUAS ACUSAÇÕES À PROCURADORA ELEITORAL O QUE VAI DEIXAR JOAQUIM MAIS ISOLADO JUNTO AOS SARNEYS

ABÇS

14.

Eduardo Arruda:
26 fevereiro, 2010 as 17:15

E ESSA PROCURADORA NÃO SABE QUE OS DEPUTADOS TÊM IMUNIDADE PARLAMENTAR, NO QUE SE REFERE A SUAS PALAVRAS, OPINIÕES E VOTOS, CONFORME ESTÁ ESCRITO NA CF/88?
NO MÍNIMO, ISSO É UM TREMENDO ABUSO DE AUTORIDADE.
VÁ TOMAR BANHO, DOUTORINHA, data venia………….

Eduardo Arruda, do Vinhais

15.

BACURAU:
26 fevereiro, 2010 as 20:57

VEM CAH!!!… O DEPUTADO NAGIB PRECISA FICAR MAIS INDEPENDENTE AINDA DO QUE JAH EH???… POXA, ENTAO ELE VAI TER QUE COLOCAR PESSOALMENTE AS ALGEMAS NESSE MAGOTE DE VAGABUNDO DE QUEM ELE TANTO RECLAMA.

Epílogo

Marco de todos os comentários em seu blog sobre o ofício da procuradora Carolina, o único que vou me dedicar a responder é o do Grilo Falante, aquele alter ego de Pinóquio, um boneco-menino mentiroso feito de madeira, criado pelo solitário velhinho artesão Gepeto. È que o tal Grilo me lembra muito um certo amigo meu, um grande aloprado, gente muito boa mas que como o Darth Vader de Star Wars se deixou seduzir pelo lado negro da força.

Como reconheço o aloprado no Grilo? É simples! Pelo uso de palavras que só um sujeito prolixo usaria, como por exemplo: “Deça”, “ superlativo”, “deterge”…

Pois bem vamos aos fatos. Sou vaidoso sim, mas não da minha beleza física, nem da minha posição social ou cultural. Sou vaidoso sim, mas não da minha condição política ou econômica, quem realmente me conhece sabe disso. Sou vaidoso sim, mas dos amigos verdadeiros que cultivei durante toda minha vida e do trabalho que faço como parlamentar, coisa que vai completar 28 anos no final de 2010.

Quem me conhece sabe que não tenho a ambição de ser o melhor, o maior, o mais. Quem me conhece sabe que tenho o desejo de poder fazer o melhor que estiver ao meu alcance, ao alcance da minha capacidade, não me importando em ser o primeiro, posição que na verdade me é muito incomoda, pois chama muita atenção e causa muita inveja. Prefiro ser um coadjuvante privilegiado com mais bônus que ônus a contabilizar, prefiro ser amigo do rei e ir para Pasárgada, que ser o próprio e viver em um purgatório perpétuo.

No que diz respeito ao fato de ter apoiado Maluf em 1984, é exatamente aí que está consubstanciado o meu diferencial em relação a outros políticos. Ter feito aquilo mesmo um tanto a contra gosto, é a prova maior da minha não subserviência. Naquela ocasião estava tomando a simples decisão de ficar do lado de meu pai e de forma alguma aceitei traí-lo para me postar ao lado de Tancredo e Sarney, como muitos queriam que eu fizesse e o fizeram por puro e simples oportunismo ou mera subserviência. Eu não, antes de agir simplesmente por minha vontade, sigo o caminho da lealdade e da ética, algumas vezes trilhando caminhos mais difíceis e tormentosos, mas sempre os meus caminhos, aqueles que eu escolho por livre arbítrio e total responsabilidade.

Grato pela oportunidade,

Joaquim Nagib Haickel.

Redação de aluna do Curso de Letras da UFPE

Há muito não posto nada daquele meu amigo que diariamente me manda uns cem e-mails. Hoje volto com uma de suas deliciosas correspondências. Espero que gostem.

Universidade Federal de Pernambuco (Recife) Esta aluna venceu um concurso interno, promovido pelo professor titular da cadeira de Gramática Portuguesa.

REDAÇÃO:

Era a terceira vez que aquele substantivo e aquele artigo se encontravam no elevador. Um substantivo masculino, com um aspecto plural, com alguns anos bem vividos pelas preposições da vida. E o artigo era bem definido, feminino, singular: era ainda novinha, mas com um maravilhoso predicado nominal.

Era ingênua, silábica, um pouco átona, até ao contrário dele:

Um sujeito oculto, com todos os vícios de linguagem, fanáticos por leituras e filmes ortográficos. O substantivo gostou dessa situação: os dois sozinhos, num lugar sem ninguém ver e ouvir. E sem perder essa oportunidade, começou a se insinuar, a perguntar, a conversar.

O artigo feminino deixou as reticências de lado, e permitiu esse pequeno índice. De repente, o elevador pára, só com os dois lá dentro: ótimo, pensou o substantivo, mais um bom motivo para provocar alguns sinônimos. Pouco tempo depois, já estavam bem entre parênteses, quando o elevador recomeça a se movimentar: só que em vez de descer, sobe e pára justamente no andar do substantivo. Ele usou de toda a sua flexão verbal, e entrou com ela em seu aposto.

Ligou o fonema, e ficaram alguns instantes em silêncio, ouvindo uma fonética clássica, bem suave e gostosa. Prepararam uma sintaxe dupla para ele e um hiato com gelo para ela. Ficaram conversando, sentados num vocativo, quando ele começou outra vez a se insinuar.

Ela foi deixando, ele foi usando seu forte adjunto adverbial, e rapidamente chegaram a um imperativo, todos os vocábulos diziam que iriam terminar num transitivo direto.

Começaram a se aproximar, ela tremendo de vocabulário, e ele sentindo seu ditongo crescente: se abraçaram, numa pontuação tão minúscula, que nem um período simples passaria entre os dois.

Estavam nessa ênclise quando ela confessou que ainda era vírgula; ele não perdeu o ritmo e sugeriu uma ou outra soletrada em seu apóstrofo. É claro que ela se deixou levar por essas palavras, estava totalmente oxítona às vontades dele, e foram para o comum de dois gêneros.

Ela totalmente voz passiva, ele voz ativa. Entre beijos, carícias, parônimos e substantivos, ele foi avançando cada vez mais: ficaram uns minutos nessa próclise, e ele, com todo o seu predicativo do objeto, ia tomando conta.

Estavam na posição de primeira e segunda pessoa do singular, ela era um perfeito agente da passiva, ele todo paroxítono, sentindo o pronome do seu grande travessão forçando aquele hífen ainda singular.

Nisso a porta abriu repentinamente. Era o verbo auxiliar do edifício. Ele tinha percebido tudo, e entrou dando conjunções e adjetivos nos dois, que se encolheram gramaticalmente, cheios de preposições, locuções e exclamativas. Mas ao ver aquele corpo jovem, numa acentuação tônica, ou melhor, subtônica, o verbo auxiliar diminuiu seus advérbios e declarou o seu particípio na história.

Os dois se olharam, e viram que isso era melhor do que uma metáfora por todo o edifício. O verbo auxiliar se entusiasmou e mostrou o seu adjunto adnominal. Que loucura, minha gente. Aquilo não era nem comparativo: era um superlativo absoluto. Foi se aproximando dos dois, com aquela coisa maiúscula, com aquele predicativo do sujeito apontado para seus objetos. Foi chegando cada vez mais perto, comparando o ditongo do substantivo ao seu tritongo, propondo claramente uma mesóclise-a-trois. Só que as condições eram estas: enquanto abusava de um ditongo nasal, penetraria ao gerúndio do substantivo, e culminaria com um complemento verbal no artigo feminino.

O substantivo, vendo que poderia se transformar num artigo indefinido depois dessa, pensando em seu infinitivo, resolveu colocar um ponto final na história: agarrou o verbo auxiliar pelo seu conectivo, jogou-o pela janela e voltou ao seu trema, cada vez mais fiel à língua portuguesa, com o artigo feminino colocado em conjunção coordenativa conclusiva.

Papiro sobre o Egito

Não lembro qual foi a primeira vez em que ouvi falar do Egito, mas desde então venho nutrindo a vontade de conhecer essa que é a maior dádiva do Nilo.

Até dia 13 deste mês de fevereiro, jamais havia estado antes na terra dos faraós, e logo pude comprovar que tudo, por mais exagerado que pudesse parecer que se dizia sobre essa terra, estava bem próximo da realidade.

Meus queridos mestres de história e geografia me fizeram saber tudo que um menino precisava saber sobre um determinado lugar para ficar encantado por ele e nesse caso o cinema encarregou-se em sacramentar a avassaladora paixão com Os Dez Mandamentos, Cleópatra, O Egípcio, Morte sobre o Nilo… Paixão aumentada mais ainda pela febre egípcia da Era Tutankamônica, desde a descoberta de Howard Carter, em 1922.

Fica patente aqui mais um dos vestígios do tempo: faltam ainda 12 anos para que se complete um século do achado de Carter sobre um faraó menino que subiu ao trono 3.500 anos antes, aos oito anos de idade, que reinou durante 10 – como não poderia deixar e ser, manipulado por um sempre maquiavélico sumo sacerdote – e morreu aos 18. Em vida esse faraó nada de mais importante fez pelo Egito, mas sua morte e sua tumba trouxeram com clareza e exatidão até nós, aos nossos dias, o modo de viver daquele tempo.

Parece exagero, mas o Egito é sim uma dádiva do Nilo. Sem ele não haveria nada, nenhuma vida por lá. Só por causa dele há lá o que há. Agora compreendo porque o mundo antigo dependia tanto do Egito e porque o esperto Ptolomeu escolheu para si esse pedaço do mundo Alexandrino como herança.

Cinqüenta anos de minha existência sem conhecer pessoalmente as Pirâmides, a Esfinge, o Museu do Cairo e suas preciosidades, os templos de Sakara, Hatshepsut, Karnak e Luxor e o Vale dos Reis foram providenciais para me fazer aprender tudo que precisava para dar aula aos próprios guias que nos acompanhavam, que, diga-se de passagem, eles são obrigados a cursar faculdade de arqueologia, fazendo especialização em História e Relações Públicas por um período de quatro anos, para exercer essa que é uma das mais cobiçadas funções do Egito Moderno, guardadas as devidas proporções, quase a mesma coisa que ser um escriba nos tempos antigos desse, que é o país árabe mais ocidentalizado do mundo.

Quando chegamos ao Cairo, notamos logo o imenso, moderno e limpo aeroporto e eu cá comigo, lembrei dos aeroportos por onde passamos até chegar ali: o de São Luís, uma rodoviária de terceira classe; o de São Paulo, uma imensa rodoviária de primeira classe, que está quase caindo de classificação; o aeroporto de Istambul, que mais parece um imenso shopping center. Estamos mal de aeroportos em nosso país. Em nosso estado nem se fala.

No Cairo escolhemos um hotel que tinha tudo para nos surpreender e surpreendeu. Ficamos no Semíramis, da rede Intercontinental, dono de uma localização privilegiada, de frente para o Nilo e de um restaurante incrível que oferece 18 horas de um buffet magnífico, que alterna café, almoço e jantar, deixando apenas duas horas entre cada refeição para arrumação de aproximadamente mil m² de mesas para refeições e outros 200 metros para bancadas com as mais diversas variedades de guloseimas provenientes de todos os lugares do mundo.

As pirâmides são realmente incríveis, nada do que se sabe sobre elas antes de conhecê-las, se compara com a sensação única de vê-las, de tocar em suas gigantescas e frias pedras, em olhar para cima e ver o sol se escondendo atrás delas. Aquelas coisas feitas há mais de quatro mil anos e ainda hoje, com todo o avanço tecnológico, é difícil se explicar e praticamente impossível de se reproduzir.

No Museu do Cairo, confirmou-se a certeza sobre tudo o que aprendi, primeiro na escola, depois nas minhas incontáveis sessões de History e Discovery: O tempo é uma variável constante. Não existe nada sem o tempo e é ele o maior de todos os referenciais. Explico: depois de todos esses milênios, achamos apenas uma única tumba de um faraó intacta, as outras todas foram saqueadas, algumas delas até mesmo por outros faraós, seus netos ou bisnetos. Nessa tumba havia um tesouro de valor histórico incalculável, e aproximadamente mil quilos em peças de ouro. Esse faraó reinou por apenas 10 anos, agora imaginem como deveria ser a tumba de Ramsés III que reinou por 70 anos, na época do apogeu dessa região!?

No desfile de personagens importantes, figuram é claro, os construtores das pirâmides e da Esfinge de Gisé, Quéops, Quefren e Miquerinos; os faraós Naarmé, Amenotep, Ramsés II, Seti, Ramsés III, Amenófis III, Amenófis IV, Tutmósis, Tutankamón e é claro suas rainhas, a bela Nefertari, a sábia Nefertiti, a poderosa Hatshepsut e aquela que fundiu todas essas qualidades em um único espécime feminino, Cleópatra. Por falar nisso, trouxe de São Luís comigo a minha própria rainha, muitas vezes comparada com as quatro citadas acima, pelos nativos de turbante e shilaba, inclusive um mais afoito ofereceu-me três mil camelos por ela. Consultei o nosso guia, o simpático Mohamed, que me disse que um camelo vale uns 500 dólares, logo deduzi que a indecente proposta superava a de Robert Redford por Demi Moore naquele famoso filme. Valor insignificante bem como qualquer outro que fosse, incapaz de pagar por alguém que me dá tanto prazer e felicidade. “Yala, yala, yala” – Vai, vai, vai – disse como resposta em “bom” e enérgico árabe e saí sorrindo por dentro.

Conosco durante os 10 dias pelo Egito, do Delta até Abu Simbel, nos acompanharam dois argentinos de Corrientes, Mirta e Fernando, mãe e filho. Fernando ganhou dos pais, como presente por seus 18 anos a viagem para conhecer o Egito, como ele sempre quisera desde pequeno. Sorte a dele. Muito melhor que escolher um destino onde pouco ou muito pouco pudesse aprender.

Viajar para qualquer lugar é o mesmo que uma aula. Viajar para um lugar como esse é um curso completo.

Salam aleikum!

O telefone

Não agüento mais
Atender telefone.

As pessoas adoram
que se minta para elas.

Não suportam a verdade.

Querem se enganar
e o que é pior,
querem que eu as engane.

Enganar é sempre mais difícil,
falar a verdade é tão fácil
e natural.

A ILHA

Ainda criança aprendi o que é uma ilha.

Nasci em uma!

Agora marcado pelas memórias

descobri que podem haver outros tipos

Descobri que uma porção de terra

cercada de poesia por todos os lados,

cercada de amor,

também é uma ilha.

PS

Você não nega

mas sonega.

Eu nem isso,

não nego nem sonego,

entrego tudo.

Falo,

felo,

“fi-lo

porque qui-lo”

folo,

fulo

fico assim pela distancia,

pelo tempo.

Fito a foto daquela noite:

Que loucura!

Embriagues sem álcool.

Só me resta imaginar…

Passar a barba em teu braço,

em teu ombro,

teu pescoço,

puxar teu cabelo.

Te abraçar,

beijar tua boca

e te amar.

Falar ao teu ouvido esquerdo

palavras que te façam tremer,

que deixe o outro morrendo de ciúmes,

que te façam voar…

Depois,

virar-te do avesso

e travesso

saciar a vontade do teu direito ouvido

e dizer-te tudo…

O poema ditado deitado de lado.

O vento açoita a janela
e o sol começa
a invadir pelas frestas.

Bem-te-vis e curiós
entoam o que lembra
uma melodia de Vivaldi.

Agarrada a mim
ela não pára de tremer
pede pra eu não parar
e diz que gosta.

Asmática,
ensaia uma tosse
mas a hipófise vence os brônquios.

De que mais precisa um homem?
Vento, sol, passarinhos.
Uma mulher linda,
de pele branca.
Uma rosa tatuada,
nome de filme.
Doida para aprender
o que se faz
e como ver.

Luz artificial!?
Pra quê!?

Tudo lá fora
e ela comigo
aqui dentro,
aqui dentro.

Qualquer coisa a mais
é excesso.

Em fase de sublimação.

Muito cedo descobri que em algum lugar em meu cérebro havia um dispositivo que fazia com que eu não agisse de determinada maneira, que me censurava, e que fazia com que eu simplesmente redirecionasse minhas energias para outras coisas, fazia com que pensasse, idealizasse, sonhasse, vivenciasse, mas não fizesse, não realizasse aquele intento previamente censurado, e ainda assim essa tal engrenagem fazia com que eu sentisse o prazer advindo daquela energia, fazia com que eu conseguisse sentir prazer como se tivesse realizado meu intento primordial. Foi assim que comecei a escrever muito cedo, foi assim que busquei os esportes, foi assim que me apaixonei pelo cinema. Hoje vejo que foi também assim que optei pela política.

Depois descobri que em algumas circunstâncias isso também servia de adiamento, procrastinação, maturação e até, de certa forma como planejamento de algo que eu desejava realizar e que, através daquele instinto poderoso, eu apenas treinava para quando chegasse a hora de colocar em prática. Talvez por isso, tudo em minha vida tenha acontecido de forma mais arrumada, mais planejada e natural.

Muito tempo depois de conhecer tal sintoma, de identificar com precisão suas circunstâncias, seus efeitos e até algumas formas correlatas e análogas de seu desenvolvimento em minha vida, lendo sobre psicologia, descobri tecnicamente, cientificamente, do que se tratava.

A palavra usada para designar tal função de nosso inconsciente, para nomear esse nosso instinto é tão esclarecedora que não precisa de maiores aprofundamentos para seu entendimento. Trata-se da sublimação, que em química significa mudança do estado sólido para o estado gasoso ou vice-versa, sem passar pelo estado líquido. Palavra que no dicionário está assim descrita: Sublimação – 1. Tornar sublime; purificar, enaltecer, exaltar. 2. Tr. dir. Elevar à maior perfeição. 3. Pron. Tornar-se sublime; enaltecer-se, engrandecer…

No âmbito da psicanálise, esse fenômeno, a sublimação, é o processo inconsciente que consiste em desviar a energia da libido para novos objetos, de caráter útil. Mecanismo de defesa do eu, através do qual alguns impulsos, desviados de seu objeto primitivo, são integrados na personalidade que os investe em objetos equivalentes de valor social. Segundo Freud sublimação é a fonte da nossa cultura. Só produzimos arte, ciência e tudo o mais porque deixamos nossa energia canalizada para isso, porque não podemos ou pelo menos não devemos sair por ai matando, roubando, mentindo…

Em suma, sublimar um desejo, uma ação, é por uma atitude consciente ou semi-consciente, deixar de realizar esse desejo, mas sentir-se como se o tivesse realizado.

Estou passando por uma fase dessas em minha veia artística. Tenho sublimado muitas idéias, tenho armazenado energia para uma realização que ainda não consigo identificar, mas sei que ela está por aqui em algum lugar, dentro de minha cabeça, rondando, espreitando, esperando uma oportunidade.

A coisa é tão séria que comecei a fazer uma lista de idéias de poemas, crônicas, contos, roteiros ou mesmo de algumas mudanças neles. Só para citar alguns: Há pelo menos três anos venho observando que com freqüência tenho engolido a letra “E” quando estou escrevendo. É como se o “E” não existisse, principalmente em alguns casos. Por exemplo, acabei de voltar a linha anterior para colocar o segundo e o terceiro “E” na palavra escrevendo, pois meus dedos guiados por meu cérebro os eliminaram. Dá um bom ensaio não acham?

Tenho comigo, desde a primeira vez – devia ter doze anos – em que assisti ao filme Sansão e Dalila, com Victor Mature e Hedy Lamarr, a tese de que a força de Sansão jamais esteve em seus cabelos, mas sim em seu amor, da mesma maneira que sua fraqueza não consistia em simplesmente ser careca, mas sim na decepção pela traição de sua amada.

Tenho sentido muita vontade de falar sobre o que aconteceu e continua acontecendo no Haiti. Preciso dizer o que penso e o que sinto sobre a segunda fundação do estado maranhense, agora com essa nova arrancada para o progresso.

Da mesma forma tenho sentido muita vontade de escrever sobre alguns amigos meus, pessoas de quem gosto, com quem tenho afinidades, que são caras para mim como Paulo Nagem, Antonio Carlos Barbosa, Fernando Sarney e Edinho Lobão que são quase como irmãos. Paulo Coelho, Celso Borges, Érico Junqueira Ayres e Roberto Kenard, de quem sinto tanta falta (deles e do tempo em que éramos muito, muito felizes). Heloisa Collins amiga para sempre. Cristina Tavares meu primeiro amor verdadeiro. De Ivana Farias com quem aprendi muito do que sei e com quem fiz minha melhor história: Laila.

E queria falar também de outros amigos: Nelson Frota, espécie de primo mais velho, precoce. Falar de Gonçalvinho e da inveja boa que tenho de sua competência e do orgulho que sinto de sua simplicidade prestativa; De Benjamim Alves de quem nem sou tão intimo, mas que consegue ser tão elegante que me sensibiliza. Falar de Zeca Brás que vota em mim há vinte e oito anos, e principalmente de Hélio Sales, um pequeno amigo em estatura física, pois mede pouco mais de um metro de altura, mas que é um gigante em lealdade, que mesmo em meio à traição da qual fui vítima no município de Pio XII, ele me ligou e disse que não deixaria de me apoiar, pois via em mim uma boa pessoa e o melhor deputado para lhe representar.

Bem, um dia desses, quando passar essa fase de sublimação, vamos falar de todos esses assuntos. Por enquanto, sublimemos.

Um Pedaço de Ponte – Parte XIV

Um cavalo chamado Totó

Totó tinha um nome comprido e importante: Antônio Carlos Maciel Filho. Mas todo mundo só o chamava de Totó. Nasceu numa fazenda e lá cresceu, livre e solto, com a inocência impregnada de malícia dos meninos que convivem com os animais, acostumados à vadiação dos bichos e às coisas naturais dos campos e currais. Pela manhã, estudava com a professora que o pai trouxera da cidade só para ele, a fim de que não crescesse burro, como as crianças do sítio, que mal aprendiam a ler na escolinha do Governo, situada meia légua mais adiante, no povoado de Areal Grande.

A noite, repassava as lições, brincava um pouco com Tininha ou ouvia as estórias engraçadas de Nhá Esperança. As tardes, porém, de chuva ou sol quente pertenciam aos dois; montavam a cavalo e saíam pelas estradas parando de casa em casa, ou iam para a Casa do Fomo ver fazer farinha. Sempre os dois, sempre juntos, ele e Tininha. As vezes, atravessavam a capoeira que ficava atrás da Casa Grande e iam até o chiqueiro espiar o barrão cobrindo as porcas. E lá ficavam um tempão, ele espicaçado pela curiosidade de Tininha, um pouco mais velha e mais bem informada:

– Olha, Totó, como o bicho até dorme em cima da outra. Pera aí…

E, com uma varinha, acordava o porco para que retomasse os movimentos, pois era o que de bom havia para ver. Tininha se chegava mais para junto dele e, assim, grudados um ao outro, ensaiavam as primeiras carícias, imitando os porcos. Tudo inocente e puro. Os dois, cada vez mais próximos do prazer.

Um dia, Tininha – que tinha, também, outro nome, pois, na verdade, se chamava Maria Otília, e era filha de Sebastião Vaqueiro – perguntou para ele:

– Totó, será que quando a gente for grande vai fazer assim?

Isso Totó não sabia direito, que dessas coisas Tininha entendia mais. Contudo, respondeu que sim e que era muito bom.

– Tu não vê que a porca até chega pra trás quando a piroca dele vai saindo dela?

-Engraçado, parece uma rosca de pua. Tu não sabe o que é pua? Aquela coisa de fazer buraco em pau…

Totó inocente, Tininha sabida. Mas lá estavam, outra vez, os dois grudados, se remexendo, remexendo, sem saber realmente para quê.

– Totó, tu me mostra tua piroca? Se tu mostrar, eu te mostro minha piriquita.

Dessa maneira, os dois se conheceram melhor, sem nada acontecer, entretanto, que já não houvesse acontecido. Mas foi nessa tarde, o céu e um sabiá-laranjeira por testemunhas, sem tirar os olhos dos bichos, que Totó, engasgado com algo que não tinha na garganta, falando de um modo tão diferente, disse à menina: Tininha, eu acho que vou te querer sempre. Quando crescer, eu me caso contigo.

Isso aconteceu numa tarde, que poderia ser de primavera, se houvesse primavera no sertão, lá pelo mês de outubro ou fim de setembro. No começo do outro ano, Dr. Maciel, por procuração do destino, levou o filho da fazenda para estudar na capital, onde entraria no ginásio. Antes de viajar, Totó deu Matreira, que já estava coberta, de presente a Tião: Olha Tião, depois que Matreira parir, ela é tua, mas a cria, se for fêmea, é minha; se for macho, é de Tininha.

Matreira era uma égua toda cheia de graça, as ancas luzidias e redondas como as da mulher mais velha e tinha os olhos esverdeados, quase da cor dos de Tininha, que também era castanha.

Quando Matreira pariu, a menina ficou em casa, torcendo:- É macho, tem quer ser macho.

E da torcida ou não, nasceu mesmo um potrinho, que mal se sustinha em pé, as perninhas dianteiras muito abertas para não cair, castanho como era a mãe, quase da cor de sua dona.

– Vou chamá-lo de Totó, Papai.

O tempo passava e Tininha crescia fazendo-se mulher, ensinando artes e coisas ao cavalinho, serviços de casa e do campo. Fazia já um ano que Totó partira para a cidade, sem nunca dar notícias, mas a garota não se preocupava muito, tratando de se recompensar:-Ele vai ser doutor!

Na semana de seu aniversário, Tininha cai doente.

– É malária, disse o médico.

Tininha teve que ir para a rede, armada diante da janela aberta, no quarto da frente, onde passava os dias a espiar a vida lá fora. Atenta aos seus barulhos familiares, à algazarra dos pássaros, o gemido triste dos carros de boi voltando da roça, a galinhada cacarejando, alegre, debaixo do cajueiro grande que dava para a outra janela, ao lado da casa. Quando a febre subia e tomava conta de seu corpo entorpecido, ela perdia, também, o interesse pelas coisas e a fazenda parecia mergulhar em silêncio e desolação. Ligando à vida, apenas a cabeça bonita de Totó, insinuada para dentro do quarto, através da janela, de onde ficava a olhá-la e a relinchar. Aquele rincho baixo e grave, como se fosse um aviso de sua presença amiga ou um convite para levantar-se “Levanta, patroa, vem comigo, que os caminhos agora são amenos”. Tião Vaqueiro chegava a se danar:

– O diabo desse cavalo parece um cachorro, meu Deus! Até o nome é de cachorro, que me perdoe o doutorzinho que está lá na capital Se a gente deixar, é capaz dele entrar e deitar, que nem um cachorrinho, debaixo de tua rede.

Mas Tião seguiu as ordens do médico, respeitou os horários e deu a Tininha todas as receitas. Em pouco tempo, estava quase boa. Mais uns dias e, certa manhã, ela acordou com a certeza de que estava curada. Nessa hora, ouviu ao longe o alegre relinchar de Totó e, fogo a seguir, o estrépito de seus cascos batendo na piçarra dura, em desabalada carreira na direção de sua casa. Sentiu, então, forças para levantar-se, e, mesmo de chambre, escapar ao fundo da rede e fugir pela janela do quarto. Montou Totó e saiu galopando, sem esteira, sem nada, segurando-se à crina do cavalo, as pernas abrasadas à barriga do animal. Debaixo do chambre, roupa nenhuma.

Pela primeira vez, sentia o contato, livre, do sexo com o espinhaço do animal Totó a levou para onde quis: passaram pela roça, entraram pela mata, cortaram o babaçual e pararam dentro do açude, onde ele a jogou nágua, com força. Era como se a amizade, depois da doença e do longo afastamento um do outro, a despeito daquela janela aberta, se consolidasse na alegria do reencontro.

E nada de Totó dar notícias. Nem foi passar as férias na fazenda, distante aquela tarde de primeiros prazeres e insuspeitado amor, ao pé do chiqueiro. Seria realmente amor?

Já com um pouco mais de quinze anos Tininha mostrava a mulher que iria ficar. Moça castanha, de cabelos cor de coco babaçu, de pernas fortes e grossas, moça que carregava seios que mais pareciam cabaças boas de beber. De beber vida. A caboclinha crescia, esperando sempre por seu amor infantil, enquanto esvaziava seu corpo dos ímpetos naturais da idade no dorso áspero e fácil de Totó. Com a mesma inocência, tinha palavras e carinhos especiais com o cavalo. Todas as tardes, ela o levava para banhar-se no açude e lá se molhavam, brincavam e se fartavam. Pelas redondezas, escondidos nas moitas, os rapazes da fazenda a espiar Tininha.

E toca imaginação a arder, mãos a funcionar e aquele gemido abafado que subia das touceiras e se transformava em vento nos ouvidos da moça, cujo vestido, molhado mostrava, por baixo da ingenuidade e da pureza a mulher escondida. “‘Escuta, Totó, escuta só o gemido das moitas. Esse gemido me dá arrepio”. Ela guardava as mãos entre as pernas, deitava à beira d’água, mexendo no ritmo que vinha das moitas.

Uma vez, Raimundo de Belinda chegou mais perto e viu a moça estendida no chão: as pernas abertas e Totó a lamber-lhe os braços, o ventre, o rosto e as coxas. A presença de Raimundo espantou o animal, que fugiu em disparada. Num instante, ele se transformou na irracionalidade do desejo e se atirou sobre Tininha, que, tocada na sua inocência, se defende e luta, como gata brava. Totó espiava de longe, sem entender, mas, na sua animalidade treinada, sabia que sua dona fora ofendida e avança sobre os dois, levantando as patas e deixando-as cair terrivelmente em cima daquela massa humana que, agora, apenas se defendia daquele ataque inesperado.

– Pára, pára, pelo amor de Deus! Tininha, manda esse bicho parar! Milagrosamente, ela consegue pôr-se de pé, erguendo os braços. E Totó, como um cavalo de circo, suspende as patas no ar, dá, com as traseiras, dois ou três passos para trás e desaba no chão. Tininha estava salva, mas Raimundo desmaiara.

Entretanto, Tininha continuava esperando pela promessa feita no chiqueiro, apesar dos três anos que Totó não mandava notícia, nem aparecia na fazenda. E Tininha, cada vez mais bela: virgem de corpo e de espírito, olhos esverdeados, corpo marrom, os cabelos cor de castanha de babaçu, pernas grossas e seios pequenos e firmes.

A fazenda do Dr. Maciel ficava à beira da estrada e o trânsito era intenso, de tal sorte que muita gente encostava para pedir uma informação ou um gole d’água.

Num dia de chuva, furou o pneu de um carro, bem próximo à casa de Tião. Seu ocupante, um homem baixo e gordo, pediu auxílio a Antônia – que era uma cabocla de bom aspecto, porém de cabeça virada e quinze anos mais moça que o marido – a única pessoa que estava em casa, pois Tião andava às voltas com o gado e Tininha, montada em Totó, corria, em loucas disparadas, pelos campos e estradas.

Quando Tininha voltou, não encontrou mais Antônia e sim as coisas todas viradas de perna pra cima. Tião retomou após dois dias, constatando, então, que a mulher o abandonara.

A partir de então entregou-se à bebida, andou ao léu, de estrada em estrada, como um vagabundo qualquer, sempre fugindo de algo que nem mais lembrava, pois, na verdade, fugia apenas de si próprio.

Certa tarde, ao chegar em casa, completamente embriagado, procurou e não encontrou Tininha. Tocou-se antão para o açude, tendo nas mãos o arreio do Totó. Lá estavam os dois, dentro d’água, como se fossem dois amigos, tomando banho juntos. Tião grita chamando Totó, que obedece docilmente. Coloca-lhe o arreio e vai amarrá-lo numa touceira distante, sob os protestos de Tininha.

– Fica quieta. Eu sei o que estou fazendo.

– Pai, vai deitar, que o Senhor está bêbado.

-Agora, tu me pega…

Pegou a moça, jogando-a no chão. Seus olhos faiscavam. Atirou-se alucinado sobre a filha, rasgando-lhe o vestido, até deitá-la completamente nua. Tentou beijá-la, não conseguiu. Tininha quis gritar, mas o grito morreu na garganta. Tão voltou a esbofeteá-la. Em vão lutava a moça para libertar-se, sentindo, contudo, que as forças lhe iam faltando. Quando ele a penetrou, Tininha desmaiou.

Foi nesse momento que Totó conseguiu arrancar a touceira a que fora amarrado e correu para acudir a dona. Vendo Tião sobre ela, lançou as patas dianteiras, atingindo-o na cabeça. Agora, apenas cheirava e lambia o rosto de Tininha e vigiava o cadáver de Tião.

Ao despertar, a moça não sabe se foge ou corre para o pai. Ao vê-lo imóvel, aproxima-se dele, pensando que dorme. Enlouquecida, vendo que ele está morto, monta Totó e corre à casa, para buscar enxada, pá e cordas. Quando chega de volta do açude, a noite já vai alta. Mesmo assim, amarra o corpo no cavalo e se embrenha pela mata adentro, guiada apenas pelo instinto de Totó. No lugar em que enterrou Tião, joga, na cova, uma cruz feita com dois pedaços de pau, amarrados com cipó.

Cadê Tião, Tininha?

Todos queriam saber.

Saiu um dia de casa dizendo que ia pra quitanda de Chico Fanta e nunca mais voltou. Foi embora e me deixou aqui sozinha com Totó.

Os dias se passavam cada vez mais longos, Tininha se sentindo mal, cansando por qualquer coisa, enjoando, enquanto ia engordando e a barriga crescendo.

Cinco meses após a morte de Tião, Totó Maciel voltou à Fazenda. Seu primeiro cuidado foi correr à casa do vaqueiro, onde encontra

Tininha, linda como sempre, mas buchudona. Não houve alegria naquele reencontro, apenas espanto e mágoa.

– Não quero mais nada com você, sua puta!

Naquele momento, Tininha sentiu que não havia mais futuro para ela, que tudo estava perdido e sem remédio. Montou Totó para chorar em disparada pelos caminhos sem fim de seu desespero. Foi então que a mata pegou fogo, no fim de uma roçada, vento soprando na direção da cova em que enterrara Tião. Já não havia razão capaz de explicar o que a empurrava para lá. Totó, relinchando, apavorado, ainda tenta salvá-la, cercado de labaredas por todos os lados. A primeira árvore, toda vermelha de fogo, o atinge bem no meio do espinhaço, a segunda se abate sobre ela.

– Por onde andará Tininha, meu Deus?

– Sumiu com aquele cavalo. Vocês não ouviram a estória que Dico de Belinda anda contando por aí?

– Que estória?

-Dizendo o Dico, Tininha estava grávida, e o pai era o cavalo Totó.

Ainda hoje, há quem conte que houve uma mulher de nome Tininha, que foi coberta por um cavalo chamado Totó. E há outros que dizem já tê-los visto, Tininha e Totó, se banhando, ao entardecer, no açude da fazenda do Dr. Maciel.

Perfil

“Poeta, contista e cronista, que, quando sobra tempo, também é deputado”. Era essa a maneira como Joaquim Elias Nagib Pinto Haickel aparecia no expediente da revista cultural Guarnicê, da qual foi o principal artífice. Mais de três décadas depois disso, o não mais, porem eterno parlamentar, ainda sem as sobras do tempo, permanece cronista, contista e poeta, além de cineasta.

Advogado, Joaquim Haickel foi eleito para o parlamento estadual pela primeira vez de 1982, quando foi o mais jovem parlamentar do Brasil. Em seguida, foi eleito deputado federal constituinte e depois voltou a ser deputado estadual até 2011. Entre 2011 e 2014 exerceu o cargo de secretario de esportes do Estado do Maranhão.

Cinema, esportes, culinária, literatura e artes de um modo geral estão entre as predileções de Joaquim Haickel, quando não está na arena política, de onde não se afasta, mesmo que tenha optado por não mais disputar mandato eletivo.

Cinéfilo inveterado, é autor do filme “Pelo Ouvido”, grande sucesso de 2008. Sua paixão pelo cinema fez com desenvolvesse juntamente com um grupo de colaboradores um projeto que visa resgatar e preservar a memória maranhense através do audiovisual.

Enquanto produz e dirigi filmes, Joaquim continua a escrever um livro sobre cinema e psicanálise, que, segundo ele, “se conseguir concluí-lo”, será sua obra definitiva.

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