A Costela de Adão

Um dia desses…
pra ser mais preciso
numa noite dessas
depois de intenso amor
ela parou e perguntou a ele:
Qual a parte de teu corpo
em que parte dele
tu mais te excitas?
Ele ainda ofegante
dando tempo apenas ao pulmão
respondeu prontamente
“A parte de meu corpo onde mais me excito!?…
Você!
Cada vez que faço você se contorcer
cada vez que você acusa o golpe
cada vez que você retesa as coxas
as pernas em volta de mim…
nessa hora é a hora em que eu mais me excito.
Essa é a parte de meu corpo que mais se excita.
Você!”

De Recife

Confesso que estou sentindo um certo remorso por não estar aí no Maranhão numa hora dessas, de tanta calamidade provocada pelas cheias de nossos rios devido à grande quantidade de chuvas que estão desabando sobre nossas cabeças, mas de certa forma me conformo pelo fato de saber que tudo que é possível fazer está sendo feito, tanto no âmbito da Assembléia Legislativa, quanto dos governos municipal, estadual e federal, para que toda essa dificuldade seja pelo menos em parte remediada e que possamos imediatamente solucionar os problemas dos atingidos para posteriormente, num médio prazo, tentarmos solucionar os problemas estruturais que recorrentemente causam tamanho transtorno. 

Também gostaria de ter estado aí nas festas de comemoração do cinqüentenário do Jornal O Estado do Maranhão, esse que é o mais importante jornal de nossa terra. Gostaria de ter estado aí para o aniversário de Maria Adriana, para passar o feriado com minha namorada e com meus amigos, para ir hoje jogar basquete na Praia do Meio. Gostaria de estar ai para ir almoçar com minha mãe, com minhas mães, pois como sou um sujeito afortunado, tenho várias. Gostaria de estar aí para, mais tarde, ir ao cinema com Jacira…

Mas o fato é que estou em Recife, participando do Cine – PE, um dos mais importantes e prestigiados festivais de cinema de nosso país. Por aqui se encontram os mais importantes produtores, diretores, roteiristas, fotógrafos, atores e técnicos de todas as áreas ligadas ao cinema. Por aqui dei de cara com bons amigos que fiz nesses dez meses que participo desse mundo de gente fascinante e louca.

Uma das primeiras pessoas que encontrei por aqui foi ninguém menos que a pessoa que simboliza o cinema maranhense, Euclides Moreira. Ele hoje dirige a Fundação Municipal de Cultura de São Luis, a capital brasileira da cultura nesse ano de 2009, que é bom que se lembre, completará 400 anos em 2012, data que deveremos comemorar com pompa, circunstância e conteúdo.

Estar aqui entre tanta gente que vive cinema 24 horas por dia faz com que eu tome consciência definitiva de que realmente não sou um cineasta, que sou apenas um escritor que ama cinema e que teve a sorte de ter feito um filme considerado por muitos um trabalho bem elaborado, bem estruturado, bem produzido, bem consolidado e bem finalizado. Isso não faz de mim um cineasta. Estou longe disso. Essas pessoas que estão aqui, que estarão em junho em São Luís, estas sim, são cineastas, vivem o cinema. Eu apenas o amo, sou um viciado nele.

Por falar em vício, encontrei por aqui também o Celso Sabadin, importante critico de cinema e curador de diversos festivais por esse mundo afora, inclusive foi ele o responsável pela seleção de “Pelo Ouvido” para alguns deles, e perguntei-lhe se ele acreditava realmente que cinema causa dependência. Se seria possível classificar-se o excessivo interesse por cinema como distúrbio, se isso era uma doença grave, ao que ele respondeu sorrindo que sim, disse que é um grave distúrbio para o qual não há medicamentos recomendáveis, terapia ou substitutivo. Que pipoca engorda e que a proliferação de emissoras de TV a cabo e de vídeos clubes têm feito esse mal se proliferar, graças a Deus, e deu uma frondosa e simpática gargalhada.

Conheci também um homem que ajudou a construir muito da minha consciência política, assim como de meus contemporâneos. Trata-se de Costantin Costa Gravas que foi homenageado pelo festival nesse ano. Costa Gravas é o diretor de importantes filmes de cunho político e ideológico realizados nos anos 70 e 80 como “Z”, “Estado de Sitio”, “O Corte”, “Amém”, “O Quarto Poder”, “Desaparecidos, o Grande Mistério” entre outros.

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Costantin Costa Gravas

Passaram por aqui alguns monstros sagrados do cinema nacional como Lucy e Luis Carlos Barreto, Zelito Viana (filho do coronel Oliveira Paula e irmão de meus amigos Anísio, Roberto, Batatinha, Cachaça…), Aníbal Massaini Neto, Paulo Mendonça, Luis Carlos Lacerda, Assunção Hernandes, Hermes Leal e também o dinossaurico José Mojica Marins, o Zé do Caixão. Pude reencontrar velhos amigos como Jaciara Guerreiro, Chico Dias, Abdalla, Fabio Barreto, Lirio Ferreira e Denise Dumont, além de ter conhecido Silvio Back, Cássio Gabus Mendes, Silvia Buarque de Holanda, Paula Barreto e Maria Padilha, Silvia Levy e Darcy Cunha Santos.

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Zé do Caixão

Além de Costa Gravas também foram homenageados o diretor Roberto Farias, a atriz Dira Paes e o Canal Brasil, principal vitrine do cinema nacional na televisão, que nesse festival premiará um curta metragem que passará a ser exibido por eles nacionalmente, inclusive “Pelo Ouvido” está participando também dessa competição.

Para encerrar gostaria de conclamar a todos, principalmente as empresas de minha terra e a Secretaria de Cultura do Estado para que apóiem o cinema local, começando pelo Festival Guarnicê, promovido há 32 anos pela Universidade Federal do Maranhão e de Euclides Moreira, pois são iniciativas como essa que consolidam a nossa cultura.

Uma casa na borda do mar

Ainda criança
aprendi o que é uma ilha.
Nasci em uma!
Agora
marcado pelas memórias
descobri que podem haver outros tipos.
Descobri que uma porção de terra
cercada de poesia por todos os lados
cercada de amor
também é uma ilha.
Ontem fui à casa de Naftalí.
Lá, vi os olhos doces de sua Matilda
suas conchas queridas
seu cavalo de papel machê.
Vi sus mascarones de proa
seu barco
nunca navegado
Su comedor
onde ele era el capitan
os outros sus tripulantes.
Vi uma ancora imensa
varias bússolas
binóculos e mapas.
Vi suas roupas
seus chapéus
sua cama
seu banheiro.
Havia imensas rodas de charrete encostadas no alpendre.
Vi rostos congelados
pelo tempo
em madeira
mundo afora.
Um dia o mar lhe trouxe uma porta
ele a transformou em sua mesa de trabalho
navegou com ela
mares navegados
de forma única.
Vi o mesmo pacifico que ele via
nem sempre em paz
sentado em sua cama…
Mas o melhor de tudo
sobre ontem
vi Pablo em cada concha
em cada garrafa vazia
cheias de sueños e poesia
em cada objeto adicionado aos seus dias como o ar do qual precisava…
Entendi…
“Hoje é hoje.
Ontem se foi.
Não há dúvida.”

“… Todos por um!”

Faz algum tempo, cheguei à conclusão de que foi Alexandre Dumas, com seus personagens inesquecíveis, quem mais marcou a história da minha infância, a juventude de meu pai, e a nossa convivência em família. Imagino que assim como a nossa, ele povoou e preencheu a vida de muitas outras, por essa razão, vinha pensando em prestar este merecido tributo ao escritor francês, criador daquela velha história que mistura injustiça, cobiça, e usurpação e que leva da alegria do amor à tristeza da prisão, um certo “Conde de Monte Cristo”, ou aquela outra história, que baseada em fatos verídicos, traz até os nossos dias, os amores e desventuras de uma certa “Rainha Margot” ou ainda aquela outra história, protagonizada por “Três Mosqueteiros”, que na verdade eram quatro.

Vou me fixar naqueles quatro destemidos espadachins que sempre me vêm à memória, restituindo a mim mesmo, o garoto que fui. Por vezes, me pego pensando que sou um dos mosqueteiros do rei, ou todos eles, de maneira conjunta, esparsa ou simultaneamente.

Com a releitura de “Os Três Mosqueteiros” de Dumas, sinto a emoção das histórias de capa e espada com a descrição de vibrantes exibições de esgrima combinadas com romances de nobres apaixonados. Para mim, esse clássico da literatura mundial é muito mais do que a história em que é contada a trajetória venturosa do jovem D`Artagnan, que sai de sua terra, a Gasconha, rumo a Paris, para juntar-se aos mosqueteiros do rei Luís XIII.

Na trama, D`Artagnan torna-se amigo da trinca inseparável formada por Athos, Porthos e Aramis, exímios espadachins e grandes apreciadores dos prazeres da vida. Juntos, os quatro partem para uma difícil missão: tentar reaver o colar e os brincos de brilhantes que o rei deu à rainha, Ana da Áustria, e que esta, deu de presente a seu amante, o duque de Buckingham. Por sugestão do cardeal de Richelieu, que trama desmascarar a infidelidade da rainha, e com isso enfraquecer o rei e conseqüentemente consolidar a sua influência na corte, Luís XIII é levado a organizar um grande baile onde as jóias devem ser exibidas. Numa corrida contra o tempo e lutando contra a espiã do cardeal, Milady (que no cinema, certa vez, foi interpretada pela maravilhosa Lana Turner), os mosqueteiros partem para tentar recuperar as jóias antes que ocorra uma tragédia.

Nessa história, cada um revela suas idiossincrasias. Athos é arrogante, autoritário, passional e questionador; Porthos é truculento e grosseiro, mas valoroso e amigo; Aramis é suave, elegante e até bastante mulherengo, mas também é religioso e politizado; o último, D`Artagnan, é jovem e inexperiente, porém audacioso e destemido.

A grande maioria dos que me conhecem, conheceram também meu pai. Pois bem, meu pai, não era um sujeito muito dado à literatura. Em verdade vos digo, ele era muito pouco dado a qualquer forma de arte. Porém, ele adorava ouvir histórias e estórias, não se importando se ficção ou realidade, pois no seu modo todo especial de encarar a vida e suas conseqüências, ele sabia que havia muito pouca diferença entre realidade e ficção, ou melhor, há, no presente, por que meu pai pode ter morrido, mas as suas idéias assim como as de Dumas não irão morrer jamais, estão sempre no tempo presente.

Meu pai, e muitos de sua geração, de certa forma, são meio que filhos de Dumas e Verne. Alguns conseguiam ir um pouco mais adiante e se contaminarem por Hugo e Balzac, enquanto outros alcançaram Flaubert e Molière.

Talvez alguns daqueles que acham que conheciam meu pai, imaginem que ele fosse incapaz de ter atingido tal grau de cultura, e estão certos quanto a isso, porém, o que realmente pouca gente sabe é que, raros são os homens que, com tão pouca cultura formal e clássica, conseguem intuitivamente saber o significado de palavras como “Vestal”, “Messalina” ou mesmo de “Tartufo”, coisa que muito “Doutor”, por aí, não vai saber. Os humildes ou curiosos vão correr ao dicionário e os hipócritas e presunçosos vão dizer que sabem. Mas meu pai sabia realmente, e só ele sabia como aprendera.

Meu velho pai não era um sujeito de cultura refinada, mas era inteligente o suficiente para, sabendo disso, suprir essa falta de alguma forma, e a melhor forma que ele encontrou foi fazendo amigos, reais e leais, dando tudo de si por seus ideais, buscando sempre a felicidade, mas sempre a um preço possível de se pagar com um só tipo de moeda: dedicação, empenho, trabalho.

Foi meu pai, que sem querer, incutiu em mim essa personalidade, essa forma de encarar a vida, como se na verdade fosse um personagem de Dumas, um misto de Athos, Porthos, Aramis e D`Artagnan. Os quatro, em um: questionador, amigo, politizado e audacioso.

Relendo Dumas, lembro daquele poeta que dizia que ler é como respirar, e que é a percepção do leitor que faz o livro. Sempre busquei a intimidade com os livros, portanto, reconheço nesses (e nos filmes), os melhores guias para a extraordinária aventura do pensamento.

Repensando Dumas, lembro de meu pai, aquele homem grande, forte, pouco culto, mas consciente e esperto o suficiente para ensinar ao seu filho, o significado verdadeiro daquela frase: “um por todos…”.

Novos Caminhos, outros caminhos.

Há muito não sentia
nem lembrava mais como era.
Tendo amado
pensei ser aquilo coisa única.
Mas entre
o tempo
constante e imutável
e o espaço
inconstante e modificável
continuei
amando
vida afora.
Desde então
procurava por você
Andava com uma forma, um molde
em minha cabeça,
em minha mão,
em minha boca.
Andava testando,
vivia provando.
Em umas, a boca encaixava, mas a cabeça não.
Em outras era a cabeça que encaixava,
o que não dava certo eram as mãos, a boca.
Noutras encaixava tudo,
cabeça,
tronco,
membros…
Nessas, era eu que não me encaixava.
Eu procurava você há muito tempo.
Não sabia como você era.
Não sabia como você seria.
Cantarias!?
Pedras duras e frias
Lastros de naus antigas.
Cantigas de mares
nunca dantes navegados.
Meu coração é o mar,
uma nau.
Você é uma vela,
o vento.
Vento que me faz singrar
em busca de algo que não sabia
não imaginava como seria,
mas que tinha certeza,
existia.

Verdade não caduca.

Semanas atrás escrevi num texto que foi muito comentado em todas as esferas políticas de nosso estado. Disse que até porque acreditava que ninguém fosse me perguntar alguma coisa, iria logo dizendo o que pensava, pois não queria perder a oportunidade de dizê-lo antes de qualquer pessoa que talvez não tivesse nem moral nem legitimidade para tanto, o fizesse, pois pelo menos isso, moral e legitimidade, eu tinha e tenho.

Entre todas as coisas que comentei naquela ocasião, as que me parecem as mais importantes são justamente aquelas que dizem respeito à forma de como deveríamos e deveremos encarar os imensos desafios que neste momento temos pela frente.

Melhor seria que pudéssemos ao mesmo tempo reparar alguns erros cometidos anteriormente, erros esses muito mais políticos que administrativos, e que demonstrássemos que com o tempo, o aprendizado e o amadurecimento havíamos nos tornado mais sábios e mais tolerantes.

Comentei que era necessário que se dissesse que ninguém deveria pensar que esses poucos meses de governo seriam fáceis. Ninguém tem o direito de se enganar ou de tentar enganar outras pessoas, fazendo com que acreditem que em um passe de mágica iremos consertar o desmantelo de um governo que desde o primeiro dia, muito mais que administrar o estado, procurava simplesmente sobreviver ao fato de ter nascido de um pecado ao mesmo tempo original e capital.

Foi nessa incerteza que o ex-governador Jackson Lago montou uma administração anêmica e frágil. Muitas vezes teve que ceder a pressões que nenhum governante deveria nem poderia ser exposto. Foi chantageado, extorquido, enganado. Entre seus assessores, poucos escapam da acusação de traição, pois mais que assessorar ao governo e ao governador, assessoravam a si mesmos e aos seus interesses mais imediatos.

O atual governo de Roseana Sarney terá que ser um governo de reconstrução, de estabilização, de restabelecimento da ordem na administração dos negócios de estado e do estado.

Dizia, que por saber como é difícil essa situação, aconselharia que os puxa-sacos de plantão e que os oportunistas fossem mantidos distantes. Não é hora para se aceitar esse tipo de coisa. Existem coisas importantes a serem feitas e se elas forem feitas, por si só, isso colocará uma pá de cal sobre o recente desastroso passado administrativo e político de nosso estado.

Nosso grupo político tem que dar o exemplo e não se deixar levar pela vaidade nem pelo orgulho, muito menos pelo rancor ou pelo sentimento de revanche. O Maranhão não vai agüentar isso e nosso povo não merece. Devemos assumir o governo de forma protocolar e administrá-lo de forma efetiva, eficiente e eficaz. Que fique claro que não há nem nunca houve, nem nunca haverá em nosso grupo um correspondente aos repugnantes “Novos Balaios”.

Nós políticos, principalmente os com mandato eletivo, temos que participar efetivamente da construção desse novo cenário, mas devemos ter consciência do que deve ser feito e de como deve sê-lo. 

Alertei para que ninguém se jogasse numa busca frenética pela indicação de cargos no governo, pois para cada cargo há um perfil correspondente e ele deveria ser minimamente respeitado, pois não vivemos mais o tempo do jabuti trepado. Não há mais espaço para desculpa de enchente ou mão de gente.

Devemos ter consciência de que uma coisa é fazer a política e coisa bem distinta é fazer a administração pública. Quem por acaso for fazer parte da administração direta e executiva do estado tem que ter consciência de que só lhe é possível estar ali e fazê-lo porque há uma estrutura política que o sustentou, que o sustenta e o mantém. Por sua vez, os políticos, de todos os tamanhos e em todos os níveis, têm que ter consciência de seu valor dentro dessa estrutura, mas tem que saber que esse valor não pode colocar em jogo a governabilidade e a estabilidade administrativa do governo.

Disse que gostaria de ver vários de meus colegas políticos, com ou sem mandato, participando da nova administração, mas que queria que partisse deles mesmos e que eles recebam recomendação expressa da Governadora Roseana Sarney, de que o cargo que por ventura venham ocupar, não lhes pertence, mas sim ao povo do Maranhão, do qual nós seremos temporariamente os procuradores. Que tenham consciência de que devem tratar os assuntos administrativos de maneira clara e reta e que os assuntos políticos sejam prioridade, que tenham preferência desde que não conflitem com os administrativos, que estejam de acordo com a legalidade, com a justiça, com a coerência, com o bom senso e principalmente com o interesse público.

Finalizei dizendo que a montagem da base de apoio do governo será uma obra delicada, que demandará muita atenção, dedicação e cuidado, pois existem áreas de conflitos tanto dentro de nosso próprio grupo, quanto em relação aos apoios que com toda certeza virão através de adesões. Aqueles que sempre foram conosco tem que ser tratados com toda deferência e consideração. Quem quiser vir apoiar que venha, mas que fique claro que a contrapartida desse apoio jamais acontecerá à custa do sacrifício de quem sempre foi leal e companheiro.

A política é uma arte, e como tal carece de estudo, técnica, experiência, cuidados como os de um pintor ou de um poeta. O exercício da arte da política aprimora seus artesãos e é nessa condição que devemos encarar nosso oficio.

Tudo isso foi dito mais de um mês atrás, prevendo o cenário de hoje. Acredito que o que disse naquela ocasião continua sendo verdade e verdades como essas são eternas, jamais ficam caducas.

Cardinália

O primeiro grande prazer
inocente
foi colocar teu nome
antes secreto
na agenda

O segundo grande prazer
assustado
foi sentir meu pêlo eriçado
tua lingua
segredo de liquidificador

O terceiro grande prazer
contemplativo
foi vê-lo dormindo ao meu lado
havia um sorriso escapando dos lábios
resto do sonho da noite passada.

O quarto grande prazer
completo
foi sentir que tudo isso
nada mais é que a tal
felicidade!

O quinto grande prazer
eterno
continuar
sentindo
vivendo

Para Jacira, que deu primeiro o motivo e depois a idéia deste poema.

Pelo Ouvido

José Louzeiro
Especial para O Estado

A Produção é da Guarnicê e da Mutantes Filmes. Direção de Joaquim Haickel, além de cineasta, escritor, poeta e político.

Primeira novidade deste curta que merece extensos comentários: há somente dois atores em cena – Amanda Acosta, como Katie e Eucir de Souza, como Charlie, além do personagem subjetivo Marcos, bem plantado conflito na trama amorosa.

Outro aspecto a ser registrado, de imediato, neste premiadíssimo trabalho de Haickel é a habilidade do cineasta na arte dos cortes, coisa essa que o coloca como pupilo privilegiado de Stanley Kubrick em filmes importantes como Laranja Mecânica, Barry Lindon e Uma Odisséia no Espaço. Kubrick também começou dirigindo curtas, em 16mm, depois de ter sido, durante quatro anos, fotógrafo da revista “Look”.

O desafiador trabalho de Haickel é marcado pela sutileza das ações, coisa essa que transforma o filme de textura erótica num poema de luz, som e cores.

Pelo Ouvido, baseado no conto de mesmo nome, é a metáfora do amor marcado pelo ineditismo das etapas que permeia, coisa de um diretor que, com a segurança do veterano, demonstra invulgar cultura cinematográfica.

A história de Pelo Ouvido, numa leitura simples, também é desafiadora: o namorado de Katie é o escultor que, vítima de um acidente de carro (corte nos ruídos da violenta batida) fica cego, surdo e mudo. Katie não se afasta dele, pelo contrário. Ama-o ainda mais.

Ela é funcionária de uma empresa de serviços, mas seu cotidiano profissional não interessa ao cineasta. Interessa o que ela fala pelo telefone com o colega e admirador Marcos, pois este deseja conversar de perto a fim de demonstrar fisicamente o interesse.

Há um corte belíssimo e Haickel leva a câmera para o atelier/sala do escultor que trabalha na modelagem de uma peça.

Entre as ligações para tratar dos negócios na firma Katie dá esperança a Marcos de que, um dia, não sabe quando, se encontrariam. Após o trabalho ela vai para casa e para os braços do amado que a vê pelos “olhos dos dedos”, como se estes a esculpissem e Katie gosta de ser “esculpida”.

De maneira brilhante e incomum, o diretor dá a volta na temática mais difícil do nosso cinema: afastar o erótico da pornografia.

Com esse cuidado, Haickel demonstra sutileza no tratamento das imagens (fotografia de Cleisson Vidal) graças aos seus oportunos e bem instalados cortes.

A soma dessas sutilezas coloca Pelo Ouvido como miniatura de um longa bem realizado, pois o cineasta demonstra ter firmeza e consciência do que faz. As linhas do seu trabalho são bem dimensionadas, daí os prêmios que tem ganho, pois inovar na temática do amor não é coisa fácil.

Pelo Ouvido beira a pornografia, mas ergue-se saudável nas cores do amor puro, da satisfação de um casal que não se vê e se ama; ele e ela inspirados pelo sentimento que dignifica, embora haja a voz do demônio tentador (bem plantado conflito) com o nome de Marcos.

Em certo momento, Katie relaciona-se com o escultor ao mesmo tempo em que ouve (somente ela escuta) a fala provocante de Marcos. Aí o diretor deixa claro que ela, também, ama a voz de Marcos e, tocada com as palavras dele, torna-se ainda mais excitada nos braços do escultor.

A tentação é unicamente dela, pois a cegueira e a surdez protegem Charlie das dores e angústias do ciúme, na mesma medida em que torna mais quente o relacionamento na cama com ele, pois ela sabe estar sendo vista somente pelos seus “dedos”. Mas, numa leitura subliminar ela sente-se entregue aos dois, ao mesmo tempo.

Depois deste desafiador Pelo Ouvido, Joaquim Haickel está pronto para fazer sua estréia num longa-metragem. Tomara que isso não demore acontecer. Será bom para o cinema nacional que, atolado na mesmice, necessita, urgentemente, da presença de um inovador na chamada “Sétima Arte”.

Que bom que esse lugar possa estar reservado ao sutil, criativo e dinâmico Joaquim Haickel, cinéfilo e cineasta maranhense que faz sua estréia demonstrando invulgar talento ao lado de sua equipe composta ainda do co-roteirista Arturo Sabóia. Edição de Ângelo Capozzoli, direção de Arte e Produção de objetos de Fernanda Grandesso, figurino de Iraci de Jesus, e trilha sonora original de Ivo Ursini.

José Louzeiro é escritor, jornalista e membro da Academia Maranhense de Letras

“Pelo Ouvido” recebe prêmio especial do júri na Mostra de Cinema Llatinoamericà de Catalunya.

Único filme brasileiro selecionado para a Mostra de Cinema Llatinoamericà de Catalunya, “Pelo Ouvido” de Joaquim Haickel, recebeu a único prêmio especial do júri de todo o festival.

O filme estará na sessão oficial do Nashville Film Festival, que esse ano conta com a participação de atores e atrizes famosas estreando também como diretores, como é o caso de  “Streak” de Demi Moore , “Monday Before Thanksgiving” de Courteney Cox e de “Sebastian’s Voodoo”  de  Joaquin Baldwin.

“Pelo Ouvido” também foi selecionado para o Camera Mundo – Festival de Filmes Independentes na Holanda, para o Atlanta Film Festival, o Syracuse International Film Festival e o Newport Beach Film Festival nos Estados Unidos, para o CINE PE – Festival do Audiovisual 2009 e para o Festival do Coração, no Brasil.
Veja os ganhadores da Mostra de Cinema Llatinoamericà de Catalunya:

Palmarés Largometrajes

* Mejor película (premio “Cooperación y Desarrollo de la AECID)
DESIERTO ADENTRO (México. Dirigida por Rodrigo Pla)
* Mejor director
ANDRES WOOD (“La buena vida”)
* Mejor guión (Premio Casa América)
PABLO SOLARZ por “El Frasco”
* Mejor actor
ANTONIO “TACO” LARRETA por “La Ventana”)
* Mejor actriz
LETICIA BREDICE por “El Frasco”
* Mejor Ópera Prima
“EL ARTISTA” (Argentina-Italia-Uruguay) de Mariano Cohn y Gastón Duprat.
* Premio del Público
EL FRASCO (Argentina-España) de Alberto Lecchi.

Palmarés Documentales

* Mejor Documental (Premio Groupama)
“INTIMIDADES ENTRE SHAKESPEARE Y VÍCTOR HUGO” (México) de Yulene Olaízaola.
* Premio Radio Exterior de España
“EL OLVIDO” (Alemania-Holanda) de Heddy Honigmann.
* Mención del Jurado
“CORAZÓN DE FÁBRICA” (Argentina) de Virna Molina y Ernesto Ardito.

Palmarés Cortometrajes

* Mejor cortometraje (Premio Groupama)
“EL EMPLEO” (Argentina) de Santiago “Bou” Grasso.

* Mención Especial del Jurado
“PELO OUVIDO” (Brasil) de Joaquim Haickel.

Avisado por telefone que seu filme havia sido premiado na Espanha, que deveria indicar alguém para receber o prêmio em seu nome e que seria interessante que mandasse também um texto para ser lido quando da premiação, o diretor Joaquim Haickel enviou o texto abaixo, em três idiomas:
Português

Caros amigos Jorge e/ou Hono,

Segue abaixo um pequeno texto de agradecimento para ser lido quando da entrega do diploma de menção honrosa para “Pelo Ouvido”. Recebam em meu nome.
Estou mandando em três línguas, usem a que desejar. Espero que não haja muitos erros nem no espanhol nem no catalão.

Mais uma vez, muito obrigado!

Joaquim Haickel.

Espanhol

Mis amigos Jorge y/o  Hono,

A continuación se muestra un pequeño texto de agradecimiento al ser leído cuando la entrega del diploma de mención honorífica por “Pelo Ouvido”. Recibir en mi nombre.
Estoy enviando en tres idiomas, que desea utilizar. Espero que no hay muchos errores en español o en catalán.
Una vez más, gracias!
Joaquim Haickel.

Catalão

Els meus amics Jordi i / o Hono,

A continuació es mostra un petit text d’agraïment al ser llegit quan el lliurament del diploma de menció honorífica per “Pelo Ouvido”. Rebre en el meu nom.
Estic enviant en tres idiomes, que voleu utilitzar. Espero que no hi ha molts errors en castellà o en català.
Una vegada més, gràcies!
Joaquim Haickel.

Português

Primeiramente quero que todos saibam que já foi uma espécie de premiação ter sido selecionado para a 15 Mostra de Cinema Llatinoamericà de  Catalunya em Lleida. Imaginem só!!! O único filme em português!!! Apenas isso já me fazia sentir um vencedor!!!

Quando soube que meu filme, “Pelo Ouvido”, havia sido agraciado com uma menção honrosa neste importante festival, senti uma grande alegria por saber que havia conseguido transmitir para pessoas do outro lado do oceano atlântico o pequeno poema que fiz em homenagem às mulheres e ao amor.

Nessa hora não há outra coisa que eu possa escrever ou dizer a não ser muito obrigado, não apenas pelo prêmio, mas por vocês terem me dado a oportunidade de mostrar o meu trabalho.

Espanhol

En primer lugar quiero que todos sepan que ahora es una especie de premios han sido seleccionados para los 15 Mostra de Cinema Llatinoamericà de Catalunya en Lleida. Imagínense! La única película en portugués! Sólo que me he sentido un ganador!
Cuando me enteré de que mi película, “Pelo Ouvido”, han sido agraciados con una mención honorífica en este importante festival, me sentí una gran alegría saber que las personas fueron capaces de transmitir a través del Océano Atlántico el pequeño poema que hice en homenaje a las mujeres y los al amor.
En este momento hay algo más que yo pueda escribir o decir que gracias, no sólo el premio, sino porque me ha dado la oportunidad de mostrar mi trabajo.

Catalão

En primer lloc vull que tots sàpiguen que ara és una mena de premis han estat seleccionats per als 15 Mostra de Cinema Llatinoamericà de Catalunya a Lleida. Imagineu! L’única pel lícula en portuguès! Només que m’he sentit un guanyador!
Quan vaig saber que la meva pel lícula, “Pelo Ouvido” , han estat agraciats amb una menció honorífica en aquest important festival, em vaig sentir una gran alegria de saber que les persones van ser capaços de transmetre a través de l’Oceà Atlàntic el petit poema que vaig fer en homenatge a les dones i els l’amor.
En aquest moment hi ha alguna cosa més que jo pugui escriure o dir que gràcies, no només el premi, sinó perquè m’ha donat l’oportunitat de mostrar el meu treball.

Com ferro e fogo

Na última quinta-feira, 2 de abril, depois de comunicar ao plenário da Assembléia Legislativa que fui indicado pelo meu bloco parlamentar para presidir a “poderosa” Comissão de Economia, Indústria e Comércio daquela casa, convidei as senhoras e os senhores deputados presentes àquela sessão para conversarmos sobre um assunto que no meu entendimento diz respeito a todos nós, não apenas como parlamentares, mas principalmente como cidadãos.

Falei sobre a crise financeira que acomete o mercado mundial, abalando a economia de todas as nações e de poderosíssimos grupos empresariais, de forma tão contundente que acaba atingindo inclusive o nosso pequenino Estado no que se refere ao modesto conjunto de indústrias que estão aqui implantadas.

Falei especificamente em relação às indústrias do setor siderúrgico e de geração de energia instaladas nas cidades de Bacabeira, Pindaré-Mirim, Açailândia e São Luis.

Poderia ter falado também sobre os problemas de nossa agroindústria, mas não o fiz, pois esse setor não está sofrendo apenas os reflexos dessa crise em particular. Seus problemas são estruturais e em breve deveremos enfrentá-lo de forma corajosa e direta, sob pena de termos em nossas mãos gravíssimos e insolúveis problemas no futuro.

As cidades de Bacabeira, Pindaré-Mirim e Açailândia sofrem diretamente os efeitos dessa crise que afetou gravemente o pólo siderúrgico de ferro-gusa maranhense, que exportava 99% de sua produção para o mercado internacional.

Principal indústria em atividade no Estado do Maranhão, a siderurgia de ferro-gusa produzia, nas sete empresas instaladas aqui, uma média de 2 milhões de toneladas por ano, empregando mais de 20 mil trabalhadores em atividades diretas e indiretas.

Essas empresas não fecham novos contratos de vendas desde setembro do ano passado, e os contratos que já haviam sido fechados não foram honrados pelas tradings sob a alegação da crise mundial.

Hoje apenas três das sete indústrias ainda estão em funcionamento, e mesmo assim com apenas 20% de sua capacidade instalada, e o que é pior cerca de 9.000 pessoas foram demitidas até o momento.

As conseqüências sociais têm sido tão graves quanto as econômicas, e é preciso tomar providências e sairmos em socorro à atividade que gera não apenas impostos e divisas para nosso estado, mas também emprego e renda para milhares de famílias maranhenses que viam na atividade siderúrgica sua única fonte de renda.

Uma das ações imediatas para garantir a sustentabilidade das empresas nesse período de crise é sensibilizar, através de ações de governo, nas três esferas, municipal, estadual e federal, a Companhia Vale do Rio Doce, para que opere uma redução no preço de seu minério de ferro, transporte e custo portuário, cobrado das indústrias maranhenses.

Para que se tenha uma idéia, as siderúrgicas maranhenses pagam hoje mais caro pelo minério de ferro produzido pela Vale do que as siderúrgicas chinesas, do outro lado do planeta. E veja que as siderúrgicas maranhenses utilizam apenas 4% de todo o minério exportado pela Vale (4 milhões de toneladas), e com esses 4% do minério geram mais de 20.000 empregos no Estado.

Precisamos fazer com que a Vale veja que ela deve contribuir com algum custo social pela utilização do Porto do Itaqui, bem como a utilização da estrada de ferro que corta inúmeros municípios, onde a pobreza se sobressai aos olhos.

Preocupado com o desemprego que essa crise gera, gostaria de chamar a atenção de todos para a necessidade de apoio aos empreendimentos industriais como a termoelétrica e a refinaria de petróleo que estão em fase de implantação em nosso estado. Empreendimentos que logo irão gerar milhares de empregos diretos e indiretos, transformando o cenário econômico de nossa terra, que com isso deixará de ser apenas um estado agrícola e entrará definitivamente para o time dos estados industrializados.

Ouvi com muita preocupação as restrições de alguns deputados a respeito da implantação da Usina Termelétrica Porto do Itaqui, pertencente à empresa MPX. Essa empresa tem sempre dito que um de seus compromissos mais importantes é com a responsabilidade sócio-ambiental e a nós compete cobrar-lhes firmemente o cumprimento desses compromissos.

No último fim de semana, a MPX lançou a pedra fundamental da termelétrica, que trará para o nosso estado um investimento de mais de 1 bilhão de reais, gerando mais de 4.000 empregos na fase de implantação da usina e mais de 100 empregos diretos quando em funcionamento.

O empreendimento possui o licenciamento ambiental concedido pelo Ibama, cumprindo todas as exigências previstas na legislação ambiental brasileira, não vejo então o porquê de tamanha oposição.

Essa mesma empresa, a MPX, está construindo duas termelétricas a carvão mineral no Porto do Pecém, no Estado do Ceará, respeitando todas as exigências ambientais necessárias para empreendimentos desse porte. Como é isso!? Lá pode, aqui não!?

É preciso apoiar iniciativas que como essa venham garantir o lugar do Maranhão em um cenário econômico próspero, mas é claro que essa atitude exige de nós um comportamento sempre vigilante, para que não apenas a MPX, como outros empreendimentos que também possam trazer desenvolvimento a nossa terra e nossa gente, atuem sempre em concordância não apenas com a legislação ambiental, multiplicando benefícios e garantindo a preservação dos nossos ecossistemas para as futuras gerações, mas também em concordância com toda a nossa legislação.

Todo empreendimento industrial causa impacto ambiental. Temos apenas que fazer a devida compensação desse impacto e prevenir para que ele não seja maior do que o permitido.

Enquanto deputado eu for não admitirei jamais que se descumpram as nossas leis, mas também não deixarei de defender a vinda para o nosso estado de projetos que tragam para cá desenvolvimento e progresso.

Perfil

“Poeta, contista e cronista, que, quando sobra tempo, também é deputado”. Era essa a maneira como Joaquim Elias Nagib Pinto Haickel aparecia no expediente da revista cultural Guarnicê, da qual foi o principal artífice. Mais de três décadas depois disso, o não mais, porem eterno parlamentar, ainda sem as sobras do tempo, permanece cronista, contista e poeta, além de cineasta.

Advogado, Joaquim Haickel foi eleito para o parlamento estadual pela primeira vez de 1982, quando foi o mais jovem parlamentar do Brasil. Em seguida, foi eleito deputado federal constituinte e depois voltou a ser deputado estadual até 2011. Entre 2011 e 2014 exerceu o cargo de secretario de esportes do Estado do Maranhão.

Cinema, esportes, culinária, literatura e artes de um modo geral estão entre as predileções de Joaquim Haickel, quando não está na arena política, de onde não se afasta, mesmo que tenha optado por não mais disputar mandato eletivo.

Cinéfilo inveterado, é autor do filme “Pelo Ouvido”, grande sucesso de 2008. Sua paixão pelo cinema fez com desenvolvesse juntamente com um grupo de colaboradores um projeto que visa resgatar e preservar a memória maranhense através do audiovisual.

Enquanto produz e dirigi filmes, Joaquim continua a escrever um livro sobre cinema e psicanálise, que, segundo ele, “se conseguir concluí-lo”, será sua obra definitiva.

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